Zuri odiava isso. Não. Ela odiava tudo. Ela mordeu a mão de seu pai. Enquanto engolia os comprimidos, também podia sentir o gosto de sangue fresco na boca. Ótimo. Ela queria que ele suportasse a mesma dor.
"Como você se atreve a me morder!" Alfa Roland lhe deu outro tapa no rosto e dessa vez foi Zuri quem sangrou, mas ainda assim ela riu. "Louca!" Ele então se virou para enfrentar Karina, que tinha uma expressão impassível. "Como você pôde dar à luz uma filha louca?!"
"Provavelmente eu herdei isso de você." Zuri riu entre cada palavra amarga. Ainda sentada no chão, ela limpou preguiçosamente o sangue do canto da boca. "Se você estivesse disposto a olhar de perto, meu irmão também é louco. Ele só parece normal aos seus olhos por causa da coisinha pendurada entre as pernas dele."
Seria a primeira vez que Karina mostrava alguma emoção desde que Roland começou a assediá-la desta vez. Seus olhos se arregalaram, enquanto ela olhava para Zuri com um aviso, como se lhe dissesse para parar de provocar o já irado pai, porque o resultado final não seria algo que ela gostaria.
Zuri estava falando sobre o seu primeiro irmão, o primogênito de Roland. Ele de fato era insano, para dizer o mínimo. Você poderia dizer que ele tinha um gosto peculiar e era ele quem dava a Roland uma dor de cabeça constante desde que aprendeu a importância de seu status como primogênito.
No entanto, Zuri nem sequer olhou para a mãe. Não havia ponto em olhar para ela quando ela nem mesmo podia ajudá-la, nem lhe oferecer algum conforto.
Ela nem mesmo fingiu tentar apaziguar a raiva de Alfa Roland.
"Você realmente acha que é a Luna da matilha, hein? Só porque você é companheira de Alfa Xaden, você pensa que tem um status importante?" Alfa Roland caminhou em direção a Zuri, como um predador que avança em direção à sua presa.
O alfa tirou algo do seu bolso e aquela coisinha brilhou sob a luz. Zuri sabia o que era antes mesmo de vê-lo. Seu coração saltou para a garganta.
Mas, ela era teimosa demais para deixar seu medo ser notado.
"Parece que você ficou tanto tempo fora de casa que esqueceu suas maneiras de como falar com seus pais." Alfa Roland se ajoelhou e agora seu rosto estava bem na frente de Zuri. Ele agarrou seu braço e eles se encararam. "Você precisa aprender uma lição."
Depois de dizer isso, ele enfiou a agulha em seu braço superior, o que fez Zuri morder a língua para impedir-se de gritar alto.
Alfa Roland retirou a agulha e então enfiou nela novamente. Ele fez isso repetidas vezes.
Por que ele escolheu agulhas para torturar Zuri? A resposta era simples. Uma ferida de agulha curaria muito rápido, já que só deixaria uma picada, mas a dor de ser espetado por ela repetidamente poderia enlouquecer alguém.
Além disso, geralmente não resultaria em muito sangue, então seria menos bagunçado do que se usasse uma faca.
Roland não queria matar a filha. Ele só queria ensiná-la uma lição. Ela ainda tinha valor para ele.
"Zuri, você deveria saber que eu não queria fazer isso, mas você me forçou."
Ele machucou sua filha, mas culpou-a por isso.
Roland cobriu a boca dela com a palma da mão para abafar seus gritos. Ele não queria que ninguém soubesse disso. "Você precisa ser uma boa menina. É o que você deve fazer como filha do Alfa. Você precisa pensar na sua matilha. Vou conversar com Xaden sobre isso e garantir que você não o veja novamente."
Foi o que Roland disse, mas ele nunca mencionou fazer Xaden parar de ver a ômega e apesar da dor, Zuri notou a falta da garantia reconfortante que ela queria ouvir.
"Você precisa entender a situação e proceder com cautela. Eu te ensinei isso inúmeras vezes. Você é uma menina, mas é a mais inteligente entre seus irmãos e eu confio em você." Roland continuava dizendo a coisa certa, mas sua agulha lembrava Zuri do monstro que ele era. "Se você fosse um menino, eu teria entregado a matilha para você de bom grado." Roland clicou a língua.
As garras de Zuri se alongaram, mas ela não conseguiu se obrigar a esfaquear seu pai. Arranhá-lo. Ela teve a oportunidade, mas seu medo dele triunfou sobre sua chance de revidar.
Naquele exato momento, alguém entrou no quarto e Roland parou de esfaquear a filha. Ele olhou por cima do ombro e encarou sua companheira por não dar nenhum aviso prévio.
Zuri não pôde ver quem tinha chegado e feito Roland parar, mas ela podia sentir o cheiro dele no ar e um segundo depois, ouviu a voz dele ecoar dentro do quarto.
"O que vocês dois estão fazendo aqui? O que aconteceu com ela?" Xaden franzia a testa para Karina e Roland. Ele viu Zuri sentada no chão, mas o corpo dela estava coberto por Roland, por isso ele não teve uma visão clara do que estava acontecendo.
Rapidamente, Roland recuperou a agulha e a escondeu. Ele pressionou a cabeça de Zuri contra seu peito e beijou o topo da cabeça dela.
"Ela estava tendo uma crise quando soube do aborto espontâneo. Ela está muito triste agora." Roland colocou a mão sob as pernas de Zuri e a levou para a cama. "Que tal você deixá-la sozinha por um tempo, vamos conversar com ela."
Roland a acomodou na cama. Não havia nenhum vestígio das picadas de agulha em sua mão, mas a dor permanecia. Como uma transmorfa, você pode se curar muito rápido e uma agulha sequer lhe faria algum dano mesmo que você fosse picada por um dia inteiro.
Enquanto isso, Xaden atravessou o quarto e olhou para o rosto pálido de Zuri, era óbvio que ela tinha estado chorando.
"Não. Eu preciso falar com ela. Quero que vocês dois saiam," Xaden disse firmemente. "Saiam deste quarto agora."