Quando eu acordo já passa das 7:00 horas. Pedi a Ted para não me acordar hoje e ao invés disso só voltar na minha casa quando o primeiro dessalinizador estufa estiver pronto. Tomo meu banho, me troco e pela primeira vez tomo meu café da manhã com calma. Hoje está bem melhor, tenho alguns pães brancos e frutas que pedi ontem à tarde no Dragão Dorminhoco, aproveito parte do tempo livre para fazer algo que tenho feito enquanto espero os clientes nas longas tardes na taverna, uso meu sistema para ler tudo o que coletei até agora. Hoje em especial tenho um conhecimento importante da biblioteca dos Lordes: A bateria magica usada nos relógios, luzes e outros itens alquímicos modernos de Valíria. De acordo com os livros da biblioteca privada, eles coletam um tipo de rocha vulcânica especial que se mantém quente mesmo depois de longos períodos e então criaram uma runa mágica que prolonga ainda mais o tempo de duração da alta temperatura dessa rocha, seguida de uma segunda runa que evita a dispersão de calor. Criando assim uma rocha que está sempre no estado aquecido, mas não o suficiente para derreter os objetos. Claro, isso não dura para sempre, mas seu longo período de até alguns meses em uma única lâmpada torna esse item uma bateria de alta eficiência.
O fato de conseguirem esculpir isso em algo tão pequeno quanto um relógio de bolso é incrível também. Para melhorar tudo e evitar que os magos trabalhem até a morte nessas baterias, eles também automatizaram o processo usando uma matriz mágica alimentada pelas 14 chamas que imprime essas duas runas constantemente em várias rochas, em algo que eles ainda não chamaram de fábrica. Dou um sorriso satisfeito depois de confirmar que eles não esconderam as duas runas, isso se deve porque somente magos podem usá-las, quanto ao método de converter calor em energia eu já tinha visto até mesmo na biblioteca comum, eles tiveram seu método revelado esperando novas invenções úteis por parte dos plebeus e comerciantes como forma de incentivo. Já que o método de fabricação em massa ainda está nas mãos dos Lordes não há nada a temer. Outro problema principal é que mesmo a melhor bateria não dura muito, então tentar levar essas invenções para locais muito longe de navio ou cavalos leva muito tempo, tornando toda essa tecnologia mágica algo único e exclusivo de Valíria.
Mas, tais métodos já existiam a tanto tempo que se popularizou ao pontos de até mesmo os plebeus utilizarem. Apesar que coisas como "geladeiras e fogões" ainda era considerado algo luxuoso com apenas os nobres e comerciantes usando. Faço anotações mentais desse assunto em particular, mas não há muito que posso fazer, eu poderia roubar mais dessas "baterias" de maior potência e guardar uma parte delas no meu inventário ou tentar conseguir uma das prensas que imprime a runa nas rochas. Mas já é muito tarde para qualquer plano adicional e tenho muito nas minhas mãos até o dia da partida. Paro minha leitura ao ouvir o som da carruagem do lado de fora da casa, pois é hora de partir.
Enquanto Rafael está no navio iniciando os testes do dessalinizador e cuidando de outros assuntos da tripulação. Três acontecimentos importantes estavam acontecendo simultaneamente na cidade e que mais tarde iriam culminar em grande caos por toda Valíria.
***
No porto do distrito norte não muito longe de onde estava o Suspiro de Valíria, Madame Liza estava observando o navio Rosa Uivante que partia do porto ao lado de sua irmã mais nova Zaya. Dentro do navio indo embora de Valíria estava sua mãe Madame Rosa e todas as suas outras irmãs, que tristemente, elas acabaram de se despedir, Liza queria seguir sua mãe, mas foi orientada a ficar ao lado de Zaya, enquanto completavam juntas uma última missão.
Elas duas, junto com seus 4 irmãos eram os últimos da família que ainda permaneciam na cidade Franca. Desde que seu irmão Malcon traiu sua mãe, ela virou as costas não só para Malcon, mas para todos os outros três filhos que o seguiam como seu estimado líder. Enquanto Liza pensava que agora todos os quatro sofreriam um destino terrível ficando para trás, qualquer sinal de desistir e desobedecer sua mãe era algo que nem passava pela cabeça dela.
"Vamos, ou nos atrasaremos para o encontro."
Eu comecei a seguir Zaya até uma casa velha e abandonada com telhado parcialmente desabado. Esperamos dentro dela por cerca de 30 minutos até que um velho corcunda apareceu, ele nos observou por um momento, principalmente Zaya e perguntou se ela era a aprendiz do Senhor Esmer e ela confirmou com um aceno.
"Aqui, divida o pó de forma igual entre os 4 recipientes."
Depois que ele disse isso, ele entregou um saco de pano com o suposto pó misterioso para Zaya, após a entrega ele saiu rapidamente sem se despedir. Eu e Zaya voltamos para o porto e dessa vez fomos até um armazém escuro e mal iluminado onde haviam quatro barris de 100 litros no centro. Havia um líquido com cheiro forte de algo que lembrava álcool dentro, Zaya os abriu e então dividiu o pó em quatro recipientes de vidro antes despejar cuidadosamente dentro dos quatro barris. Não demorou nem 3 minutos antes do líquido mudar de cor para um verde esmeralda brilhante, era tão bonito que até iluminou um pouco o armazém escuro. Zaya então colou alguns itens nas quatro tampas e tampou os quatro barris como se fossem a coisa mais delicada no mundo. Ela então suspirou fundo e disse algo sobre o pai não ensiná-la o pó mesmo sendo sua filha. Ela então se virou para mim:
"Agora é sua vez, faça sua parte."
Saímos de lá e nos liderei até um homem no porto que era responsável por fazer entregas, eu dei a ele a chave do armazém e troquei palavras em código, depois disse para ele incluir os quatro barris na entrega de sábado sem ninguém perceber que haviam mais quatro. O homem acenou respeitosamente e foi embora, olho para Zaya e confirmo que esta tudo pronto.
"Terminamos então, vamos até o Dragão Dorminhoco para almoçar e procurar passagens para o primeiro navio que for na direção de Asshai, é para lá que a nossa mãe nos disse para mudarmos. Ela investiu muito nessa viagem."
Fiquei surpresa com nosso destino, não era o lugar para onde eu queria ir, mas já que foi arranjado por nossa mãe concordei e obedeci seus arranjos.
"Não fique desanimada, mãe quer que você se torne uma aprendiz como eu, durante a viagem vou te ensinar tudo que posso para que você se prepare."
Surpresa brilhou nos olhos de Liza junto com uma nova expectativa pelo futuro incerto e cheio de mistérios.
***
Um homem estava sentado numa sala cheia de quadros valiosos, espadas, estátuas e outras obras de artes. O local tinha tantos itens valiosos que mal parecia um local de trabalho e sim um museu. Mas ninguém ousava falar isso para ele. Em suas costas estava uma capa vermelha com um brasão de nobreza das 39 famílias, na lateral de seu ombro esculpido no metal de sua armadura estava mais um brasão, esse representava os 5 Dedos a maior organização dentro das 39 famílias. Ele era um Senhor de Dragão e também líder de toda a Força de Defesa do distrito leste da cidade valiriana. Sua posição era a mesma que Lorde Ronny Belaerys do distrito norte, portanto, nesse distrito sua palavra era lei. Enquanto ele estava sentado e lia alguns relatórios ouve uma batida em sua porta:
"TOC TOC"
—Entre! Respondeu o senhor de dragão em um tom calmo.
Sua assistente e segundo em comando entrou, ela era uma jovem valiriana também de origens nobre. Na sua mão ela segurava um papel e começou a falar:
"Senhor relatório."
—Prossiga.
"Em um de nossos postos, um comerciante de escravos fez uma denúncia de que alguém roubou sua bolsa das sombras e quebrou o vínculo entre eles."
—Você confirmou se ele não está mentindo?
"Ele trouxe sua esposa e os servos que disseram que ele teve febres por quase 2 dias e ficou desacordado, ele alega que foi envenenado pelo ladrão que roubou sua bolsa. Ele também alegou ser um dos associados da triarquia e vende escravos diretamente para as famílias integrantes dos 5 dedos. E pediu para esse caso ser encaminhado diretamente para o Senhor."
BAQUE!
Bato minha mão na mesa com raiva, um mero comerciante ousa incomodar os Dragões com seus pequenos assuntos!
—Esse idiota provavelmente quebrou o vínculo sozinho e deu a bolsa a alguém!
"Essa é com certeza nossa suspeita Senhor, mas não podemos descartar a possibilidade de roubo, enviei um alerta para outros distritos e estamos aguardando. Mas por hora devemos pedir que um dos Magos de Sangue verifique a situação só para ter certeza. Aqui, eu já preenchi os documentos apenas assine."
Enquanto eu leio e termino de assinar vejo a assistente sair da sala por um momento e voltar com uma coruja branca, ela prende a mensagem no suporte das costas e solta a coruja pela janela, depois se curva e deixa a sala, eu volto a olhar meus documentos para me livrar da papelada e ter um pouco de folga essa noite.
Enquanto isso, no distrito central da cidade um servo recebe uma coruja branca numa mansão luxuosa e leva até o laboratório de seu mestre, um dos raros Magos de Sangue de Valíria. Quando o mago que estava lendo vê o servo com outra coruja, ele grita em frustração com ele por causa dos incômodos que a Força de Defesa estava causando, já que esse era o terceiro caso que pediam para investigar essa semana e ele ainda nem tinha visto os outros dois, "esses bastardos não investigam nada? Estão sempre dependendo da magia para tudo"…
—Coloque esse caso atrás dos outros dois, não tenho tempo para ver isso essa semana.
O servo obedece e sai do laboratório enviando de volta a coruja com a mensagem: (Investigação em andamento)
***
Na rua Goulen onde Rafael começou sua segunda vida, dois homens estavam tendo uma conversa enquanto apenas um deles almoçava um sanduíche:
—Estou falando sério, ainda tenho o papel lá em casa, diz que o Sábio Vermelho previu o fim de Váliria e está tentando salvar os plebeus pois ele despreza os nobres.
"Você está planejando ir embora apenas por causa disso? São apenas palavras vazias em um papel, como poderia tal coisa acontecer? Os Dragões são Deuses que nos protegem, você não precisa ficar com medo disso."
Enquanto o homem terminava seu sanduíche ele disse:
—Mas meus filhos e minha mulher ficaram aterrorizados com as palavras nesse papel, vou pedir 1 mês de folga e depois me afastar da ilha por uns dias só por precaução. Você devia fazer o mesmo. Ah sim, depois que almoçar traga alguns cigarros quando voltar da taverna.
O segundo homem pegou as moedas do cigarro e seguiu para a familiar taverna simples onde ele almoçava todos os dias, mas antes que pudesse entrar nela escutou as palavras Sábio Vermelho novamente, ele virou e viu um homem falando com outras três pessoas enquanto tomava uma bebida:
"Estou dizendo, minha irmã falou com uma vendedora de verduras nas ruas de comércio menores e ela estava falando sobre o fim da cidade… Ele virá na forma de chamas e que devemos sair de Valíria."
Logo me aproximei ouvindo o final da frase então entrei na conversa também, falando sobre o misterioso Sábio Vermelho e como meu amigo do trabalho já estava indo embora hoje à tarde da cidade.
Um dos três homens que era chamado pelo apelido de Verme, devido sua baixa estatura, terminou seu cigarro e deixou a taverna, ainda pensando no boato que estava se espalhando rapidamente entre os pobres. Ele pensou que mesmo que quisesse ir embora, mal tinha o suficiente para ir nas ilhas mais próximas e não tinha certeza se era seguro ou não.
Quando ele voltou para loja de tecidos onde trabalhava, viu alguém familiar lá sentado numa mesa sendo tratado de forma extremamente educada pelo seu chefe que era uma espécie de demônio e nunca tratava ninguém bem. Ele até viu seu chefe se curvar algumas vezes enquanto servia um chá para um homem gordo. Quando ele passou para ir ao depósito viu que era um ex-funcionário da loja! Gordo Zhang! Ele só havia deixado o trabalho nessa loja de tecidos porque herdou alguma loja pequena de seu avô que ele nem mesmo sabia que existia. Agora o antigo chefe que antes tratava ele igual lixo estava servindo chá todo educado e tratando-o como alguém de alto valor. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo até que uma colega funcionária me puxou e falou:
"Verme você viu como Zhang é incrível? Ele se tornou um comerciante bem famoso com excelentes contatos e vai até fazer parte da construção de uma nova cidade para os Velaryon, todos os comerciantes da rua estão conversando sobre investimentos com ele!"
Finalmente entendendo o que aconteceu ele não podia acreditar na sorte de seu antigo colega, até ontem ele era um ninguém como ele, mas agora era rico e bem sucedido. Quando ele viu o Gordo saindo da loja colocando um saco de moedas na bolsa ele se aproximou dele:
—Ei Gordo Zhang!
O Gordo olhou para ele e respondeu:
"Verme você ainda trabalha aqui, como você está?"
—O mesmo de sempre Gordo, mas você está muito bem, olha só para você todo bem vestido e fazendo aquele velho demônio te servir chá, o mundo dá voltas não é? Haha…
Gostaria de te pedir se não for muito incômodo para aceitar meu investimento também, só tenho umas 6 pratas guardadas em casa, mas deve ser suficiente para me ajudar a sair desse lugar um dia. Quando termino de falar o Gordo me olha com uma cara complicada, ele me agarra e se aproxima do meu ouvido:
"Verme não existe nenhum investimento, eu apenas enganei aquele velho demônio e estou indo embora da cidade em breve, algo ruim está prestes a acontecer e você deveria ir também antes que os preços das passagens aumente demais, guarde suas moedas de prata e tome isso como uma ajuda e agradecimento pelos tempos difíceis que passamos na mão daquele velho."
Ele segurou minha mão e colocou uma moeda, antes de se afastar me desejando boa sorte, quando olhei para baixo vi uma forma familiar porém dourada...
UMA MOEDA DE OURO!
Guardei rapidamente ela como se fosse um cúmplice do crime que ele acabou de cometer, ao mesmo tempo me lembro dos boatos que ouvi agora a pouco na taverna. Chego perto do meu chefe dentro da loja e desabafo sobre todas as frustrações que passei nesse trabalho infernal, chamo ele de nomes terríveis, amaldiçoo seus antepassados, acuso ele de ser um demônio sem coração e cito todos os maus tratos que sofri nesse lugar antes de dizer que me demito. Cuspo no chão da loja e vou correndo para o porto comprar uma passagem. Todos os funcionários estão de boca aberta em admiração, espanto e preocupação comigo, mas eu não vejo suas reações pois já sai correndo da loja. Sinto meu coração bater mais rápido e minhas pernas ficarem mais leves, enquanto corro como se fosse um escravo fugindo da escravidão, finalmente sentindo a verdadeira liberdade em muito tempo.