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Chapter 3 - De cara com o destino

Aylin sentiu o coração ainda acelerado pelo que havia ocorrido na noite anterior. A clareira e o símbolo gravado na árvore agora faziam parte de sua essência, como se a própria floresta tivesse se entrelaçado com seu destino. Mas, por ora, ela precisava encontrar uma forma de entender e controlar o poder que despertara. Seu avô permanecia distante, seus olhos revelando um cansaço e uma tristeza que Aylin não conseguia mais ignorar. Eles mal haviam trocado palavras desde o incidente, mas ela sabia que ele temia o que viria a seguir.

Foi no final da tarde que Aylin ouviu as vozes. Vindas de longe, diferentes dos sons naturais da floresta, vozes humanas. Curiosa e um pouco apreensiva, ela seguiu o som, que a levou até uma parte da floresta que raramente visitava. À medida que se aproximava, viu um clarão entre as árvores e percebeu que um grupo de jovens havia montado acampamento perto do lago proibido.

Ela se escondeu atrás de uma árvore, observando-os com atenção. Eram cinco jovens, dois rapazes e três moças, todos rindo e conversando animadamente ao redor de uma fogueira. Aylin, que havia passado tanto tempo isolada, sentiu uma pontada de nostalgia por uma vida que nunca teve. Eles pareciam tão despreocupados, tão alheios aos perigos que aquela floresta guardava.

Um dos rapazes, alto, de cabelos escuros e com um sorriso cativante, chamou sua atenção mais do que os outros. Havia algo nele que a atraía de uma maneira inexplicável. Ele parecia ser o centro das atenções, com os outros rindo de suas piadas e se voltando para ele em busca de aprovação. Aylin não pôde evitar sorrir ao vê-lo tão à vontade, mas logo se repreendeu. Sabia que não deveria se aproximar, que aquele lugar era perigoso demais para quem não conhecia seus segredos.

Mas, por mais que tentasse, não conseguiu se afastar. Sua curiosidade e, talvez, algo mais, a empurravam na direção daquele acampamento. Antes que percebesse, já estava caminhando para fora das sombras, até ser notada pelos jovens.

"Ei, quem está aí?" perguntou uma das moças, com a voz carregada de surpresa.

Aylin hesitou, mas não conseguiu pensar em uma desculpa para fugir. O rapaz de cabelos escuros foi o primeiro a se levantar e se aproximar dela. "Oi, está tudo bem?" ele perguntou, o sorriso caloroso iluminando seu rosto.

Ela sentiu as bochechas corarem levemente. "Desculpe, eu... eu não queria assustar vocês. Eu moro aqui perto e ouvi as vozes."

"Você mora aqui? No meio da floresta?" ele perguntou, surpreso, enquanto os outros jovens se juntavam a ele.

"Sim," ela respondeu, tentando manter a calma. "Eu vivo com meu avô, não muito longe daqui."

"O que faz aqui sozinha?" uma das moças perguntou, o tom de curiosidade evidente.

"Eu estava apenas caminhando," Aylin mentiu, não querendo revelar que estava seguindo o som de suas vozes. "E vocês? O que estão fazendo aqui?"

"Estamos acampando," disse o rapaz, estendendo a mão. "Meu nome é Lucas, e estes são meus amigos."

Aylin apertou a mão dele, sentindo uma estranha eletricidade ao fazer contato. "Aylin," respondeu ela, tentando ignorar a sensação que subiu por seu braço.

Lucas a convidou para se juntar a eles, e, contra todas as advertências de seu avô, Aylin aceitou. Sentou-se ao redor da fogueira, ouvindo as histórias que contavam sobre suas vidas na cidade. Era um mundo completamente diferente do que ela conhecia, cheio de novidades e experiências que pareciam tão distantes de sua realidade.

Enquanto a noite avançava, Aylin e Lucas se aproximaram ainda mais. Ele era engraçado, gentil e tinha uma forma de falar que fazia Aylin esquecer dos perigos que a cercavam. Eles conversaram por horas, até que os outros começaram a se recolher para as barracas.

"Você deveria voltar para casa," disse Lucas, finalmente, quando ficaram sozinhos. "Não é seguro estar por aqui tão tarde."

Aylin sorriu, mas havia um peso em seu coração. "Eu sei," ela respondeu, olhando para o lago escuro e silencioso. "Mas também não é seguro para vocês."

Lucas franziu o cenho. "Como assim?"

Ela hesitou, sabendo que não poderia contar a verdade sem parecer louca. "Apenas... tenham cuidado, ok? Esta floresta guarda muitos segredos."

Ele olhou para ela, os olhos cheios de uma mistura de curiosidade e preocupação. "Você parece diferente, Aylin. Como se soubesse de algo que nós não sabemos."

Ela riu, mas sem humor. "Talvez eu saiba."

Lucas se inclinou para mais perto, o rosto agora iluminado apenas pela luz da lua. "Você pode me contar."

Aylin sentiu seu coração acelerar novamente, mas desta vez por um motivo completamente diferente. Olhou para Lucas, para a forma como seus olhos brilhavam sob a luz fraca, e sentiu-se dividida entre a necessidade de protegê-lo e o desejo de se abrir para ele.

"Eu... não posso," sussurrou finalmente, desviando o olhar.

Lucas assentiu, respeitando o segredo que ela guardava. "Tudo bem, eu entendo. Mas se algum dia você quiser falar, estarei aqui."

Aylin sorriu, tocada pela gentileza dele. "Obrigada, Lucas."

Eles se despediram, e Aylin começou a voltar para casa, mas cada passo era mais difícil do que o anterior. Ela sentia uma conexão com Lucas que não podia ignorar, mas sabia que se aproximar dele só complicaria ainda mais as coisas. Havia algo obscuro na floresta, algo que agora fazia parte dela, e se Lucas soubesse a verdade, poderia afastá-lo para sempre.

Mas, ao mesmo tempo, ela não podia deixar de pensar que talvez Lucas fosse a chave para ajudá-la a entender e controlar o poder que agora corria em suas veias. O que quer que fosse, Aylin sabia que aquele encontro não havia sido uma coincidência. O destino os havia reunido, e, por mais perigoso que fosse, ela estava disposta a descobrir o porquê.

Ao chegar em casa, ela encontrou seu avô sentado na varanda, os olhos fixos no horizonte.

"Você encontrou os jovens," ele disse, sem virar a cabeça.

Aylin parou, surpresa. "Como você sabe?"

"Eu sei de tudo o que acontece nesta floresta," respondeu ele calmamente. "E você deveria ficar longe deles. Não os envolva em nossos problemas."

"Eu sei," Aylin sussurrou, mas as palavras soaram vazias até para ela mesma.