Chereads / Sob o Destino de Uma História que Não É Minha. / Chapter 3 - Capítulo 3. Sob a Luz dos Luminares, parte 2.

Chapter 3 - Capítulo 3. Sob a Luz dos Luminares, parte 2.

Sendo puxada por Haruki, Hanami permitiu-se ser levada, sem questionar, enquanto ambos se afastavam da multidão. Caminharam até encontrarem uma rua deserta, vazia por conta do evento principal, o Laurel de Amalgamar, que atraía quase todos para o centro da cidade. O som das conversas e da música vibrante diminuía a cada passo, dando lugar a uma tranquilidade rara.

Logo, Haruki avistou um banco de madeira sob a sombra de uma árvore frondosa, cujos galhos curvados criavam um refúgio natural. "Vamos sentar ali," disse ele, guiando Hanami com um leve gesto. Ambos se acomodaram, sentindo o frescor da brisa que soprava levemente, carregando o aroma sutil das flores próximas. A rua ao redor tinha um charme tranquilo, com pequenas luminárias fixadas nos postes, iluminando suavemente o caminho de pedras bem alinhadas. Em contraste com o movimento da festa, ali parecia um lugar onde o tempo desacelerava.

Haruki abriu o saquinho com espetinhos que haviam comprado antes: uma mistura de salgados e doces. Ele escolheu um de carne, enquanto Hanami pegava um espetinho doce de morango com cobertura de chocolate, decorado com três cabecinhas fofas. Seus olhos brilharam ao notar os detalhes: a primeira cabecinha era corada, a segunda, apaixonada, e a terceira, risonha. Era como se o doce tivesse uma personalidade própria.

Curiosa, Hanami mordeu a primeira cabeça com um entusiasmo disfarçado, apenas para ser surpreendida ao sentir o doce inchar dentro da boca. Suas bochechas estufaram, e seus olhos se arregalaram por um instante. Haruki, observando a reação inesperada dela, sentiu uma vontade incontrolável de rir, mas conteve-se, receoso de aborrecê-la.

"É a primeira vez que você come as 'Três Faces de Ela'?" perguntou ele, curioso, enquanto ela terminava de mastigar.

Hanami fez uma pausa, olhando para ele com uma expressão estranha e confusa antes de responder. "Huh? Não é isso!" disse ela, engolindo o doce. "Já comi antes. Só fiquei surpresa que ele inchou mais do que o normal." Seus olhos encontraram os dele, sua voz soando sincera.

Haruki não conseguiu mais segurar o riso. Sua gargalhada saiu espontaneamente, enchendo o espaço ao redor com um som leve e genuíno. "Hahaha," ele riu, desviando o olhar momentaneamente. Mas ao perceber a expressão confusa de Hanami, tentou disfarçar com uma tosse fingida. "Desculpa... cof, cof... É que a sua expressão foi muito engraçada."

Hanami estreitou os olhos levemente, sem entender bem a graça, mas deixou passar. "Era você que fazia esses doces?" ele perguntou, ainda sorrindo.

"Sim…?," respondeu ela, erguendo uma sobrancelha.

"Provavelmente você errou na hora de prepará-los," explicou Haruki com suavidade. "O doce deveria inchar assim com o contato da saliva, mas se não fazia antes, talvez fosse um erro no processo."

Ele hesitou por um momento antes de continuar, sua voz ganhando um tom tímido. "Se você quiser... posso ensinar como prepará-los corretamente." A sugestão, embora prática, carregava a intenção óbvia de um convite para outro encontro.

Hanami inclinou a cabeça ligeiramente, como se ponderasse a ideia. "Claro," respondeu ela, despreocupada. "Mas não vai poder ser agora, já que estou ocupada com as matérias."

Haruki parecia um pouco desanimado, mas não queria desperdiçar a oportunidade. "Bom, se quiser... posso te ajudar com os estudos," disse ele, esforçando-se para soar casual. "Tenho anotações. Não sou um gênio, mas talvez possa ser útil com o básico."

Hanami ficou em silêncio por um momento, mordendo cuidadosamente a segunda cabecinha do doce enquanto olhava para o céu, agora tingido pelas luzes coloridas do evento. Finalmente, ela disse: "Ok."

Haruki quase não conseguiu conter o sorriso que surgiu em seu rosto. Ele deu uma mordida no espetinho de carne que segurava, escondendo a expressão de felicidade, enquanto olhava para o horizonte. Contudo, seus olhos ocasionalmente voltavam para Hanami, que parecia absorvida pela vista, com os olhos brilhando sob a luz suave das luminárias.

Ali, sob a árvore, com a música distante ainda audível e o céu iluminado pelo espetáculo do Laurel de Amalgamar, ambos se permitiram relaxar. Por um breve momento, o mundo ao redor parecia perfeito.

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Já de volta ao meu quarto, depois de Haruki me acompanhar até o dormitório, comecei a trocar de roupa enquanto meus pensamentos corriam soltos. Ufa, consegui ir a esse encontro sem grandes problemas... Achei que não ia conseguir fingir que desconheço das coisas! Suspirei aliviada. Ainda bem que Haruki é um garoto compreensível. Ele tem esse jeitinho cuidadoso, e o interesse que tem na Hanami o faz pensar duas vezes antes de perguntar algo desconfortável. Graças a isso, escapei de algumas situações complicadas.

Depois de me trocar, me joguei na cama, cobrindo-me do pescoço aos pés com um cobertor branco decorado com contornos de corações roxos. Fiquei olhando para o teto, tentando organizar os pensamentos, mas eles continuavam fluindo sem controle. Fechei os olhos e suspirei novamente. Ainda bem que acordei nesse corpo antes que o protagonista conhecesse bem a personalidade da original. Se fosse depois... Fiz uma pausa, refletindo. Bom, talvez eu esteja exagerando. É normal uma pessoa mudar, certo? Mas... mudar tanto assim? Seria suspeito.

Me mexi um pouco na cama, tentando encontrar uma posição confortável. Na Terra, uma mudança repentina poderia ser vista como alguém tentando "ser uma pessoa melhor" ou, para os mais cínicos, como fingimento. Mas aqui... é diferente. Esse mundo tem controle mental, disfarces perfeitos e até sósias. Nem no meu mundo descartávamos essas possibilidades tão rápido, então imagina aqui! Preciso tomar cuidado. Um descuido pode custar minha vida.

Lembrei-me do momento em que despertei aqui pela primeira vez. Foi tão estranho! De repente, lá estava eu, de frente para um garoto bonito e corado, enquanto o prensava contra a parede com um braço. Foi por pouco! Se eu não tivesse colocado meu cérebro para funcionar rápido, quem sabe o que teria acontecido? Aceitei o pedido de encontro dele no impulso, e até agora acho que foi a escolha certa. Li inúmeras histórias desse gênero e sabia que aquilo poderia ser um divisor de águas. Recusar podia criar mal-entendidos difíceis de desfazer.

Balancei a cabeça, irritada com o rumo dos meus pensamentos. Não entendo por que a maioria dos protagonistas desses gêneros tem tanta dificuldade em fingir ser os originais no início da transmigração. Especialmente quando são descritos como leitores ávidos de histórias assim. É tão frustrante!

Suspirei mais uma vez, pensando em como cheguei a essa situação absurda. Tudo começou quando eu li aquela webcomic de um autor anônimo. Era só para matar o tédio porque era a única história que eu tinha offline. Eu estava de férias do trabalho, num sítio para um encontro de família. Sabe aquele tipo de reunião onde os parentes se reúnem, mas vivem falando mal uns dos outros pelas costas? Pois é. Nunca me imaginei acabando em algo assim.

"Lembrei-me do momento em que terminei de ler. Assim que cheguei ao meu apartamento, apaguei a webcomic do meu celular. Naquele dia, eu estava com uma dor de cabeça horrível. Agora, fico pensando... será que foi isso que me trouxe para cá?"

Não era a primeira vez que eu tinha uma enxaqueca, mas ultimamente elas estavam se tornando frequentes. Era o tipo de dor 'suportável' que você aprende a ignorar com o tempo. Só fui dormir... e quando percebi – ou melhor, quando tive consciência –, eu estava aqui.

Massageei as têmporas ao lembrar desse momento confuso. Será que eu morri enquanto dormia? Ou talvez esteja em coma? Ou é tudo apenas um sonho muito vívido? Mas... é tão real, tão palpável, que simplesmente não consigo acreditar nisso.

Pensar nisso só trazia mais ansiedade e agonia. Soltei um suspiro cansado e olhei para a cama ao lado. Ela ainda não voltou... Provavelmente não vai aparecer na primeira aula amanhã. Droga! Ela era o meu despertador improvisado. Não que tenha funcionado muito bem ontem...

Franzi o cenho, lembrando do desastre que foi o meu segundo dia consciente neste mundo. Cheguei atrasada. Se pelo menos soubesse que faltar não seria tão problemático quanto aparecer atrasada, teria ficado no quarto até a segunda aula. Mas não... eu tive que me apressar e me expor! Argh!

Me joguei para o lado, enterrando o rosto no travesseiro antes de virar de novo e olhar para o teto. Só que... pensando bem, isso também não teria dado certo. Ontem, eu nem sabia onde era a sala de aula. Se tivesse tentado aparecer só na segunda matéria, teria ficado completamente perdida. E depender da sorte? Nem pensar.

Fechei os olhos por um momento, tentando reorganizar meus pensamentos. A única razão pela qual consegui encontrar o local ontem foi porque, antes de sair do dormitório, folheei uma pasta que estava em um dos baús da cama da Hanami. Tinha algumas fotos lá, e uma delas mostrava alunos da idade dela – ou melhor, da minha idade agora. Na hora, notei uma garota loira que parecia fácil de identificar. Mais tarde, quando a vi no corredor, fui direto falar com ela.

Suspirei, relembrando a cena. Foi uma conversa difícil. Tive que me esforçar para responder e perguntar de forma indireta, manipulando as palavras para não parecer suspeita. Por sorte – ou azar –, ela decidiu zombar de mim em vez de pensar muito no que eu dizia. Graças a isso, consegui descobrir a localização da sala.

Massageei novamente as têmporas, sentindo os olhos pesarem. Pensar em tudo isso só me dá mais dor de cabeça. Não sei como vou lidar com o dia de amanhã sem ter um plano concreto... Mas, por enquanto, dormir parece a melhor solução.

Deixei os pensamentos se dissiparem enquanto fechava os olhos lentamente, tentando ignorar o turbilhão na minha mente.

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Haruki abriu a porta do quarto devagar, a luz suave do corredor iluminando levemente o ambiente. Assim que entrou, fechou a porta com cuidado para não acordar ninguém no dormitório. Já era tarde, e o silêncio era quebrado apenas pelo som de seus próprios passos e do leve zumbido de uma luminária próxima. Ele suspirou, finalmente sentando-se na beirada da cama. Estava cansado, mas um cansaço misturado com um turbilhão de emoções.

Sua mente voltava repetidamente ao encontro com a garota. Ela aceitou ajuda nos estudos... Pensar nisso fazia seu coração acelerar. Não era apenas o fato de ela ter aceitado, mas sim que parecia tão diferente da pessoa que ele conhecia de vista. Hanami tinha uma reputação complicada, algo que ele sabia muito bem. Ela costumava ser muito... exagerada, principalmente com 'ele'. Será que ela mudou mesmo? Ou está apenas tentando algo novo?

Esses pensamentos foram interrompidos por um comentário que surgiu das sombras.

"Você foi assim?"

Haruki quase pulou da cama, girando para trás com uma expressão de susto. Atrás dele, seu colega de quarto estava encostado na parede ao lado da janela, segurando uma caneca fumegante com tranquilidade irritante.

"Por que você sempre aparece assim do nada?!" reclamou Haruki, tentando acalmar o coração.

O outro deu de ombros, olhando Haruki de cima a baixo. "Pergunta válida. Você foi assim no encontro?"

Haruki seguiu o olhar do colega e percebeu que ainda estava com as roupas que usava depois das aulas: uma camisa casual, calça amassada e sapatos comuns. Ele congelou, percebendo que não havia sequer considerado trocar de roupa antes de sair com a sua crush.

"Ah, não! Eu me esqueci completamente!" exclamou, levando as mãos à cabeça. "Fui direto da sala dos professores para o dormitório dela... nem pensei nisso! Ela deve ter me achado um completo desastre."

O colega arqueou uma sobrancelha, dando um gole em sua bebida. "Ela aceitou sair com você de novo?"

"Sim," Haruki respondeu automaticamente, ainda perdido em sua autocrítica.

O outro parou, genuinamente surpreso por um momento, antes de voltar à expressão neutra. "Então, claramente, ela não se importou. Agora, ou ela realmente gosta de você, ou não está te levando tão a sério assim."

"Isso é pra me animar?" Haruki perguntou com uma careta.

"Talvez," respondeu o colega, agora caminhando até a própria cama. Ele se sentou, cruzando as pernas e colocando a caneca na mesa ao lado. "Sendo honesto, estou surpreso. Aquela garota não é conhecida por ser... fácil de lidar. Especialmente quando o Daren está envolvido."

Haruki franziu o cenho ao ouvir o nome. Daren... aquele cara. Será que existe algo entre eles?

O colega continuou, sem perceber o desconforto de Haruki. "Não me leve a mal. Não tenho nada contra ela, mas você sabe o que dizem. Ousada, ciumenta, difícil... Não é todo dia que ela aceita sair com alguém, e, duas vezes. Aliás, foi por isso que sugeri que você a convidasse – achava que ela iria recusar, e você desistiria dela de vez."

Haruki olhou para o colega, surpreso. "Então você não achava que ela aceitaria?"

"Nem por um segundo," admitiu o outro com um pequeno sorriso. "Mas, agora que ela aceitou... bem, talvez você esteja vendo um lado dela que ninguém mais conhece. Pode ser uma boa coisa."

Haruki respirou fundo, tentando processar tudo. Mas antes que pudesse responder, o colega apontou para ele com a caneca. "Ei, Mano... Cadê sua mochila?"

"HEEH?!" Haruki levantou-se de um salto, os olhos arregalados. "Eu esqueci na sala dos professores!"

O colega riu, balançando a cabeça enquanto dava outro gole em seu chá. "Você realmente perde a cabeça quando está perto dela, hein? Isso é hilário."

"Isso não é engraçado!" Haruki protestou, cruzando os braços, mas sua expressão envergonhada não ajudava em sua defesa.

"Relaxa, cara," disse o colega, ainda rindo. "Olha, amanhã é aula da professora Sabrille, certo? Aproveita pra chegar cedo, pegar sua mochila e, quem sabe, convidar Hanami para ir junto. Ela não conhece a professora, certo? Isso já é desculpa suficiente pra se aproximar."

Haruki hesitou, mas acabou assentindo. "Talvez você tenha razão..."

"Eu sempre tenho," disse o colega com um sorriso travesso.

Haruki respirou fundo, finalmente começando a relaxar. Sua mente ainda estava ocupada, mas a determinação em fazer o dia seguinte dar certo crescia a cada instante. Ele olhou para o colega, que agora colocava a caneca vazia na mesa ao lado da cama e se ajeitava para dormir.

"Ei," Haruki chamou, hesitando por um momento antes de continuar. "Valeu pela ajuda... Mesmo que você tenha sugerido tudo isso achando que ela ia me recusar."

O outro deu uma risada baixa, cobrindo-se com o cobertor. "Sem problemas. Mas, só para constar, eu ainda acho que você está se metendo numa situação complicada."

Haruki deu de ombros, tentando esconder um sorriso. "Talvez. Mas eu quero tentar."

O colega virou-se de lado, com um pequeno sorriso nos lábios. "Isso é o que importa, Haruki. Boa sorte amanhã."

"Valeu, Maxter," respondeu Haruki, finalmente se deitando.

Enquanto o silêncio tomava conta do quarto, Haruki fechou os olhos, determinado a fazer do dia seguinte um sucesso. Amanhã, vou mostrar a ela que posso ser mais do que um encontro casual.

E, com isso, ele adormeceu, enquanto Maxter, já de olhos fechados, murmurava com um tom divertido: "Se ela te derrubar de novo, quero os detalhes."

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Final Bônus.

No encontro:

Hanami, percebendo o olhar furtivo de Haruki, lançou-lhe um sorriso suave e travesso.

"O que foi? Tenho algo no rosto?" perguntou, fingindo curiosidade.

Haruki corou imediatamente, desviando o olhar em um gesto desajeitado. "N-não! É só que... você parece feliz hoje."

"Talvez eu esteja," respondeu ela, com um brilho caloroso nos olhos enquanto voltava a contemplar o céu estrelado.

Haruki abaixou a cabeça, sentindo seu coração bater mais rápido. O silêncio confortável entre eles parecia mais barulhento que qualquer conversa. Ele arriscou mais um olhar para Hanami e não pôde evitar o sorriso que se formava em seus lábios.

Talvez, só talvez, as coisas estejam realmente mudando..., pensou, enquanto ficava ao lado dela, sentindo o frio da noite se tornar surpreendentemente aconchegante.