Uma fina camada de poeira se formou entre Hannabel e a mulher das garras. Enquanto mantinham contato visual, Hannabel ergueu a mão para o lado, recuperando o objeto que havia lançado e causado a poeira.
"Quem é você...? Não senti sua presença chegando... Desde quando estava observando a luta?"
A mulher das garras perguntou, notando algo estranho em Hannabel. Ao olhar melhor para o que ela havia arremessado, percebeu que se tratava de uma alabarda. A arma tinha cerca de dois metros e meio, com um cabo de uma liga metálica, mostrando sinais de desgaste, mas ainda bem resistente. O cabo, mais fino para facilitar o manuseio, tinha quase dois metros. Abaixo da lâmina, uma argola carmesim escuro se conectava ao cabo através de duas estacas negras. Uma pequena corda passava por dentro da argola, presa às estacas, segurando uma pena de um pássaro chamado Alphiebys, conhecido pelas suas asas de prata. Na outra extremidade do cabo, dois círculos entalhados estavam unidos, suas bordas douradas e uma linha cruzando ambos no centro. A lâmina larga da alabarda curvava-se para trás, com cerca de cinquenta centímetros de comprimento.
"Sou apenas uma taverneira com alguns músculos da cidade de Aanuvi... Estive observando desde o início, quando você e o líder apareceram no campo aberto. No entanto, Dalan pediu que eu intervisse apenas quando fosse necessário."
Hannabel explicou, o que deixou a mulher ainda mais desconfiada. Descansando a mão no cabo, ela puxou a lâmina cravada no chão.
"Não me faça rir com piadas baratas. Uma simples taverneira não teria habilidade para ocultar sua presença assim. Eu teria sentido, ao menos, uma fração de sua energia mágica."
A mulher das garras respondeu, demonstrando crescente desprezo por Hannabel. Enquanto isso, Dalan, sentado atrás de Hannabel, parecia levemente perdido.
"Pelo visto, minha intuição sobre ela estava correta..."
Ele pensou, absorto enquanto observava a cena.
"Não há necessidade de me superestimar tanto. Além disso, temos uma luta para terminar."
Hannabel disse, descansando o cabo da alabarda no ombro. Em seguida, avançou rapidamente, descendo a lâmina sobre o ombro da mulher das garras.
"!"
A mulher sentiu um calafrio, percebendo o ataque de Hannabel apenas quando já estava à sua frente. Instintivamente, esquivou-se para o lado, em vez de recuar.
"Isso foi por pouco..."
Ela pensou, sentindo o impacto da lâmina no solo, que causou um tremor. Devido à pressão exercida pela força do ataque, criou-se uma lâmina de ar, partindo a terra em direção a uma árvore, sendo cortada ao meio facilmente.
"Huh? Parece que estou fora de forma... Tinha certeza de que a tinha acertado."
Hannabel comentou, surpresa. A mulher das garras, por sua vez, se afastou e saltou para outra árvore.
"Quanta força... Mas não é tudo. Ela está se segurando na frente do garoto..."
A mulher deduziu, agora capaz de sentir o fluxo de energia mágica emanando de Hannabel. Notando um filete de sangue em seu braço, percebeu que, apesar de ter escapado, ainda havia sido ferida superficialmente pela pressão do ataque.
"Heh... Parece que a organização Skirash'An e Bah'Halak subestimaram a cidade de Aanuvi... Nossa missão falhou."
Ela declarou, desfazendo suas unhas de osso. Os ossos voltaram a se reestruturar nas luvas, retornando a uma forma puramente estética, onde a exposição óssea estendia-se pelos dedos e pulso.
"Dalan, certo? Um dia nos encontraremos novamente, então sobreviva contra Bah'Halak... Embora você não tenha matado o líder, será responsabilizado por isso, e seu título de Prodígio da Adaptação será conhecido no submundo. Considere meu nome, Radariel, como uma recompensa por sobreviver hoje."
Ela continuou, encarando Dalan fixamente nos olhos antes de desaparecer entre as árvores, fugindo dali.
"Essa mulher realmente fala demais..."
Hannabel reclamou, voltando a descansar o cabo da alabarda no ombro e olhando para Dalan.
"Radariel..."
Ele murmurou, ainda focado no local onde ela havia desaparecido, seus pensamentos claramente distantes.
"Ele ainda está processando a luta e as palavras dela... Faz sentido, ele é só uma criança."
Hannabel refletiu, soltando um suspiro ao vê-lo absorver as informações da batalha. Dalan, ouvindo um barulho no seu rosto, percebeu que as escamas reptilianas que havia copiado começavam a se soltar, caindo sobre a grama. O mesmo, portanto, aconteceu com as da mão, sentindo sua pele voltar ao normal junto ao olho, deixando seu tom amarelado.
"Me sinto fraco..."
Dalan murmurou, quase caindo para trás. Hannabel o segurou pelo ombro, posicionando-se atrás dele.
"Seu corpo está completamente esgotado. Embora tenha durado mais tempo com esses machucados por causa da propriedade escamosa, sua energia mágica também chegou ao limite."
Ela explicou, agachando-se à frente dele e abaixando o cabo da alabarda para que ele subisse em suas costas.
"Hah... Tudo isso ainda é muito confuso pra mim."
Dalan admitiu, se esforçando para manter a mente ativa. Subindo nas costas de Hannabel, permitiu-se relaxar um pouco.
"O ser humano atua em três pontos existenciais: o corpo, responsável pela liberação de energia mágica e conversão dela em afinidade mágica; a alma, que serve como fonte da energia mágica, sendo responsável pelo fluxo dela que se espalha pelo corpo e define a presença mágica; e a mente, o ponto mais importante entre os três, sendo responsável por harmonizar a liberação e o fluxo para chegar ao domínio, permitindo a manipulação da magia."
Hannabel explicou, enquanto corria pela floresta, impulsionando seus passos com energia mágica.
"Isso me lembra do conto do pescador que tinha no manual do ferreiro. Algo sobre pensar, sentir e controlar."
Dalan comentou, lembrando vagamente do texto. Ao chegar na estrada pela lateral, Hannabel continuou em direção à carruagem.
"E como você conseguiu interromper o fluxo da sua presença mágica para evitar ser rastreada?"
Ele perguntou, ainda curioso sobre ela.
"Não se pode interromper o fluxo de energia mágica, pois isso resultaria na sua morte. Entretanto, há técnicas que permitem inibir sua presença através da distração sensorial."
Ela respondeu, acelerando o ritmo conforme corria pela estrada.
"Distração sensorial? Tipo, enganar os sentidos para que não consigam rastrear a presença mágica?"
Dalan refletiu, tentando entender a linha de raciocínio.
"Na teoria, sim. Diferente da camuflagem, que apenas esconde o corpo, mas ainda há como rastrear sua presença mágica, a distração sensorial é ainda mais complexa, pois faz com que sua presença passe despercebida pelos sentidos da pessoa. Então seria como induzir ela a acreditar que você não existe."
Hannabel detalhou. Após um breve silêncio, ela o notou pensativo, com um ar desanimado.
"Ainda pensando nas palavras de Radariel?"
Ela perguntou, trazendo Dalan de volta ao presente. Ele hesitou, mas finalmente assentiu.
"Sim... Estive pensando em como ela e o líder da equipe eram fortes. Eles manipulavam suas afinidades com tanta naturalidade... Me pergunto que tipo de lugar é o submundo. Realmente não existe confiança ou bondade no mundo? Será que, a partir de hoje, outras pessoas ainda mais poderosas vão me caçar? E a luta contra Bah'Halak, podemos mesmo vencer alguém igual ele? Sinto ter progredido nessa luta, mas quanto mais avanço, mais dúvidas surgem em minha mente... E em cada luta, sinto estar perdendo ainda mais o controle, lutando contra o medo para não ceder à besta de sangue."
Ele desabafou, descansando a cabeça nas costas de Hannabel.
"O que será que esse garoto realmente viveu...? Além dos olhos não possuírem mais inocência, sequer parece uma criança falando."
Hannabel ponderou em silêncio. Alguns minutos depois, avistaram a carruagem.
"Chegamos."
Ela anunciou, parando ao lado da carruagem, em frente à porta. Ao descer das costas de Hannabel, Dalan viu o corpo do assassino das adagas morto.
"Dalan! Você voltou!"
Sylvia gritou, correndo em sua direção e o abraçando com força. Surpreso, ele quase caiu de costas.
"Sim... Demorei, mas voltei."
Dalan disse, retribuindo o abraço apesar da dor e exaustão. Olhando de onde Sylvia veio, Anastasia e Aiden se aproximaram.
"Estou feliz que você está vivo."
Anastasia sorriu, animada por vê-lo novamente, agora reunindo todos ao redor da carruagem.