A manhã seguinte trouxe um céu límpido e um brilho dourado que iluminava cada canto da imponente mansão. Baekhyun se levantou lentamente, ainda adaptando-se ao ambiente. Cada detalhe do lugar parecia desproporcional para ele, desde os móveis até o silêncio . No entanto, o que mais o incomodava não era o luxo, mas a constante sensação de que seus passos e pensamentos estavam sendo vigiados.
Ele se arrumou com o pouco que trouxera, colocando uma roupa simples e modesta, e foi guiado até a sala de jantar por um dos criados. Quando entrou, a mesa já estava posta com um café da manhã grandioso: havia frutas frescas, pequenos bolos tradicionais, arroz cozido de maneira delicada, além de um conjunto de banchan — os acompanhamentos típicos da culinária do país, servidos em pequenas porções e que, para Baekhyun, tinham o cheiro de casa.
No entanto, a imponência da mesa só o fazia sentir-se ainda mais desconfortável.
Chanyeol estava sentado à cabeceira, sua expressão tão serena quanto fria, e Baekhyun fez uma breve reverência ao se aproximar, como ditava a tradição ao saudar alguém de maior status.
"Bom dia, Chanyeol-ssi," murmurou ele, mantendo o tom de voz baixo e respeitoso.
Chanyeol ergueu o olhar para ele, com um sorriso enigmático no rosto. "Bom dia, Baekhyun-ah. Por favor, sente-se."
Baekhyun assentiu e se acomodou no lugar que o criado indicou, na extremidade oposta da mesa, quase como se a distância física pudesse ajudar a reduzir o peso daquela presença. No entanto, o olhar de Chanyeol continuava sobre ele, perscrutador e quase possessivo, o que o deixava inquieto.
"Espero que a primeira noite tenha sido confortável," disse Chanyeol, em um tom cortês que quase parecia natural, embora houvesse algo insinuante em suas palavras.
Baekhyun tentou conter a ansiedade, respondendo com uma voz calma. "Sim… foi, obrigada, Chanyeol-ssi. Eu ainda estou… me adaptando."
Chanyeol sorriu levemente, um sorriso que não alcançava os olhos. Ele serviu-se de uma porção de kimchi e empurrou o prato em direção a Baekhyun. "Espero que goste do café da manhã. Mandamos preparar o que há de melhor. Você encontrará muitos pratos típicos da nossa região aqui, preparados à moda antiga."
Baekhyun assentiu, agradecido, pegando o kimchi. O sabor apimentado e fermentado o transportou para memórias da infância, mas não ousou expressar a nostalgia. Apenas continuou comendo, enquanto Chanyeol o observava como um caçador estudando a presa.
"Baekhyun-ah, preciso te lembrar de que há regras na casa," começou Chanyeol, sua voz tornando-se levemente autoritária. "A primeira é que você sempre deve estar disponível quando eu precisar de você. Quero que esteja ao alcance sempre que eu chamar."
A voz calma, quase suave, tornava a ordem ainda mais rígida. Baekhyun baixou os olhos, sentindo um aperto no peito, mas assentiu.
"Sim, Chanyeol-ssi. Eu entendo."
Chanyeol sorriu, satisfeito, e fez um gesto para que o criado trouxesse chá. O criado retornou com uma bandeja contendo um bule de chá de jasmim, cuja fragrância inundou a sala. Chanyeol serviu primeiro Baekhyun, um gesto cortês, mas que parecia mais uma formalidade vazia do que uma gentileza genuína.
"Espero que compreenda que, ao vir para esta casa, você agora faz parte dela. É uma honra estar sob o teto dos Park," continuou Chanyeol, enquanto tomava um gole do chá.
Baekhyun, hesitante, pegou sua xícara, mas não respondeu de imediato. Ele sabia que, naquela cultura, o nome dos Park era sinônimo de prestígio e poder, uma das famílias mais respeitadas e temidas do país. Ainda assim, o peso daquelas palavras soava menos como um privilégio e mais como uma sentença.
"Eu entendo, Chanyeol-ssi," disse finalmente, mantendo o tom de voz neutro.
O alfa assentiu, como se esperasse essa resposta, e seu olhar se suavizou, embora ainda houvesse uma intensidade no modo como ele observava Baekhyun.
Após o café, Baekhyun foi conduzido por um dos criados para um passeio pela casa. O homem, que se apresentara como Kim Joon, um senhor de meia-idade, guiou-o pelos corredores decorados com objetos antigos, esculturas e pinturas de paisagens tradicionais. Joon explicou cada detalhe com paciência, mencionando o significado de algumas peças e suas origens.
"Aqui temos uma peça que foi trazida diretamente de Gyeongju," disse ele, apontando para uma estátua de pedra. "Acredita-se que ela tenha sido esculpida na época da dinastia Silla."
Baekhyun observava atentamente, encantado. Ele sempre teve fascínio pela história e cultura do país, mas nunca tivera a chance de estar tão próximo de artefatos tão valiosos. Era quase como estar em um museu particular.
"Há tanta história aqui," murmurou Baekhyun, quase para si mesmo.
Joon sorriu. "Sim, senhor. O senhor Park valoriza muito a preservação de nossa cultura. Mas é raro que ele permita visitas a estas áreas para qualquer um."
Baekhyun notou a ênfase no "qualquer um" e se perguntou se deveria se sentir honrado ou apreensivo.
Mais tarde, enquanto explorava um pequeno jardim interno cercado por paredes de vidro, ele encontrou-se em um momento de calma, sentindo o aroma das flores e a brisa suave que entrava pelo teto aberto. No entanto, essa sensação de paz foi interrompida por passos firmes se aproximando.
"Baekhyun-ah," chamou Chanyeol, sua voz cortando o silêncio do jardim.
Baekhyun virou-se rapidamente, curvando-se em uma reverência. "Sim, Chanyeol-ssi."
Chanyeol deu alguns passos até ele, com uma expressão impenetrável. "Gostou do tour pela casa?"
"Sim… é um lugar muito bonito," respondeu Baekhyun, com honestidade. Não podia negar que a mansão, embora opressora, era bela e cheia de história.
Chanyeol esboçou um sorriso enigmático. "Eu imagino que sim. Apenas certifique-se de que esta beleza não te distraia demais. Afinal, como mencionei, quero que esteja sempre disponível."
As palavras eram suaves, mas Baekhyun sentia a ameaça implícita. Ele assentiu, sentindo um nó na garganta. "Sim, Chanyeol-ssi. Eu entendo."
Chanyeol deu um passo à frente, invadindo o espaço de Baekhyun, que instintivamente recuou, encostando-se na parede de vidro. Os olhos de Chanyeol estavam fixos nele, intensos e famintos.
"Ótimo," disse Chanyeol, sua voz baixa e carregada de algo que Baekhyun não sabia como definir. "Apenas lembre-se, Baekhyun-ah. Tudo aqui pertence a mim."
Baekhyun sentiu o peso daquelas palavras como uma corrente invisível ao redor de seus pulsos, uma lembrança cruel de que sua liberdade era uma ilusão. Com um último olhar, Chanyeol se afastou, deixando Baekhyun sozinho, o coração batendo rápido e a sensação de aprisionamento se intensificando.
Naquela noite, Baekhyun deitou-se na cama, tentando afastar o medo e a angústia que dominavam seus pensamentos. O mundo parecia mais frio do que nunca, e a mansão, que durante o dia reluzia com toda sua imponência, agora era uma sombra opressora.
Ele sabia que deveria aceitar o destino que lhe fora imposto, mas uma parte dele ainda ansiava por liberdade.