LUA
Uma hora antes
Príncipe Daemon NorthSteed, quarto filho legítimo do Rei Alfa, amante de seus irmãos, e o primeiro de seu nome, já vestido e trajado em suas roupas cerimoniais escuras, folheava um livro despretensiosamente enquanto as duas pessoas ao seu redor pareciam em pânico.
O título do livro era 'O Caminho da Deusa da Lua para a Redenção'. Não exatamente um dos seus livros favoritos, mas certamente um dos mais interessantes que ele tinha lido, considerando que ele havia passado pelo livro um total de vinte e três vezes. Ou eram vinte e quatro? Ele mal podia se lembrar.
Mas talvez o número não fosse nada, visto que ele havia lido suas obras favóritas não menos de quarenta vezes. Era tédio ou apenas ter muito tempo livre que o motivava?
"Daemon," Yaren disse. Seu meio-irmão e filho ilegítimo de seu pai disse implorando depois que parecia que falar com o outro homem em um tom seco não exatamente conseguia chamar sua atenção, "você não pode fingir como se a sua casa NÃO estivesse pegando fogo?"
Daemon o ignorou novamente, virando para outra página do livro. Desta vez, um sorriso se curvou em seus lábios. Uma passagem interessante havia chamado sua atenção, e ela dizia.
'A deusa da lua nos chama para sermos dignos defensores da paz e do amor. Especialmente o perdão. Devemos encarnar o perdão ao máximo. Isso é o que nos torna governantes magnânimos e excelentes guardiões de nossos clãs. Através do perdão, alcançaremos as plenas alturas do chamado da lua.'
Yaren franziu as sobrancelhas para Daemon, não encontrando sua atitude usualmente relaxada muito atraente naquele momento. Daemon, por sua vez, leu a passagem em voz alta para ambos Yaren e a figura sombria de um homem que estava atrás de seu meio-irmão.
O homem usava um capuz, seus traços ocultados pelas sombras, e seu corpo configurado em subserviência ao príncipe. Ele era como uma grande árvore imóvel, esperando o comando de seu mestre.
"O que vocês acham dessa passagem?" Daemon perguntou a eles, divertido, "devemos encarnar o espírito da caridade e perdoar sempre? Mesmo quando fomos altamente ofendidos?"
O homem não disse nada, enquanto Yaren resmungou. Embora fosse dois anos mais novo que Daemon, com apenas vinte anos, ele achava seu irmão mais velho insuportável. "Já te disse inúmeras vezes, Daemon. Não vejo sentido em ler as palavras de um louco!" Ele exclamou em pura exasperação, olhando para o livro ofensivo como se ele fosse o responsável por todos os seus problemas.
Daemon suspirou dramaticamente. Ele virou para a contracapa do livro, olhando o nome do autor.
Alpha Brandon DireWolf estava escrito. O homem que era supostamente seu avô materno por pelo menos dez gerações de antepassados mais velhos. "Você não acha que é insultante xingá-lo? Quer dizer, ele é meu antepassado, não é?"
Yaren revirou os olhos com tanta força que pareciam que iam cair de suas órbitas. Lá estava ele, consumido pelo medo pela vida de seu irmão, e o dito irmão estava tão relaxado como se o mundo não estivesse prestes a desabar.
Daemon, percebendo que Yaren não tinha intenção de participar de suas piadas grosseiras, tornou-se sério. Jogando o livro num canto aleatório do cômodo, toda a brincadeira foi apagada de seu rosto enquanto uma seriedade terrível o tomava. "O que você acha, Sombra?" Ele disse ao homem misterioso.
Sombra inclinou-se, suas mãos estavam estendidas rigidamente à frente dele. "Eu acho que Moorim está mirando em você, sua alteza. Estou oitenta por cento certo disso."
Daemon beliscou a área entre suas sobrancelhas, sua mente correndo com pensamentos. Ele havia desempenhado o papel do príncipe brincalhão e relaxado por anos, então era inesperado que o conselheiro mais confiável de seu pai tivesse tomado conhecimento do fato de que Daemon não era tão relaxado quanto parecia ser.
Daemon achava que já era hora. Considerando o sangue de sua mãe, era natural que olhares pesados estivessem sobre ele apesar de sua enganação ultrajante. O que ele não esperava era que esses olhares começassem a se mover mesmo antes que ele mal tivesse tempo de reagir a eles.
"Então ele está me visando? Como ele pretende fazer isso?" Ele perguntou a ambos Yaren e Sombra.
Sombra parecia pensar muito sobre como frasear suas próximas palavras. Um olhar mais atento mostrava que suas roupas escuras estavam levemente úmidas de neve derretida, e suas botas enlameadas eram evidência da longa jornada perigosa que ele havia feito desde o Sul Desértico.
Yaren, por sua vez, achou a pergunta ofensiva, "Eu não acho que o 'como' da questão seja importante. Esse maldito ralé Moorim está mirando em você e, pelo que me consta, isso é tudo que importa! Me dê a ordem, irmão, e eu trarei sua cabeça decepada para você!"
Daemon estalou a língua, seu meio-irmão ainda estava tão impaciente quanto sempre.
"Então você terá sangue fluindo no dia do banquete de nosso pai. Eu não permitirei isso, Yaren."
Yaren começou a se ressentir. Ele sabia muito bem que ambos não tinham amor por seu pai, o Rei Alfa, embora por razões variadas. Sombra interrompeu a briga deles, finalmente expressando seus pensamentos.
"Eu viajei até aqui pois recebi informações altamente confidenciais de que seu pai real convoca pessoas estranhas para seu banquete."
"Pessoas estranhas?" Daemon repetiu.
"Videntes... para ser mais preciso, videntes insignificantes."
Yaren franziu ainda mais a testa, suas feições endurecendo; "Há rumores de que nosso Pai Real foi envenenado, e agora isso? Videntes insignificantes? Por que ele precisaria de um quando claramente temos Theta Amélia."
"Ele precisa de um porque Theta Amélia é incapaz de cumprir o que ele precisa." Sombra simplesmente disse.
"E o que ele poderia possivelmente precisar que deu origem a tal pedido estranho de pessoas estranhas?" Yaren perguntou, confuso.
"Seu pai precisa de uma visão." Sombra respondeu como se isso devesse encerrar sua curiosidade, "e não apenas qualquer tipo de visão, mas uma muito específica."
"E você acha que Moorim pretende me eliminar através de alguns Videntes insignificantes? Por essa visão que será dita?" Daemon perguntou divertido. Porque de fato, essa tinha que ser uma das coisas mais ridículas que ele tinha ouvido nos vinte e dois anos de sua existência.
O fato de um vidente de nome desconhecido e origem igualmente desconhecida derrubar um homem como ele.