Chereads / The Mystery Of The Princess / Chapter 3 - Primeiro Amor

Chapter 3 - Primeiro Amor

Caminhando sem rumo, o grupo resolveu escolher qual caminho seguir. A decisão não demorou muito, já que a saída mais próxima de onde estavam levava ao Vilarejo Forfio. Assim, iniciaram sua jornada rumo a Valhell, passando por ruas, campos de plantações e estradas de terra que marcavam o limite do reino.O primeiro dia havia se passado, e Marco continuava acordado, sem parar para nada. Movido por sua força de vontade, ignorava todas as suas necessidades, enquanto os outros demonstravam sinais de fraqueza — com exceção de Aron, que, mesmo cansado, mantinha o silêncio e a postura firme."Eu não aguento mais!" gritou o anão, ofegante, enquanto tentava alcançar Marco."Vocês só não estão cansados porque não precisam dar o dobro de passos!" reclamou o goblin ao lado de Gandul."Vamos continuar. Quando tudo acabar, nós descansamos" respondeu Marco em tom sério, mantendo o ritmo acelerado.Com o passar das horas, o grupo perdeu de vista as luzes do reino, enxergando apenas a escuridão da floresta e o brilho das estrelas. Era uma floresta calma, cheia de folhas que voavam com a brisa fria das grandes árvores. No entanto, a escuridão era profunda, até que Aron avançou, colocando a mão no ombro de Marco para interrompê-lo."Marco, sei que está com pressa, mas para chegarmos a Valhell precisaremos de muito mais do que força de vontade. Estamos todos exaustos, e acho justo comermos e descansarmos aqui. Ou você acha que só ela merece viver?""É verdade! Estamos aqui, famintos, e meus calos estão me matando por culpa sua!" reclamou Gandul."Foram vocês que aceitaram vir" retrucou Marco."Olha, tem uma caverna logo à frente onde podemos descansar. A princesa não vai morrer se pararmos um pouco. Descansar também faz parte da jornada. Você não pensou que seria tão rápido assim, não é? " questionou Aron.De início, Marco pensou em iniciar uma discussão e sair andando sem parar rumo a Valhell. No entanto, ao refletir sobre as palavras de Aron, percebeu que a viagem demoraria mais do que esperava e que não poderia colocar os outros em perigo por sua própria irresponsabilidade."Está bem, vamos fazer uma pausa e continuar amanhã cedo" disse ele.E assim foi feito. Todos se dirigiram à caverna, acenderam uma fogueira, encheram suas odres de água após encontrarem um pequeno lago atrás do local onde estavam, e finalmente dormiram ao som da música que Gandul cantarolava, lembrando-se de sua terra:"Acima das nuvens, debaixo de toda terraNosso minérios, nossas terras.Corações que batem como picaretas.Ganjerdoom,Lugar á muito tempo por mim esquecido"Com o nascer do sol, os quatro se levantaram, juntaram suas coisas e retomaram a caminhada. Desta vez, sem pressa, pois Forfio estava cada vez mais próximo."Com esse silêncio todo, consigo até ouvir minha própria respiração" comentou Gandul entediado."E como você pretende quebrar esse silêncio?" perguntou Aron, que caminhava à frente."Podemos cantar" sugeriu o anão."Não, nada de cantar agora, senão eu durmo" disse Tododon."Então o que você sugere?" questionou Marco."Eu sugiro que você conte essa historinha sobre a princesa" disse Tododon, curioso com a história que havia sido prometida."Toda? É muito longa para ser contada agora" respondeu Marco."Olha só, estamos caminhando há horas. Temos tempo de sobra para ouvir tudo" retrucou Tododon."É... já que insiste, tudo bem, mas será uma longa história...".Agora, essa parte da história deixaremos ele mesmo contar:"Tudo começou sete anos após a Grande Guerra. Minha mãe era cozinheira do castelo, e eu ficava em casa com meu pai, que era comerciante. Todos os dias, eu o ajudava na barraca, e à noite saía correndo para esperar minha mãe na porta de casa com uma flor que pegava pelo caminho. Sempre achei que trabalhar em um castelo era algo cansativo — e realmente é. No entanto, só fui descobrir isso alguns dias depois da comemoração do sétimo ano sem guerra.Vocês sabem como o povo de Farmsky não dispensa uma festa, não é?Pois bem, nessa data, meu pai faleceu após perder muito sangue enquanto tossia durante seu trabalho na feira. Minha mãe, então, precisou me levar com ela para morarmos no castelo. Ela me explicou que seu salário não seria suficiente para manter nossa casa sozinha, mas disse que o rei nos permitiria viver lá sob uma condição: eu teria que jurar lealdade e servi-lo como guarda quando completasse dezesseis anos.O castelo era imenso... Os corredores, os salões de baile, até mesmo as portas pareciam de outro mundo. Tudo era muito rico e reluzente. Os jardins eram enormes e exuberantes, e eu colhia muitas flores de lá para minha mãe. Contudo, não sabia que algo mais belo existia naquele lugar até conhecer uma menina que, dias após o falecimento de meu pai, estava na cozinha conversando com minha mãe.'Filho, onde você estava?''Eu estava no jardim, mãe. Olha a flor que achei!' falei, indo ao encontro dela.'Marco, essa é a princesa. Diga oi para ela.''Oi...'E lá estava ela, com os cabelos presos por uma fita branca, seus olhos mais brilhantes do que toda a riqueza daquele castelo. Era uma verdadeira obra de arte...""Então estamos aqui por causa da sua paixão pela princesa?" questionou Gandul."Vocês querem ouvir ou não?""Continue" disse Tododon."Bom, onde eu parei? Ah, sim, já me lembrei.'Oi, meu nome é Stella.''É... Eu me chamo Marco.''Entregue a flor para ela' sussurrou minha mãe para mim.'Mas...''Mas nada. Depois você traz outra para mim' disse ela, ainda sussurrando.'Para você' falei, envergonhado, entregando a flor para Stella.'Nossa, ela é muito bonita! Obrigada' agradeceu a princesa, com o sorriso mais lindo que já vi.'Minha querida, está na hora de ir. A senhorita sabe que não pode ficar aqui na cozinha conversando com os funcionários. Se seu pai descobrir...''Tudo bem, Dadá. Amanhã volto aqui. Tchau, Marco' disse ela, despedindo-se com um forte abraço em minha mãe e, em seguida, acenando para mim enquanto se retirava''Por que ela lhe chamou de Dadá, mãe? Achava que só eu chamava você assim.''Ela pode ser da mais alta realeza, mas sempre terá um espaço comigo para ser uma criança normal. Nem tudo precisa ser tão regrado e formal, meu filho. Mas nunca seja desrespeitoso, ouviu? Aqui, trate-os da maneira como eles quiserem e seja forte.'Foram palavras confusas, mas, com o tempo, eu fui entendendo. A princesa queria apenas alguém de confiança para conversar sobre tudo, sem muitas formalidades, e esse alguém era minha mãe.Todos os dias, a partir de então, eu passei a colher flores, conversar e brincar com as duas nos breves momentos em que Stella conseguia nos ver. Meus dias eram felizes. Mesmo sentindo falta do meu pai, elas me faziam sorrir como nunca antes. Como minha mãe sempre dizia:'Mesmo não estando de corpo presente, a alma do seu pai estará sempre com você. A nossa felicidade é o seu bem, então seja feliz.'Os anos se passaram, e, quando completei quinze anos, tive de partir junto com o Sr. Konor — um guarda impressionante que, tempos depois, se tornou Sir e braço direito do rei — para ser treinado durante um ano na floresta, juntamente com outros homens.A cada mês, eu enviava uma carta para minha mãe ler junto com a princesa. Porém, ao voltar, descobri que minha mãe havia falecido antes de ler a última carta. Apenas Stella a leu, mas não conseguiu forças para responder. Então, na noite em que cheguei, ela, depois de sair dizendo que precisava respirar um pouco, ficou me esperando sentada em um banco no jardim, segurando um papel. Nunca recebi um abraço tão forte quanto o que a princesa me deu ao me ver; aquilo foi muito bom, e eu não consegui conter o choro, porque minha mãe era meu mundo.A partir daquele momento, percebemos que deveríamos ser o apoio um do outro.Ela me contou que minha mãe havia ficado muito doente alguns meses após minha partida, entregou a carta que minha mãe não pôde me enviar e ficou ao meu lado, me tranquilizando e segurando minha mão enquanto eu lia. Ela é incrível...""Nossa, eu queria ter um amor assim" choramingou Gandul."Segura esse choro, senão não conseguimos caminhar. Pode continuar" disse Aron."Bom, depois desse dia, tudo mudou. Passei a servir como guarda real e, mesmo conversando menos com a princesa, estávamos cada vez mais próximos. De alguma forma, sua presença era um ímã para os meus olhos.Mas a maior mudança aconteceu um ano depois. Eu estava esperando por ela no jardim, no horário combinado. Entretanto, quando a vi, ela estava cabisbaixa, parecia triste. Quando perguntei se estava bem, ela fingiu um sorriso, disse que estava, e logo se despediu com um abraço, dizendo que precisava voltar porque sua doula a aguardava. No entanto, ela deixou de pegar a flor que sempre esperava por ela, e o brilho em seus olhos havia se tornado vazio.Não sei se ela queria que eu estivesse viajando até o outro lado do mundo para ajudá-la, mas suas atitudes me pareceram um pedido de socorro. E eu não desistirei até vê-la bem novamente.Agora que terminei a história e está anoitecendo, vamos dormir debaixo desta árvore, porque amanhã continuaremos até chegarmos em Forfio.""Eu não disse que teríamos tempo para ouvir tudo?" falou Tododon."Realmente tiveram. Agora, boa noite" disse Marco, fechando os olhos."Boa noite" responderam todos antes de dormirem profundamente.Na manhã seguinte, os quatro retomaram a caminhada. Após algumas horas, já estavam novamente em um caminho de terra, o que indicava a chegada a Forfio."Marco, eu sei que estamos chegando, mas também não precisa correr!" falou Gandul, esbaforido, correndo atrás de Marco, enquanto os outros dois andavam normalmente."Vamos Gandul! uma corrida não faz mal a ninguém, andaaaa!" disse Marco esbarrando sem querer em um momento de desatenção em uma moça de cabelo preto e longo, de olhos verdes com uma cesta em mãos que, ao esbarrar em Marco caiu no chão."Desculpa, você está bem?" perguntou Marco apanhando a cesta do chão."Senhorita, desculpe este pobre homem que não sabe enxergar algo tão belo em sua frente" disse Gandul beijando a mão da moça."Tudo bem, não foi nada" respondeu ela dando um leve sorriso."Mas agora que se esbarraram comigo, eu teria o direito de perguntar seus nomes?""Mas é claro! Eu, o líder desses coitados, me chamo Gandul. Este é o Marco, aquele loiro é o Aron, e a ervilha ao lado dele se chama Tododon.""Ervilha são esses seus dedos, gordos e pequenos!" reclamou Tododon."Ignore a falta de respeito dos dois. Mas, já que perguntou nossos nomes, creio que temos o direito de saber o seu" falou Marco."Tudo bem. Meu nome é Elysse, mas podem me chamar de Ely" respondeu a moça, estendendo a mão para eles.Explicação rápida: "Odre: recipiente para transportar água"Carta de Dadá para Marco: (Farmsky, 4 de novembroQuerido Marco,

Eu sei que fiz errado de não lhe contar da minha doença nesses últimos meses, mas não queria que você perdesse o foco do seu treinamento, da sua palavra.

Você sempre foi um garoto tão gentil...Tenho certeza que continuará assim.

Não esqueça de ajudar Stella, você é o único que pode ajudar ela a ser quem realmente é. E se precisar futuramente, tem minha benção.

Estou lhe mandando essa carta pois creio não estar mais aqui quando você voltar, mas saiba que eu te amo muito, e sempre vou te amar.

Com carinho,

sua mãe, sua eterna Dadá.)