A noite estava estranhamente silenciosa na cidade de Drakenfell. As ruas desertas e as casas de telhados escuros pareciam esconder segredos de tempos antigos, quando a cidade foi fundada sobre lendas e mistérios. As únicas sombras que se moviam eram as das árvores altas, que se balançavam suavemente com o vento. Lucas estava caminhando pela estrada estreita, sentindo uma ansiedade crescente. Não sabia ao certo por que estava ali, naquele lugar afastado da cidade, mas algo o atraía. Algo dentro dele, algo que ele não conseguia compreender.
A lua cheia estava alta no céu, brilhando com uma intensidade sobrenatural, lançando longas sombras nas ruas e nas casas. Lucas sentia o coração batendo mais rápido conforme avançava, como se estivesse sendo puxado por algo invisível. Ele olhou para trás, em direção à cidade, mas o som da vida lá parecia distante, como se já não fizesse parte da sua realidade.
A floresta estava à sua frente agora, as árvores se erguendo como sentinelas silenciosas. A entrada parecia convidativa, mas ao mesmo tempo ameaçadora, como se algo o estivesse esperando lá. Ele hesitou, mas uma força inexplicável o empurrou para dentro.
O som das folhas secas e galhos estalando sob seus pés era abafado pela quietude da noite. Lucas seguiu por entre as árvores, sem saber ao certo o que procurava. Mas logo, uma sensação estranha o invadiu. Ele não estava mais sozinho.
Lá, na penumbra, uma figura apareceu diante dele. Não era uma pessoa que ele conhecia, mas o suficiente para causar um calafrio em sua espinha. Era um homem alto, encapuzado, com o rosto encoberto pela escuridão, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade perturbadora. A figura não se movia, apenas o observava, imóvel, como se o estivesse esperando.
Lucas parou. Um frio percorreu sua espinha enquanto a figura se aproximava lentamente, cada passo pesado, como se o tempo estivesse desacelerando.
"Você finalmente veio", disse a figura com uma voz baixa e arrastada. Sua presença parecia engolir a escuridão ao redor, fazendo a floresta parecer ainda mais sombria e distante.
Lucas deu um passo para trás, sem saber como reagir. "Quem é você? O que está acontecendo? Eu... eu não sei por que estou aqui."
A figura deu um sorriso sombrio, quase imperceptível. "Você está aqui por um motivo, Lucas. Algo dentro de você está despertando, e a lua está chamando."
Aquelas palavras foram como uma lâmina afiada. Lucas sentiu o sangue correr para sua cabeça, um turbilhão de emoções invadindo seu corpo. A lua. Aquelas palavras pareciam fazer sentido de uma maneira estranha, como se ele já soubesse, mas ainda não estivesse pronto para aceitar.
O homem se aproximou ainda mais, e então, algo nos olhos dele fez Lucas parar de respirar. Havia algo de sobrenatural ali. Algo que ele não podia entender, mas que o aterrorizava.
"Você já sente isso, não é?" disse a figura. "O poder da lua, o despertar da fera. Não há mais volta, Lucas. A marca da lua já está em você. Não importa onde vá. A noite o chamou, e agora você é dela."
Lucas tentou dar um passo para trás, mas algo o impedia. Uma dor aguda atravessou seu corpo, como se seus ossos estivessem se esticando, se retorcendo. Ele caiu de joelhos, sentindo uma onda de calor intenso tomar conta de seu corpo, misturado com uma sensação de vertigem. Ele queria gritar, mas as palavras não saíam. Era como se a sua própria carne estivesse mudando.
"Isso é só o começo", a figura disse, com um sorriso de quem sabia exatamente o que estava acontecendo. "Agora você precisa aprender a controlar o que está em você. A fera... a fera nunca estará longe. Ela sempre vai acordar. A lua sempre vai chamá-lo."
Foi quando Lucas ouviu um som vindo das sombras. Um som de algo se movendo rapidamente pela floresta. A figura misteriosa desapareceu na escuridão com um movimento rápido e ágil, como se tivesse sido apenas uma sombra. Mas Lucas não teve tempo de reagir. Algo mais estava ali.
De repente, uma figura apareceu na sua frente, emergindo das sombras com uma velocidade sobrenatural. Gael, o caçador de lobisomens, estava diante dele. Lucas sentiu um arrepio percorrer sua coluna. O homem que havia ouvido tantas histórias. O caçador implacável que fazia justiça nas sombras, perseguindo lobisomens e criaturas da noite.
"Você..." Lucas tentou dizer, mas sua voz falhou. O caçador olhou para ele com uma expressão fria e calculista, como se soubesse exatamente o que ele era.
"Você não vai escapar de mim", Gael disse, com a voz profunda e ameaçadora. "A maldição não é só sua. Eu a vejo em você."
Lucas sentiu o pânico tomar conta de seu corpo, mas algo dentro dele estava se libertando, algo que ele não podia controlar. Ele sentiu os músculos do corpo se contraindo, a pele queimando, e a dor intensificando-se ainda mais.
"Não... não sou um..." Lucas tentou gritar, mas a transformação estava tomando conta de sua mente. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que precisava correr. Ele precisava fugir.
Antes que pudesse se mover, Gael avançou, com seus passos firmes e rápidos, como um predador caçando sua presa. Lucas tentou fugir, mas a dor foi esmagadora. Ele sentiu sua visão se turvar, e o chão parecia ceder sob seus pés.
O uivo surgiu de dentro dele, sem controle, profundo e selvagem. Ele não sabia se era sua voz ou se a besta dentro dele estava finalmente sendo libertada. Mas algo estava mudando. A transformação estava se completando.
"Agora você faz parte desse mundo, Lucas", Gael disse com um sorriso cruel, suas palavras ecoando na floresta. Antes que pudesse avançar, a figura misteriosa que havia encontrado Lucas na escuridão apareceu novamente. Com um movimento rápido, ele se aproximou, colocando a mão sobre o ombro de Lucas, transmitindo-lhe uma sensação de poder.
"Não tão rápido, Gael," o homem disse, sua voz baixa e imponente. Em um piscar de olhos, ele puxou Lucas para trás, sumindo junto com ele na escuridão. A luz da lua parecia desvanecer-se ao redor deles enquanto a floresta os envolvia, deixando Gael atrás, com seu olhar de fúria.
Lucas mal podia acreditar no que estava acontecendo. Ele estava agora em um lugar desconhecido, longe da ameaça imediata, mas o que acontecia com ele parecia muito mais complexo do que jamais imaginou.