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Chapter 8 - VIII - O Pesadelo Do Príncipe Retorna

— Não consegue ficar dois minutos sem abrir a boca? — David basicamente rosnou, o que fez Angel rir.

— David não fale assim com os mais velhos.

— Mas, Mike!

Um olhar afiado foi o suficiente para David cruzar os braços, como um adolescente emburrado que as vezes esquecia que era.

— Não desejava lhe ofender, Vossa Majestade. Lamento muitíssimo.

O Rei simplesmente inclinou a cabeça, um pouco curioso.

— Você tem um sotaque esquisito, garoto.

— O que quer dizer com isso?

Angel balançou as mãos freneticamente.

— Gente, foco. — Ambos O'Niells se viraram em sua direção, embora David se sentisse um pouco tenso. — O que quis dizer com "se recusar a ser um herói", Simon?

O garoto revirou os olhos.

— Ora, não é óbvio? Ricardo me disse que David iria receber o título de Herói, mas se recusou a colaborar.

— Legal, agora pergunta genuína: quem é Ricardo? — Ethan, o único que ainda tentava entender Simon, indagou.

O garoto apenas deu de ombros e apontou para Rei, que as olhos de quase todos na sala, não passava de uma figura redonda e incandescente, como o sol, Mike podia ver a silhueta de um homem, mas continuava brilhante o suficiente para cegar os olhos.

— Aquele Tio Fantasma ali.

— Ele tem um cheiro antigo demais pra ser um tio, com certeza ele é um vovô. — Angel pontuou, como se fosse muito importante, mas Simon rebateu rapidamente.

— Não é não, o Ricardo parece novo demais pra ser um vovô.

— É literalmente uma bola de fogo, bocó.

— É um fantasma, mané. A culpa não é minha se você não consegue ver ele.

— Na verdade, não é um fantasma. É um Espírito Mentor. — Acrescentou Ethan, ao mesmo tempo em que Angel mostrava a língua.

— Como é que você sabe? Nem consegue ver eles! — Simon rebateu, mais por birra do que qualquer outra coisa. Do trio do caos, Ethan era o mais próximo de David, e isso, por consequência, o tornava mais informado que os gêmeos.

David suspirou profundamente, tanto ele, quanto Mike e Jin estavam acostumados demais a essas trocas de farpas para saber que isso não pararia sem uma interferência externa. As vezes, nem sequer isso os salvava de presenciar uma discussão acalorada. Com crianças de idades perto uma das outras, as brigas eram inevitáveis.

David normalmente era quem fazia o papel de diplomata, mas não agora.

Não quando ele sabia que Simon ficaria fascinado com essa história de se tornar um Herói. E que os céus o ajudassem! Quando Simon McCarter colocava alguma coisa na cabeça, era impossível tirar.

— E então… um herói? — Mike sussurrou ao seu lado. Fazendo David suspirar.

— Você também não…

Mike sorriu, daquele jeito gentil e fraterno de sempre, covinhas à mostra.

— Só estou curioso. Conheci um rapaz que tinha esse título, mesmo que ele não parecesse muito feliz com isso. — Mike deu de ombros, nostálgico. — Bem, era de se esperar de um pirata.

David virou o rosto para Mike em tempo recorde, um pouco chocado. Quando falou, a voz saiu levemente rouca.

— Conheceu LeBlanc?

— Sim, embora que por pouco tempo. Seu amigo?

David tossiu, todo tipo de sentimento passando por seu belo rosto: angústia, culpa, tristeza e… saudade.

— Pode se dizer que sim. No continente, além das barreiras de Arbor, quando alguém recebia uma missão de um Espírito, alcançava o título de heroí…. LeBlanc foi o último a conquistar o título.

Mike acariciou a cabeça do príncipe, se sentindo um pouco culpado por trazer o assunto à tona.

— O Príncipe Dos Feéricos geralmente eram os mentores dos Heróis.

— As regras são diferentes em Arbor?

— Algo assim, o Príncipe Dos Feéricos já tem um contato mais direto com os Espíritos. Então a nomeação é mais rígida.

Mike absorveu todas as informações com os olhos brilhando, por muitos anos foi um arqueólogo, então às vezes, esse lado vinha a tona. Em especial, quando David compartilhava algo de sua cultura.

— Mas é claro, há expectativas e… — O príncipe passou a mão pelos cabelos, parecendo um pouco ansioso. — Podemos dizer que a minha reputação não é a melhor entre os feéricos, se eu me tornasse o Heroí, talvez o meu povo não aceitasse muito bem.

— Ah.

Mike não era tão acostumado com a cultura feérica para entender as implicações que o título possuía, então fez uma nota mental para perguntar a alguém mais tarde.

— Não aceitaria muito bem? — Debochou Jin. — Os feéricos provavelmente diriam que os Espíritos estão corrompidos.

Mike arregalou os olhos, chocado.

— Sua reputação é tão ruim assim?

— Não é da sua conta, Jin!

— Ah, é sim. — O sorriso do mais velho parecia até pingar veneno. — Desde que Caron resolveu enlouquecer, ele tinha que encontrar alguém para culpar, já que a última vítima dele foi decapitada.

Jin estava falando da esposa de Caron, a quem até confessou ser sua companheira destinada. A mesma que Caron ordenou sua morte após ela colaborar com Jin Yang, na época em que David era ainda somente um pirralho. Jin jamais perdoou Caron por isso e o amaldiçoou, fazendo de tudo para destruir seu reinado em Arbor.

Ao menos, era o que Jin dizia, mas todos seus esforços foram em vão. O que David sempre viu como suspeito, se Jin Yang desejasse destruir Arbor, ele já teria conseguido.

— Isso é ruim. — Murmurou Mike, se o homem já estava preocupado em deixar seu filho no reino, as palavras de Jin não ajudaram. — Isso é muito, muito ruim!

— Jin está exagerando!

— Posso apostar meu pagamento nisso, eu não minto para meu patrão, pirralho.

O príncipe revirou os olhos.

— Quer saber? Eu ouvi um barulho na porta, vou dar uma olhada.

Não era mentira, uma movimentação estranha estava acontecendo no lado de fora da porta, mas nada alarmante. O Rei desviou a atenção das crianças discutindo para olhar para David.

— Não saia do quarto ou seus amigos vão ser arremessados para fora…

— Vou tomar cuidado, Vossa Majestade. — Rebateu David, a mão já empurrando a porta.

— Estou falando sério, pequeno príncipe. Somente O'Niells são permitidos aqui dentro. Se sair sem seus amigo, a defesa vai empurrar todo mundo pra fora. Eles somente vão ficar aqui em quanto você estiver.

— Já disse que vou tomar cui…

David foi puxado para fora com força, imediatamente todos dentro da sala foram arremessados para fora. Mike, de alguma forma, alcançou Angel e Ethan, os protegendo com seu próprio corpo, mas Jin amorteceu a queda com sua escuridão os cobrindo e a si mesmo em algo como um cobertor.

Simon não conseguiu ser tão sortudo, pois no momento em que foi jogado para a parede de fora, estava um pouco mais longe. De qualquer forma, uma camada grossa de plantas cresceram ao seu redor imediatamente, formando uma espécie de casulo para protegê-lo.

— Estão todos bem? — Mike questionou ainda segurando as crianças em seus braços.

Angel e Ethan respondeu algo abafado contra seu peitoral, Jin grunhiu e Simon deu uma resposta animada, mostrando somente o polegar fora do casulo de folhas verdes. Mas David não respondeu.

— David? — Mike escaneou o local com os olhos rapidamente, encontrando seu filho jogado aos pés de um homem estranho.

Alto, loiro e musculoso. O homem pegou David com um só braço e tentou jogar o garoto apavorado sobre seus ombros, mas o príncipe rolou para longe.

Mike queria estar errado, mas algo lhe dizia, com toda certeza que aquele homem estranho era Caron, o tio materno de David… e o pior pesadelo de seu filho.