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Chapter 2 - Um Grande Erro

Pela manhã, me levanto cedo novamente e vou à área de alimentação, onde os cozinheiros e cozinheiras ficam nos fogões à lenha de pedra. Lá, há uma grande mesa de madeira polida para todos se sentarem e comerem juntos.

Eu me sento ao lado de meu melhor amigo, Caius, que é um pouco mais velho do que eu. Ele havia começado a ajudar na cozinha recentemente, mas depois de queimar alguns pães, decidiram que é melhor ele arranjar outra profissão na nossa aldeia.

- "Bom dia Oliver... Eu soube do que aconteceu ontem. É tudo verdade?"

Ele pergunta ainda com sono, mas claramente espantado pelo que ouviu.

- "Sim, é verdade... Por incrível que pareça."

Digo tentando precer convincente. Os eventos de ontem claramente mudaram minha forma de ver as coisas.

- "Caramba... E agora? Se uma entidade superior nos proibiu de tirar nosso sustento do bosque, como sobreviveremos?"

Caius sempre foi de perguntar demais. Quase ninguém tem paciência com ele por causa disso. Mas dessa vez, essa é uma boa pergunta...

- "Bem... Nosso sustento pode vir de outras florestas. Pelo o que meu pai me disse, é este bosque que é sagrado para o deus Natureza."

Eu disse aquilo mas ainda desacreditado que meu pai, um homem nem um pouco religioso, sem fé em nada, esteja agora cumprindo o propósito de um deus.

- "Entendi... E então, você chegou a cortar alguma árvore ou matar algum animal do bosque?"

Os troncos! Eu havia me esquecido que havia deixado alguns para trás.

- "Ah, obrigado por me lembrar, Caius! Eu esqueci uns troncos lá perto do bosque por causa do desespero de ontem... Tenho que ir lá pegá-los!"

Digo me despedindo com um toque de mãos, e correndo em direção ao bosque.

Chegando na parte de fora do bosque, sigo suas laterais até encontrar os troncos limpos e empilhados. Tudo que preciso é levá-los... E essa é a parte difícil. Talvez eu só consiga levar um por vez, eu sou fraco demais!

Me aproximo e tomo um tronco, pondo sobre meu ombro direito, caregando-o e levo até a aldeia.

Na aldeia, meu pai vai correndo até mim, com um rosto desesperado.

- "Filho! Você não deveria estar cortando árvores! Onde você cortou esse tronco?"

Eu dei uma gargalhada, por causa do mal entendido.

- "Ah não pai, esse tronco já estava cortado. Estou apenas carregando de lá do bosque para cá!"

Meu pai suspira de alívio, tomando o tronco de meu ombro e pondo no chão.

- "De qualquer forma, deixe que eu pegue. O bosque não deixa de ser perigoso. Não vamos abusar da boa vontade dos anjos."

Meu pai estava certo. Onde há um urso, há dois ou três. E não é como se um anjo fosse nos ajudar todos os dias...

- "Está bem pai, fica para aquela direção."

Aponto onde estão os troncos, para meu pai ir buscá-los para mim. E então, volto para a colina, sento-me na grama, e vejo o sol, que já nasceu por completo...

... Um tempo se passa e meu pai aparece de volta, chorando, caindo de joelhos no meio da aldeia. Eu o vejo de longe e corro depressa, ficando de frente a ele, com medo do que aconteceu.

- "O que houve pai?!"

Meu pai treme os lábios e demora responder, mas enfim diz:

- "Erick desobedeceu a ordem e cortou uma árvore... Agora ele..."

Meu pai desaba em choro antes de terminar a frase, me agarrando bem forte (forte até demais).

- "Ele o que pai? O que houve?"

Meu pai respira bem fundo, me olhando nos olhos e se mantendo firme.

- "Sua vida foi ceifada pelo deus da Natureza filho. Me promete que não vai mais àquele bosque? Me promete?!"

Disse meu pai me sacudindo. Aquilo me abalou um pouco, dando para perceber o que aquele deus queria. Ele não é bonzinho, ele só quer manter aquele bosque...

- "Tá bom! Eu prometo! Eu te juro, não piso mais lá..."

Então me caiu a ficha, Erick estava morto. Claro, por culpa dele, mas principalmente por culpa do deus da Natureza. Afinal, o que ele quer com isso? Por que logo aquele bosque é tão sagrado? Tantas perguntas...

Mais tarde naquele mesmo sombrio dia, fizemos um culto ao redor da nossa fogueira da aldeia, com os velhos e jovens. Relembramos nosso amado Erick, sua contribuição para a aldeia, sua bondade e coração generoso... Sempre estava pronto a ajudar, mas era muito cabeça dura.

Não teve funeral, pois pelo que meu pai disse, o corpo de Erick se tornou parte do bosque como forma de compensar a árvore morta. Quem disse isso a meu pai foi um outro anjo (que para mim se assemelha mais a um demônio).

No final do memorial simples, tivemos de prestar culto ao deus da Natureza, pois pelo que meu pai disse, teremos que fazer isso sempre para honrar o deus que nos abençoa. Eu não sou de acordo com aquilo e sei que meu pai também não. Mas claramente somos forçados a isso, sem o poder para reclamar ou ir contra as ordens de um deus. Mas mesmo que com minha boca eu louvava, meu coração blasfemava.

Diferente de ontem, quando chegou a noite, não dormi cansado e assustado, mas nem mesmo cheguei a dormir. Meu único sentimento era tristeza por Erick, raiva por saber que não somos mais livres e a loucura de saber que há um deus querendo nos controlar.

Assim, passei a noite inteira sem pensar muito bem, louco, nervoso... Mas eu sabia que esses sentimentos me fariam mal.

Então levantei da cama, saí da cabana e fiquei do lado de fora de casa, observando as estrelas. Se existe um deus das estrelas, ele deve ser bonzinho, penso eu. Imagina manter as estrelinhas lá em cima, brilhando, vagando pela noite, iluminando a Terra... Deve ser um cara legal. Me pergunto também quantos deuses devem existir, pois há alguns dias, achei que fossem lendas...