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O Corvo Bastardo

🇧🇷Matorres4
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Synopsis
© 2024 Marcos Torres Todos os direitos reservados. Jiang Wuxin, um habilidoso cultivador desocupado de uma família poderosa no mundo das artes marciais, vive em um mundo marcado por disputas entre familias, e conhece o inferno ao ter sua vida brutalmente arrancada e sua familia aniquilada pelas mãos cruéis do clã Blackwood, da Seita do Lótus Branco. O pior golpe, porém, é o destino de sua amada Li Meiyu, raptada e aprisionada em um lugar desconhecido por seus inimigos. Mas, no abismo da morte, o destino lhe reservou um retorno sinistro. Despertado por Seth, uma criatura demoníaca ancestral que possui seu corpo e o conferiu poderes sombrios, Wuxin ressurge com o fogo da vingança ardendo em seu coração. Com Seth como guia e aliado, Jiang Wuxin enfrenta demônios, caçadores implacáveis e espectros do passado, em busca de Li Meiyu e da redenção para sua alma atormentada. _____________________________________________ Plágio é Crime! De acordo com a legislação de direitos autorais, o plágio é uma violação grave e ilegal. O plágio ocorre quando alguém copia ou reproduz o trabalho de outra pessoa sem permissão adequada, passando-o como seu próprio. Este ato é considerado uma violação dos direitos autorais e pode resultar em sérias consequências legais e financeiras.
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Chapter 1 - O Vazio que Existe em mim

Nem toda morte chega com o aço nas mãos ou o fogo que queima a pele; algumas mortes vêm devagar, como o veneno dissolvido na água que se bebe.

Eu, Jiang Wuxin, aprendi essa verdade amarga na noite em que perdi tudo. Quando as sombras engoliram meu lar e a escuridão fez morada em meu coração, fui marcado pelo destino não com promessas de glória ou redenção, mas com o peso de uma vingança que ninguém ousaria desejar.

Lembro-me do som do vento, carregando um tom estranho naquela noite, como se algo antigo e sinistro despertasse sob as raízes de nossa terra. A floresta ao redor de nossa cidade parecia respirar com o peso de um sussurro abafado que me instigava a ficar em guarda. Mas, como todo homem inocente, não acreditei no mal que não podia ver.

Nossa família era guardiã da Árvore Sagrada, o coração que sustentava nossas terras e nos dava força. Há gerações, os Jiang se sacrificaram para proteger aquele poder ancestral, uma dádiva que tornava Arthovya mais fértil e mágica. Minha vida era devota a ela e aos meus. Mas naquela noite, tudo mudou.

Ainda me lembro do terror que vivenciei, e foi horrível. Não, perturbador. Mas antes de tudo acontecer realmente, eu sequer me importava com o futuro...

O vento soprava calmo naquela tarde, carregando o aroma familiar das flores que cercavam a residência Jiang. Sob a sombra de uma árvore, lá estava eu, Jiang Wuxin, empoleirado em um galho alto, com uma garrafa de vinho dos Girassóis que havia "adquirido" de nossa adega sem permissão. A brisa fazia as folhas sussurrarem como velhos amigos, e o céu se inundou de um azul profundo, desprovido de qualquer ameaça.

Eu tomei um gole do vinho, sentindo o calor incrível descer pela garganta, e sorri. Ali, sozinho, o mundo parecia tão simples. Meu olhar vagueou pelo horizonte, até onde as torres de Arthovya, a cidade Marcial, desapareciam no manto das montanhas distantes. Aquelas torres sempre pareciam me encarar de volta, como olhos atentos e sombrios.

— Então é aqui que você se escondeu, não é? — disse uma voz familiar.

Olhei para baixo e encontrei minha irmã mais velha, Jiang Yao, com um sorriso divertido no rosto. Ela cruzou os braços e balançou a cabeça.

— Você acha que ninguém notou a falta de uma garrafa na adega? — ela cruzou os braços, com um sorriso delicado.

— Eu? Escondido? — eu ri, dando outro gole. — É apenas... meditação. Você deveria experimentar.

Ela revirou os olhos, mas sorriu. — O pai quer te ver no grande salão. Parece que é importante.

Dei um último gole no vinho, e enquanto descia do galho, senti um calafrio. Era raro meu pai me chamar ao salão, e quando o fazia, não era para discussões triviais. Minha irmã, no entanto, parecia tranquila, então fiz o mesmo. Era melhor esconder qualquer preocupação atrás do mesmo sorriso travesso.

Ao entrar no grande salão, a imponência do Trono de Aço me atingiu com força. Não era um trono de reis, já que eles não existiam aqui; era um símbolo da força e da responsabilidade da nossa família. Ali estava meu pai, com seu rosto sério, os olhos cansados, mas atentos como sempre. Ao seu lado, os conselheiros de nossa família sussurravam entre si. Ele me chamou com um aceno e um olhar que eu conhecia bem. Havia uma preocupação contida, uma tensão que ele escondia de todos, menos de mim.

— Você demorou, Wuxin — ele murmurou, mas o canto de sua boca quase se ergueu em um sorriso. Ele conhecia bem minha natureza descompromissada.

— Estava... meditando — eu disse, de maneira inocente. Mas o sorriso de meu pai não veio. Em vez disso, ele suspirou e pousou a mão em meu ombro.

— Filho, os tempos de paz estão nos deixando. Há escuridão se movendo além das montanhas — ele lançou um olhar para os conselheiros, indicando que nossa conversa era para os ouvidos de poucos.

Me sentei ao seu lado, enquanto ele continuava. — Nossos espiões observaram movimentos... incomuns dos Blackwood. Eles não estão agindo sozinhos desta vez.

— Então, qual é o plano deles? — perguntei, forçando minha voz a permanecer estável. Sabia que nosso conflito com os Blackwood era eterno, mas nunca pensei que iriam tão longe.

Meu pai assentiu lentamente. — Eles formaram uma aliança com a Seita do Lótus Branco. Mestres em magia demoníaca, esses homens são capazes de manipular forças que nem podemos começar a compreender.

Eu reprimi um calafrio. A Seita do Lótus Branco era conhecida em várias lendas, como algo que os pais mencionam para assustar as crianças. Mas agora, essa ameaça estava se movendo contra nós. — O que sabemos sobre seus movimentos? — perguntei, tentando esconder o nervosismo.

— Um traidor nos envenenou de dentro — ele disse, com seu tom carregado de amargura. — Nossos mantimentos foram corrompidos, e a energia de nossos discípulos e soldados foi drenada. Mesmo nossos próprios membros da família estão enfraquecidos. Não temos escolha a não ser lutar para sobreviver.

As palavras dele caíram como pedras sobre mim. Olhei para o Trono de Aço e percebi que, naquele momento, ele parecia tão imponente quanto uma sepultura. Não tínhamos saída; estávamos prestes a enfrentar um exército alimentado pela magia demoníaca, enquanto nós mesmos estávamos enfraquecidos.

Minha mente, como que automaticamente, viajou até o rosto de Li Meiyu. Ela havia perdido sua família pelas mãos dos Blackwood e do Lótus Branco. Desde então, ela viveu entre nós, e se tornou não apenas uma das melhores lutadoras da nossa casa, mas também minha noiva de infância. Era ela a pessoa em quem mais pensava naquele momento, mais do que no perigo que nos cercava.

— Li Meiyu... Ela sabe sobre tudo isso? — perguntei, com uma hesitação que não me era usual.

Meu pai assentiu, parecendo ler meus pensamentos. — Ela sabe, Wuxin. Mas o que ela não sabe é que você está prestes a se tornar o pilar da nossa casa. Preciso que me prometa que, aconteça o que acontecer, protegerá nossa linhagem, protegerá Li Meiyu e sua irmã.

Hesitei, sentindo o peso de suas palavras. Eu era jovem demais para herdar um papel tão grande, mas naquela hora, diante da preocupação e do medo nos olhos de meu pai, soube que não podia recuar.

— Eu prometo — respondi, sentindo meu próprio coração se endurecer.

Meu pai assentiu e ergueu-se, indicando que queria que eu o seguisse. Saímos do salão e seguimos para o pátio onde a Árvore Sagrada se erguia. Sob seu tronco grosso e suas folhas que cintilavam, ali estava o coração do clã Jiang, a essência de nossas tradições e da nossa força.

Ficamos ali, em silêncio. O crepúsculo tingia o céu de tons dourados e vermelhos, como se o próprio horizonte previsse o sangue que seria derramado. Meu pai, com os olhos presos na árvore, falou em um tom calmo e firme.

— Sabe, Wuxin, muitos acreditam que poder é aquilo que se impõe com o ferro e o fogo. Mas o verdadeiro poder... o poder que mantém esta família unida, é o que preserva, é o que resiste — ele estendeu a mão e tocou o tronco da árvore. — É o que sobrevive, mesmo nas piores tempestades.

— Mas o que nos resta agora, pai? — perguntei, sentindo o peso de suas palavras. — Estamos enfraquecidos, nossos aliados traíram nossa confiança... e a Seita do Lótus Branco não tem piedade.

— Nos resta lutar, meu filho — ele respondeu. — E nos resta lembrar quem somos. O sangue dos Jiang flui em você, e não há exército ou feitiço que apague isso.

O ar ao nosso redor pareceu esfriar, e senti uma estranha sensação, uma mistura de medo e resignação. Mas antes que pudesse falar mais alguma coisa, ouviu-se um som distante, como o eco de uma batida na porta do mundo. Era um estrondo, um rugido metálico e violento que ressoava no ar.

— Não pode ser... — murmurei, enquanto meu pai cerrava os punhos.

Então, um discípulo correu em nossa direção, ofegante, com o rosto pálido e os olhos arregalados.

— Senhor, pequeno jovem Mestre... eles estão aqui! — ele gritou. — Os Blackwood... e a Seita do Lótus Branco! Eles romperam nossos portões!

Meu pai lançou um olhar para mim, um olhar cheio de tudo o que ele não podia dizer, e então ele ordenou ao discípulo: — Preparem-se para defender nosso lar.

Eu estava ali, paralisado, com o peso do dever martelando minha alma. Mas antes de partir, olhei uma última vez para a Árvore Sagrada, sentindo a presença ancestral dos meus antepassados, e então segui meu pai. Quando cheguei ao pátio, a visão que encontrei foi o início de um pesadelo.

Meu pai, um homem cujas mãos sempre pareciam feitas para proteger, estava ajoelhado no chão, cercado por homens cujos rostos eram apenas silhuetas sob capuzes negros. Suas espadas, lâminas longas e cruéis, refletiam a luz da lua. Os Blackwood eram como uma tempestade de raiva subindo por mim. Sabia que eram conhecidos pela crueldade, por massacres e desonras, mas jamais imaginei que ousariam pisar em nossas terras, muito menos atacar nossa família.

Meu pai ergueu o olhar e me viu. Com os olhos feridos, ele me deu uma ordem silenciosa, quase uma súplica: corra.

Mas não havia como fugir. Ao meu lado, minha irmã Yao'er tremia, e seus olhos estavam arregalados com a visão daquele massacre que só começava. Havia ódio nos olhos daqueles homens, um desejo de destruição que ia além de meras disputas de terra ou honra. Os Blackwood queriam algo mais, algo que não podíamos impedir de levar.

— O poder da Árvore Sagrada será nosso — disse o líder deles, uma voz rouca e amarga como veneno. E então, ele olhou diretamente para Li Meiyu, que chegou acompanhada por alguns discípulos Jiang.

Senti o mundo estremecer ao meu redor. Eles não estavam ali apenas para nos destruir; queriam ela. Li Meiyu, a jovem mais bela de Arthovya. Eles a viam como um troféu, um prêmio para sua casa, e a Árvore Sagrada, que protegíamos, como uma arma para fortalecer suas gerações.

— Vocês... não sabem o que estão fazendo — eu sibilei, sentindo minha voz sair trêmula, contida pela fúria e pela impotência. Se usarem a árvore da forma errada, ela irá corromper o mundo. E criaturas demoníacas surgiram na terra.

— Ah, sabemos — o líder Blackwood sorriu, e era um sorriso que trazia uma eminente crueldade. — Sabemos que os Jiang possuem uma força que vai além da carne. Vamos fazer essa força nossa e teremos nossa vingança em cada geração.

Minha espada Redenção estava em minha mão antes mesmo que eu pudesse pensar. Mas, enquanto eu tentava lhes causar algum dano, eles se moviam com uma velocidade impossível, como sombras. Para cada golpe, dois deles avançavam, e não demorou até que minha espada fosse arrancada e meus braços segurados por mãos frias e inabaláveis.

Senti o ferro das correntes apertarem meu pulso, senti o peso da derrota, e então o pior de todos os horrores aconteceu: Li Meiyu foi arrancada dos braços de Yao'er. Ela lutou, se debatia, mas era inútil. Eu a vi sendo levada, e sua voz clamando meu nome, um último grito que ecoou na noite.

— Wuxin!

E então, silêncio. Fui deixado ali, caído entre as sombras, rodeado por corpos da minha família, meu coração havia sido despedaçado pelo vazio. Ouvi Yao'er gritando por socorro, mas eu nem mesmo pude mover um músculo. O que aconteceu comigo? Por que eu não consegui me mover naquele momento? Deixei minha irmã ser tortura e morta por aqueles malditos... Minha amada foi roubada. Eles levaram o meu coração.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. A morte seria um alívio, mas não me deram nem isso. Os Blackwood foram embora em direção a árvore, levando minha querida Li Meiyu e nossas esperanças. E eu permaneci parado, sentindo o gosto amargo da poeira e da derrota. Até que algo... mudou.

No limiar da minha consciência, uma presença estranha se aproximava, envolta em sombras densas e frias como a morte.

— Então, este é o famoso Jiang Wuxin, uma voz ecoou em minha mente, um sussurro que parecia vir de dentro, desenterrado de algum abismo desconhecido.

Meu corpo se contorceu de dor, cada fibra ardendo como se fosse rasgada de dentro para fora. Era como se algo... não, alguém, estivesse tentando entrar em mim, possuindo-me. Eu queria gritar, mas a voz não saía; apenas aquele sussurro, penetrando cada pensamento, cada memória.

O mundo ao meu redor era uma névoa de dor e sombras distorcidas, acho que vi espíritos malignos sugando a energia negativa de todos aqueles corpos mortos. Meus olhos pesavam, e cada movimento parecia drenar o que restava de energia no meu corpo. Estava sendo arrastado por dois discípulos do clã Blackwood, seus rostos pareciam impassíveis enquanto me arrastavam como uma carga indesejada, arranhando a pele e sujando meu sangue na areia.

Tentei erguer o olhar e vi a destruição ao redor: uma pilha de corpos, os discípulos Jiang que defenderam nosso clã até o último suspiro, amontoados como destroços de uma vida passada. No topo, uma visão que atravessou a minha alma como uma lâmina afiada. A cabeça de meu pai estava pendurada em uma estaca, seus olhos abertos, vazios, ainda fixos no vazio. Ele que sempre acreditou em nosso poder, em nossa força. Agora, não passava de um troféu macabro dos Blackwood.

Minha garganta queimava com a sede e com o grito que não conseguia soltar. Procurei com o olhar, como num ato instintivo, a presença de minha irmã, mas seu corpo não estava entre os outros. Talvez tivesse sido destruído ao ponto de não restar nada visível. O vazio tomou conta de mim como um peso esmagador, e eu sabia que a derrota era completa.

Após algumas horas de caminhada que pareciam eternas, eles me abandonaram. Apenas soltaram meus braços e deixaram meu corpo cair pesadamente sobre a areia escaldante do deserto. Apesar de estar quase de noite, o calor irradiava do chão, queimando minha pele ferida. Respirar era um esforço, e a corrente mágica que eles haviam colocado em mim parecia roubar o resto da minha força. Não era apenas uma prisão; era como se sugasse a minha própria essência, drenando a vitalidade que me restava.

O tempo passou devagar, e a sede, o calor e a dor se misturaram em um turbilhão sufocante. Meus olhos piscavam, ora focando o céu claro e o vazio ao meu redor, ora se desfocando até que tudo se tornasse escuridão. Eu sabia que estava morrendo. A vida escapava de mim, e minha consciência se desfazia aos poucos, como grãos de areia soprados pelo vento.

Então, em algum lugar entre a vida e a morte, senti uma presença. Não era como a de alguém vindo para me ajudar; era algo sombrio, como uma sombra avançando lentamente, faminta e fria. Provavelmente um daqueles espíritos malignos. Foi então que vi uma coisa horrível, uma figura esguia e poderosa, o rosto oculto em uma penumbra que parecia quase palpável. Ele se aproximou de mim como um predador que finalmente encontra sua presa indefesa.

— Jiang Wuxin — ele murmurou, com sua voz reverberando no vazio ao meu redor, — parece que seu destino foi selado.

Eu tentei me mexer, mas meu corpo não respondia. Cada tentativa era em vão, o suspiro era mais fraco que o anterior. Aquela coisa se ajoelhou ao meu lado, estendendo uma mão pálida e fria. Eu podia sentir a intenção em seus olhos; ele queria tomar meu corpo, absorver o que restava da minha energia, e eu não podia impedir. Com um toque em minha testa, senti uma força ainda mais poderosa me invadindo, puxando minha alma como se quisesse arrancá-la de dentro.

Mas eu ainda estava vivo. Algo dentro de mim resistia, como uma chama fraca, mas teimosa. E, embora eu não conseguisse me mover, minha consciência lutava, agarrando-se com desespero. A coisa recuou por um momento, e seu rosto contorcido em uma expressão de frustração. Ele não conseguia tomar o que ainda me pertencia. Por mais enfraquecido que eu estivesse, eu ainda era eu.

— Você é fraco, Jiang Wuxin — continuou a voz, e agora eu podia sentir um toque de desprezo, como um juiz frio e imparcial. —Mas o destino o marcou para algo maior, eu posso enxergar algo... sombrio.

— Quem é você? — consegui perguntar, com minha mente se debatendo no escuro, procurando um rosto, uma forma. Mas tudo o que vi foi uma figura nebulosa, um par de olhos vermelhos como brasas.

— Eu sou Seth — respondeu, cada sílaba ecoando como o toque de um sino de morte. — E eu vim oferecer-lhe uma escolha: pode aceitar o poder que lhe dou e tornar-se uma arma, ou pode definhar e morrer com seu fracasso. Assim, ficará mais fácil dominar seu corpo e devorar a energia da Árvore Sagrada.

Eu não tinha forças para resistir. Sabia que o que ele me oferecia vinha com um preço, um preço que poderia consumir tudo que eu era. Mas, naquele momento, com a visão de Li Meiyu sendo levada gravada em minha mente, a sede de vingança era tudo o que restava.

A presença de Seth me envolvia, espessa e sufocante, como uma neblina sombria que consumia tudo ao seu redor. A dor em meu corpo se tornava pequena diante daquela presença colossal e enigmática. Podia sentir suas intenções como se fossem espinhos cravados na minha mente, sondando cada recanto da minha alma, tentando quebrar qualquer resquício de vontade que me restasse. Mas eu era Jiang Wuxin, e a teimosia que pulsava em mim era a última coisa que eu perderia.

— Vejo uma alma resistente em você, jovem Jiang Wuxin — a voz de Seth se arrastou como veneno derramado no silêncio, com uma frieza calculada. — Mas o que te resta, agora que todos os seus estão mortos? Você está sozinho. Fraco. Ofereço a força que você perdeu... e muito mais. Apenas me dê seu corpo, vamos.

Eu soltei um riso rouco, senti meu corpo tremendo enquanto ainda tentava me erguer no calor do deserto. — Oferece poder, é? Claro que sim. Mas me diga, o que um ser como você realmente quer? Com certeza não é uma amizade.

Seth deu um passo em minha direção, com sua presença se intensificando como uma sombra viva. — Mudança de ares, talvez? Um propósito? Não quero mais voltar pro submundo, lá é muito sem graça. E eu sou... uma oportunidade. Para aqueles que sabem aproveitar.

Meu olhar, mesmo ofuscado pela dor e pelo calor, não se desviava do dele. Meu pai sempre me ensinou que aqueles que ofereciam poder nunca o faziam sem um preço alto. E a verdade era que os Jiang existiam para purificar o mundo de entidades como Seth. Mas tudo isso agora era uma lembrança distante, enterrada sob o sangue do meu clã.

Senti a tentação da proposta em minha carne, cada parte do meu corpo clamando por algo que me tirasse daquele estado miserável. Mas eu não ia ser enganado tão facilmente.

— Uma oportunidade, hmm? Então por que não a usa para si mesmo? Tem muitos seres ambiciosos por aí, mas parece que o meu corpinho é a melhor opção pra você, não é? — provoquei, dando-lhe um sorriso torto. — Afinal, um ser com tanta... influência poderia fazer tudo sozinho, certo?

Seth soltou um riso baixo, como o eco de uma tempestade ao longe. — Ah, mas por que deveria, quando há alguém... tão disposto? Alguém com a sede necessária para queimar o mundo se precisar.

Eu ri de volta, embora minhas forças estivessem se esvaindo. — Eu posso ter sede de vingança, mas também tenho cérebro. Se eu aceitar o seu poder, o controle ainda será meu. Ou nada feito — o encarei com um sorriso sádico. — Você é um demônio, e não pode viver muito tempo na terra sem um corpo para habitar, ou morrerá.

A sombra de Seth oscilou por um momento. Podia sentir sua hesitação, como se estivesse ponderando. Era um jogo arriscado, mas tudo o que restava para mim era minha astúcia. Tinha que mostrar que não era uma presa tão fácil.

— Você pensa que pode me enganar, garoto? — ele sibilou, com seu tom afiado como lâmina.

— Enganar? — soltei outra risada, mesmo com a garganta seca e a dor pulsando em cada parte do meu corpo. — Eu só quero um acordo justo. Você me ajuda a sobreviver, e em troca, eu me torno... seu aliado. Não seu servo. Vou usá-lo, e você poderá viver na terra sem problemas.

Seth ficou em silêncio por alguns segundos, e eu sabia que ele estava me avaliando, tentando sondar as profundezas da minha alma. Eu precisava ser rápido, antes que ele percebesse meu verdadeiro plano.

— Está bem, Jiang Wuxin — ele disse, sua voz agora com um tom quase divertido. — Seremos aliados. Mas lembre-se de que não sou tolo. Você terá o que deseja, mas também pagará o preço por isso. O poder virá... mas eu serei sua sombra.

Eu sorri, um sorriso desafiador, mesmo que soubesse que o que vinha pela frente não seria fácil. Enganá-lo não foi tão difícil, os Jiang possuem uma técnica de controle mental capaz de forçar uma submissão de seres como Seth. Eu não seria tolo ao ponto de me arriscar. — Então, temos um acordo.

Assim que aceitei suas palavras, senti uma onda fria passar pelo meu corpo, como se Seth tivesse se infiltrado em cada célula minha. Ele se enraizou em mim, se fundindo à minha própria essência. Era um fardo sombrio, uma presença que parecia tentar se apoderar de cada pedaço de mim, mas eu resistia com cada centímetro da minha vontade.

A dor diminuiu, e em seu lugar, uma energia antiga e terrível começou a pulsar dentro de mim. Era uma força que parecia querer me consumir, mas que, ao mesmo tempo, me fortalecia, curando minhas feridas e revigorando minha carne queimada pela areia. Eu ainda sentia Seth, como uma serpente enrolada ao redor do meu coração, pronta para atacar ao menor sinal de fraqueza. Mas, por ora, ele estava quieto, e isso era tudo o que eu precisava.

Respirei fundo, e o calor do deserto agora não parecia mais tão insuportável. Uma nova força, escura e poderosa, pulsava em minhas veias, como se o próprio caos tivesse encontrado morada em mim.

— Então, meu precioso garotinho, você realmente conseguiu me enganar — Seth sussurrou em minha mente, a voz era como um veneno que gotejava lentamente. — Esqueça, estou com preguiça de tentar alguma coisa. Que comece sua vingança... mas não esqueça. Cada gota de sangue que derramar será também um passo em direção à sua própria queda. Mate se precisar, fuja se for necessário.

Dei de ombros, tentando ignorar a sensação de Seth enroscado em meu ser. — Pode ser. Mas antes, temos algumas dívidas a acertar. E por agora, quero apenas enterrar a minha família em paz.

Contínua...