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Chapter 10 - Ventos de Rebeldia

Capítulo 321: Ventos de Rebeldia

A caravana que deixava Árvoras Gêmeas levava consigo o peso das decisões tomadas e a fragilidade de uma paz ainda nascente. O Congresso Itinerante havia sido um sucesso simbólico, mas suas resoluções ainda não haviam sido testadas no mundo real. A primeira prova seria Sulis, onde o grupo armado continuava a desafiar a autoridade do Conselho.

Adelmo e Asha seguiram em uma delegação reduzida rumo à cidade rebelde. A decisão de enviar emissários, ao invés de uma força militar, havia sido amplamente debatida e carregava consigo tanto esperança quanto risco. Se a missão falhasse, as consequências poderiam ser catastróficas.

Chegada a Sulis

Sulis era um lugar de contrastes. O distrito central era um amontoado de ruas estreitas e mercados barulhentos, mas, nas periferias, o caos reinava. Homens armados vigiavam os pontos de entrada e saída, e a população local olhava com desconfiança para qualquer estranho.

O líder do grupo rebelde, Drenik, recebeu a delegação em um salão improvisado. Ele era um homem de presença imponente, com cicatrizes que contavam histórias de batalhas passadas. Seu olhar, porém, revelava uma mistura de convicção e desconfiança.

"Vocês vieram negociar ou impor sua vontade?" perguntou Drenik, sem rodeios.

Asha deu um passo à frente, mantendo a calma. "Viemos ouvir e encontrar um caminho. Não queremos mais derramamento de sangue. Você lutou contra Velas, assim como nós. Não deveríamos estar em lados opostos agora."

Drenik bufou. "Fácil falar de unidade quando vocês estão no topo. Aqui em Sulis, ninguém sentiu os benefícios da liberdade que vocês tanto proclamam. Estamos abandonados."

O Diálogo Tenso

As negociações se estenderam por horas. Adelmo e Asha ouviram pacientemente as queixas de Drenik: a falta de recursos, a ausência de apoio do Conselho, e a crescente influência de líderes locais que agiam como pequenos tiranos. Em troca, eles apresentaram as resoluções do Congresso e ofereceram um pacto de cooperação.

"A Carta de Princípios não é apenas um pedaço de papel," disse Adelmo. "Ela representa o compromisso de que ninguém será deixado para trás. Queremos que Sulis faça parte disso, mas precisamos de sua colaboração para começar."

Drenik permaneceu em silêncio por um longo tempo antes de responder. "Vou considerar suas palavras. Mas saibam disso: minha lealdade não é ao Conselho, é ao meu povo. Se eu sentir que estão sendo traídos novamente, lutarei até o fim."

O Retorno ao Conselho

Ao voltar para a sede do Conselho, Adelmo e Asha encontraram a situação ainda mais tensa. Boatos sobre a situação em Sulis haviam se espalhado, alimentando tanto críticas quanto apoio à abordagem pacífica. Malik, sempre defensor de medidas mais firmes, confrontou Adelmo em uma reunião.

"Estamos dando tempo aos rebeldes para se fortalecerem," disse ele. "Enquanto dialogamos, eles podem estar planejando sua próxima ofensiva."

"Ou estamos plantando as sementes da confiança," retrucou Asha, com firmeza. "Se usarmos a força agora, não haverá volta. Precisamos acreditar que o diálogo pode trazer resultados."

Os Ecos do Medo

Enquanto o Conselho debatia, uma nova ameaça começou a emergir nas sombras. Relatos de movimentos separatistas surgiram em outras regiões, inspirados pela resistência de Sulis. Em algumas cidades, líderes locais começaram a questionar abertamente a autoridade do Conselho, enquanto rumores de alianças secretas circulavam entre os corredores do poder.

Eriana, que havia se mantido à margem das decisões políticas desde Árvoras Gêmeas, reapareceu para alertar Adelmo. "O que está acontecendo não é surpresa," disse ela. "Depois de anos de tirania, é natural que as pessoas desconfiem de qualquer forma de centralização. Mas se não agirmos rápido para mostrar resultados concretos, perderemos o controle."

Adelmo assentiu, mas a dúvida o corroía. "E se falharmos, Eriana? E se tudo isso acabar se transformando no que mais tememos?"

Ela colocou a mão em seu ombro. "Falhar não é o problema, Adelmo. O problema é desistir antes de tentar."

Um Ato de Coragem

Adelmo convocou uma reunião emergencial do Conselho e propôs uma medida ousada: a criação de um sistema de delegados regionais que serviriam como mediadores entre o Conselho e as cidades. Esses delegados seriam escolhidos localmente, garantindo maior representatividade e descentralização.

"É arriscado," admitiu Adelmo. "Mas é o único caminho para evitar que as cidades se sintam ignoradas. Precisamos estar presentes em suas vidas, não apenas em palavras, mas em ações."

A proposta dividiu o Conselho, mas foi aprovada por uma estreita margem. A implementação seria lenta e cheia de desafios, mas representava um passo em direção ao equilíbrio tão necessário.

O Caminho Adiante

O capítulo terminou com Adelmo, Asha e os demais líderes assistindo à partida dos primeiros delegados para suas missões. Enquanto os cavalos desapareciam no horizonte, Adelmo sussurrou para si mesmo: "Os ecos da tirania ainda ressoam, mas talvez, apenas talvez, possamos transformá-los em canções de liberdade."

Mas no horizonte, as nuvens da tempestade permaneciam, sugerindo que o caminho para a verdadeira paz ainda estava repleto de perigos e escolhas difíceis.