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Chapter 9 - Árvores gêmeas

Capítulo 320: Árvoras Gêmeas

A cidade de Árvoras Gêmeas era uma metáfora viva da situação que o Conselho enfrentava. Uma metade da cidade prosperava, com mercados vibrantes e cidadãos animados com a liberdade recém-conquistada; a outra metade lutava para se erguer das ruínas, governada por líderes locais que mantinham o poder através da força. Foi nesse cenário de contrastes que o Congresso Itinerante foi marcado para ocorrer.

A chegada de Adelmo e Asha foi recebida com misturas de entusiasmo e desconfiança. Bandeiras do Conselho foram hasteadas em alguns prédios, enquanto outros exibiam símbolos regionais, sugerindo uma resistência à ideia de unidade.

Antes da primeira sessão, Asha reuniu-se com líderes comunitários. "Vocês são o coração desta cidade," disse ela, olhando cada um nos olhos. "Não estamos aqui para impor uma solução, mas para construir uma juntos. Árvoras Gêmeas pode ser o exemplo de que precisamos — um lugar onde as diferenças se encontram, não para dividir, mas para fortalecer."

O Congresso Começa

Na manhã do Congresso, a praça central foi transformada em um fórum aberto. Representantes de mais de vinte cidades estavam presentes, alguns vestidos com roupas tradicionais de suas regiões, outros em trajes simples de viajantes cansados. O palco estava decorado de forma modesta, mas carregava o peso simbólico de um novo começo.

Adelmo abriu a sessão com um discurso apaixonado: "Estamos aqui porque acreditamos em algo maior do que nós mesmos. Cada um de vocês traz a voz de sua cidade, suas lutas, suas esperanças. Mas também trazem os ecos do que enfrentamos sob Velas. Hoje, escolhemos se esses ecos serão silenciados ou amplificados."

Aplausos contidos preencheram o espaço, mas logo as discussões começaram, intensas e carregadas. Líderes como Orlan argumentaram por mais autonomia regional, enquanto Malik defendia a necessidade de uma estrutura central para prevenir abusos de poder.

"Se cada cidade agir por conta própria, voltaremos ao caos!" exclamou Malik em determinado momento.

"E se dermos muito poder ao Conselho, estaremos apenas criando outro Velas," retrucou Orlan.

Uma Intervenção Inesperada

No terceiro dia do Congresso, uma figura inesperada tomou o palco: Eriana, uma ex-general da resistência que havia desaparecido após a queda de Velas. Sua presença causou um silêncio imediato.

"Vocês discutem sobre liberdade, mas esquecem que ela nunca é absoluta," começou ela, sua voz firme. "Liberdade sem responsabilidade é apenas outra forma de tirania. Velas foi derrotado, mas ele não era apenas um homem — ele era um sistema, uma ideia que se aproveitava de nossa desunião e medo. Se não encontrarmos um equilíbrio, estamos condenados a repetir os mesmos erros."

Seus argumentos ressoaram profundamente. Mesmo os mais céticos não puderam negar a verdade em suas palavras.

A Carta de Princípios

Nos dias seguintes, os debates deram lugar a colaborações. Inspirados por Eriana, os representantes começaram a esboçar a Carta de Princípios. O documento seria mais do que um conjunto de leis — seria um pacto moral, uma promessa coletiva de manter os valores que haviam guiado a resistência.

Os pontos principais incluíam:

Respeito à autonomia das cidades, desde que não violassem os direitos fundamentais de seus cidadãos.

Criação de um tribunal rotativo para resolver disputas entre regiões de forma justa.

Garantia de que o Conselho nunca teria um líder supremo, mas funcionaria como um corpo coletivo de decisão.

A Primeira Crise

No último dia do Congresso, notícias sombrias chegaram de Sulis: um grupo armado havia tomado o controle de um distrito, alegando que o Conselho não tinha autoridade para interferir. A decisão de como lidar com a situação colocou os delegados em uma encruzilhada.

"Se deixarmos isso passar, será o início do fim para qualquer tentativa de unidade," argumentou Malik.

"Mas se enviarmos forças, seremos vistos como invasores," contrapôs Asha.

Adelmo, pressionado, fez um apelo: "A resposta deve ser política, não militar. Se começarmos a resolver tudo com espadas, nos tornaremos o que juramos destruir. Enviaremos emissários para dialogar. Se falharmos, reconsideraremos."

A Escolha de Árvoras Gêmeas

No final, a Carta de Princípios foi aprovada por unanimidade. Representantes de todas as regiões assinaram o documento em uma cerimônia simbólica sob as árvores gêmeas que davam nome à cidade.

Enquanto a última assinatura era feita, Adelmo olhou para o horizonte, onde nuvens de tempestade pareciam se formar. "Este é apenas o começo," murmurou para Asha. "Agora sabemos que podemos construir juntos. Mas também sabemos que a paz será tão frágil quanto nossa vontade de defendê-la."

E assim, o Congresso Itinerante deixou Árvoras Gêmeas com esperança renovada, mas ciente de que os desafios estavam apenas começando. As palavras de Eriana ecoavam em suas mentes: "O maior inimigo não é aquele que enfrentamos, mas o que deixamos crescer dentro de nós."