Dominik esperou impacientemente que os filhotes desaparecessem, seus olhos nunca deixando Raphael. Assim que a última porta bateu e ele pôde ouvir os pneus dos carros esportivos chiando na pressa de sair, ele abriu a boca.
"Quando você encontrou minha companheira?" Ele pretendia perguntar gentilmente, ser educado com seu alpha, mas as palavras saíram num rosnado baixo em vez disso.
"Sugiro que você se afaste por um minuto e depois tente isso de novo," respondeu Raphael enquanto ajustava os punhos de sua camisa. Ele estava freneticamente tentando reprimir seu lobo, que havia se levantado com o desafio na voz de seu beta. Contudo, ele recusou-se a mostrar sua luta interior em seu rosto.
"Você esteve comigo o dia todo; quando eu teria tido a chance de esbarrar em alguém que você já não saberia?" ele perguntou assim que teve certeza que as palavras sairiam num rugido próprio.
"Mas—" respondeu Dominik, balançando a cabeça. "O cheiro dela é fraco, mas está lá. Eu não entendo."
Lucien soltou um longo e cansado suspiro enquanto se aproximava de Raphael e respirava fundo. No entanto, assim que ele captou o cheiro, foi como um soco no estômago, e ele deu alguns passos para trás, tentando recuperar seu equilíbrio.
"Eu não sei sobre Dominik, mas você cheira como minha companheira," rosnou Lucien, com seus olhos brilhando prateados enquanto seu lobo queria sair e rastrear o doce cheiro mais adorável que ele jamais havia sentido. Era como o cheiro de café recém-feito e livros antigos.
Ele nunca foi muito de bibliotecas, e isso era provavelmente uma coisa boa. Se o cheiro de livros antigos pudesse lhe dar uma ereção agora, entrar numa biblioteca seria quase um ato indecente em público.
Raphael virou-se para olhar o executor e tentou mais uma vez controlar seu temperamento. Mas bem naquele momento, havia um cheiro evasivo que parecia desaparecer se ele se movesse demais. Seu lobo congelou dentro dele e soltou um baixo lamento.
'Companheira,' ele rosnou, e Raphael pôde ver sua cabeça se movendo de um lado para o outro como se tentasse localizar aquele cheiro novamente.
Raphael queria lembrar seu lobo que haviam concordado que ter uma companheira não era uma boa coisa e que eles deveriam rejeitá-la assim que a encontrassem, mas isso foi antes de ele ter sentido o cheiro dela.
Em teoria, era um bom plano. Na realidade, a mera ideia lhe causava tanta dor que parecia que alguém havia alcançado o seu peito e agarrado seu coração.
Sim, ele não iria negar a si mesmo sua companheira. Mas agora era questão de encontrá-la.
"Todo mundo esqueceu que nós temos uma garçonete humana assustada para procurar?" exigiu Damien, fazendo com que os outros três se virassem e o encarassem.
"Coisas mais importantes para fazer," resmungou Lucien, passando a língua pelos dentes, apenas para se contorcer quando um deles o cortou.
"Não há nada mais importante do que encontrá-la," discordou Damien enquanto se afastava de seus amigos e em direção ao beco de onde Jamie e os filhotes haviam saído. Se eles não iriam procurar por Adaline, tudo bem. Ele iria.
"Eu tenho que encontrar minha companheira," discordou Dominik com um balançar de cabeça.
"O que ele disse," adicionou Lucien.
Contudo, Raphael apenas permaneceu silencioso, imóvel como seu lobo enquanto o cheiro dançava ao redor no vento. Ele abriu a boca, e um pouco dele pousou em sua língua, fazendo-o quase gemer alto. A única coisa melhor do que o cheiro dela era o seu gosto.
Damien não se deu ao trabalho de diminuir a velocidade; ele apenas levantou a mão com o dedo médio erguido enquanto desaparecia na escuridão.
"O que nós fazemos?" perguntou Dominik, encarando Raph. Se ele partisse, então o cheiro de sua companheira iria com ele.
"Claramente, ela não está mais aqui," retrucou Lucien, com uma sobrancelha levantada enquanto olhava ao redor. "Não há ninguém aqui a não ser nós. Talvez ela tenha esbarrado no Raph e nós simplesmente não notamos. Vamos retraçar nossos passos amanhã e tentar encontrá-la então."
"Beleza," resmungou Raphael, sem ter uma ideia melhor. "Então é melhor ajudarmos Damien a encontrar sua garçonete antes que tenhamos que ouvi-lo reclamando o dia todo amanhã sobre isso."
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Damien olhou para a única janela aberta e inclinou a cabeça para o lado. "Não tem como ela ter saído por lá," ele disse enquanto Raphael e os outros paravam ao lado dele. Ele apontou para a janela que tinha pouco mais de trinta centímetros de altura e noventa centímetros de largura.
Os filhotes eram idiotas completos por pensar que ela conseguiu escapar por aquele caminho.
"Então ela deve estar segura," deu de ombros Lucien, não tão preocupado. Tudo que ele queria fazer agora era voltar para casa, descobrir onde Raphael poderia ter cruzado com sua companheira, e pensar em um presente que ele pudesse dar a ela. "Vamos embora."
Damien estava prestes a protestar quando Raphael o interrompeu. "Ela pode estar escondida dentro do restaurante. Nos ver aqui fora pode assustá-la ainda mais."
"Beleza," concordou Damien, "Mas eu vou voltar aqui amanhã de manhã para me certificar de que ela está bem."
"E nós teremos mais do que prazer em vir com você," deu de ombros Dominik como se não fosse nada demais. Contudo, este era o lugar onde eles começaram seu dia hoje, talvez se eles voltassem amanhã, sua companheira apareceria novamente.
Qualquer coisa valia a tentativa.
Raphael assentiu com a cabeça e virou-se, caminhando para fora do beco. O cheiro de sua companheira estava deixando-o absolutamente louco. Às vezes, era forte, e outras vezes era tão fraco que ele tinha que procurá-lo.
Mas estava seguindo-o.
Ele olhou para frente, cheirando delicadamente o ar para tentar descobrir qual direção deveria seguir, mas era inútil. Todas as vezes que ele olhava ao redor, não havia nada a ser visto.
Desabotoando os botões de seu paletó, ele passou os dedos pelos cabelos. Ele estava cansado demais para pensar direito agora. Ele voltaria a isso amanhã.