O silêncio que se instalou após a queda de Isolde parecia irreal. O campo de batalha, antes um turbilhão de energia, gritos e estilhaços de gelo, agora estava envolto em uma quietude quase opressora. O ar ainda estava frio, mas sem a presença sufocante da bruxa gélida, o ambiente começava lentamente a recuperar sua normalidade.
Keyon ficou parado por um longo momento, seu peito subindo e descendo em respirações pesadas. Ele ainda segurava Cleo, sua mão apertando com firmeza o cabo da alabarda, como se precisasse de um ponto de ancoragem para compreender que, de fato, haviam vencido.
Ao seu lado, Kid permanecia imóvel, os olhos dourados ainda atentos ao corpo desaparecendo de Isolde. Liz e Patty estavam em sua forma humana agora, ofegantes, mas de pé, observando a cena com expressões mistas de alívio e incredulidade.
O vento soprou suavemente, carregando consigo os últimos fragmentos da essência da bruxa gélida, que se dissipavam como neve ao vento.
— Acabou... — Keyon murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.
A resposta veio de Cleo, que ainda vibrava levemente em suas mãos, sua voz agora carregada com um novo tom — mais profundo, mais poderoso.
— Sim... acabou.
Mas não era apenas um fim. Era um começo.
A energia que envolvia Cleo continuava a pulsar, emitindo um brilho azulado e profundo. Keyon sentiu algo diferente na conexão entre eles. A alma de Isolde, agora completamente integrada a Cleo, havia desencadeado algo novo.
A alabarda começou a brilhar intensamente, forçando Keyon a entrecerrar os olhos. A luz era fria, mas não desconfortável. Pelo contrário, parecia envolvê-lo com uma sensação de renovação e força.
Kid e as irmãs Thompson recuaram alguns passos, observando com cautela.
— Isso é... — Patty começou a falar, mas Liz a interrompeu, seus olhos arregalados.
— Ela está evoluindo...
Keyon sentiu a mudança. O peso da arma em suas mãos parecia se ajustar, como se estivesse se moldando à nova forma. A lâmina da alabarda se alongou ligeiramente, adquirindo um brilho metálico refinado. Gravuras complexas começaram a surgir ao longo do cabo, como inscrições antigas que pulsavam em um ritmo sincronizado com sua própria alma.
Então, a luz começou a se condensar. Cleo estava se materializando.
Com um último pulso de energia, a luz se dissipou, revelando a nova forma de Cleo. Agora, em sua forma humana, ela estava diferente. Sua silhueta era mais refinada, seus traços carregavam uma presença mais forte. Seus cabelos haviam crescido, caindo em ondas elegantes ao redor de seus ombros. Seus olhos, antes apenas vivos, agora brilhavam com um tom azul intenso, refletindo um poder recém-descoberto.
Ela olhou para suas próprias mãos, fechando-as e abrindo-as lentamente, como se estivesse sentindo cada nova fibra de sua existência. Então, ergueu o olhar para Keyon, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
— Eu... me sinto diferente.
Keyon sorriu de volta, exausto, mas satisfeito.
— Bem-vinda de volta, Cleo.
O alívio da vitória começou a pesar sobre seus corpos. O cansaço se arrastava por seus músculos como correntes invisíveis, cada um deles sentindo o efeito prolongado da batalha.
Kid foi o primeiro a se abaixar, colocando uma mão no joelho enquanto tentava recuperar o fôlego. Liz e Patty sentaram-se no chão ao lado dele, ainda tremendo levemente.
Keyon soltou um longo suspiro, finalmente relaxando a postura. Ele olhou ao redor, observando os corpos caídos dos aliados que haviam sido congelados durante o confronto.
— Precisamos tirá-los daqui, — ele disse, sua voz firme apesar do cansaço.
Cleo assentiu, ainda se ajustando à sua nova forma. Ela olhou para as camadas de gelo que aprisionavam seus companheiros e estendeu a mão.
Uma onda de energia percorreu o campo. O gelo que cobria os aliados começou a rachar lentamente, fragmentos caindo ao chão como vidro quebrado. Em poucos segundos, as camadas espessas de gelo se dissolveram completamente, libertando os corpos imobilizados.
Maka foi a primeira a despertar, tossindo levemente enquanto tentava se mover. Soul, que estava próximo dela, mexeu os dedos antes de abrir os olhos. Black☆Star e Tsubaki também começaram a se levantar, ainda atordoados.
— O que... aconteceu? — Maka perguntou, sua voz rouca.
Keyon sorriu, estendendo uma mão para ajudá-la a se levantar.
— Nós vencemos.
Ela piscou algumas vezes, tentando processar as palavras antes de finalmente soltar um suspiro de alívio.
— Conseguimos...
Antes que pudessem relaxar completamente, um som ecoou pelo campo de batalha. Passos firmes se aproximavam, acompanhados pelo farfalhar de roupas pesadas e pelo brilho de várias armas.
Os reforços da Shibusen haviam finalmente chegado.
Na frente do grupo, Stein caminhava com seu passo despreocupado, o parafuso em sua cabeça girando levemente. Logo atrás dele, Sid, acompanhado por outros Meisters e armas, analisava a situação com olhos atentos.
Stein parou ao lado de Kid e Keyon, ajustando seus óculos enquanto olhava ao redor.
— Bem... parece que vocês resolveram tudo antes mesmo de precisarmos intervir.
Kid ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Vocês demoraram.
Stein apenas riu, um som seco e divertido.
— Não subestime os processos burocráticos da Shibusen. Mesmo quando o mundo está prestes a congelar, ainda temos que preencher formulários.
Keyon balançou a cabeça, rindo levemente. Ele estava exausto demais para se importar com o sarcasmo de Stein.
Sid caminhou até Maka e os outros, avaliando suas condições.
— Precisamos levar todos de volta para tratamento imediato.
— Concordo, — disse Keyon, passando uma mão pelos cabelos. — Precisamos de descanso.
A viagem de volta foi silenciosa, marcada apenas pelo som de passos pesados e pela respiração cansada de todos. A sensação de missão cumprida pesava sobre eles, mas, ao mesmo tempo, havia uma compreensão de que aquela batalha era apenas uma peça dentro de um tabuleiro muito maior.
Keyon olhava para Cleo ao seu lado, ainda maravilhado com sua transformação. Ela era agora uma verdadeira Death Scythe, uma arma lendária.
Mas, no fundo, ele sabia que a luta deles não terminava ali.
Enquanto a Shibusen ficava cada vez mais próxima no horizonte, um pensamento cruzava sua mente.
— O que vem agora?
Ele não sabia a resposta. Mas estava pronto para descobrir.