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Chapter 4 - O Primeiro Encontro

Elvira sentiu a chegada deles no momento em que os seus pés ultrapassaram a entrada. Um aviso foi emitido, a sua magia pulsando na sua barriga, uma, duas, três vezes, não deixando dúvidas de que estava a chamar a sua atenção. Nem dez segundos depois, as árvores da floresta encantada enviaram um aviso, não falado, mas mágico, sem forma, de que os visitantes tinham deixado a floresta. Era apenas como se a confirmação suasse na sua mente como um sino. Ela não esperou um segundo sequer antes de abandonar a sua busca e correr para casa na sua velocidade máxima. Ela sabia que os habitantes da sua aldeia reconheceriam os dois como os visitantes por quem ela esperava e não os prejudicariam. Eles iam levá-los até ela, Vixtra até mesmo já os deve ter encontrado. Ela avistou a entrada da sua aldeia e aumentou a velocidade. Dois segundos passaram antes de ela entrar pelos portões do seu pequeno castelo, deixando que as sombras se maleassem nela em forma de um vestido longo com mangas compridas enquanto ela abrandava o ritmo e começava uma calma caminhada para a sala de visitas. Ao chegar à sala que já estava preparada com chás, sumos e alguns biscoitos e sanduíches, ela sentou-se na sua poltrona favorita em frente à lareira de pedra acesa, num tom de verde esmeralda que ela adorava e esperou. A sala tinha duas janelas, levemente abertas , e o ar dançava levemente na sala, abanando as cortinas.Um sofá de pele de três lugares num tom de creme estava disponível à sua frente, coberto com mantas felpudas do mesmo tom da sua poltrona. Um tapete branco felpudo decorava o chão de madeira cinza e passava de baixo da mesa de centro de madeira escura onde repousava a comida. Havia outra poltrona ao lado dela, da mesma cor da em que ela estava sentada, pronta para Vixtra tomar o seu lugar. Elvira passou o tempo a contar as rachaduras nas paredes amareladas e as velas que estavam acesas no candelabro dourado, mas não conseguia distrair a sua mente curiosa. A sua curiosidade estava prestes a ser satisfeita e ela mal podia esperar. Depois de tantos anos sem sentir nada, sentir algo, mesmo que tão levemente era exaustivo e ela estava pronta para voltar ao seu estado normal. Ela chamou mais sombras, estas roçando os seus dedos apoiados num dos braços da poltrona e cruzou as pernas nos joelhos, relaxando.

Ela não precisou de esperar muito, apenas alguns minutos se passaram a Tes de ela ouvir os passos na sua direção, apenas dois pares, mas ela conseguiu ouvir três respirações diferentes e três corações diferentes. Um calmo e forte, o Vixtra, outro com a liberdade da infância , rápido , como o ritmo das passadas de um cavalo selvagem numa corrida, o da criança e outro, irregular e profundo, como o bater de asas ansioso de um pássaro, o macho. Ela não se mexeu, deixando que eles se aproximassem, mantendo o seu olhar nas chamas e permitindo que a sua curiosidade se manifeste calmante.Uma batida nas portas duplas de madeira ao seu lado esquerdo suou mas ela não falou, permitindo que Vixtra abrisse a porta. Os seus passos soaram, mas apenas os dela, enquanto ela entrava na sala. Um passo, dois, três, quatro e ela para.

"Minha senhora, os visitantes chegaram" -mantendo o silêncio e sem olhar para Vixtra, ela gesticulou com a mão esquerda, fazendo com que ela os permitisse entrar. Um suspiro ecoou, seguido de uma respiração profunda, e três pares de passos soaram antes de pararem. Dois aromas chegando ao seu nariz. Um de baunilhae canela, quente, picante e doce, tingido pelo suor dos vários dias de viagem e outro, mais suave, florido e luminoso, de lisases e o luar... Os aromas foram o suficiente para acalmar a sua curiosidade e depois de ouvir o macho engolir em seco duas vezes no silêncio tenso que se seguiu, ela ergueu o olhar na sua direção lentamente. O seu olhar subiu pelas botas arranhadas e sujas de lama do macho, as calças de tecido castanho puidas e sujas e a camisa de linho branca que se estendia no seu peito antes de voltar o seu olhar para a criança que estava embalada no peito do seu pai, com os olhinhos castanhos de boneca a brilhar na sua direção.Ela usava um vestido amarelo que já tinha visto melhores dias, meias brancas e botas de caminhada. O seu cabelo estava solto e uma mecha caiu sobre os seus olhos, fazendo com que ela franzi-se os lábios e a soprasse de volta ao lugar. Algo brilhou dentro dela, diversão ela percebeu, quando a vontade de sorrir tomou conta dela. A menina olhou nos olhos dela corajosamente, soltando um sorriso tímido e levantando a cabeça do ombro do seu pai. O pai dela tremia, ela percebeu agora, os joelhos dele instáveis e mal suportando o seu peso. Franzindo levemente as sobrancelhas, ela olhou na direção dele, apenas para encontrar a sua cabeça curvado e os seus olhos fechados com força, como se estivesse com medo dela. Percebendo que ela tinha deixado escapar alguns fios do seu dominio passar e sabendo que os seres deste mundo eram sensíveis a tais coisas, ela tranvou-o dentro de si, permitindo que ele desaparecesse da sala e deixando o macho relaxar levemente. Ela levantou-se da sua poltrona, atraindo o olhar do macho para ela com o movimento suave, embora ele não deixasse que subisse do seu pescoço, mantendo a cabeça baixa. Ela aproximou-se deles, o predador nela apreciando a maneira como ele congelou no lugar. O aroma de baunilha e canela ficou mais forte, mais distinguível agora do de lisases e luar que pertencia à menina. O corpo do macho estava completamente congelado agora, o seu coração a bater fortemente no seu peito e os seus olhos arregalaram-se levemente em choque. Não percebendo o que causou tal reação, ela aproximou-se mais, levando um dedo ao seu queixo e levando o seu rosto em direção ao dela. Quando os olhos do macho continuaram a olhar teimosamente para baixo e o seu engolir se tornou quase compulsivo, ela falou.

" Olha para mim." - a ordem foi dada suavemente, mas ele reagiu mesmo assim, o olhar dele saltando para o dela e dobrando, triplicando de tamanho. A sua magia rugiu dentro dela, saltando em direção ao macho, batendo na magia dele e dominando-a, entrelaçando-se com a dele antes mesmo dela sequer conseguir pensar em impedir. A magia dele acolheu-a e a dela fez o mesmo com ele. Uma única palavra escapou dos lábios do macho à sua frente.

" Companheira..."- um rosnado suave, quase um choramingo.

Interessante, ela pensou.

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Lúcios não conseguia pensar enquanto entrava na sala onde estava Elvira, tudo o que ele conseguia sentir era o coração dentro do seu peito a saltar no ritmo mais irregular que ele já tinha sentido. Ele não precisava de entrar na sala para sentir o domínio dela de tão abrangente que era, os seus olhos nem mesmo se conseguiam erguer no chão antes de entrar na sala e ele só conseguiu dar alguns passos antes de ter de parar, não conseguindo avançar mais e conseguir-se manter em pé. Ele fechou os olhos não conseguindo olhar para ela sequer, de tão forte que o domínio dela o atingia, mesmo que não provocasse nenhuma pontada como faria se ela estivesse a tentar domina-lo. O seu lobo choramingava na sua cabeça, rolando e mostrando a barriga, despertado para escapar do dominio dela. Havia um cheiro presente na sala que era o suficiente para o acalmar, eram rosas, fumaça e sangue num só. Um cheiro agressivo e afiado, o cheiro dela, ele percebeu. O cheiro de Elvira. Ela estava sentada numa poltrona, ele tinha percebido ao entrar, mas ele só conseguiu destinguir um braço prateado e sombras antes de ter de fechar os olhos para resistir ao domínio dela sem cair ou deixar cai Lilia.Oh Deuses, Lilia, ele tinha de proteger Lilia. Mas como? Ele nem sequer conseguia dar um passo sem tremer ou cair, como é que ele a protegeria. O domínio desapareceu completamente num piscar de olhos, a falta da força ao redor dele quase causando o seu desequilíbrio. Os seus joelhos recuperaram a firmeza e ele conseguiu relaxar levemente, os seus pulmões sugando uma respiração mais profunda e o seu lobo relaxando na sua cabeça quando mais do seu perfume entrou nas suas narinas. Elvira levantou-se da poltrona verde num movimento suave, as sombras que a cobriam esvoaçantes ao redor dela enquanto ela se aproximava lentamente, os seus movimentos carregando mais do cheiro dela em direção a ele. Ela era linda, ele percebeu, mesmo sem olhar diretamente para ela. Ela tinha uma linda figura de ampulheta evidenciada pelo vestido de sombras, era atlética e a pele dela é de um tom de prata brilhante, contradizendo com a escuridão dos seus cabelos soltos selvagemente ao redor do seu corpo, um longo cabelo, chegando ao meio das suas coxas em ondas largas e suaves. Ela aproximou-se mais e o seu lobo começou uma dança feliz na sua cabeça abanando o rabo e rolando com a língua de fora. O seu lobo estava a tentar seduzir-la, ele entendeu então, os olhos arregalando-se com a percepção. Ele manteve os olhos baixos enquanto ela se aproximava, percebendo que a altura dele a ultrapassava levemente, o suficiente para que os lábios dele estivessem próximos do nariz dela quando estavam de frente um para o outro, ficando na linha direta de visão dos seus olhos. Os lábios dela eram cheios e em formato de coração, de um cinza mais escuro e brilhante que o restante da sua pele. Ele perguntou-se se eram da sua cor natural ou ela tinha usado algo para pinta-los para ficarem deste tom de cinza mais escuro que combinava perfeitamente com ela. Ela estendeu uma mão para ele, para o queixo dele, erguendo o seu rosto em direção ao dela, e ele baixou o olhar, mantendo-o na direção dos lábios dela e engolindo em seco, com medo de olhar para cima e provoca-la mesmo que ele quisesse desesperadamente vê-los e confirmar a sua beleza. Ele abraçou mais Lilia contra si, encontrando certo conforto em lembrar-se de que ela ainda estava com ele e não parecia assustada. Uma voz suou ao redor dele, tão suave como uma lâmina de aço.

" Olha para mim." - ele nem tinha ouvido a ordem completa antes que os olhos dele saltassem para os dela. Eles eram lindos, negros como carvão e tão profundos, brilhando como mil estrelas. Era o espaço, ela tinha o universo nos olhos, ele pensou. O lobo dele e a sua magia saltaram na sua mente antes de serem antingidos tão fortemente e dominados tão rapidamente que ele nem teve tempo de respirar. Os seus olhos quase saltaram quando o vínculo se formou e o seu lobo empurrou um choramingo pelos seus lábios: "Companheira..."