Chapter 3 - Olhos vazios

Ao ler o título das páginas suas mãos ficam trêmulas e começam a suar. O tempo para, sua visão periférica fica turva e a única coisa que ele consegue ver nesse momento é esse título inusitado. Ele começa a folhear rapidamente todas as páginas como se quisesse devorar tudo aquilo o mais rápido possível e logo vê que tudo aquilo havia sido escrito a mão, além de possuir inclusive algumas ilustrações. Isso tudo o choca mais ainda e o faz recuar até se escorar na pia e suas pernas agora também ficam trêmulas. Nesse momento ele começa a pensar em voz alta.

"Mas como? Como aquele sujeito preparou tudo isso tão rápido? Ele deve ter levado semanas para fazer tudo isso. Ou ele é um maluco fanático por mim ou ele pode estar falando a verdade."

O silêncio toma conta da cozinha até ser interrompido por uma grande gargalhada.

"Hahaha, eu é que estou sendo o maluco aqui, estou quase acreditando no que aquele esquisito falou sem nem mesmo ter começado a ler esses rabiscos. Garanto que nada disso vai fazer sentido e vai ser um monte de teorias da conspiração."

A sua confiança começa a aumentar, suas mãos e pernas já não tremem mais. Aparentemente o susto inicial passou, agora mais calmo ele coloca a água para ferver e puxa uma cadeira para começar a ler todo esse material. A primeira coisa que lhe chama a atenção é a data presente na folha, começava semana que vem e acabava após cerca de 2 meses depois de iniciado. Outra característica interessante é o número do telefone do sujeito estar na parte inferior das páginas como ele mesmo havia dito que faria. Sorrindo ele sussurra.

"Aquele cara falou sério quando disse que todas as páginas teriam o seu número de celular hahaha. Ele quer muito falar comigo e poxa… Praticamente 'três meses' preparando este material, preciso pelo menos ler algumas páginas. Pelo menos esforçado ele é."

Ele coloca o café para coar e já retira uma xícara para ir tomando enquanto inicia a leitura. O texto começa assim:

Professor, tudo isso pode parecer muito maluco. Mas preciso que você leia esse material com seriedade, você é uma das últimas esperanças da humanidade. Como eu irei lhe dizer no hospital, eu sou do futuro. Especificamente do ano 2432 e antes de explicar todo o contexto futuro eu pretendo te falar sobre os seus últimos relatos enquanto vivo.

Primeiramente você morre no dia 22 de janeiro de 2028…

"Poxa… O cara começa pesado hein? Já começa me falando o dia que vou morrer hahaha."

Inicialmente cético, ele ri enquanto admira o seu quintal através da janela. Mas logo começa a refletir, isso lhe dava menos de 3 meses! Mais precisamente 2 meses e 11 dias de vida. Se aquilo for verdade a sua situação está pior do que ele imaginava. Após essa reflexão sua mão volta a tremer e quase derrubando o café ele toma um gole "seco" de café. Praticamente não sente o gosto e nem se estava quente demais. Apenas engoliu.

Nesse momento ele se levanta, larga tudo e vai até o seu quarto, onde sua esposa ainda descansava. Ele encosta na porta e fica admirando sua esposa por longos segundos. Enquanto vai se abaixando devagar até se sentar no chão. Quando olhando para sua esposa, ele começa a chorar. Suas lágrimas escorriam por seu rosto sem parar. Suas forças sumiram em um instante. Todos seus planos desapareceram e o vazio tomou conta da sua mente. Os segundos se tornaram minutos e os minutos começaram a se tornar horas.

Até que sua esposa acorda e se depara com o seu marido naquele estado deprimente. Seus olhos ficam arregalados, ela logo pula da cama, correndo em direção a seu marido e lhe dando um forte abraço.

"O que aconteceu?!?! Por que você está assim?"

Ela olha no fundo dos olhos dele, mas apenas vê um enorme vazio. Era como se ele não estivesse enxergando ela ali, na sua frente.

"Fala comigo, o que aconteceu?"

Ele continua calado, com o olhar vazio.

"O QUE ACONTECEUUUUU!?"