Mestre media 1,24 m e pesava 15 kg, seu pelo era uma confusão entre branco e cinza. Era o maior gato da casa, porém mais novo, com seus 8 meses. Desde seus primeiros meses era treinado para anunciar a entrada de invasores.
Kanne Moltenoak o encontrara na entrada do submundo, entre as rochas com descrições incompreensíveis. O peso de Mestre deixava as pernas de Kanne dormentes, mas o homem nunca reclamou.
Marvin observava os dois com uma mão apoiada no rosto e outra na xícara de chá. A brisa matutina refrescava a sala de estar. Nenhum falou nada até a chegada dos mensageiros, Dean e Randy. Dois irmãos que Marvin havia resgatado das garras da Boca do Inferno.
"Senhor", os irmãos cumprimentaram.
"Descobriram alguma coisa?", indagou Kanne, acariciando as orelhas de Mestre.
"De fato a Escritora da Morte escreveu uma dramaturgia inspirada na família do Senhor, mas não lançou maldição alguma", relatou Dean.
"Quem informou-lhes isso?", Kanne franziu a testa.
"Uma atriz de teatro, disse ser amiga da dramaturga", respondeu Randy.
Marvin absorveu a informação dos irmãos com o cenho contorcido, enfim bebeu um gole do chá antes de manifestar.
"Eu não acredito nisso".
Levantou-se e andou até Kanne, o manto de penas de corvo ondulando nas panturrilhas.
Kanne estreitou os olhos aos mensageiros.
"Desvendem onde essa dramaturga mora".
"Sim…"
"SUA VADIA INGRATA!"
Todos direcionaram a atenção ao corredor com espanto, as orelhas de Mestre se contrariaram, os olhos prestes a saírem das órbitas.
"O que está acontecendo?", murmurou Kanne.
Marvin se moveu e entrou no corredor.
"É essa sua demonstração de gratidão para nós? Você sabe o que fez?"
"Senhora, deixe-me explicar…"
"Que explicação vai dar, hã?"
Era sua mãe e a serva. Marvin ficou com o coração apreensivo, pois a serva estava grávida. As vozes vinham da cozinha. Alcançando o vão, seus olhos arregalaram; a palma da matriarca reluzia uma claridade dourada. Seus olhos eram puro ódio.
Kanne surgiu atrás de Marvin.
"Hazel, não faça isso".
Kanne avançou e agarrou o braço de Hazel, Marvin encarou a serva, ela tinha o rosto rosado e molhado pelas lágrimas.
"Isis, o que houve?"
"Essa vadia ingrata está conspirando com os Silverkins", Hazel respondeu com os dentes trincados.
Ergueu um braço, em sua mão havia cartas, o papel tinha a cor saudável, a tinta ainda exalava seu aroma comum. Kanne tomou os papéis, Marvin aproximou e leu por cima do ombro do pai.
Imediatamente reconheceu a caligrafia do ex-sogro, o conteúdo não o abalou tanto, mas abalou Kanne. Levantou o rosto em agonia, seus olhos ficaram avermelhados.
"O que eles te prometeram o que nossa família possa dar?"
Isis começou a se tremer toda, mais lágrimas brotaram em seu rosto rosado.
"Um baú de prata e um lugar para morar com meu bebê".
Kanne suspirou pesado, passou uma mão no cabelo.
"Eles querem que Marvin pague por ter feito Kendra trair a própria família, mas se recusam a olhar pelo que ela fez com nossa família!", Kanne bradou.
"Pai, fique calmo, nós podemos resolver isso".
"Claro que podemos. E é agora". Olhou friamente para a serva, "Só não te mato porque a vida dentro de seu ventre não faz parte de seu erro. Vou te dar um bom recurso é mandá-la para o sul, é um bom lugar para criar uma criança. Aquela família nunca vai te dar um teto e dinheiro. É tudo enganação para obter as informações. Espero que não continue conspirando com eles, ou não lhe pouparemos".
Isis ficou temerosa pela ameaça do patriarca. Arrumou seus pertences e foi embora naquela manhã. Agora a mansão estava ausente de servas, a última havia sido morta por Hazel quando tentou assassiná-la.
"Como podemos confiar em colocar mais pessoas nessa casa, se nem sabemos se estarão aqui para nos matar? É como se todo o mundo nos quisessem mortos", comentou Hazel, descansando no divã, massageando as têmporas.
Marvin a escutava em silêncio com Sasha empoleirado no ombro, se limpando. Nesse momento, sons de passos foram escutados na entrada. Um jovem de túnica branca com aljava nas costas e arco na mão cruzou a sala. Seu rosto estava em confusão.
"Mãe, porque a Isis está indo embora?"
Hazel murmurou um ruído de desprezo.
"Aquela cadela estava nos traindo."
"O que disse?"
"Quem é ele, Melvin?", indagou Marvin.
Atrás do jovem estava um garoto encolhido no vão do cômodo. Seu semblante transpirava em nervosismo.
"Jovem, se aproxima", Marvin o chamou em tom calmo.
O garoto deu alguns passos.
"Ele disse que quer a nossa ajuda", anunciou Melvin. " Você pode nos contar."
"Meu amigo vai ser executado amanhã pela própria família, e sua irmã está em cárcere privado."
Imediatamente tombou os joelhos no chão.
"Peço que os senhores façam a justiça por meu amigo e sua irmã. Pagarei qualquer valor."
"Qual é a família de seu amigo?", questionou Hazel.
"Ha… Hamisen."
Todos arregalaram os olhos.
"Sinto muito, mas eu não podemos ajudar você.", disse Hazel prontamente.
"Mãe.", Melvin protestou.
"Não quero que sejamos mais uma carne a ser devorada por mais coiotes", Hazel encarou o filho com o tom severo.
Marvin tinha pouco conhecimento sobre a família Hamisen. À princípio, era uma família de ceifadores. Possuíam leis de morte, usavam capuz escarlate ou negro. As foices nas costas em formato de lua crescente.
O caso dos irmãos Hamisen o deixou comovido, ainda mais pela senhorita Hamisen, trancada em algum quarto implorando por liberdade.
O garoto não insistiu em nome da justiça, desculpou-se pelo incômodo e girou os pés para sair. Marvin levantou de brusco, assustando Sasha, interrompendo seu banho e voando para longe.
"Espere, eu posso te ajudar."
A tristeza sumiu no rosto do garoto.
"Marvin", Hazel o chamou com o cenho franzido.
Marvin virou-se para a mãe.
"Eu me responsabilizo nesse caso. Nunca temi a família Hamisen", disse em um tom tão relaxante que intrigou a todos.
"Você quer ir porque não suporta imaginar uma moça em apuros."
Marvin entregou um sorriso revelador.
"Eu posso ir com o Marvin?", pediu Melvin.
Hazel estreitou os olhos e disse com sarcasmo:
"Se quiser ir morrer também, não vou o impedir."
Os irmãos se preparam. Marvin acariciou as costas do corvo.
"Sasha, eu retorno amanhã."
A ave gralhou fraco, ela tinha um olhar triste. Marvin estava ciente que ela sabia onde ele iria.
"Prometo que não vou morrer. Senão você espanque meu cadáver com seu bico."
Sasha gritou, zangada.
Melvin tinha Isis para dar comida aos seus gatos quando saía de casa. Dean e Randy ainda não voltaram para a mansão, não foi atrás da mãe por não ter paciência para bichos. Acabou encarregando ao seu pai, que concordou com um sorriso simpático.
Na varanda com colunas decoradas, Hazel colocou um amuleto de proteção em cada filho.
"Se as coisas ficarem piores, não insistem e retornem para casa. Podemos arranjar um jeito."
A matriarca olhou para o garoto.
"Como se chama?"
"Hektor."
Hazel olhou para ele severamente.
"Meus filhos vão entrar em um território perigoso, se tudo der certo, gostaria que recompensasse com todo seu coração."
"Não se preocupe, senhora. Recompensarei, sim. Eu já tenho um plano, mas não tenho habilidade de matar alguém."
Melvin ajustando seu rabo de cavalo, levantou os olhos castanhos e disse com um sorriso:
"A gente te ensina a matar."