Um mês após a reencarnação.
Após algumas investigações casuais sobre o mundo moderno, descobri que a proficiência em magia havia diminuído mais do que eu esperava.
Em primeiro lugar, parecia que os humanos nem mesmo estavam cientes da Syrica, o feitiço de reencarnação. Tais práticas eram conhecimento comum na Era Mítica, quando não era incomum que até mesmo humanos com magia avançada se reencarnassem. Mas na era moderna - a Era Mágica - não havia reencarnadores humanos conhecidos, pelo menos para o público em geral.
Meus pais, Gusta e Izabella, estavam convencidos de que eu era apenas uma criança extremamente inteligente. Uma que podia falar desde o nascimento e tinha um dom para a magia, isso é. Kurst era considerado um feitiço avançado nesta era; no entanto, era apenas levemente conhecido. Sua falta de reconhecimento sobre minha reencarnação era inevitável.
Mais surpreendente para mim, no entanto, foi minha reencarnação como uma criança humana.
As sementes haviam sido semeadas há dois mil anos. Eu havia usado magia para criar sete subordinados a partir do meu sangue e ordenei-lhes que produzissem descendentes. Uma reencarnação perfeita exigia um vaso do meu próprio sangue.
Como previsto, a linhagem do Rei Demônio Anos havia persistido por dois mil anos, mas eu nunca tinha esperado que fosse misturada com o sangue dos humanos.
Não, talvez a ocorrência de sangue misto fosse apenas natural após o término de uma guerra entre raças. No fundo, talvez eu também tivesse acreditado que humanos e demônios nunca poderiam se dar bem. E, no entanto, nos mil anos que demoraram para que as paredes entre os quatro reinos caíssem, os humanos haviam sido isolados dos demônios e, nesse tempo, gradualmente esqueceram suas aflições até que tais sentimentos se dissiparam por completo.
Como prova disso, a humanidade não possuía mais conhecimento abundante sobre a raça demoníaca. Eu havia tentado perguntar a meus pais, mas eles não estavam mais familiarizados com o assunto. Eles sabiam que os demônios existiam em uma terra distante, mas lhes faltava qualquer outro conhecimento especializado. Afinal, vivíamos longe de Dilhade, o reino do Reino Demônio.
"Hm?" Detectei uma fraca onda de magia fora do quarto.
Quando abri a janela, uma única coruja voou para dentro, deixando uma carta em minhas mãos. Era um convite - para a Academia do Rei Demônio Delsgade.
"Academia do Rei Demônio...?"
Delsgade era o nome do meu castelo, mas eu não tinha lembrança de uma academia. Provavelmente havia sido estabelecida nos últimos dois mil anos, mas para quê?
Enquanto eu ponderava a questão, a coruja abriu o bico.
"Delsgade é uma instituição de ensino dedicada ao treinamento de futuros senhores demônios. Foi criada para os descendentes do Rei Demônio da Tirania - principalmente para a realeza demoníaca."
O Rei Demônio da Tirania, hein? Esse era um apelido antigo. Eu havia sido chamado por ele tão frequentemente quanto o Rei Demônio Anos, mas parece que o apelido havia sido mais conveniente de passar pelas gerações.
"Fundada pelo Rei Demônio da Tirania, a academia existe para garantir que aqueles estreitamente relacionados a ele se tornem com sucesso senhores demônios reinando sobre distritos de Dilhade. Você é um descendente do fundador. Portanto, vim entregar seu convite para Delsgade. A Academia do Rei Demônio aguarda sua inscrição."
Um descendente do fundador? Eu era o próprio fundador!
A coruja provavelmente me encontrou seguindo os vestígios únicos de magia que fluíam do meu sangue, mas eu não podia esperar muito de um familiar em olhar mais fundo no abismo. À primeira vista, este corpo recém-nascido abrigava apenas os restos diluídos do sangue do fundador. Mas, ao inspecionar mais de perto com os Olhos Mágicos, ficaria claro que o sangue do Rei Demônio havia apenas se mutado.
Tecnicamente, eu era um bebê de um mês de idade. Os convites devem ter sido enviados indiscriminadamente para qualquer um que cumprisse suas condições - aparentemente, possuir certa quantidade de magia junto com o sangue do fundador. Afinal, a idade não era barreira para demônios que poderiam usar Kurst.
"Este é dito ser o ano em que o fundador renascerá."
A data do meu retorno deve ter sido transmitida pelas gerações.
"Muitos dos alunos ingressantes deste ano são tão promissores que estão sendo apelidados de Coorte do Caos. Há grandes esperanças de que o renascimento do fundador esteja entre eles. No caso do retorno do fundador, Delsgade irromperá na jubilação de todos os demônios."
Eu vejo. Em outras palavras, a Academia do Rei Demônio existia para encontrar meu eu reencarnado. Nesse caso, não poderia deixá-los esperando. Por todos os meios, eu queria ver essa promissora Coorte do Caos por mim mesmo.
"Eu aceito o convite."
"A academia espera ansiosamente sua chegada, descendente do fundador."
A coruja voou.
Com isso decidido, não havia melhor momento do que o presente.
Se eu fosse visitar Delsgade, no entanto, minha forma atual seria um tanto inadequada. Usei Kurst mais uma vez, o que envolveu meu corpo com luz à medida que crescia para a idade de dezesseis anos. Um olhar no espelho revelou um jovem de cabelos e olhos negros. Meus traços eram mais gentis do que eu teria gostado, mas havia semelhança suficiente com meu eu anterior. Bem, essa é a reencarnação para você.
Saí do meu quarto e me dirigi à porta da frente. Era meia-noite, e mamãe e papai estavam dormindo, então eu não deveria ter dificuldade em sair. Ou assim eu pensei ao colocar a mão na maçaneta.
"Quem está aí?!" a voz de mamãe chamou de trás de mim.
Hmm, então ela estava acordada. Eu não esperava isso, mas certamente ela não me reconheceria em minha nova forma. De qualquer forma, virei-me para me explicar.
"Anos, querido? Você cresceu de novo?" ela perguntou assim que viu meu rosto.
"Como você percebeu?"
"Como não perceberia? Não importa o quanto você cresça, você sempre será meu pequeno Anos."
Era um pouco constrangedor ir de "Rei Demônio" para "pequeno Anos", mas eu não tive sucesso em corrigi-la até agora.
"Para onde você vai tão tarde da noite? Não é seguro lá fora."
Eu posso ter me reencarnado, mas isso não mudou o fato de que ela era minha mãe agora.
Agora que eu tinha sido descoberto, não poderia simplesmente sair sem uma palavra.
"Você ouviu falar da Academia do Rei Demônio, mamãe?"
Ela inclinou a cabeça em confusão. "Não ouvi. É uma escola em algum lugar?"
"Sim, mas fica bem longe daqui. Fica em Dilhade."
"O que você precisa de uma escola tão distante?"
"Eu fui convidado a me inscrever. Estou pensando em me matricular."
"Você não pode ir a uma escola tão distante - é perigoso demais! Você tem apenas um mês de idade, Anos!"
Hmm. Que problemático. Eu poderia ter apenas um mês de idade, mas não se pode tratar um homem reencarnado como se fosse um bebê. Dito isso, mamãe não sabia nada sobre demônios, nem acreditava em reencarnação.
"Eu não posso deixá-lo ir a um lugar tão longe quanto Dilhade. Não há uma academia de magia mais perto de casa?"
"Não há nada para eu aprender em uma academia de magia. Além disso, posso ir sozinho - não há necessidade de você vir comigo."
"Absolutamente não. Eu não posso deixá-lo viver sozinho com essa idade. O que você vai fazer com o dinheiro?"
"Eu posso ganhá-lo por mim mesmo."
"Como? O mundo não é tão gentil quanto você pensa..."
A magia se reuniu na palma da minha mão, formando uma pequena massa de ouro.
"O quê...? Não, isso não é uma réplica criada por magia... É o verdadeiro!"
Mamãe era avaliadora por profissão, então ela se especializava na avaliação de metais preciosos. No momento em que viu o ouro, ela entendeu o quão fácil seria para mim ganhar dinheiro com uma habilidade dessas.
"Como você produziu isso, Anos? Nem mesmo o sábio do castelo pode usar esse tipo de magia."
Seu espanto era considerável - é claro que seria. O sábio do castelo era um dos melhores magos do país. Ser incapaz de usar magia desse nível teria sido impensável na Era Mítica, mesmo para aqueles da nação humana - significaria certeza de morte. O mundo moderno havia se tornado um lugar muito mais pacífico.
"Criar objetos reais é uma magia de criação básica, mamãe. Criar metais fictícios como mithril e orichalcum é elementar. Brincadeira de criança para o Rei Demônio Anos."
Talvez isso a fizesse acreditar um pouco mais na minha reencarnação.
"Não importa se você pode usar uma magia incrível - não, é não. E meu garotinho acabou de se chamar de Anos, não foi? Um adulto maduro não se refere a si mesmo na terceira pessoa. Certo?"
Hmm. Eu não esperava esse argumento...
"O que é essa Academia do Rei Demônio, afinal? O que vocês estudam lá?"
O que eu deveria fazer sobre isso? Seria fácil usar a força, mas...
"Está tudo bem, Izabella." Papai se juntou a nós da parte de trás da casa.
"Não há como segurar um homem do caminho que ele decidiu."
"Mas, querido, nosso pequeno Anos tem apenas um mês de idade. E não há como saber que tipo de lugar é essa Academia do Rei Demônio."
"Dizem que um menino pode se tornar um homem da noite para o dia, certo? Anos tem um mês de idade agora, então ele já viveu trinta vezes mais. Embora eu não possa dizer que meus surtos de crescimento foram tão dramáticos."
De fato. Depois de viver com meus pais pelos últimos meses, aprendi duas coisas: mamãe era uma extrema mãe superprotetora, e papai não era o mais afiado dos facas.
"Eu entendo como você se sente, Anos. Se é chamada de Academia do Rei Demônio, então deve ser uma escola que ensina magia para reis. Você é talentoso em magia, então você quer estudá-la adequadamente, certo?"
"É a essência disso. Mais ou menos..."
Sua dedução não estava completamente incorreta, então eu apenas deixei assim.
"Vá, Anos," papai disse, me encorajando.
"Tem certeza?"
Papai acenou com a cabeça. "Mas vamos com você."
...O quê?
"É dever dos pais apoiar as ambições de seus filhos. Dito isso, você tem apenas um mês de idade. Muito novo para ir sozinho."
Papai estava usando palavras mais complexas do que o normal. Ele não precisava se esforçar tanto para fazer seu ponto, no entanto.
"Você concorda, Izabella?"
"Sim... Eu nunca imaginei que você cresceria tão rápido. Desculpe, Anos. Eu sei que você provavelmente é um prodígio abençoado por um deus, então talvez sinta que eu estou apenas atrapalhando seu caminho, mas... você não nos deixará ficar ao seu lado um pouco mais?"
Mesmo eu lutei por palavras diante disso.
Antes da minha reencarnação, eu nem mesmo tinha pais. Minha mãe estava morta. Nunca descobri se meu pai havia morrido ou simplesmente me abandonado. Pelo menos, eu nunca havia falado com nenhum dos dois pais, o que é por que eu não tinha apego particular a eles.
"Se você sentirá minha falta, acho que não tem como evitar."
O rosto de mamãe se iluminou de orelha a orelha.
"Tudo bem, está decidido! Vamos nos preparar para nos mudar imediatamente. Não se preocupe, seu bom e velho pai é um ferreiro. Posso encontrar trabalho em qualquer lugar!"
E assim, nossa família se mudou para Dilhade.