Baekhyun estava encolhido no banco de trás do carro preto, o frio da janela de vidro tocando sua pele. Observava as gotas escorrendo, criando linhas distorcidas no vidro, enquanto o motorista mantinha-se em silêncio. Não havia muito o que dizer, afinal. Ele estava a caminho de um destino do qual jamais conseguira fugir — e que não ousaria questionar.
Foi uma semana depois do funeral de seus pais que o advogado da família aparecera em sua antiga casa. Um homem de rosto grave e palavras rápidas, explicando que, como último descendente dos Byuns, ele agora estava sob a tutela do homem que havia assumido a maior parte dos negócios de sua família — um sócio misterioso que seus pais jamais haviam mencionado.
Baekhyun ainda podia ouvir a voz fria do advogado ecoando em sua cabeça: "Você agora está aos cuidados de Park Chanyeol."
O nome soava pesado, como uma sentença. E, conforme os dias se passavam, ele entenderia exatamente o que isso significava.
O carro parou diante de um portão alto de ferro, que parecia mais uma barreira impenetrável do que uma entrada. Baekhyun ergueu os olhos, sentindo o coração bater com mais força, como se seu corpo entendesse a dimensão do que estava por vir. O motorista apenas assentiu, indicando que ele saísse.
Ao descer do carro, o jovem notou a imponência da mansão à sua frente. A arquitetura era grandiosa, fria, e carregava uma beleza perigosa, exatamente como o homem que a habitava. Não parecia uma casa — era uma prisão, e Baekhyun se sentia como um pássaro pequeno sendo levado direto para a gaiola.
Antes que pudesse processar o cenário à sua volta, ouviu passos firmes. Quando ergueu a cabeça, viu Chanyeol descendo as escadas da entrada, cada movimento calculado e preciso, como se ele estivesse medindo o ambiente ao seu redor. Seus olhos, escuros e impassíveis, pousaram em Baekhyun com um misto de curiosidade e algo mais profundo que ele não conseguia decifrar.
"Então, finalmente chegou." A voz de Chanyeol era baixa, com uma calma fria que fazia Baekhyun estremecer.
Baekhyun apenas assentiu, sem coragem de responder.
Chanyeol o analisou por um instante que pareceu durar mais do que o necessário. "A partir de agora, esta é sua casa," ele declarou, como se fosse um fato imutável. "Você será... bem cuidado."
Havia algo ameaçador naquela escolha de palavras, mas Baekhyun não podia reagir. Seus olhos se abaixaram instintivamente, os ombros encolhendo ao sentir o peso do olhar de Chanyeol sobre si.
"Eu… eu agradeço pela hospitalidade, senhor Park," murmurou, quase sem pensar, ainda se esforçando para manter uma postura educada.
Chanyeol arqueou uma sobrancelha, divertindo-se com a formalidade, antes de responder: "Aqui, não precisa de cerimônias. E, a propósito, me chame apenas de Chanyeol. Senhor Park me faz parecer… distante."
Baekhyun hesitou, mas concordou com um aceno. "Claro… Chanyeol."
O alfa deu um leve sorriso de canto, satisfeito, mas o que ele via como simpatia só trazia desconforto para Baekhyun. Sentia-se como um peixinho no aquário, vigiado por olhos atentos, uma presença que ele não poderia ignorar.
A noite caiu e, no silêncio da mansão, Baekhyun se encontrou em seu novo quarto. Era grande demais, vazio demais, cheio de objetos de luxo que não o confortavam em nada. Tentou se concentrar no teto, nas cortinas pesadas, em qualquer coisa que o distraísse daquela sensação de aprisionamento. O quarto tinha uma porta de vidro que dava para um jardim interno, mas até ele parecia parte de uma armadilha bela e perigosa.
Um leve toque na porta o trouxe de volta à realidade. Era um dos guardas da mansão, um homem mais velho de expressão gentil.
"Posso ajudar em algo, jovem mestre?" perguntou com um tom respeitoso, mas gentil.
Baekhyun sorriu de forma tímida. "Estou… bem, obrigado. Só… não consigo dormir."
O guarda assentiu, como se entendesse. "Eu imaginei. Todos aqui… sabemos que deve ser uma mudança difícil para o senhor."
Baekhyun sentiu um conforto inesperado naquelas palavras. "Você trabalha aqui há muito tempo?"
"Sim," o homem respondeu com um sorriso discreto. "E, se precisar de ajuda, sempre poderá contar comigo. Não hesite em pedir."
Baekhyun assentiu, agradecido, e o viu se retirar, deixando-o com uma pequena chama de esperança. Talvez, com o tempo, ele pudesse encontrar uma maneira de lidar com aquela nova realidade. Talvez, mesmo naquele lugar frio, existissem pessoas que se importavam.
Mas quando se virou de volta para a janela, viu a silhueta de Chanyeol passando pelo corredor, seus olhos ainda fixos em Baekhyun, como se pudesse sentir cada pensamento seu, cada dúvida e cada medo.
Aquela era sua nova realidade.