Omar estava em pé em uma sala de estar completamente luxuosa, ele nem mesmo ousava se sentar já que essa era a mansão de seu pai Lorde Léo Velaryon. Essa também foi a primeira vez que ele teve coragem suficiente para ir atrás de seu pai lhe pedir algo, ele sempre pensou que não tinha o direito de pedir algo mais, como se o que ele recebesse, já fosse mais que suficiente e poderia até ser considerado ingrato da parte dele por exigir mais…
Mas como ele estava em débito com Rafa dessa vez, não teve escolha, aqueles bastardos tentaram matar ele por causa de mim, e sinto que devo acreditar no que ele está falando. A possibilidade de seu amigo apenas querer fugir, passou rapidamente na minha cabeça, mas seu desespero em conseguir muito dinheiro sem se preocupar em pagar mostra o contrário de um homem que só quer sobreviver. Na pior das hipóteses eu posso simplesmente conseguir parte do dinheiro de seus empréstimos com meu velho ou ficar muito tempo endividado... O som de passos chama minha atenção e vejo meu pai descendo as escadas do segundo andar da mansão, sua aparência quase uma cópia da minha só que mais velha e mais intimidadora. Ele me olha com um pouco de surpresa como se ainda não acreditasse que eu estivesse mesmo aqui procurando por ele. Após se sentar no sofá principal da sala de estar ele me olha e fala:
"Sente-se… Você nunca me procurou antes, fiquei um pouco surpreso. Você se meteu em algum problema?"
Eu me sento ainda um pouco desconfortável e começo:
—Nenhum problema sério, eu sei que não deveria te pedir muito já que você sempre me ajuda, mas recentemente eu decidi ir embora da cidade, eu e um amigo vamos comprar um navio e tentar fazer nossa fortuna no mar…
Ele me olha sério e não fala nada. Seu silêncio permanece após eu terminar de falar por mais de um minuto e eu falo novamente:
—Se o Senhor não puder me dar o dinheiro eu posso aceitar um empréstimo, prometo pagar tudo até com juros se precisar.
"Por qual motivo você quer ir embora? Esses boatos sobre suas irmãs lhe causaram algum problema?"
—Não na verdade não, decidi que é melhor para o bem estar da família que um bastardo como eu vá embora e viva uma vida em um lugar bem longe daqui.
"BESTEIRA!"
"Deixando de lado seu treinamento com a espada que faz mais de 1 mês que você não comparece, você pensa que não sei como você se gaba de ser um Velaryon nas tavernas e bordeis? Ainda ontem recebi um relato de você levar três garotas de uma única vez para sua casa, você não está vivendo de forma cada vez mais exagerada a cada dia? Quer que eu acredite que depois de dormir com aquelas três algum tipo de consciência filial nasceu em você da noite para o dia? Fale a verdade ou não espere receber um único cobre meu."
As perguntas acusatórias faladas num tom alto e ríspido me deixam completamente sem palavras, eu nunca pensei que meu velho me observasse de tão perto. Sinto vergonha pelo meu comportamento libidinoso, e culpa por ser tão idiota ao beber e falar coisas que não deveria falar em locais públicos, isso me faz ficar com o rosto vermelho de vergonha e abaixar a cabeça olhando para o chão antes de começar a falar e 'derramar todo o feijão'¹. A única coisa deixada de fora é o fato de que Rafa também teve visões, mas sabendo que meu pai é muito mais sábio que eu ele deve perceber o que eu percebi quando Rafa contou tudo na frente de Liza. No final eu ainda acrescento minha preocupação com ele e minhas irmãs e digo que mesmo se ele não acreditar em mim ainda deveria se afastar da nossa pátria por alguns dias. Meu pai faz um gesto familiar de acariciar o queixo por cima da barba, algo que também faço com frequência inconscientemente, antes de tirar um papel na cômoda ao lado do sofá e começar a anotar algumas coisas.
Enquanto escreve, ele grita o nome Tom em voz alta, Tom é o mordomo que sempre dá minhas mesadas e o vejo sempre me observando durante os treinos de espada, ele é velho, porém bastante robusto. Ele desce as escadas apressadamente após meu pai chamá-lo, caminha até ele e depois de se aproximar recebe o papel que meu pai estava escrevendo e sobe as escadas novamente. Ele volta cerca de dez minutos depois carregando um baú médio com as duas mãos e coloca na frente de meu pai. Meu pai abre o baú e tira uma bolsa feita de um tecido preto e linhas douradas e coloca na mesa a sua frente e fala:
"Aqui pegue isso."
Enquanto me aproximo e pego a bolsa de pano preta sinto que ela é fria ao toque, tento olhar para ver se tem algo dentro que a faz ficar fria daquele modo, mas não encontro nada. Meu pai então continua:
"Essa é uma bolsa das sombras feita por umbromantes em Asshai. Ela permite armazenar itens várias vezes maior que a própria bolsa. Você pode pingar uma gota de sangue nela para criar um vínculo permanente. Esse vínculo proíbe qualquer pessoa além de você de abrir a bolsa."
Enquanto dou sequência para pingar uma gota de sangue na bolsa e tento entender como ela funciona, ele volta a retirar outros itens; o primeiro é uma barra de ouro, o segundo outro baú pequeno e o último item é uma espada.
"Essa barra de ouro pode ser trocada facilmente por até 100 moedas de ouro, você pode usar ela para comprar um bom navio, sua tripulação e até mesmo a primeira carga. Esse pequeno baú em si é uma relíquia, dentro contém várias gemas raras e algumas jóias, seu valor total pode variar entre 75 ou até mesmo 150 moedas de ouro depende do local que você negociar. E por último, essa espada de Aço Valiriano foi obtida por mim após aceitar servir uma das 39 famílias restantes. Seu nome é Cortadora dos Mares. Com exceção do baú, todos esses itens foram preparados como presentes para quando você dominasse a espada completamente, mas parece que você vai terminar seu treinamento na prática através dos mares."
Minha boca ainda está aberta admirando a bolsa mágica que só tinha ouvido falar antes. Dentro o espaço que vejo é equivalente a um armário de duas portas da minha altura onde posso guardar facilmente vários itens com algumas vezes meu próprio peso! Antes que eu feche minha boca ele me surpreende novamente me mostrando a barra de ouro que representa muito mais de 1 ano de mesada, quando o baú valendo ainda mais que a barra de ouro aparece me pergunto se não sou realmente seu filho legítimo! Mas quando ele tira a espada de Aço Valiriano meu coração quase para. Esse é um dos itens mais valiosos em toda Valíria! Mesmo com todo dinheiro, os comerciantes ricos só podem sonhar em ter uma! Quando ele diz que aquilo foi preparado como um presente de maior idade para mim, e eu não recebi devido minha própria estupidez eu tenho vontade de esbofetear meu próprio rosto! Eu rapidamente me ajoelho com lágrimas nos olhos e digo:
—Pai esse seu filho indigno… Você o valoriza demais eu não mereço isso…
Tom que está assistindo ao lado a cena que deveria ser tocante, quase cospe sangue ao ver o garoto de rosto liso dizer ser indigno dos presentes, mas ao mesmo tempo guardar todos eles rapidamente na nova bolsa como se tivesse medo que Lorde Léo pegue-os de volta. Enquanto isso, Lorde Léo quase dá uma gargalhada ao ver o teatro do garoto, mas ele se segura e diz:
"É bom que você saiba o quão decepcionado eu estou com você, de agora em diante eu dou permissão para usar o nome de nossa família enquanto estiver no mar, mas não ouse nos envergonhar novamente. Agora vá embora antes que eu mude de ideia e pegue as coisas que eu te dei."
Omar acena mais algumas vezes enquanto vai andando de costas e elogiando de todas as maneiras o pai e toda sua grandiosidade e generosidade, ele relembra uma última vez o pai para não demorar muito antes de se afastar da cidade durante alguns dias e também levar o que ele tem de valor com ele. Tom que chegou mais tarde na conversa não consegue entender do que Omar está falando antes de abrir e fechar a porta para o hóspede recente. Assim que a porta se fecha e ele retorna ao seu senhor, Lorde Léo começa a dar várias ordens:
—Tom, mande preparar minha carruagem eu preciso ir ao banco, enquanto faz isso chame minhas filhas para vir me ver imediatamente! Depois disso envie uma mensagem a Sir Arthur, e diga para reunir seus velhos companheiros que se aposentaram e ainda estão vivos eu quero que ele acompanhe Omar em sua primeira viagem ao mar e finalize seu treinamento com a espada, além de treina-lo para batalhas navais e estratégia. Após enviar a mensagem, diga aos meu homens de confiança e cavaleiros que em 3 dias eles farão a escolta de minha família durante um passeio na minha ilha de verão, suas famílias também podem ir a bordo para aproveitar o passeio sem se preocupar com despesas, garanta que o Kraken Dourado e os outros navios da minha frota estejam totalmente abastecidos com suprimentos para uma longa viagem.
O velho Tom quase pensa em anotar todos os pedidos devido a quantidade enorme de movimentos e logística que seu senhor planeja fazer, mas antes de sair ele pergunta:
"Senhor tem certeza sobre a espada? Essa era a única que sua quarta família tinha, quando as garotas souberem elas vão ficar iradas… Você sabe como elas odeiam o garoto."
—Qual o motivo para ter dúvidas? Estou velho e não vou mais ter filhos, Omar é meu único filho homem. Se eu deixar a Cortadora dos Mares para uma delas vai acabar nas mãos de um dos meus irmãos ou sobrinhos, então não é uma escolha difícil para mim tomar essa decisão final. Agora vá em frente quero a maioria das coisas que te pedi sejam completadas ainda hoje.
O velho acena e sai com passos apressados, menos de 20 minutos depois as duas filhas chegam, Lorde Léo comunica elas sobre a viagem nos próximos dias e dá instruções precisas para coletarem os conteúdos de todos os cofres da família de maneira discreta e moverem para o cofre do Kraken Dourado. Além disso, ele pediu a elas para coletarem todas as dívidas mesmo que abram mão de todos os juros que receberiam. As duas o questionaram sobre sua atitude, mas Lorde Léo rapidamente dispensou elas e seguiu na direção da carruagem que já o aguardava, seu destino também sendo o Banco Valiriano.