"Como assim não podemos levar a lasca?"
Os três pesquisadores quase pularam na frente de Zein, com os olhos arregalados de horror. Era como se o financiamento de suas pesquisas tivesse sido cancelado do nada. Bassena teve que puxar Zein para trás antes que ele fosse atacado. Ele já tinha visto o suficiente de Han Shin fazendo birras na sala do Mestre da Guilda.
"Exatamente como eu disse," Zein deu de ombros e explicou casualmente, como se não tivesse acabado de destruir as esperanças e sonhos das pessoas. "A lasca já se fixou há muito tempo. Se tivesse que adivinhar, este é o lugar onde o fragmento caiu originalmente, e as outras lascas se espalharam a partir daqui."
"Co-como..." Han Shin olhou para ele com os olhos vidrados. "Como uma âncora?"
"Como um núcleo," Zein observou a lasca flutuando lá. Ele nunca pensou que haveria um dia em que explicaria alguma coisa para outras pessoas, sendo o ignorante e o menos conhecedor sobre as coisas como ele era. "Se você quer formar um fragmento, você tem que trazer outras lascas para cá."
"E não podemos levar isso daqui?"
"Você consegue levar o que está no topo da torre?" Zein perguntou de volta.
Eles mergulharam no silêncio então, já que a resposta para isso era óbvia. "Eu não sei como a Torre parece ou funciona, mas este... domínio, provavelmente funciona da mesma maneira," Zein olhou para cima, para o robusto dormitório formado de madeiras resistentes. "Menos as provas e tudo mais."
"Já que não há uma divindade para fundir o poder no fragmento..." Bassena murmurou.
Eles olharam ao redor do 'domínio' então, a fortaleza feita de árvores e a abundante força vital se parecia com um mundo diferente por inteiro. Havia um rico aroma de mana que fazia o esper sentir como se estivessem dentro da masmorra, exceto que não havia miasma aqui.
Certo—como se estivessem dentro do piso de prova.
"Ah..." Han Shin suspirou. Eles tinham estado tão preocupados em apenas encontrar a lasca que não pararam para ponderar o suficiente sobre o lugar com mais profundidade.
"E-então realmente não podemos levá-la embora?" Anise sentou-se novamente com um baque. "Nem podemos examiná-la em casa?"
"Você não pode simplesmente... sei lá, fazer a pesquisa aqui?" Zein inclinou a cabeça. Poderia ser um pouco complicado vir aqui, mas contanto que trouxessem comida suficiente, eles deveriam conseguir ficar por muito tempo aqui. E se eles estabelecessem uma rota segura com o poder que Mortix e Trindade tinham—
"Isso é impossível, a menos que movamos todo o laboratório para cá," Eugene suspirou. E com isso, Han Shin e Anise seguiram com suspiros ainda maiores, e o piquenique passou de caótico para deprimente.
Os três pobres pesquisadores continuaram a comer em silêncio, sobrancelhas e lábios virados para baixo, ombros caídos em desolação. Zein não pretendia ser um arauto do desespero, mas o que ele poderia fazer? Seduzir a lasca?
...hmm.
Zein levantou-se, deixando os pesquisadores deprimidos e os outros espers circulando ao redor do almoço. Ele pegou a mão de Bassena e puxou o esper silenciosamente para longe.
"Você vai lá?" Bassena seguiu o guia até a borda do lago. Certamente, havia apenas uma razão pela qual Zein o levou até lá repentinamente.
Seria bom se o homem mais velho o levasse para algum encontro romântico, mas o olhar sério do guia lhe disse o contrário.
"Você pode simplesmente me enviar para lá?"
"Sem plataforma? Você não quer que outros venham junto?"
Zein assentiu. "Não posso me dar ao luxo de perturbações."
"Eu teria que ir com você se usássemos o passo sombrio," Bassena inclinou a cabeça para olhar o guia, esperando pela resposta com expectativa. Estava estampado em seu rosto que Zein não pôde deixar de sorrir.
Foi apenas um lampejo, no entanto, e o sorriso desapareceu em um segundo, para o desânimo de Bassena. Ficou claro que Zein traçou algum tipo de linha para não indulgir demais o apego de Bassena.
Dito isso, Zein falou em um tom leve, batendo na bochecha do esper com a parte de trás de sua mão levemente. "Contanto que você fique em silêncio."
Claro que Bassena ficaria em silêncio. Ele até respiraria o mais silenciosamente possível se isso lhe permitisse ser a exceção. Com um sorriso, ele agarrou a cintura de Zein e os envolveu em escuridão. Neste ponto, Zein já havia se familiarizado com a sensação do passo sombrio que se sentiu tão confortável quanto apenas passar por portais.
Desta vez, Bassena os transferiu bem na frente da lasca e Zein estendeu a mão instantaneamente para que a força repulsiva não atingisse Bassena e jogasse o esper na água.
Assim que ele agarrou a lasca, o domínio escureceu um pouco—como uma nuvem fazendo sombra no sol. Assim como a sensação que transmitia, a lasca estava quente na mão de Zein, o que o fez se perguntar que tipo de ser celestial Setnath era.
O deus era tão quente quanto a lasca, ou era apenas o produto óbvio do fragmento da alma da divindade? O que aconteceu com Setnath depois que sua alma e corpo celestial se tornaram fragmentos espalhados?
Enquanto questionava tudo isso, Zein estava afundando lentamente na consciência da lasca. Quando ele tocou a lasca antes, ele só estava se comunicando brevemente com o cristal para descobrir que tipo de ambiente esse lugar era. Ele não tinha base para isso, mas pensou: e se ele pudesse se comunicar mais com isso? Afinal, no final das contas, era um pedaço de alma.
Zein não pensou muito; ele apenas pensou em tentar algo depois de ver o estado deprimido daquelas pessoas. E mesmo agora, ele não tinha ideia concreta de como se comunicar com um pedaço de cristal. Ele apenas tentou fazer como se estivesse guiando, mergulhando no sistema da lasca. Afundando profundamente, afundando mais fundo.
Bassena pegou o corpo oscilante do guia e olhou para Zein com preocupação. Mas o homem estava com os olhos fechados tranquilamente, como se estivesse apenas dormindo; as mãos ainda agarrando firmemente a lasca, mesmo quando o resto de seu corpo relaxava contra Bassena, a marca em sua nuca pulsando tão fortemente que até o esper podia sentir.
"É uma coisa boa eu ter vindo junto," Bassena murmurou, imaginando a figura de Zein caindo na superfície dura da raiz se ele tivesse ficado para trás. "Sério, o que você é, Zein?"
* * *
Era brilhante. Um mar de brilho. Não, um vazio. No núcleo da Bassena, Zein podia visualizar um mar, o próprio corpo da água. Mas aqui não havia nada. Era o que ele imaginava o interior da lasca ser.
Afinal, a lasca estava brilhando em uma luz branca e viva.
[ah, um convidado. Quanto tempo faz?]
Havia uma voz. Atrás dele? Ao redor dele? Zein tentou olhar ao redor, mas percebeu que não conseguia. Ele tinha controle sobre seu corpo? Ele tinha mesmo um corpo aqui? Obviamente, ele também não conseguia falar.
[hmm, é a sua primeira vez? Não é de se estranhar que você não consiga fazer nada...]
Huh, o que? Então ele poderia se mover e falar se fizesse isso mais algumas vezes?
[que pena... você deveria ter vindo a mim anos atrás. Dezessete anos, não é?]
Zein suspirou. Se ele pudesse se mover ou falar, talvez tivesse energia para ficar chocado. Mas agora ele apenas se perguntava quem era essa voz. Soava como um homem, mas com toda a distorção e a confusão de perder seus sentidos, Zein não podia ter certeza.
Honestamente, ele só estava esperando encontrar uma maneira de desenraizar a lasca, ou talvez perguntar a essa voz sobre a localização das outras.
Certamente, ele nunca pensou que ouviria algo sobre si mesmo.
Dezessete anos—estava apontando para o tempo de seu despertar, então. O que, então ele achava que Zein deveria vir até esta terra traiçoeira quando ele tinha dez anos? Louco bas—
[não precisa ser tão áspero, criança. Eu não tive nenhuma influência na torção do seu destino. E não, você realmente não precisa vir até aqui]
Ah, agora Zein tinha certeza de a quem essa voz pertencia.
No momento em que teve certeza disso, o vazio brilhante derreteu, como gelo esculpido sob o sol ardente. O espaço branco se desdobrou em árvores. Fileiras e mais fileiras de árvores, como as que cercavam e protegiam o domínio lá fora.
E então no espaço que se sentia distante e próximo ao mesmo tempo, Zein viu uma figura vaga, como se estivesse vendo através de uma névoa. Não, a névoa era seu manto, velando a figura em um nevoeiro. Um longo cabelo preto fluía com a brisa suave, e a voz soou ao redor dele.
```
Ecoava com o som do vento; o brilho entre as folhas, a rachadura entre as pedras.
[vá até os outros, você encontrará algumas respostas se continuar procurando por elas, não encontrará?]
Haa... maldito deus. Zein sequer podia praguejar em seu estado paralisado. Ah, não, como poderia estar paralisado sem uma forma corpórea? Zein percebeu que ele era apenas uma bola de consciência agora, não familiarizado ou competente o suficiente para criar qualquer aparência tangível.
Mas o seu pensamento de amaldiçoar o ser celestial derreteu no lampejo de tristeza contido na voz.
[então você não será o único também...]
O que mesmo? Se Zein pudesse inclinar a cabeça, ele faria.
[Acho que posso ter um pouco mais de paciência]
Zein revirou seus olhos metafóricos. Agora esse deus estava apenas monologando — até mesmo rindo.
[haha, não se preocupe. Você conseguirá localizá-los quando estiver perto. Aquele ali não deveria ter fincado raiz ainda]
Ah, finalmente algo que ele podia usar. Zein respirou aliviado em sua mente. Mas seu alívio desmoronou quando ele viu a figura virar a cabeça. Através da névoa, olhos preenchidos com a totalidade do mundo piscaram para ele.
[conserte-os. Se for você, você consegue]
De repente, havia uma sensação estranha se infiltrando na consciência de Zein. Como um mau presságio. Como forçar-se a comer um pão velho sendo essa a única coisa que se tinha. Como algo que ele não queria mas tinha que digerir mesmo assim.
[afinal, você também é um fragmento meu, Luzein]
* * *
Zein ofegou, os espessos cílios se abrindo.
O fragmento ainda estava na sua mão, pulsando. Ele latejava tão forte quanto o próprio coração, como se fossem um só.
Como se fossem o mesmo.
Com temor, Zein deixou o fragmento ir, e ele voou de volta para o seu lugar no ar. Outra manta de escuridão o envolveu, junto com um par de braços fortes, e Zein fechou os olhos de novo. Quando os abriu, eles já estavam à beira do lago.
"Zein..."
Zein estremeceu, percebendo que a sua respiração estava engasgada o tempo todo. A grama úmida e o musgo exalavam frieza para a sua parte inferior do corpo, mas havia calor dentro do abraço firme que envolvia seu tronco.
Uma palma quente, tão quente quanto os olhos âmbar que o olhavam de cima, acariciou sua têmpora, sua bochecha, limpando algo. Ah — ele estava suando.
"O quê — quanto tempo?"
"Pouco mais de uma hora," Bassena respondeu serenamente, e Zein piscou surpreso. Não parecia nem cinco minutos lá dentro. "Eu disse aos outros para não se aproximarem por um tempo."
Ah, era por isso que estava silencioso. Tão silencioso que Zein podia ouvir a batida do seu coração. Respirando devagar, Zein deixou seu corpo relaxar no abraço de Bassena, o esper embalando seu corpo superior com o cuidado de tratar um vidro frágil.
"Só mais um pouco... Eu preciso..." Zein fechou os olhos de novo, organizando seus pensamentos e respiração. Ele foi recompensado com a carícia gentil de Bassena em seu ombro.
"Ok, sem pressa."
Zein não conseguiu evitar que um sorriso se formasse. Se ele pensasse em quão terrível foi enfrentar o vestígio remanescente de um ser celestial, Zein de repente entendeu como o que parecia um intervalo curto acabou sendo longo. Além disso, ele estava cheio de gratidão por encontrar uma presença e um rosto familiar assim que voltou. O medo que sentiu do encontro lentamente se dissipou enquanto ele se afundava no abraço do esper.
Um fragmento de Setnath.
Isso realmente respondeu a várias de suas perguntas; sobre por que ele podia sentir o fragmento e aparentemente 'domá-lo'.
Mas o que significava para um humano ser um...fragmento?
Zein estava entretido com o pensamento de que tudo era apenas uma alucinação. Um sonho febril, talvez. Mas a marca na sua nuca ainda estava pulsando forte, como se o repreendesse por considerar tal pensamento.
Além disso, Zein estava sentindo — o outro fragmento. Havia um por perto que ele não conseguia sentir antes. Mas depois de encontrar o núcleo do fragmento — o vestígio celestial de Setnath — era como se seu sentido ficasse mais aguçado.
Então, deveria ser real.
Zein abriu os olhos de novo. Ele tocou no braço de Bassena, e o esper o ajudou a se levantar novamente.
"Você está bem agora? É ok descansar mais, sabe."
Zein exalou, apertando as mãos e as abrindo repetidamente. Ele ainda não conseguia compreender a ideia do que o vestígio lhe disse sobre ser um fragmento. E obviamente, ele não planejava contar a ninguém sobre isso também.
Então só havia uma coisa a fazer agora. "Onde estão os outros?" ele perguntou.
"Eu mandei uma mensagem para Shin para não fazer nenhum som que pudesse perturbar você," Bassena virou-se para olhar em direção ao acampamento. "Então eles provavelmente desceram para o lago inferior ou estão dentro da tenda," o esper olhou interrogativamente para Zein. "Por quê, você descobriu algo?"
"Hm... Acho que sim," Zein assentiu e começou a caminhar em direção ao acampamento.
"O que aconteceu?" havia uma preocupação na sua voz. "Você desmaiou de repente depois de segurar o fragmento. Os outros entraram em pânico e começaram a gritar."
Então foi por isso que ele disse aos outros para ficarem quietos. Não teve muito efeito já que Zein não podia sentir nada enquanto estava desacordado. Mas ele disse a Bassena que não queria nenhuma perturbação.
"...Eu falei com Setnath, provavelmente."
Bassena parou de andar, congelado em seu passo a ponto de Zein ter que pausar e voltar-se.
"Você o quê?"
"Bem, é provavelmente apenas o vestígio salvo no núcleo, mas isso não é importante."
"Como isso não é importante?!" os olhos âmbar ardiam em Zein, fazendo o guia estremecer e dar um passo para trás.
"Sério, não é tão importante," Zein acenou com a mão e retomou sua caminhada. "O que é importante é que provavelmente há uma solução para a depressão dos outros."
Bassena apertou os lábios antes de suspirar. Repetindo para si mesmo que ele era um esper de Classe Santo calmo, coletado e maduro que não deveria ficar agitado mesmo diante da notícia de alguém falar com um ser celestial. Não — um vestígio de ser celestial que se pensava ter perecido no alvorecer dos tempos, supostamente.
"E qual é essa solução?"
Zein virou a cabeça, um raro sorriso debochado nos lábios. "Encontrar outro fragmento, obviamente."
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