No início, éramos quatro.
Quatro unidades mínimas e autônomas. Simples e solitárias. Perfeitas, não importa a forma ou o ângulo.
Existíamos silenciosamente, alheios a tudo e a todos. Cumpríamos a nossa função porque era a única coisa que nos cabia, e não fazíamos nada além disso.
Às vezes, antes de adormecer por completo após mais um período de árduas contribuições, observávamos o mundo. Não deveríamos fazer isso sob hipótese nenhuma, no entanto, essa foi a primeira de muitas regras que quebramos.
Não nos arrependemos do que fizemos, porque fomos capazes de conhecer nossos semelhantes. É claro, não notamos enquanto nos olhávamos de longe, mas estávamos lá: em cada botão de flor que teimosamente desabrochava fora da época; em todos aqueles raios de sol que se embrenhavam por entre as nuvens e aqueciam o que não deviam; em cada floco de neve que, travesso, rodopiou até o chão antes ou depois do momento certo; e em toda folha alaranjada que se desprendia silenciosamente das árvores e era carregada por ventos de outros tempos.
Sim, éramos quatro: Sete, a Primavera; Dez, o Verão; Juno, o Inverno; e Maio, o Outono.
E a história que estamos prestes a contar pode soar meio engraçada, trágica ou só fantasiosa demais para mentes comuns.
Porque o fato de despertarmos não foi uma coincidência.