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Chapter 2 - capítulo:1

NÚBIA

O aroma do café preenche o ar, uma fragrância reconfortante que se mistura com a preguiça do domingo de manhã. Estou sentado em uma cafeteria de esquina, daquelas com decoração vintage e um toque de modernidade. As paredes são adornadas com aros em preto e br, e as mesas de madeira escura contrastam com as cadeiras de metal coloridas. A luz suave se derrama através das grandes janelas, criando um ambiente acolhedor e um tanto nostálgico.

Estou vestindo meu habitual: um vestido preta de botões que vai até os joelhos,  uma jaqueta jeans desgastados e botas de couro. É um estilo que me define bem – simples, mas com uma aura de mistério. Observo as pessoas ao meu redor, cada uma absorta em suas próprias vidas. Algumas conversam animadamente, outras estão mergulhadas em livros ou perdidas nos próprios pensamentos. Eu, por outro lado, estou confortável em minha solidão, apreciando a tranquilidade que o isolamento oferece.

De repente, um perfume invade o espaço, um aroma amadeirado que  expressa  masculinidade, confiança uma fragrância Clássica e sofisticada e um toque de mistério e que me arranca do meu devaneio. Olho ao redor, tentando identificar a fonte, e então ele aparece. O homem que caminha em minha direção é o mesmo de ontem a noite. Ele veste um t-shirt vermelho que realça seus músculos e seu abdômen malhado , com um calça jeans preta  e botas pretas e um sorriso que sugere segredos. E seus olhos parecem dançar com uma luz própria.

— O mundo é mesmo pequeno — diz ele, com uma voz grave.  Engoli em seco e tentei manter a calma.

— Desculpe-me, acho que é engano — respondo, tentando parecer desinteressado, embora meu coração tenha acelerado.

Ele ri, um som cristalino que parece preencher o espaço entre nós.

— Não vamos brincar de gato e rato, querida. Sei que você me reconhece.

Sua confiança é palpável, e eu não posso deixar de me sentir intrigada. Ele se senta à minha frente, cruzando as pernas de maneira que atrai minha atenção. Há um jogo aqui, uma dança de palavras e olhares que promete ser tão perigosa quanto excitante.

— Não  sabia que estávamos a brincar de gato e rato, todavia talvez eu me lembre de você — digo, mantendo minha voz neutra, mas meus olhos atraem, explorando cada detalhe de sua aparência.  Seus traços finos são  insofismáveis, rosto marcante,  nariz fino, olhos azuis, cabelo escuro,  escondendo sua testa, que possivelmente seja maior.

— Talvez? — Ele inclina a cabeça, um sorriso malicioso brincando em seus lábios. — Eu diria que é mais do que isso. Afinal, não é todo dia que se encontra alguém tão... marcante.

Há um duplo sentido em suas palavras, uma insinuação que não passa despercebida. Ele é um sedutor por natureza, e eu posso sentir a teia que ele tece ao meu redor. Mas eu também tenho meus próprios jogos, e não sou facilmente enredado.

— Marcante, é? — replico, um sorriso frio surgindo em meus lábios. — E o que exatamente você acha que me marcou em você?

Ele se inclina para frente, diminuindo a distância entre nós.

— A intensidade, talvez? Ou seria a promessa de algo mais... profundo? — Eu soltei uma gargalhada alta, o que fez atrai olhares curiosos sobre nós.

— Você é uma comédia, talvez o seu lugar não seja esse, talvez estaja perdido, sei lá. 

— Já é alguma coisa, você achar alguma coisa sobre mim.

Nossas palavras dançam uma valsa de insinuações, cada frase carregada com significados ocultos. Ele é fogo e paixão, uma chama que queima intensamente e ameaça consumir tudo ao seu redor. Eu, por outro lado, sou sombra e gelo, um enigma que esconde suas verdadeiras intenções.

—  E outra profundidade é algo que se descobre com tempo — digo, minha voz baixa e controlada. — E tempo é algo que eu não tenho de sobra. — Disse, e logo em seguida levantei-me da mesa com a intenção de ir embora. 

— Que isso? Não vai ser mal educada e deixa-me a falar sozinho né? Sabe, eu não mordo, apeno que queira,  ai eu posso fazê-lo com prazer e com muita força, vou morder você com tanta força que vai precisar de medicos.

— Você é  um babaca.  — Ele sorri, satisfeita com a resposta.

—  Sente-se  e me fale sobre você. — Respirei fundo, e voltei a sentar, vamos ver no que isso vai dar. 

— Porquê? — perguntei, embora já saiba da resposta.  

—  Porque,  talvez eu goste de coisas diferentes e complicadas.  — Disse  ironicamente. — Oras, é  evidente que quero saber mais de você.

— Uhum! Bem , minha  vida? – Mordi os lábios inferiores logo após  umedecê-la .  —  Prefiro mantê-la como um dos muitos mistérios que envolvem-me. Não por medo ou timidez, mas porque aprendi que o anonimato é uma capa poderosa sob a qual posso navegar livremente pelas correntes da sociedade.

Ele deu um leve sorriso de lado, não parecia convencido da minha resposta, apenas decidiu deixar o silêncio responder por si só para bebericar seu café.

O homem à minha frente,  era uma incógnita. Seus olhos escuros pareciam esconder mais do que revelar, e sua postura, embora relaxada, tinha um quê de alerta, como se estivesse sempre pronto para o inesperado. A conversa fluía entre nós como um jogo de xadrez, cada palavra cuidadosamente escolhida, cada frase uma jogada estratégica.

Fomos abruptamente interrompidos pelo toque do seu telemóvel. Ele lançou um olhar para o dispositivo, e sua expressão se contorceu em algo que eu não consegui decifrar. Era um misto de irritação e preocupação, talvez. Ele retirou algo do bolso da sua jaqueta, que eu notei ser de couro preto com detalhes vermelhos, um estilo que lhe conferia um ar de perigo e elegância.

— Meu nome é Taú. —  ele disse, estendendo um cartão que pegou do bolso. — Aqui está meu número, ficarei à espera da sua ligação.

A curiosidade me picou, mas mantive minha expressão neutra.

—  Algum problema?

— Não, só preciso resolver algumas coisas. —  ele respondeu, sua voz mais fria do que antes. Era evidente que algo o incomodava, mas ele não estava disposto a compartilhar.

— Ah, entendi. — repliquei, espelhando sua frieza.

Ele se levantou, estendeu a mão e, com um toque de formalidade, disse:

— Espero voltar a vê-la em breve...

Decidi jogar mais um enigma em nossa partida de xadrez verbal

— Descubra meu nome, Taú. — desafiei, — percebi que gosta de desafios.

Ele sorriu, um sorriso que poderia derreter corações menos cautelosos.

— É observadora. —  reconheceu. —  Então vemo-nos em breve. Garota do bar. —  Ele concluiu o encontro com um beijo em minha mão, um gesto de cavalheirismo que parecia deslocado em nossa era, mas que nele parecia genuíno.

Assim que ele saiu, eu me permiti um momento para refletir sobre o encontro. Taú era um enigma, um homem que parecia jogar com as palavras tão habilmente quanto eu. Mas, ao contrário dele, eu não estava disposta a revelar minhas cartas tão cedo.

Minha vida é um mosaico de experiências e segredos, cada um cuidadosamente guardado atrás de uma fachada de normalidade. Eu poderia ser uma artista, uma empresária, ou talvez uma espiã; a verdade é que meu verdadeiro "eu"é uma camaleoa, adaptando-se ao ambiente e às circunstâncias.

O café começou a esvaziar, e eu permaneci ali, saboreando o último gole do meu café, agora frio. O dia  lá fora prometia mais mistérios, e eu estava pronta para mergulhar em cada um deles. Afinal, a vida é um jogo, e eu sou uma jogadora nata.

O cartão de Taú ainda estava na mesa, um pedaço de papel que representava uma escolha. Eu poderia ligar para ele e mergulhar em seu mundo de segredos, ou poderia continuar a minha vida enigmática, sem nunca revelar quem eu realmente era.

Por enquanto, eu escolhi o silêncio. O cartão deslizou para dentro do meu bolso, um lembrete de que, embora eu goste de desafios, também sei o valor de manter meus próprios mistérios. Respirei fundo,  o dia mal começou eu já estou  cansada.  Então decidi voltar para casa e cuidar dos meus pets.