O céu estava em silêncio. A noite se estendia infinita, como se o mundo soubesse que algo muito antigo e temido estava prestes a retornar. Dentro das cavernas escuras, ocultas das vistas de qualquer ser vivo, uma força maligna e ancestral começava a despertar.
Ali, nas profundezas da terra, cercada por paredes frias de pedra e pelo eco de uma quietude mortal, uma figura se movia, ressurgindo da obscuridade. Arachne, a bruxa mais poderosa que o mundo já conheceu, estava acordando.
Seus olhos, lentamente, se abriram. Não havia mais o reflexo da juventude que ela uma vez tivera. O olhar de Arachne era o de uma criatura que havia vivido milênios, uma entidade que conhecia os segredos mais sombrios do mundo. Mas não era a sua aparência física que fazia dela uma ameaça; era a sua mente, a astúcia de suas ideias, e a força de seus poderes demoníacos, que ainda queimavam com intensidade.
Ela era a mãe de todas as armas demoníacas, a criadora das almas das armas. E agora, com o retorno da bruxa, o mundo seria forçado a testemunhar seu plano, o legado que ela deixara para trás, e o despertar de um poder que nem mesmo os deuses poderiam compreender.
No centro das cavernas, em um altar de pedra ancestral, o Livro de Eibon estava aberto. As páginas pareciam sussurrar, como se estivessem aguardando o momento certo para revelar os segredos guardados em seu interior.
Eibon, um dos maiores feiticeiros da história, deixou para trás um legado de conhecimento arcano, um manual que ensinava como manipular a alma, como transitar entre o humano e o demoníaco, e como combinar tudo isso com o poder das armas. Este livro foi Arachne quem encontrou, e ela o usou para criar algo verdadeiramente monstruoso: uma Arma Demônio.
Ela não se limitou a criar uma arma qualquer, mas uma arma que poderia mudar de forma, uma arma que tinha um corpo humano e, ao mesmo tempo, a essência de uma arma demoníaca. O próprio conceito de poder, alma e forma foi distorcido de uma maneira que ninguém antes havia ousado. E do seu trabalho, nasceu Crona.
Crona, com seu corpo frágil e a alma torturada, foi a primeira de muitas criações que Arachne planejava. Ela não era apenas uma arma; ela era uma obra de arte, um experimento que mostraria o domínio da bruxa sobre o equilíbrio entre as forças naturais e demoníacas. Arachne acreditava que, ao unir o humano, o demoníaco e a arma, ela poderia criar o equilíbrio perfeito, e, quem sabe, dar vida a uma nova ordem mundial, onde ela fosse a líder imortal.
O projeto de Crona foi apenas o primeiro passo. Mas Arachne não estava satisfeita. Ela queria mais. Ela queria que sua criação fosse parte de algo maior. E a chave para isso estava no Livro de Eibon.
O ar na caverna tremia, como se estivesse reagindo à presença crescente de Arachne. Ela levantou-se lentamente, cada movimento um reflexo da força que ela havia aguardado por tanto tempo para liberar. Não era um retorno qualquer. Ela não estava apenas acordando; ela estava se regenerando, reconstituindo seu corpo a partir das sombras e da escuridão, misturando os pedaços de sua antiga existência com as novas forças que ela agora possuía.
Enquanto Arachne se levantava, o chão tremia levemente. Cada passo era um eco profundo, reverberando pela caverna e espalhando ondas de energia negra pelo ambiente. Sua presença era imensa, como uma tempestade prestes a tomar o mundo. As paredes da caverna começaram a rachar, as pedras se desprendendo e caindo ao chão, como se a própria terra estivesse resistindo ao poder dela.
No entanto, Arachne não parecia se importar. Ela caminhava com uma confiança inabalável, como se o mundo fosse seu para comandar. Ela estendeu as mãos, as sombras dançando em sua direção. Um sorriso cruel formou-se em seu rosto.
— O jogo começa agora. — Sua voz, suave e ameaçadora, se espalhou pelo ar.
Ao redor dela, as sombras começaram a tomar forma. Uma legião de Kishins apareceu, seus corpos deformados e monstruosos, movendo-se ao seu comando. Eles eram as manifestações de sua energia demoníaca, criaturas que existiam apenas para servir a sua vontade.
Arachne sabia o que fazer. O Livro de Eibon tinha lhe revelado o segredo para alcançar a supremacia. Ela se tornaria, novamente, a governante do mundo. Mas antes de tudo, ela precisava de uma coisa: uma Alma Demoníaca, e para isso, ela começaria com a criação de um novo ser, alguém capaz de portar o peso de sua ambição.
Enquanto Arachne preparava seu retorno, uma memória distante e amarga cruzava sua mente. Crona, sua primeira criação, um ser de alma fragmentada e coração perdido, ainda a perturbava. O que começou como uma criação gloriosa se transformou em uma tragédia, uma tragédia que ainda reverberava em seu coração. Crona se tornara uma espécie de falha em seu plano, um ser que não havia cumprido as expectativas de Arachne.
Mas agora, isso seria corrigido. A bruxa tinha um novo plano, e esse plano começava com a reconfiguração da criação. Crona precisava ser revivido de uma forma nova, mais poderosa, mais em sintonia com a verdadeira ambição de Arachne.
Aqueles que seguissem os passos de Arachne agora teriam uma nova tarefa: preparar o mundo para a chegada de seu novo imperador, alguém que não era mais humano, mas sim uma arma demoníaca pura. Para isso, eles precisavam caçar os melhores guerreiros, as melhores almas, e trazê-las para a caverna que agora Arachne dominava. O ritual da fusão era iminente. Crona renasceria como o ser perfeito que Arachne sempre imaginara.
Mas antes que ela pudesse colocar seu plano em ação, ela sentiu algo, algo que a fez parar por um instante. Uma onda de energia percorria o ar. Era uma energia familiar, uma energia que ela conhecia muito bem.
— A Shibusen... — murmurou ela, o sorriso cruel em seu rosto se ampliando. — Eles não sabem o que está vindo para eles.
Em um lugar distante, na base da Shibusen, o vento soprou frio. As palavras de Arachne começaram a se espalhar pelo ar. A ameaça da bruxa estava de volta, e com ela, o peso do legado demoníaco. O que parecia ter sido uma vitória temporária, agora se mostrava apenas o começo de uma guerra que varreria o mundo.
A batalha estava longe de acabar. A guerra das almas estava prestes a começar novamente, e com ela, o ressurgimento das armas demoníacas. A Shibusen ainda não sabia, mas o verdadeiro inimigo estava se preparando para a batalha final.
E enquanto as forças de Arachne se preparavam nas sombras, uma última lembrança surgiu na mente da bruxa: Crona, sua criação, estava prestes a ser transformada, e com isso, o poder de Arachne seria infinito. Ela sorriu, sabendo que, dessa vez, nada poderia impedi-la. Arachne, a Mãe das Armas Demoníacas, estava de volta.