Chereads / A Ordem Espiritual[PT/BR] / Chapter 7 - Princípio

Chapter 7 - Princípio

"A morte não é o fim, mas um convite para aqueles que se entregam a sentimentos profundos, um momento de renascimento."

Na manhã do dia 29, o céu exibe nuvens acinzentadas, criando um clima que, embora não traga chuva, é frio o suficiente para causar tremores em quem habita os arredores de Nova Tóquio. Ventos fortes invadem as ruas e becos, balançando telhados e janelas, levando consigo tudo o que podem alcançar. Pequenos entulhos de lixo voam como folhas, impulsionados por uma força cada vez menos sutil.

No distrito Gou, o quinto, famoso por seus enormes prédios comerciais, o paredão de nuvens cinzas paira sobre o majestoso Domus-Dei, o enigmático e milenar prédio que abriga a ordem dos exorcistas. Este edifício, todo envidraçado e inabalável, corta a ventania com uma imponência que desafia até os eventos mais poderosos da natureza. Entre todos os arranha-céus da região, ele é o maior.

Enquanto os sopros caóticos da natureza reinam lá fora, do interior do edifício, há uma vista perfeita de Aurora, que emite sua luz sobre toda a cidade. O céu acima das nuvens brilha em tons amarelados, como se tivesse sido tingido de ouro. Um mar de outros arranha-céus, dos mais variados tamanhos, também se apresenta.

Essa é a paisagem que emoldura a visão de um magnata, trajado em um terno negro. Um crucifixo de prata sobrenatural brilha em seu pulso, refletindo a luz enquanto ele saboreia um pomposo vinho, caríssimo — 325 mil ienes por garrafa — em uma taça adornada com diamantes. Diante da grande vidraça que separa o interior do prédio do exterior, a luz intensa é filtrada, evitando que cegue os olhos mais sensíveis.

Ele está no setagésimo oitavo andar, onde se encontram os luxuosos quartos dos líderes, os nove homens mais importantes do mundo, que detêm o controle do exército mais poderoso. Seu olhar exibe uma frieza sem igual, e através da vidraça, é visível o reflexo de alguém às suas costas, que pacientemente aguarda suas palavras, sentado no sofá e pegando uma taça da mesa de centro.

— Sr. Souza, tem certeza de que ouviu essas palavras da boca de Romero? — pergunta, soltando um suspiro profundo enquanto o fita de lado.

O homem sentado no sofá de couro, posicionado atrás da mesa, com a garrafa do caríssimo Roi des Rois à sua frente, trajando um sobretudo que confere a ele a elegância de alguém mais velho, parece calmo. Sua calvície contrasta com a imponência de sua presença. Apesar de cego de um dos olhos e com uma face severa, seu olhar irradia uma paz inigualável.

— Ouvi — responde finalmente, a certeza transbordando de sua voz — infelizmente, conheço Romero o suficiente para perceber a verdade que está em seus olhos. Mas me fale, você vai acreditar ou não em mim?

Sua mente capta rapidamente a confirmação…

— Eu sei, vocês, homens filósofos e sonhadores, têm uma ligação… diferente de nós, os poderosos e vulgares! — o líder dramatiza, afunilando seu olhar para captar somente a verdade nos olhos de Gabriel. — E quem sou eu para duvidar? Aliás, você já me deu motivos suficientes para confiar em você! — ele dá alguns passos à frente e bebe todo o vinho restante de uma vez, segurando-se nos apoios do sofá.

— Ótimo…

Sua voz sai aliviada, mas o peso que agita seu peito revela que ele passou por algo significativo para ter que contar aquilo. Ele terá marcado a sentença de quem acusara?

— Bem, eu irei alertar o conselho, como pediu, me atirando aos leões! — indaga, sem medo em seu olhar, apesar de ter que acusar diante de outros nove como ele. — Mas eu entendo você; sou o único maluco capaz de dizer isso com determinação. Você me considera louco, não é?

— Louco? Não, talvez não! Apenas um… suicida social! — admite, com a calma de um monge budista. — Mas os Regnianos são assim, não são?

— São! Nascer em Regnum, as terras gélidas, é um atestado de loucura! — ele brinca, balançando a taça vazia antes de colocá-la sobre a mesa.

O homem ri forçado diante da brincadeira e engole em seco, colocando a mão à frente dos lábios antes de continuar:

— Mas um suicida social? É, até que gostei disso…

— Enfim, peço que dê a devida atenção. Eu… entendo os ideais de meu amigo, mas o mundo já está… um caos, não? — indaga.

— Sim, acho que você mais do que ninguém sabe das consequências! Se Romero realmente quiser mudar o mundo, terá que agir como um tirano autoritário. Ele terá sangue em suas mãos. O que você acha que o fará chegar a esse ponto? Vocês dois são pacifistas, não são? Ou eram… Homens de fé, sem ofensas, é claro!

— Ele mudou, desde o ocorrido com o Rasen; sua percepção sobre o mundo não é mais a mesma — ele para e, então, se sente livre para julgar. — Então, eu ainda sou, mas ele… creio que não!

— E a dele está errada? — sua sinceridade revela que a pergunta não saiu da melhor forma. — Quer dizer, não que eu esteja tentando concordar…

— Não sei, não me importo. Se ele buscar a matança, estarei na oposição, é isso! — afirma com determinação. — Não costumo pensar demais em um conflito subjetivo quando as coisas chegam a um nível de risco!

— Entendi, e o Rasen? Ou os demais alunos de Romero… sabe se mais alguém compartilha da mesma visão?

— Bem, não sei; só sei que esse Romero não hesitaria em sacrificar a si mesmo pelo que acredita. Vi isso em seus olhos, senhor Moreau… — ele diz, se levantando do sofá e fitando Gabriel com seriedade. — Então, por favor, faça isso valer a pena!

— Entendido, senhor Gabriel Souza. Pode contar com boas notícias em breve — responde, confiante, acompanhando-o até a saída e erguendo a taça transbordando vinho ao olhá-lo uma última vez. — Um brinde a nós!

Os olhos de Hugo percorrem discretamente o corpo do exorcista, dos pés à cabeça, enquanto ele observa o corredor após abrir a porta.

— Obrigado, senhor Moreau!

Ele sai e se depara com quem menos esperava naquele dia. À sua frente está o maior prodígio da história, o exorcista mais jovem a se formar na academia, apoiado nas paredes do apartamento do líder, encarando-o com descaramento. Seus cabelos, como de costume, estão bagunçados e suas vestes sujas, pois acaba de retornar de uma missão. No entanto, há uma chama incandescente em seu olhar.

— E aí, como foi lá, cabeça de aço? — pergunta, cheio de sarcasmo.

— Ah, Masaru Jigoku… — murmura ao vê-lo. — Cabeça de aço? — Gabriel pergunta, confuso.

— Sim, exatamente, o que aquele charlatão te disse?

— Bem, sobre isso, ele vai fazer algo… mas não deu muitos detalhes, só fez perguntas. E você, não tinha uma missão?

— Eu? Ah, eu já concluí minha missão…

Gabriel se surpreende e sorri de lado diante das palavras do "garoto".

— Já? Você realmente é um prodígio; pena que tem essa mentalidade…

— Meh, eu sou um prodígio, um exorcista perfeito. Não vem baixar minha bola, oh, vovô! — responde, colocando os braços para trás do pescoço e encarando o fim do imenso corredor. — Um dia vou ser um exorcista grau celestial, como você. Então, você terá que aguentar!

— Nem parece ter 21 anos… — murmura, segurando seus ombros e surpreendendo-o, enquanto uma sensação de paz emana de seu ser. — Mas mal posso esperar por isso!

— Cara, você é tão maneiro que nem parece careca… — tenta provocá-lo, mas só consegue arrancar uma risada forçada dos lábios de Gabriel. — Você nunca fica irritado, né?

Sua indiferença é notável.

— Me irritar? Acha que eu nunca lidei com pirralhos chatos? — diz, soltando-o e avançando pelo piso vinílico.

— Aff… Tá bom, mas uma hora você perde essa pose toda — responde, seguindo-o. Diferente do homem, desfilava como um cavalo cheio de coragem em seu peito.

Gabriel suspira profundamente, percebendo que apenas aceita esse fato: Masaru Jigoku era como um carrapato.

Mas isso é apenas o começo de um longo dia…