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Chapter 4 - Um espelho em pedaços

"Você nunca mais pisará neste castelo, a não ser que queira morrer!".

"Minha nossa, nunca vi o Rei Magnos tão estressado assim. Com quem será que ele está falando?" disse Patrícia, indo espreitar o que estava acontecendo em frente à sala do rei.Enquanto isso, na biblioteca do castelo, uma sala repleta de estantes cheias de livros e grandes janelas, com uma escada central que dava acesso aos livros na parte superior, a princesa lia mais um livro de sua coleção. Sentada em uma das janelas, ela desfrutava do silêncio, interrompido apenas pelo barulho da vassoura que uma faxineira usava para limpar o local. De repente, ouviu a porta se abrir e viu sua doula entrar na biblioteca, correndo em direção à faxineira."Você não sabe o que aconteceu!" falou Patrícia, em um tom alto o suficiente para Stella ouvir e ficar curiosa."O que houve?" perguntou a faxineira."Vossa Majestade está uma fera hoje. Ele até expulsou um dos guardas do castelo!""Um guarda? Quem era?" interrogou a mulher."Foi o garoto... Marco!""O Marco?!" perguntou Stella, fechando o livro e se levantando rapidamente."Senhorita! Me perdoe, eu não a vi. Entrei depressa e disse palavras tolas. Não falei sério ao chamar Vossa Majestade de fera; foi apenas uma forma de expressão. Perdoe-me, princesa" implorou a doula ao ver Stella."Não serão necessárias desculpas. Quero saber o que meu pai fez. É verdade o que você acabou de falar?""Sim, senhorita. Eu acabei de ver" respondeu Patrícia, cabisbaixa."Onde está meu pai?""Em sua sala, Vossa Alteza."Sem mais palavras, Stella seguiu em direção à sala de reuniões de seu pai, furiosa, com passos firmes e rápidos.Chegando à sala, bateu à porta com força, chamando a atenção de seu pai, que se encontrava sentado atrás da mesa, conversando com Sir. Konor. Ao ver a jovem, Sir. Konor parou de falar e se colocou de pé ao lado do rei."Onde está o Marco?!""Ser minha filha não lhe dá o direito de falar assim comigo.""O que você fez?!""Fiz o meu dever.""Qual era o seu dever, pai? Expulsá-lo sem motivo?""Você não sabe do que está falando, e ordeno que me respeite!""E o que foi aquilo que você fez? Por que mandou embora alguém que não fez nada além do seu trabalho?" continuou a princesa, impaciente."Por que está dando tanta importância a esse rapaz?""Ele é um guarda leal, pai. Assim como todos os outros, ele nos ajuda, e eu não ficarei parada vendo meu próprio pai tomar decisões estúpidas para este reino!""OLHA COM QUEM VOCÊ FALA, STELLA! Você me deve respeito, não só como seu pai, mas como REI! Se não fosse por mim, você não teria tudo o que tem, nem o respeito que lhe dão. Você ainda é muito tola para entender como se governa um reino, então sugiro que se cale!""Princesa, Vossa Alteza talvez não saiba o que aconteceu, mas saiba que Vossa Majestade teve motivos para tal ato. Não é necessário ter essa discussão. Como responsável pela segurança deste castelo, eu lhe afirmo que um guarda a menos não fará falta, principalmente um que não tem o porte necessário para tal responsabilidade e confiança" disse Sir. Konor, ao lado do rei."Não quero mais ouvir suas reclamações, Stella. Estamos em uma reunião, então, por favor, se retire.""Hum, vocês não sabem de nada" sussurrou a princesa."Falou alguma coisa, minha filha?""Não falei. Vou me retirar. Com licença."Enfurecida, Stella deu uma volta pelo jardim para espairecer e foi para o seu quarto.No caminho, ela escutou um barulho vindo do corredor à esquerda e decidiu passar por ali. O corredor estava vazio, mas o som continuava. Era baixo, como se fossem objetos caindo no chão. Entretanto, naquele corredor, só havia a despensa. Ao abrir a porta..."AAAAAA!" gritou Stella, dando passos para trás."AAAAAA! Obrigado, Ariá! Era isso que eu estava procurando. Que bom que ajudou... Princesa!" falou um pequeno homem, tentando disfarçar sua vergonha."Senhorita! Minha nossa!" disse uma mulher assustada, enquanto arrumava os materiais de limpeza ao ver a princesa."Não preciso de explicações! Não quero saber disso, obrigada!" insistiu Stella, ainda paralisada."Princesa, o que é isso? Está pensando cada coisa errada. Ariá estava procurando esse... Sabão! Esse sabão aqui para mim, eu sou muito baixo para alcançar. Mas vamos conversar! Vossa Alteza estava a procura de que?" falou Klaus puxando a princesa para andar."Nada, nada" falou Stella perturbada enquanto andava."E para onde estava indo?" questionou Klaus."Para o meu quarto.""Que coincidência! Eu estava indo para lá agora mesmo. Vamos juntos?""Quê?!""Ah, não se preocupe. Estava indo lhe informar algo sobre um certo guarda...""O que aconteceu com o Marco?""A senhorita já está sabendo? Pois então não tenho mais nada a contar.""Como assim não sabe de mais nada? Klaus, você é quem sempre tem informações para oferecer. Sabe muito sobre as coisas que acontecem por aqui. Não tem nada mais?""Bom, ter eu tenho, mas não sei se estou autorizado a falar sobre isso...""O que quer em troca?""Hum... Bom, acho que o seu silêncio já basta para mim.""Eu não iria contar nada mesmo, então está tudo bem por mim. Agora conte. O que aconteceu?""Bom, a parte dele lhe chamar de doida para seu pai, a senhorita já sabe, entã—""Doida? Ele me chamou de doida?""A princesa não falou que já sabia do ocorrido?""Você que presumiu.""Então acho melhor irmos primeiro ao seu quarto para eu lhe contar tudo. Falar aqui pode me fazer ser expulso também."Chegando ao quarto, Stella sentou-se na cama enquanto Klaus se encostou na borda para se apoiar."Tá, por onde eu começo?""Pelo início, Klaus.""Bom, me encontrei com ele quando estava na rua, triste, desolado, na solidão das ruas de Farmsky, como um pobre garotinho...""Klaus, você vai me contar ou enrolar até amanhã?""Tudo bem, Vossa Alteza. Voltando aos acontecimentos... O Marco falou que viu um monstro atrás de você na noite anterior e resolveu falar com o rei, pois estava muito preocupado com a senhorita. Mas, quando tentou explicar, não encontrou palavras para descrever o que viu, e Vossa Majestade o expulsou.""Ele enxergou um monstro atrás de mim?" perguntou Stella, preocupada."Foi o que ele me disse. Mas eu acreditei, então mencionei que conhecia uma mulher em Valhell que poderia saber mais sobre isso. Agora, tudo o que sei é que ele estava disposto a arrumar um jeito de lhe ajudar. Portanto, disse que ele precisaria de ajuda. Então, creio que ele deve estar procurando alguma agora mesmo.""Eu não acredito nisso...""Eu também não acreditei que ele era doido a ponto de querer ir até Valhell.""Não, não é isso... Na verdade, é também. Mas em que lugar ele pode estar agora?""Bom, a julgar pelos meus conhecimentos, nesse horário ele só poderia encontrar ajuda em um local: a taverna.""Taverna? Qual delas?""Realmente são várias. A mais próxima daqui é a Taverna do Olho Dourado, pode ser que ele esteja por lá.""Então vamos para lá" disse Stella, se levantando e pegando sua capa com capuz para não ser reconhecida."É doida, é?! Sabia que você é uma princesa? E, como tal, você não pode sair essas horas.""Daremos um jeito.""Como assim, daremos? Não há motivos para me colocar nesse seu plano falho.""Você vai junto comigo.""Eu estou fora. Quem é você para me colocar em uma cilada dessas?" falou Klaus, rindo, até lembrar com quem estava falando."Deixa quieto, a senhorita é a princesa, não precisa me responder, me desculpe.""Ainda bem que sabe. Como vamos sair daqui?""Deixa eu pensar... A! Vossa Alteza só precisa ir coberta com essa capa e me seguir, então a senhorita chega pela esquerda da porta dos fundos e eu cuido dos dois guardas que ficam lá. O que acha?""Se conseguir me tirar deste castelo, então vamos"E assim, Stella e Klaus saíram do quarto seguindo caminhos diferentes, mas com cuidado para não serem vistos, em direção à porta localizada no lado esquerdo do castelo, onde havia dois guardas de vigilância: um mais alto e magro, e outro mais baixo, porém bem mais forte.Aparecendo escondida pela lateral de uma das colunas do castelo, Stella ficou em silêncio para que ninguém a visse, enquanto Klaus chegava dedilhando seu alaúde e indo de encontro com os guardas."Olá, meus rapazes. Querem ouvir uma música nova?" disse Klaus em um tom bem convincente... só que não."Nem ouse tocar mais uma música para nós. Da última vez que fez isso, ficamos vomitando após você nos fazer dançar por horas sem parar" falou o guarda mais baixo."Qual é, gente? Ali foram vocês que não quiseram dançar, mas meu número precisava de dois dançarinos. Agora, essa nova música é para inspirar vocês.""Inspire outros. Não seremos mais suas marionetes de teste" falou o guarda mais alto, enquanto a princesa fazia uma cara de irritada para Klaus, que olhou e logo teve que pensar em algo."Ah, já sei" sussurrou Klaus."Já que não me deixam cantar, vou direto ao assunto. Eu e Jeffrey temos que sair, mas logo voltaremos. É ordem do rei" falou Klaus, fazendo um sinal para a princesa aparecer."Jeffrey? Nem te vi chegando, me desculpe.""É..." travou a princesa ao aparecer na frente dos guardas, sendo interrompida por Klaus."Parece que ele está meio ruim da garganta, então nem falou muito quando eu o encontrei, mas foi ordem do Sir. Konor que ele fosse junto comigo.""Faz sentido. Do jeito que é, voltaria bêbado de novo" disseram os guardas, rindo."Mas vão, podem ir" respondeu o guarda mais baixo, abrindo o portão para Klaus e Jeffrey, que, ao passar pela porta e fechá-la, voltou a ser Stella."O que você fez para eles não me reconhecerem?""Magia ilusória, querida. Esse corpinho pequeno esconde as habilidades de um deus" falou Klaus, inflando o peito de orgulho."É, deus da idiotice. Só sendo mesmo...""Fique sabendo que eu sou um homem sério e muito habilidoso. Sabia que até a sua voz e sua roupa eu mudo quando uso esse poder?""Está certo, senhor habilidoso. Agora me leve para a taverna."Após caminharem por alguns minutos, eles chegaram à taverna do Olho Dourado. Adentrando pela porta, Stella observou um local que, com toda a certeza, nunca pisaria se dependesse de seu pai.Do lado direito, havia um balcão onde as bebidas eram preparadas, com prateleiras ao fundo e barris cheios delas. Tudo era servido por um senhor que enchia copos grandes e amadeirados para serem entregues às mesas do lado esquerdo do salão, um espaço cheio de pessoas diferentes que gritavam, brigavam, dançavam e bebiam.Após observar toda a taverna, ela se juntou a Klaus no balcão, onde ele se encontrava pedindo uma bebida ao senhor de olho dourado."Com licença, o senhor é o dono deste estabelecimento?" perguntou Stella."Quem seria essa jovem? É sua nova companhia?" questionou o velho."É minha prima, velho. A Suzan" respondeu Klaus."Ah! Suzan. Ouvi falar muito de você. Me chamo Sr. Fink, mas me chame como quiser.""Ele é o dono" sussurrou Klaus para Stella, que estava preocupada com o que Klaus poderia ter aprontado novamente."Ah, olá, Sr. Fink. Me chamo St- Suzan. É um prazer conhecê-lo.""Klaus falou muito sobre você e como descobriram que eram primos.""História muito intrigante, mas vamos deixar para a próxima, velho" disse Klaus, nervoso."História? Minha nossa, eu não quero saber" sussurrou St- ou melhor, Suzan."Senhor Fink, por acaso o senhor viu um homem de armadura real por aqui?" questionou Suzan."Vi sim, saiu há pouco daqui, antes de levar uma surra desse pessoal.""Como assim?" interrogou Suzan."É, ele estava implorando ajuda por aqui, aí vocês já sabem, né? Quiseram bater nele, mas ele saiu antes. Mas quando fui buscar um pano lá em cima, vi ele saindo com dois homens que expulsei daqui por brigarem demais.""Quê?!" exclamou Suzan."Calma, Suzan, relaxa. Fica calma. Ele pode ter encontrado ajuda, vai saber" respondeu Klaus, intrigado."Não sabia que vocês ligavam para guardas reais.""Não, ela apenas se confundiu com um homem que não pagou a noite. Mas eu falei que não era ele, e sim outro parecido. Então não precisa se incomodar, velho" falou Klaus, saindo da taverna com a moça."Pagar a noite?! Que—" indignou-se Stella, sendo interrompida pelo bobo."Ela é meio doida, velho, não liga não!" gritou Klaus, fechando a porta."Eu já estou velho demais para entender as loucuras dele" falou Sr. Fink, voltando ao seu trabalho após os dois saírem da taverna."Como assim 'pagar a noite'?! Você usou esse poder de novo? Quem é Suzan?!" perguntou Stella, indignada, enquanto caminhavam de volta para o castelo."Acho que você não vai querer saber, mas o importante é que agora sabemos que ele achou companhia para a viagem.""Ou dois loucos para baterem nele" disse a princesa, preocupada."Tem isso também, mas vamos pensar positivo.""Queria poder fazer algo..." falou Stella, cabisbaixa."Você tem muitas coisas para fazer por aqui, então só torça para que ele esteja bem, tá?" falou Klaus, consolando-a."Está bem..."Ao voltarem para o castelo, os dois foram para seus quartos dormir. No dia seguinte, todos começaram seus trabalhos normalmente: os cozinheiros preparavam o café, os jardineiros cuidavam do jardim e Klaus... bom, fazia suas funções como bobo da corte:"Vossa Majestade deveria cortar o cabelo. Já consigo ver sua careca daqui. Acho que o senhor deveria deixá-la uniformemente careca!""Klaus, está de manhã. Se eu quisesse você me perturbando, eu falaria. Agora toque uma música para mim.""Seu pedido é uma ordem!"Enquanto isso, no quarto da princesa..."Vossa Alteza não prefere este colar de rubi? Combina com sua roupa.""É muito pesado, Patrícia. Quem usa isso logo de manhã? E sem esse vestido também. Vou parecer um lustre com ele.""Senhorita, foi o rei quem pediu que usasse para causar uma boa impressão na sua aula de etiqueta com a nova professora. Ela parece ser muito conhecida por sua grande influência em outras terras. Parece que Vossa Alteza só poderá ter uma aula por semana devido à agenda lotada da Madame Mor.""Tudo bem que ela tenha grande influência, mas como meu pai acredita que eu possa ganhar pontos com ela parecendo um lustre, Patrícia?""Vossa Alteza, isso eu não sei.""Saia" falou Stella repentinamente, ao sentir um calafrio."Senhorita? Se for pelo vestido—""Saia!" gritou a princesa, com lágrimas no rosto, fazendo sua dama de companhia se retirar assustada de seus aposentos."Não deveria mandar essa coitada sair de uma forma tão agressiva, princesa..." falou uma voz por trás de Stella, acompanhada de um sorriso."Eu falei isso para você, aberração!" exaltou a princesa, assustada, após ver apenas um sorriso refletido no espelho por um breve segundo."Aberração? Ora, você está muito nervosa, princesa... Acho que deveria se conter um pouco mais, senão alguém poderá ouvi-la" continuou a voz, aproximando-se cada vez mais."Saia de mim... Saia..." choramingou Stella, pondo as mãos no rosto."Para que chorar? Você é tão fraca... Tenho pena das pessoas que ainda pensam que podem contar com sua coragem para reinar tudo isso" disse a voz, colocando suas mãos nos ombros da princesa. Deixando-a ver somente os ossos de suas mãos por um instante, que desapareceram logo em seguida."SAIIIII!" gritou a princesa, que, em um momento de desespero, pegou seu colar para arremessar na direção da voz, mas, por algum motivo, o jogou para frente, quebrando o espelho de sua penteadeira."SAAAAI!" esgoelou a princesa, atordoada, sem conseguir cessar as lágrimas, chamando a atenção de alguns funcionários que estavam pelo corredor, fora de seu quarto."Senhorita, o que houve?!" falou a doula, desesperada, entrando no quarto."Vossa Alteza! O que aconteceu? Está bem?" perguntou um faxineiro que parou de limpar o corredor para ver o problema.Ao entrarem no quarto, a voz sumiu, e só o que podia ser visto era a princesa chorando, ajoelhada no chão à frente de sua penteadeira quebrada em pedaços.