Capítulo 3: O Acordo de Sangue e Ouro
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Ivar ajustou o pesado manto sobre os ombros enquanto observava a imponente estrutura do Banco de Ferro de Braavos. O edifício era uma fortaleza, implacável e fria, como a reputação da instituição que abrigava. Durante três dias desde a chegada de seu clã à cidade, ele havia explorado cada rua, cada praça, tentando absorver o máximo da cultura e das oportunidades que Braavos poderia oferecer. Mas, agora, seu povo precisava de estabilidade – e para isso, precisava de recursos.
Ele havia gastado quase todo o âmbar e as peles acumuladas para pagar as passagens com os mercadores braavosi que os trouxeram a Essos, mas o dinheiro estava se esgotando rapidamente. Em seu coração, Ivar sabia que o único caminho para garantir a sobrevivência e a prosperidade de seu clã era transformá-los em uma força mercenária. Dos seiscentos membros de seu povo, quinhentos estavam aptos para o combate, prontos para lutar, mas sem as armas e armaduras adequadas, sua força seria desperdiçada. Para equipá-los, Ivar precisaria de uma quantia que nenhum membro do povo livre jamais havia imaginado possuir.
O Banco de Ferro era sua única esperança.
O Encontro com o Gerente
Ele foi conduzido até uma sala elegante, onde tudo parecia respirar luxo e poder. Os corredores que percorreu eram silenciosos, como se até mesmo o ar ali dentro fosse proibido de fazer barulho. À sua frente, sentado atrás de uma mesa de madeira maciça, estava um homem magro, de olhar calculista, vestido em um manto de corte refinado. Ele se apresentou como Tycho Valarran, um dos gerentes do banco.
— Ivar da Águia Vermelha, líder do clã… selvagem — começou Tycho, quase com desdém, embora ele escondesse bem. — Estou surpreso que tenha escolhido o Banco de Ferro para negociar. O que exatamente espera conseguir conosco?
Ivar sustentou o olhar do homem, sentindo a avaliação fria e minuciosa a que estava sendo submetido. Ele sabia que Tycho o considerava um bárbaro, alguém que não tinha lugar naquela sala, muito menos nas negociações do Banco de Ferro.
— A palavra "selvagem" é mal utilizada — respondeu Ivar, firme. — Meu povo é livre, sim, mas também capaz e disciplinado. E agora buscamos a oportunidade de nos estabelecer e prosperar, como qualquer povo civilizado. Estamos prontos para aceitar contratos de batalha, servir em combates e proteger os interesses de nossos contratantes. Mas para isso, precisamos de armas, armaduras e provisões.
Tycho arqueou uma sobrancelha, ainda avaliando o homem à sua frente.
— E você espera que o Banco de Ferro, a instituição financeira mais poderosa do mundo, empreste uma quantia considerável de dinheiro para equipar… o que? Uma horda de bárbaros?
Ivar conteve a irritação. Sabia que o confronto direto não o levaria a lugar nenhum.
— Não estamos aqui para um favor. Estou propondo um investimento. Com um empréstimo de dez mil dragões de ouro, meu clã se transformará em uma companhia mercenária bem equipada. Com nossos números e habilidades, podemos cumprir contratos e lucrar. E, evidentemente, o Banco de Ferro será pago com juros. — Ivar deixou suas palavras suspensas no ar, deixando que Tycho sentisse o peso de sua proposta.
A Negociação Intensa
Tycho olhou para ele em silêncio, e Ivar sabia que estava avaliando não apenas as palavras, mas também cada nuance de sua postura. Para muitos dos braavosi, os "selvagens" eram considerados pouco mais que animais, incapazes de entender as sutilezas de uma negociação. Contudo, Ivar estava determinado a mostrar que ele e seu clã eram diferentes.
— Suponhamos que o Banco de Ferro considere seu pedido — disse Tycho, após um momento de reflexão. — Ainda assim, precisamos de garantias. E sejamos francos, Ivar. Seu povo não tem propriedades, e sua reputação precede você, ainda que… notavelmente civilizado para um selvagem.
Ivar manteve o rosto firme, mas sentia o desafio naquelas palavras. Sabia que sua única moeda de troca ali era sua própria determinação.
— O que posso oferecer, então, é minha palavra e minha honra — declarou Ivar. — Não temos terras nem riquezas, mas minha palavra é tudo o que possuímos, e nosso compromisso é sagrado. — Ele inclinou-se levemente, mantendo o olhar fixo no homem. — A Águia Vermelha não deixa um juramento quebrado para trás.
Tycho considerou por um longo momento, e um leve sorriso de cálculo surgiu em seu rosto.
— A honra de um selvagem… é uma moeda rara, devo admitir. Mas aqui em Braavos, nossas dívidas são pagas com ouro, não com promessas.
O Momento Decisivo
Ivar sabia que aquele era o momento crucial. Ele precisava mostrar a Tycho que seu clã não era apenas um grupo de bárbaros em busca de ouro, mas uma força em potencial, um ativo valioso para o banco.
— Se me der os recursos, vou assegurar que o retorno seja alto — disse Ivar, colocando convicção em cada palavra. — Não somos tolos. Sabemos o valor do ouro. E somos guerreiros. Se o Banco de Ferro nos der essa chance, terá não apenas o retorno financeiro, mas também um grupo de aliados, prontos para servir onde e quando for necessário.
Tycho se recostou na cadeira, ponderando. Os olhos frios do homem passaram de avaliadores a curiosos, como se finalmente vislumbrasse algo além da imagem de um bárbaro.
— Há uma verdade em suas palavras, Ivar. A Águia Vermelha pode, de fato, se tornar uma força a ser considerada. Mas, como gestor do Banco de Ferro, não posso confiar apenas em palavras. Faremos o seguinte: concederemos o empréstimo de dez mil dragões de ouro. Em troca, o banco terá direito a vinte por cento dos lucros dos seus contratos mercenários pelos próximos cinco anos.
Ivar quase se surpreendeu com a proposta. Era uma concessão grande para alguém como Tycho.
— Aceito os termos — respondeu Ivar, sem hesitar.
Tycho fez uma leve inclinação com a cabeça, e um brilho astuto apareceu em seus olhos.
— Muito bem. Então estamos em um acordo. O Banco de Ferro espera que sua palavra seja tão valiosa quanto sua habilidade em batalha, Ivar da Águia Vermelha. Lembre-se, uma dívida com o Banco de Ferro não é como qualquer outra.
O Desfecho da Reunião
Depois de selar o acordo com Tycho, Ivar deixou a sala com uma sensação de alívio misturada à determinação. Seu clã estava mais perto do que nunca de se transformar em uma força verdadeira, capaz de lutar e prosperar nesse novo mundo. Ele sabia que cada dragão de ouro emprestado seria uma responsabilidade enorme, mas também uma oportunidade para seu povo se erguer como nunca antes.
Enquanto caminhava de volta pelas ruas de Braavos, ele pensou em Mance e em tudo o que deixara para trás. Agora, eles tinham uma nova chance, e ele estava decidido a fazer com que cada moeda investida em seu clã fosse multiplicada.
Dentro de alguns dias, o Clã da Águia Vermelha deixa
ria de ser apenas um grupo do povo livre para se tornar algo mais.