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Chapter 15 - Veio para me salvar?

Ela beijou um Fae.

Um Fae a beijou.

Ela e um Fae se beijaram.

Ela e Valeria se beijaram.

Ela beijou Valeria.

Valerie a beijou.

A mente de Islinda estava uma bagunça enquanto ela andava pelos bosques. Ainda estava atordoada com o beijo e era seguro dizer que perdeu a cabeça um pouco. Claro, era compreensível, considerando que esse tinha sido seu primeiro beijo e havia a deixado tremendamente abalada.

A cena do beijo se repetia em loop em sua mente e suas bochechas esquentavam de vergonha ao se lembrar de como ela tinha agarrado Valerie e retribuído o beijo com tanta paixão fervorosa.

— Não! — Islinda segurou suas bochechas e fechou os olhos com um gemido. Ela não deveria ter feito aquilo! O que tinha acontecido com ela?! Islinda desejava que o chão se abrisse e a engolisse nesse ponto.

Como ela iria encarar Valerie amanhã?

Além disso, o que eles acabaram de fazer, não era ilegal? Um Fae não podia ficar com um humano, pelo menos ela nunca tinha ouvido falar de um caso assim. Será que era possível que ambos ficassem juntos? Eles conseguiriam ter filhos? Se tivessem filhos, que tipo de criatura seriam? Meio-fae, meio-humano?

Ah, espera, ela não estava pensando um pouco rápido demais?

— Pelos deuses — Islinda gemeu, passando a mão pelos cabelos e puxando o próprio couro cabeludo.

O que estava acontecendo com ela? Estava sexualmente frustrada? Não, isso não pode ser. Tudo que Islinda sabia era que Valerie havia despertado algum tipo de fogo dentro dela e agora ela não conseguia evitar querer mais.

Não, o que você quer dizer com querer mais? Isso nunca iria acontecer novamente! Nunca! Mas então, meio que foi bom...

— Oh, não... — Islinda exclamou. O que estava acontecendo com ela?

Islinda ainda estava mergulhada na vergonha quando ouviu um choro repentino e se rigidificou de imediato. O que era aquilo? Ela se endireitou, com os olhos vasculhando cautelosamente os bosques. Embora estivesse longe das paredes mágicas do divisor e perto da vila, isso não significava que um truqueiro não poderia tê-la seguido e querido brincar agora.

Graças a esse pensamento, um calafrio percorreu sua espinha, mesmo que a magia de Valerie estivesse fazendo um bom trabalho em mantê-la aquecida. Islinda engoliu em seco, finalmente percebendo seu estado indefeso. Ela não estava com suas armas nem Valerie estava perto o suficiente para protegê-la, não que ele estivesse em condições de fazer isso. Pensar que ela já confiava tanto nele assim.

Não, ela deve estar imaginando coisas, Islinda tentou minimizar o que ouviu. Ela começou a andar de novo, mas dessa vez dobrando o passo, ela tinha que sair dali. No entanto, o choro veio uma segunda e uma terceira vez e estava muito mais alto, como se a fonte soubesse que ela estava fugindo.

A voz soava humana, Islinda notou.

— Não — Islinda balançou a cabeça em negação. Truqueiros Fae eram conhecidos por usar todo tipo de manobra e ela não podia se tornar vítima de tais.

Mas ainda não era pôr do sol, argumentou uma parte dela. Pelo que ela sabia, poderia ser alguém em apuros. Esta não foi a primeira vez que ela havia resgatado um morador que se perdeu nos bosques.

Islinda gemeu, enterrando o rosto na palma da mão enquanto era atormentada pela indecisão. Por que sua vida se tornou tão dramática recentemente? No entanto, quando o pedido de socorro veio pela quarta vez, Islinda não pôde mais ignorá-lo.

Assim, ela foi ao resgate de quem quer que fosse, seguindo o som do choro. Para se proteger, Islinda pegou um pedaço de madeira que escondeu atrás de si. Não que pudesse fazer muito contra um Fae, mas se ela fosse morrer, não iria sem lutar e morreria lutando.

Islinda tinha muitas expectativas, mas nenhuma delas a preparou para a visão da criança esparramada no arbusto áspero, soluçando compulsivamente. Imediatamente, seu coração se derreteu, pois uma de suas fraquezas era a incapacidade de resistir a crianças fofas.

O menino à sua frente parecia ter cerca de cinco ou seis anos, ela não tinha certeza e seu cabelo cor de corvo era tão escuro que tinha um subtom azulado. Claro, tão bondosa quanto Islinda era, ela ainda era sensata e estreitou os olhos para ele.

O que um menino tão jovem estava fazendo no meio do bosque sozinho? Ele estava definitivamente longe de casa e ele não parecia familiar a nenhuma das crianças dos moradores que ela conhecia. Em uma palavra, isso gritava "armadilha" para ela e sua mão se apertou ao redor da tábua que segurava atrás dela.

Islinda ficou a uma distância segura dele sabendo que bastava um movimento e ela iria golpear o que quer que ele fosse. Não subestime sua necessidade de sobreviver. Mas o garoto fez o oposto do que ela esperava, ele enxugou as lágrimas dos olhos e levantou a cabeça para olhá-la.

— Irmã — disse ele — você veio me salvar?

— Hein? Irmã? — Islinda olhou ao redor para ver se havia mais alguém com ela. Mas, quando viu que não havia nada, ela se voltou para a criança e apontou para o próprio peito — Eu?

A criança assentiu com a cabeça — Mãe te mandou vir me buscar para ir pra casa?

Certo, em que tipo de situação ela se meteu? Islinda coçou a cabeça, mais confusa do que nunca.

Sem escolha, ela cobriu a distância entre eles, esquecendo a tábua no chão enquanto se agachava diante dele.

— Qual é o seu nome, criança? — Ela tentou ser amigável com ele, esperando que ele se abrisse com ela.

— Eli — disse ele.

— Eli? Que nome bonito. Agora me diga, Eli, o que você está fazendo sozinho no bosque?

Ele disse — Não sei. Eu vim aqui com minha mãe, ela disse que tinha um lugar onde precisávamos ir. Ela me trouxe aqui e decidiu que brincaríamos de esconde-esconde. Quando a contagem terminou, procurei por ela e ela não apareceu. — Ele levantou olhos grandes de cachorro pidão para ela, dizendo timidamente — Irmã, estou com medo. Não quero mais ficar aqui. — Ele tremeu.

— Tome isto primeiro — Islinda tirou o casaco e o protegeu do frio. O poder de Valerie a mantinha aquecida o suficiente, a criança precisava mais.

Mas então, era hora de pensar.

Não era incomum que pais pobres abandonassem seus filhos nos bosques, mas tão perto do Divisor deixava Islinda desconfortável. O menino poderia ser de uma vila vizinha, mas isso não era da sua conta e, se fosse mais esperta, o deixaria aqui e fingiria não tê-lo visto. Ela lhe deu o casaco e isso deveria mantê-lo aquecido até sua mãe retornar para buscá-lo.

Contudo, Islinda não era esse tipo de pessoa e isso a deixou mais frustrada. Ela já tinha problemas suficientes para lidar e não podia aumentar a pilha. Mas então, ela não conseguiria dormir direito à noite sabendo que deixou uma criança pobre morrer nos bosques - ela sabia por dentro que sua mãe não voltaria.

Está bem, ela o levaria ao chefe da vila e ele saberia o que fazer.

Ela lhe deu a mão dizendo — Vem, Eli, vamos te levar a um lugar seguro e podemos encontrar sua mãe.

Em vez de pegar sua mão, Eli se jogou nela e a abraçou pela cintura.

— Obrigado, irmã.

Islinda não conseguiu ver o brilho travesso em seus olhos e o sorriso malicioso que adornava seus traços.