Darius deixou o altar com passos lentos, o coração ainda pulsando com a energia que sentira ao absorver a esfera de sombras. Embora estivesse exausto, algo dentro dele havia mudado; ele não era mais o mesmo jovem que entrara no templo em busca de respostas. Agora, sentia-se mais conectado com o amuleto, e a escuridão ao seu redor parecia menos assustadora — quase familiar.
Enquanto caminhava de volta pelos corredores do templo, sua mente estava repleta de pensamentos. Ele sabia que aquele teste havia sido apenas o começo e que, apesar de ter passado, ainda havia muito que aprender. Suas mãos ainda tremiam ligeiramente, mas havia uma determinação nova e inabalável em seu coração.
De repente, uma voz suave e profunda ecoou ao seu redor, sussurrando como o vento.
"Guardião..."
Darius parou, os olhos atentos e os sentidos aguçados. Não era a voz familiar que o amuleto costumava usar para se comunicar com ele; esta era diferente, carregada de uma tristeza profunda.
"Quem está aí?" ele perguntou, sua voz firme, mas cautelosa.
"Você nos trouxe para este mundo, Guardião. Carrega em si a essência de todos aqueles que vieram antes."
Darius franziu o cenho. A voz parecia vir de todos os lados, como se as próprias paredes do templo estivessem falando com ele. Ele sentiu uma onda de frio passar pelo corpo, uma presença antiga e desconhecida, mas que parecia ao mesmo tempo íntima.
"Vocês são... os antigos Guardiões?" arriscou, a voz saindo baixa.
"Sim," respondeu a voz, ecoando suavemente pelo salão vazio. "Nós somos aqueles que responderam ao chamado das sombras, que carregaram este fardo antes de você. Cada um de nós deixou um fragmento de sua alma para guiar os que viriam."
Darius sentiu um calafrio. Ele não estava apenas carregando um título; estava ligado a uma linhagem antiga, a uma história de sacrifícios e escolhas difíceis. "E por que se revelam para mim agora?"
"Porque você se mostrou digno," respondeu uma segunda voz, mais rouca, quase como um sussurro próximo a seu ouvido. "Mostrou-se capaz de aceitar o peso das sombras sem deixar que elas consumam seu coração. Mas cuidado... cada Guardião encontrou desafios únicos. Alguns perderam-se no caminho, esquecendo-se de quem eram."
Imagens de figuras antigas, de homens e mulheres com olhos firmes e rostos marcados pelo tempo, apareceram ao redor dele. Eles estavam em silêncio, mas suas expressões falavam por si: guerreiros, sábios, estudiosos — todos haviam sido tocados pela escuridão e, em algum momento, tornaram-se seus guardiões. Darius sentiu o peso daquela linhagem cair sobre ele, e um profundo respeito por aqueles que haviam vindo antes se apoderou dele.
"O que preciso fazer para honrar vocês?" perguntou Darius, tentando esconder a incerteza em sua voz.
Uma das figuras avançou, um homem de cabelos grisalhos e expressão severa. "Honrar o título de Guardião não é apenas carregar o amuleto, Darius," disse ele. "É tomar decisões que poucos ousariam. É proteger o mundo daqueles que desejam usar as sombras para fins egoístas, mesmo que isso signifique enfrentar as trevas dentro de si."
As palavras ressoaram em sua mente, e ele compreendeu a profundidade de sua missão. Ser o Guardião das Sombras não era apenas uma honra; era um sacrifício. Ele estava aceitando uma vida de constante vigilância, sempre em guerra com as forças que poderia um dia perder o controle.
Darius respirou fundo, sentindo o peso do destino que aceitara. "Eu farei o que for preciso," disse ele com determinação. "Honrarei o nome dos Guardiões e carregarei esse fardo para proteger o mundo."
As figuras ao redor assentiram silenciosamente, suas expressões mostrando aprovação. A voz antiga, agora cheia de uma sabedoria serena, falou novamente.
"Então siga em frente, Guardião. Em breve, você enfrentará provas que testarão sua lealdade e coragem. Mantenha-se firme e nunca se esqueça: a sombra está sempre observando."
Darius acenou em silêncio, determinado a seguir em frente. As figuras começaram a desaparecer, sumindo na escuridão do templo, até que ele se viu novamente sozinho. Mas desta vez, a solidão não parecia vazia. Ele sentia a presença dos antigos Guardiões dentro de si, como se uma parte deles o acompanhasse, uma força invisível a guiá-lo.
Ao sair do templo, Darius olhou para o céu cinzento e respirou o ar frio das montanhas. Ele sabia que aquele era apenas o começo de sua jornada, mas agora, mais do que nunca, estava preparado para encarar o que viria.
Determinou-se a retornar a Valdara e buscar conselhos de Thalia sobre o próximo passo.