Chapter 3 - Capítulo 2: Despertar

Pode-se dizer que aquela clareira se destacava em meio à grande extensão de floresta corrompida que a rodeava: era como se — por meios fantásticos e incompreensíveis — a primavera tivesse se adiantado sobre aquele pequeno pedaço de terra.

Ocorre que, no centro do círculo de árvores verdejantes, havia uma estranha cúpula feita de raízes entrelaçadas. Aquilo tinha um formato oval, estava coberto de musgo e emanava uma aura verde suave, que fazia com que diversas flores silvestres desabrochassem em instantes sobre o capim alto ao redor. O que atraía facilmente a atenção das pessoas, principalmente a atenção daquelas muito bem equipadas, que percorriam a floresta circundante em equipes táticas.

O motivo de tanta comoção, além da impressionante ondulação de poder na área ao redor do casulo de raízes, era o fato daquele objeto misterioso estar dissipando a corrupção que assolava este planeta. Afinal, toda a floresta estava em um estado deplorável: cinzenta e morta, as folhas secas e sem um pingo de saúde, como se tivessem sido queimadas até restar um espectro tremulante de suas formas originais — exceto, é claro, por aquela misteriosa clareira verdejante, que parecia um fragmento do passado lutando para sobreviver.

— Isso é incrível, comandante! — Um dos soldados da E.G.O. pontuou enquanto o grupo adentrava lentamente a área ao redor da formação de raízes. — É como se a corrupção nunca tivesse atingido esse fragmento da floresta… E essa energia, pelos Deuses, poderíamos abastecer várias indústrias e cidades inteiras se conseguíssemos cooptá-la adequadamente!

— Foco na missão, agente! — O comandante exigiu, mantendo a mira do fuzil voltada para o casulo arbóreo. — Essa coisa parece estar começando a se mover…

O que esses homens não sabiam é que uma consciência lutava para despertar, e gradualmente voltava a si dentro daquelas raízes amontoadas. 

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Sete sentia uma dor de cabeça incômoda, ela tentava digerir tudo o que havia acontecido: desde seu aprisionamento, até as informações repassadas por essa voz estranha dentro de sua mente e as falas suspeitas e hostis do lado de fora daquela cápsula escura, na qual flutuava fracamente.

O que era isso? Infração de regras? Transportados para o mundo mortal? Sem poderes ou divindades? E esse Sistema chamado Vez? Nada faz sentido!

"Sim, eu me lembro agora… Sou Sete, a Primavera." — A garota sentia que ainda faltavam alguns fragmentos de memórias e informações importantes, mas a dor de cabeça piorava a cada vez que se esforçava mais para vasculhar suas lembranças. — "Onde estão aqueles três? O que fizeram com eles!?" — Ela questionou, furiosa, lembrando das demais Estações e das falas de Vez sobre eles terem sido separados uns dos outros.

As vozes dos soldados se intensificaram, eles se aproximavam cada vez mais do casulo de raízes no centro da clareira purificada. Sete, por sua vez, sentiu a cabeça latejar ainda mais. Ela estava furiosa, gritava e tentava se livrar daquela escuridão que a envolvia meticulosamente. E, com muito esforço, foi capaz de criar uma rachadura no espaço escuro à sua frente.

O interior do lugar se iluminou por meio da fenda, e a pequena divindade notou que estava dentro de uma cúpula feita de grossas raízes de árvores, que se entrelaçavam e formavam algum tipo de casulo. Sete se encontrava ajoelhada no centro daquela cápsula — momentaneamente sem forças, imaginou, em decorrência do efeito colateral de se libertar —, e podia sentir resquícios das auras de outros Deuses ali.

— Comandante! — Um dos homens da E.G.O. exclamou. — Essa coisa está colapsando de alguma forma. Veja, há uma fenda bem ali!

— Soldados, fiquem a postos! — O comandante do esquadrão alertou ao notar uma movimentação estranha vinda do amontoado de raízes. — Parece que algo está saindo dessa formação não identificada!

Os homens — vestidos com roupas táticas pretas e cinzas — se prepararam e voltaram a mira de seus fuzis para a cúpula, quando escutaram algo farfalhar na escuridão misteriosa adentro.

Então, de repente, uma mão pálida e delicada se agarrou à borda da rachadura no casulo.