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Chapter 3 - Capítulo 3: Retorno ao Antigo Lugar

He Tiantian estava sentada no chão, atordoada e imersa nas dolorosas memórias, incapaz de se libertar.

"Tia, por que a senhora está sentada no chão?" Zhou Zhicheng observava sua tia He Tiantian sentada no chão. "A senhora está se sentindo mal?"

He Tiantian voltou à realidade e disse, "Eu... Eu estou bem... estou bem..." Enquanto falava, ela discretamente colocou o gravador de voz no bolso de seu casaco.

Zhou Zhicheng ajudou sua tia He Tiantian a ir para a sala de estar para descansar e lhe serviu um copo de água, dizendo, "Tia, beba um pouco de água. Se a senhora se sentir mal, é só me avisar que eu a levarei para o hospital."

"Provavelmente não dormi bem na noite passada, não é nada sério. Você está todo suado; deve ir se lavar," disse He Tiantian, com a cabeça baixa, sem querer que Zhou Zhicheng visse sua expressão de impotência e ressentimento.

Nesta casa, ela era uma estranha, e eles nunca tomariam seu partido.

"Ok, vou tomar um banho. Tia, se a senhora se sentir mal, é só me avisar." Zhou Zhicheng cresceu na casa de sua avó e era muito próximo de sua tia He Tiantian.

Depois que Zhou Zhicheng saiu, He Tiantian voltou ao seu quarto com as pernas trêmulas e ouviu novamente a gravação no gravador de voz.

O rosto de He Tiantian estava marcado pelas lágrimas, e ela soluçava em silêncio, engasgando continuamente, quase sem conseguir respirar.

Em sua vida, ela tinha sido como um palhaço, vivendo em mentiras meticulosamente tecidas por outros.

Só agora ela tinha entendido por que nunca tinha visto seus pais, deixando-os morrer com os olhos fechados, cheios de ressentimento.

Só agora ela finalmente percebeu que o amor de sua infância não a havia abandonado.

Só agora ela entendeu por que a Família Qi era dura com os outros, mas "generosamente tolerante" com ela, uma mulher que se casou com a família, mas não teve filhos.

Meu Deus, como ela tinha sido tola!

He Tiantian sentiu um imenso auto-reprovação, seu olhar inadvertidamente caindo no espelho ao lado da cama. A mulher refletida tinha envelhecido, sua pele ainda era meio clara, mas seu rosto agora tinha manchas e rugas. Seus olhos outrora brilhantes e claros já não tinham mais o brilho juvenil, e seus cabelos estavam levemente entremeados de cinza.

He Tiantian tocou seu rosto e murmurou consigo mesma, "Eu já estou velha..."

Ela tinha vivido tantos anos cercada por mentiras, e agora que de repente entendeu a verdade, ela se odiava ainda mais e detestava a Família Qi que a havia enganado.

He Tiantian se sentia sufocada pelas mentiras neste lugar, e uma voz em sua cabeça a instigava a escapar dessa prisão feita de mentiras o mais rápido possível.

He Tiantian colocou o gravador de voz em sua bolsa e saiu pela porta.

Com a mente vazia, ela sem querer chegou à estação de trem, comprou uma passagem para a Cidade de Nan e embarcou no trem.

Ela queria visitar sua cidade natal e ver o lugar onde seus pais viveram, para encontrar as memórias de sua infância, porque só aqueles tempos e lugares continham as experiências mais genuínas de sua vida, também os momentos mais felizes de sua vida.

A Cidade de Nan ficava a cerca de quatro horas e meia de distância da Cidade de Huai de trem-bala, o que teria levado um dia e uma noite no passado.

He Tiantian sentou-se no trem, inclinada sobre a pequena mesa à sua frente, chorando em silêncio. O toque do celular em sua bolsa soava repetidas vezes.

"Irmã, seu telefone está tocando!" um homem de meia-idade ao seu lado avisou, achando que He Tiantian tinha adormecido, então ele falou.

He Tiantian baixou a cabeça, tirou seu telefone e viu as palavras chamativas "Marido" na tela. Ela achou aquilo absurdo, risível, e não atendeu à chamada, desligando o telefone...

Ao ver sua reação, o homem de meia-idade ao lado dela adivinhou que havia um conflito e fingiu não ver, continuando a conversar com outra pessoa.

Olhando para a tela escura, He Tiantian sentiu-se um pouco menos oprimida no peito. Não importa o que, ela não perdoaria a Família Qi.

Quando o trem chegou, He Tiantian seguiu a multidão para fora do trem e da estação. A Cidade de Nan tinha mudado muito em relação ao que ela se lembrava. Já fazia mais de uma década desde sua última visita à Cidade de Nan.

Parada na movimentada praça, havia empresários apressados, casais discutindo intimamente seus planos, famílias esperando em jornais no chão, bem como idosos, crianças e pessoas com deficiência pedindo esmolas com pequenas tigelas em suas mãos.

Nesta vasta praça, os inúmeros estados da vida humana eram evidentes. Alguns estavam ali pela sobrevivência, outros para viver. Mas, independentemente de quem fossem, não importando as dificuldades ou o cansaço, todos viviam em um mundo real.

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He Tiantian costumava se considerar bastante sortuda, mas agora se considerava a pessoa mais infeliz, como um teatro de sombras, manipulada por outros, sem liberdade ou individualidade.

He Tiantian olhou ao redor, seu olhar caindo sobre o enorme outdoor de LCD na praça, onde um apresentador estava entrevistando o homem mais rico da Província de Su.

Esse homem era Huo Yingjie. He Tiantian o conhecia, ou para ser precisa, ela conhecia o jovem Huo Yingjie.

A aparência do homem não tinha mudado muito. O tempo parecia ter favorecido ele, sem deixar marcas pesadas de desgaste em seu rosto. Seu rosto quadrado ainda transbordava vitalidade, sobrancelhas grossas, um nariz reto e aqueles olhos tão afiados como sempre, como se fossem capazes de ver através do coração de alguém, e seu sorriso casual sempre podia aquecer o coração de alguém.

A morte de seus pais a mergulhou em profunda tristeza. Quando ela mais precisava de consolo, ela recebeu aquela carta de término escrita por alguém que Qi Jianguo tinha contratado para imitar a letra de Huo Yingjie. Ela se odiava por ser inútil e detestava Huo Yingjie por sua traição desalmada.

Nessa era, comparados com a vida, os sentimentos eram muito mais triviais e humildes. Ela escolheu a desconfiança, escolheu desistir e caiu completamente na armadilha de mentiras.

Ao longo dos anos, quando ela retornava àquelas memórias em seus sonhos da meia-noite, ela ainda odiava Huo Yingjie, odiava sua indiferença, odiava suas promessas quebradas, sua inconstância.

Agora ela sabia que tinha odiado a pessoa errada.

Uma vez perdido, é perdido para toda a vida!

Saindo cambaleante da praça, ela chamou um táxi e, em seu agora sotaque de cidade natal, deu o destino: "Mestre, para o Beco da Árvore Dayu!"

O motorista de táxi era experiente e pôde perceber pelo sotaque de He Tiantian que ela havia deixado sua cidade natal muitos anos atrás.

"Não volta há muitos anos, né? Esse Beco da Árvore Dayu está prestes a ser demolido. O homem mais rico da nossa Província de Su, Huo Yingjie, planeja construir vilas lá," o motorista de táxi era bastante falador, explicando as mudanças na Cidade de Nan ao longo dos anos enquanto dirigia.

He Tiantian observava os prédios e árvores que ficavam para trás, que eram completamente diferentes dos prédios baixos de sua memória, e ela mal conseguia acompanhar.

Embora He Tiantian permanecesse em silêncio, o motorista de táxi continuava tagarelando.

Ouvindo o sotaque familiar e olhando para os arredores desconhecidos, seu coração inquieto e ressentido começou a se acalmar.

"Quase chegamos," disse o motorista de táxi, "o Beco da Árvore Dayu é mais conhecido pelas duas grandes olmeiras na entrada. Dizem que são centenárias, remontam à Dinastia Ming. O Beco da Árvore Dayu também está enfrentando demolição. Os moradores locais especialmente incluíram essas duas árvores no contrato de negociação, alegando que elas foram abençoadas por centenas de anos e trouxeram sorte para os moradores. A demolição é aceitável, mas as árvores não devem ser cortadas."

O táxi fez uma curva e aquelas duas olmeiras altas estavam tão exuberantes e robustas quanto sempre, continuando a crescer fortemente para cima.

Quando criança, no verão, muitas pessoas moviam suas mesas de jantar para debaixo das árvores para aproveitar a brisa fresca e fazer suas refeições.

Em qualquer dia, essas duas grandes olmeiras eram a área de brincadeiras favorita das crianças. Os meninos rolavam aros e jogavam bolinhas de gude embaixo das árvores, enquanto as meninas gostavam de brincar com saquinhos, amarelinha e jogo de lenço.

À noite, os adultos saíam para conversar, gabar-se disso e daquilo, e compartilhar fofocas do bairro, criando uma atmosfera animada.

Exceto em dias de chuva, risos e alegria sempre cercavam essas duas grandes olmeiras.

"Irmã, chegamos, serão vinte yuan," disse o motorista de táxi com um sorriso, "Essas olmeiras, elas cresceram, não cresceram?"

He Tiantian concordou, dizendo, "Elas realmente estão muito grandes! Obrigada!"

He Tiantian pagou a corrida e saiu do táxi.

Parada debaixo das grandes olmeiras, ela olhou para cima, para seus galhos e folhas protetores. As olmeiras ainda eram as fortes e resistentes olmeiras de sempre, mas as pessoas já não eram as mesmas.

Tudo permanece, mas as pessoas mudaram!

Agora ela tinha uma compreensão muito mais profunda dessa frase!

He Tiantian entrou no beco entre as duas grandes olmeiras. O beco ainda era estreito e longo, mas as pedras arredondadas no chão já não brilhavam mais como antes, e musgo verde-escuro havia crescido ao longo das paredes.

Desapareceu a agitação e as risadas alegres de suas memórias, e as casas de ambos os lados haviam sido evacuadas, deixando para trás apenas antigas casas em ruínas e ervas daninhas por todo lado.

Os olhos de He Tiantian arderam ao olhar em volta, e a desolação do Beco da Árvore Dayu refletia sua própria vida, ambos tendo perdido seu brilho e vitalidade.

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