Chereads / Sob o Destino de Uma História que Não É Minha. / Chapter 2 - Capítulo 2: Sob a Luz dos Luminares, parte 1.

Chapter 2 - Capítulo 2: Sob a Luz dos Luminares, parte 1.

Depois do final das aulas, enquanto Hanami arrumava lentamente seus materiais, a sala já estava vazia. Apenas o som suave de papéis sendo recolhidos preenchia o espaço. Quando ela se levantou para sair, Haruki surgiu por trás, segurando sua mochila com as mãos trêmulas.

"H-Hanami," chamou ele, a voz baixa e hesitante.

Ela tomou um pequeno susto, mas rapidamente disfarçou, voltando-se para ele com uma expressão que tentava parecer neutra. Seu olhar parecia dizer para ele continuar.

Tomando coragem, Haruki deu um passo à frente. "E-esqueci de perguntar... que horário vamos nos encontrar?" disse ele, as palavras quase tropeçando umas nas outras.

Antes que ela pudesse responder, algo pareceu ocorrer a ele, e sua expressão mudou para uma de esquecimento repentino. "Ah! E... você quer se encontrar em algum lugar específico?" Sua voz saiu apressada, como se ele estivesse genuinamente preocupado em incomodá-la. "Talvez um lugar com menos gente... caso você não se sinta confortável se nos virem juntos."

Hanami piscou, surpresa. Por um momento, parecia que ela tinha esquecido completamente sobre o encontro. Haruki, notando a hesitação dela, viu seu semblante cair gradualmente. Ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela: "Eu entendi errado...?"

Mas antes que ele pudesse continuar, ela o interrompeu. "Não, você entendeu certo," disse ela, seu tom calmo. "Apenas não sei qual horário o professor vai me liberar..."

Os olhos de Haruki brilharam de alegria, mas ele tentou não demonstrar demais. "Posso passar às 20h... e qualquer coisa eu espero você," disse ele, a voz ganhando um toque de animação, embora ainda hesitante. "C-claro, se você quiser."

Hanami não conseguiu evitar uma risadinha ao ver a expressão do garoto mudar de nervosismo para esperança quase infantil. Puxando sua bolsa para o ombro, ela caminhou em direção à saída. "Então está combinado," disse sem se virar.

Mas antes que Haruki pudesse relaxar, ela parou de repente e olhou para ele por cima do ombro, sua expressão agora mais complicada. "Esquece o que eu disse," disse ela, a voz firme.

Antes que ele pudesse perguntar o que queria dizer com isso, ela completou: "Você não quer me acompanhar até a sala dos professores? Assim podemos voltar juntos depois..."

Haruki piscou, surpreso, mas não precisou pensar muito antes de responder. "Claro~!" exclamou, um sorriso coquete iluminando seu rosto. Sem hesitar, ele foi até a porta, abrindo-a com cuidado para que ela passasse.

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Ao chegarem ao local, Haruki encostou-se na parede ao lado da porta, aguardando pacientemente. Hanami bateu na porta e esperou até ouvir uma voz autoritária de dentro dizer para entrar.

Ao abrir a porta, ela encontrou Joseph sentado em uma cadeira no canto da sala, uma perna cruzada e uma xícara na mão. Ele ergueu uma sobrancelha ao perceber a garota soltando um longo suspiro antes de finalmente caminhar em direção à cadeira à sua frente.

Hanami sentou-se, cruzando as pernas de forma despreocupada, e perguntou com uma ousadia típica: "E aí?"

Joseph, acostumado com o jeito dela, colocou a xícara na mesa e se recostou na cadeira, apoiando um braço no encosto. "Bem, você já sabe por que está aqui," começou, sua voz calma, mas firme. "Desde o início das aulas, você apareceu em poucas aulas. E, claro, os outros professores estão curiosos sobre o motivo disso." Ele a encarou com um olhar avaliador. "Se é que existe algum motivo... Se continuar assim, Hanami, você será a primeira aluna a quebrar o recorde de expulsão mais rápida da Apelcon. E eu não acho que isso é algo que você queira."

Hanami não demonstrou preocupação, para a surpresa do professor, que esperava uma reação mais defensiva. Ao invés disso, ela o encarou com aparente indiferença.

Joseph suspirou e continuou: "Se você não queria estar aqui, era melhor ter escolhido outra instituição ou simplesmente pago a multa por quebrar a lei. Mas, já que está aqui, sugiro que se esforce a partir de agora." Ele inclinou-se ligeiramente para frente. "Embora não seja obrigatório frequentar todas as aulas diariamente, você deveria, ao menos, aparecer uma vez por semana nas aulas dos outros professores. Alguns deles nem sabem como você é, a não ser pela sua foto na ficha estudantil."

Hanami manteve-se em silêncio enquanto ele pegava um enorme volume de papéis que parecia ter surgido magicamente debaixo da mesa. Ao entregar a papelada para ela, um leve sorriso surgiu em seu rosto ao notar a expressão de desânimo dela.

"Preencha isso e traga para mim na próxima semana," disse ele, levantando-se lentamente. Com um bocejo discreto, colocou uma das mãos no bolso da calça e começou a caminhar em direção à saída. "Ah, e antes que eu esqueça," continuou sem olhar para trás, "essas são as matérias dos dois professores com quem você ainda não teve aula. Eles me pediram para entregá-las. Aproveitei para incluir sua punição por ousar aparecer depois do horário estabelecido."

Ele saiu da sala assobiando uma melodia descontraída, sem se preocupar em olhar para trás. Hanami permaneceu sentada, perplexa e desolada, encarando a pilha de papelada em suas mãos como se fosse o peso de todo o universo.

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Hanami caminhava lentamente, tentando equilibrar a pilha de papelada que Joseph havia lhe entregado. Seus passos eram cautelosos, enquanto fazia o possível para não esbarrar nos móveis ao longo do caminho. A expressão de uma careta em seu rosto deixava evidente o incômodo da tarefa.

Do lado de fora, Haruki espiava pela porta entreaberta, curioso. Quando viu Hanami lutando para carregar os papéis, não pensou duas vezes e correu até ela, pegando parte da pilha de suas mãos.

Hanami parou por um momento, surpresa, e lançou um olhar de alívio e gratidão sincera para o garoto. Haruki ficou atordoado. Desde que a conheceu, nunca tinha visto uma expressão tão genuína vinda dela. Sem conseguir evitar, sentiu o rosto esquentar, enquanto o rubor subia por suas bochechas. Hanami, por sua vez, fingiu não notar a reação dele.

Enquanto caminhavam juntos pelos corredores da Apelcon, alguns alunos ainda zanzavam por ali, lançando olhares curiosos na direção dos dois. Haruki, percebendo os olhares, lançava rápidos vislumbres pelo canto dos olhos para Hanami, temendo que ela estivesse incomodada por serem vistos juntos. Apesar de suas preocupações, ela parecia completamente despreocupada com o julgamento alheio, caminhando com naturalidade ao seu lado. Isso trouxe certo alívio ao garoto, embora sua ansiedade persistisse.

Quando chegaram ao exterior do dormitório feminino, os murmúrios aumentaram. Algumas garotas que estavam por ali lançaram olhares julgadores, cochichando entre si. Até mesmo alguns garotos próximos às garotas observavam a cena com expressões de curiosidade e desdém. Os olhares não eram apenas para Hanami, mas também para Haruki, que se encolheu ligeiramente, claramente desconfortável com a atenção.

Hanami, no entanto, parecia indiferente. Sua postura relaxada contrastava com a tensão evidente de Haruki, que fazia o possível para manter a calma e evitar derrubar os papéis que carregava.

Quando chegaram a entrada do dormitório feminino, Hanami percebeu que seria impossível carregar toda a papelada de uma só vez. Haruki, percebendo sua dificuldade, sugeriu com um tom gentil: "Talvez seja melhor levar um pouco de cada vez." Ela suspirou, relutante, mas acabou concordando.

Enquanto Hanami fazia duas viagens para levar os papéis ao quarto, Haruki esperou do lado de fora, sentado em um banco próximo à entrada do dormitório. Como a entrada de alunos masculinos era proibida, ele não tinha outra opção a não ser aguardar ali, torcendo para não parecer muito ansioso.

Quinze minutos se passaram desde que Hanami entrou depois da sua segunda e última volta, mas para Haruki, a espera parecia uma eternidade. Ele tamborilava os dedos na borda do banco, o coração disparado. Era seu primeiro encontro, e a expectativa o deixava nervoso e inquieto.

Finalmente, a porta do dormitório se abriu, e Hanami apareceu. Haruki prendeu a respiração no momento em que a viu. Ela estava usando um vestido midi azul-bebê de estilo retrô, com um delicado padrão floral que acentuava sua cintura estreita. Nos pés, calçava saltos brancos de malha casual, decorados com pequenas joias redondas brancas e adornados por um laço rosa-salmão.

Seu cabelo preto-carvão estava dividido ao meio, com duas mechas presas para trás por um grampo em formato de rosa branca com detalhes em joias azuis. No pulso, usava uma pulseira delicada de pequenas joias azuis-claras e rosa-salmão, enquanto uma pequena bolsa branca de alça lateral completava o visual.

Haruki ficou completamente estático, vermelho da cabeça aos pés. Seus olhos estavam fixos nela, enquanto ele tentava, desesperadamente, manter a compostura. Não babe, não babe. Pelo bem da sua vida amorosa!... pensou, seus lábios se apertando para evitar que um suspiro admirado escapasse. Ele sabia que, se não se controlasse, poderia ser taxado de pervertido, e essa definitivamente não era a impressão que queria causar.

Hanami notou o olhar dele, mas, ao invés de reagir bruscamente, apenas ajustou a bolsa no ombro com naturalidade e deu um leve sorriso enigmático antes de dizer: "Vamos?"

Haruki, ainda tentando se recompor, levantou-se rapidamente, quase tropeçando no banco, e respondeu com a voz um pouco mais aguda do que o normal: "S-sim!"

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Enquanto caminhavam lado a lado, o som de conversas animadas e música alegre alcançava os ouvidos de Haruki e Hanami, vindo do lado de fora da instituição. O ritmo dos passos deles era tranquilo, quase sincronizado, enquanto ambos pareciam fascinados pelo que começavam a enxergar.

Ao atravessarem os portões da Apelcon, depararam-se com ruas movimentadas, iluminadas por lanternas penduradas em postes e barracas. Famílias, casais e solteiros passavam por ali, sorrindo, conversando e aproveitando o evento. Diversas barracas vendiam uma infinidade de salgados e doces, enchendo o ar com aromas deliciosos que misturavam açúcar, especiarias e frituras, criando uma sinfonia olfativa que fazia a boca salivar e o estômago roncar de antecipação. Mais ao fundo, o som de uma canção tocada por músicos locais se espalhava, criando um cenário quase encantador, uma combinação perfeita de cores, cheiros e sons. Um flautista, saxofonista, tecladista e trombonista uniam seus talentos, enquanto um vocalista acompanhava com uma voz envolvente.

'~ A união é o que torna mais belo e amoroso

A mais simples família,

O pai é o protetor,

A mãe é o calor,

E os irmãos, se tiver,

São nossos amigos de valor ~'

As palavras e a harmonia da melodia pareciam tocar diretamente o coração, intensificando a atmosfera acolhedora e festiva.

Haruki, visivelmente impressionado, absorvia cada detalhe do ambiente, mas, no fundo, nada parecia mais fascinante para ele do que a expressão de Hanami. Os olhos dela brilhavam ao observar a multidão, as barracas e a movimentação ao redor. Parecia genuinamente encantada, quase como uma criança que vê algo maravilhoso pela primeira vez.

Ainda mais para Haruki, que, ao olhar para os olhos brilhantes de Hanami, voltados para a multidão à sua frente, sentiu-se tomado por uma avalanche de sentimentos. Havia a alegria genuína de vê-la sorrir, o nervosismo por querer que tudo saísse perfeito e a paixão, que ainda florescia timidamente dentro dele, deixando seu coração inquieto. Ele também sentia orgulho, uma satisfação discreta por tê-la trazido ao lugar certo, como se aquele momento fosse uma pequena vitória que ele guardaria com carinho.

No entanto, por trás de tudo isso, escondiam-se sentimentos um pouco mais confusos. Uma insegurança sutil, quase imperceptível, de que aquele momento pudesse não ser o bastante para se aproximar dela. E havia a dúvida. Apesar de ter reunido coragem para convidá-la, ele não conseguia evitar o pensamento de que poderia ter sido recusado. A ideia de ouvir um "não" o teria deixado mais abalado do que gostaria de admitir. Ele havia passado dias ensaiando as palavras, pensando em como fazer o convite parecer casual, mas especial. E, quando ela aceitou, o alívio que sentiu foi tão grande quanto a surpresa.

Ainda assim, ele tentou afastar esses pensamentos, focando no presente. Olhando de relance para Hanami, percebeu que seu sorriso e os olhos brilhantes eram suficientes para trazer um calor reconfortante ao seu coração. Isso é o que realmente vale a pena agora, pensou, endireitando a postura enquanto lutava para esconder o nervosismo que ameaçava transparecer.

Enquanto caminhavam próximos a uma barraca movimentada, o ambiente ao redor parecia caótico e vivo. Crianças faziam birra para convencer os pais a comprar os doces coloridos, enquanto uma garota ruiva insistia com a amiga que comprasse algo para ela, prometendo pagar depois. O aroma dos espetinhos assados, com temperos únicos que faziam qualquer um salivar, pairava no ar, criando uma atmosfera quase irresistível. Porém, em meio a essa cena animada, Haruki congelou. Seu olhar focou ao longe, e ele viu aquele 'cara'. O coração quase saltou do peito ao reconhecê-lo, a raiz de suas dúvidas e inseguranças. Sentiu como se o mundo ao seu redor desacelerasse. Mas, antes que o pânico tomasse conta, ele percebeu que o rapaz não os havia notado. Respirando fundo, Haruki tomou uma decisão rápida e desviou o caminho, guiando Hanami para outra direção, com passos apressados, antes que ela também pudesse perceber o que estava acontecendo.