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Chapter 4 - Capítulo 4: Novos Começos

Kai olhou para o visor do VR sobre sua mesa, refletindo sobre o caminho que o levara até ali. Interverse era mais do que um jogo para muitas pessoas; era uma revolução. Quando o jogo surgiu, sem aviso ou marketing, ele tomou o mundo de assalto. Com uma tecnologia de imersão completa, simulação quase indistinguível da realidade e mecânicas profundas, Interverse logo se tornou mais do que entretenimento.

Para muitos, era uma oportunidade.

E para Kai, era uma necessidade.

Ele respirou fundo, ajustando o visor. Apesar de Nina ter insistido por meses para que ele experimentasse o jogo, a verdade era que ele relutava. Não porque não estivesse curioso, mas porque não tinha tempo para algo que parecia "desperdício". Sua realidade era muito mais apertada: órfão desde os 14 anos, ele dependia de Nina, apenas dois anos mais velha, para cuidar dele. Ela sempre trabalhou duro, mas agora as coisas estavam ficando mais difíceis. Com o custo de seus estudos aumentando, ele sabia que precisava encontrar um jeito de ajudar.

E era aí que Interverse entrava.

Nos últimos meses, ele ouvira histórias de pessoas ganhando dinheiro no jogo. Jogadores que encontravam itens raros e os vendiam por dinheiro real, artesãos virtuais que fabricavam equipamentos únicos e negociavam por pequenas fortunas. O jogo não era apenas um passatempo; era um ecossistema com implicações no mundo real.

Kai ajustou o visor. Ele precisava fazer isso funcionar. Por Nina e por ele mesmo.

Kai reapareceu nas Terras Abandonadas, o vento árido soprando contra seu rosto. Aya estava esperando a poucos metros, encostada em uma rocha com os braços cruzados. Quando o viu, deu um sorriso.

— Demorou, hein? Achei que tinha desistido.

— Eu precisava pensar em algumas coisas — respondeu ele, ajustando a espada na cintura.

Aya assentiu, observando-o por um momento.

— Bom, espero que tenha clareado a mente. Porque hoje vamos subir de nível.

Kai arqueou uma sobrancelha. — O que exatamente você quer dizer com isso?

— Caça, contratos, exploração. Tudo o que puder nos dar XP e loot. Além disso, se você quer sobreviver aqui, precisa aprender a se virar.

Kai assentiu, sentindo a familiar ansiedade crescer em seu peito. Mas ele também sentia algo mais: determinação. Ele sabia que não podia falhar.

Os dois caminharam pelas Terras Abandonadas em silêncio por algum tempo, até que Aya, aparentemente notando a expressão distante de Kai, resolveu falar.

— Então, por que você realmente entrou no Interverse? — perguntou ela, lançando um olhar rápido por cima do ombro.

Kai hesitou, olhando para o chão seco e rachado. Ele não estava acostumado a abrir-se com estranhos, mas algo na sinceridade de Aya o fazia sentir que podia confiar nela.

— Minha irmã me incentivou — começou ele, a voz baixa. — Mas não é só isso.

Aya diminuiu o passo, ouvindo com atenção.

— É… complicado. Nós somos órfãos. Ela sempre cuidou de mim, desde que nossos pais morreram. Trabalhou muito para que eu pudesse estudar e… bem, agora as coisas estão apertadas. — Ele respirou fundo, tentando manter a voz firme. — Eu preciso ajudar. E ouvi dizer que pessoas ganham dinheiro aqui, vendendo itens, fazendo missões. Achei que poderia tentar.

Aya ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos no horizonte.

— Então você não está aqui só para "brincar de herói". — Ela deu um sorriso de canto. — Isso explica por que você se esforça tanto, mesmo sendo um novato.

Kai deu de ombros, sentindo-se um pouco exposto.

— Você disse que as pessoas ganham dinheiro aqui. Como isso funciona?

Aya apontou para um jogador à distância, que enfrentava um grupo de criaturas menores.

— Esse aí, por exemplo. Ele está caçando monstros por loot. Tudo o que cair — equipamentos, materiais, até itens raros — pode ser vendido no mercado dentro do jogo. O mercado, por sua vez, é conectado ao mundo real.

Kai franziu o cenho. — Conectado como?

— Dinheiro. De verdade. — Aya parou e virou-se para ele. — Interverse não é só um jogo. É uma economia aberta. Cada peça de armadura, cada arma ou habilidade rara tem um preço. Se você souber onde procurar — e se tiver sorte —, pode ganhar o suficiente para viver disso.

Kai ficou surpreso. Ele ouvira falar sobre jogadores que ganhavam a vida com o jogo, mas não sabia que era algo tão organizado.

— Então qualquer um pode fazer isso? — perguntou ele, ainda processando a ideia.

— Qualquer um que esteja disposto a se esforçar. — Aya sorriu. — Mas não se engane. A competição é feroz, e os melhores já estão anos à frente. Você vai ter que trabalhar muito para alcançar algo.

Kai assentiu lentamente. Ele sabia que não seria fácil, mas também sabia que não tinha escolha. Para ele, Interverse era mais do que uma oportunidade — era sua chance de fazer a diferença.

Aya continuou andando, sua voz ganhando um tom mais leve.

— Então, qual é o plano? Vai ser um caçador? Artesão? Talvez um explorador?

Kai riu sem humor. — Por enquanto, só quero sobreviver.

— Boa resposta. — Aya deu um tapinha no ombro dele. — Vamos começar com isso, então.

Aya parou em uma clareira, apontando para um grupo de criaturas que se moviam ao longe.

— Ali estão Carapaças de Ferro. Não são rápidos, mas têm uma defesa alta. Você vai precisar ser estratégico para derrubá-los.

Kai observou as criaturas. Elas pareciam insetos gigantes, com carapaças brilhantes que refletiam a luz do sol. Ele sentiu a ansiedade crescer novamente, mas também sabia que precisava continuar.

— Certo. Qual é o plano?

Aya sorriu.

— Você decide. Quero ver como você se sai sem a minha ajuda direta.

Kai respirou fundo, puxando a espada e avançando lentamente. Ele começou a observar os movimentos das criaturas, percebendo que elas se moviam em padrões repetitivos. Quando uma delas virou-se de costas, expondo um ponto mais vulnerável, ele atacou.

O golpe acertou, mas não foi o suficiente para derrubá-la. A criatura virou-se rapidamente, atacando com uma das patas. Kai recuou, tentando encontrar uma nova abertura. Ele atacou novamente, desta vez focando nos pontos vulneráveis entre as placas da carapaça. Após vários golpes precisos, a criatura finalmente caiu.

"Carapaça de Ferro Derrotada. +100 XP."

Kai sorriu, sentindo a satisfação de sua primeira vitória sem ajuda direta. Ele se virou para Aya, que o observava com aprovação.

— Nada mal, novato. Você está aprendendo.

— Obrigado. — Kai limpou o suor da testa, embora soubesse que era apenas sua mente pregando peças.

Aya caminhou até ele, colocando uma mão em seu ombro.

— Vamos continuar. Isso é só o começo.