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Contos de Vitória

🇧🇷Jorge_Lucas_5106
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Synopsis
Em um mundo repleto de monstros e magia, uma pequena vila ao norte de seu continente é consumida pelas chamas durante um ataque de uma fera alada, porém, em meio às labaredas cuspidas pela fera, um herói surge para enfrentar o monstro, e após uma árdua batalha, acaba conseguindo afugentar a criatura, embora tenha falhado em abatê-la. Abalado ao ter falhado, o homem cai de joelhos em meio aos destroços do que antes fora um lugar cheio de vida, quando então ouve ao longe, um choro que novamente encheu seu coração com esperança. Uma garotinha recém-nascida foi a única sobrevivente da tragédia, e agora, o homem que outrora fora um aventureiro, se viu em um dilema, pois a criança havia sido banhada pela sangue da fera, o que significava que ela também um dia poderia se tornar um monstro. Embora o certo a se fazer fosse sacrificar aquela criança para poupa-la de tal destino, ele decidiu adotá-la, levando-a para sua casa, o palácio real do pequeno -mas próspero- reino de Jaci.

Table of contents

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Chapter 1 - Sonhos e Criptas

As chamas crepitavam, os moradores da pequena vila entre as montanhas gritavam ao terem sua pele separada de seus ossos pelo calor das labaredas, e dentre esses gritos de dor, o choro de um recém-nascido ecoava.

-Vai ficar tudo bem, Aghata, mamãe está aqui...- Dizia a jovem mãe, tentando acalmar sua filha, uma pequena e frágil garotinha de pele pálida e cabelos vermelhos

Mas enquanto ela acalmava a criança, fora do pequeno barraco de madeira onde estavam, uma terrível fera escamosa rugia fogo. A criatura colossal destruía a cidade com a força de suas patas, e transformava os escombros em cinzas com o calor de suas chamas. Todavia, essa história agora é apenas uma lembrança distante, algo do passado, que agora - como um sonho -, perturba a mente de uma jovem mocinha, que embora esteja atrasada, ainda assim permanece em sua cama.Ela se lembra da voz daquela jovem mãe, e também do calor das chamas, mas embora essa sensação de familiaridade a acompanhe, a jovem -que nesse momento abre seus olhos pela manhã- não sabe ao certo de onde vem essas lembranças. Seria isso apenas um pesadelo recorrente, ou quem sabe um trauma tão profundo ao ponto de ser cravado na mente e alma de uma recém-nascida.De qualquer forma, a garota agora estava desperta, sentada sobre sua cama, ainda agarrada ao seu cobertor, coçando seus cabelos carmesins e bocejando como um urso que acabara de acordar após meses de hibernação. Seus olhos entreabertos fitaram todo o quarto, como quem procurava por algo fora do lugar, "Ela não vem me acordar?", a pequena pensou consigo mesmo, "Hoje é um dia especial, isso quer dizer que eu posso dormir um pouco mais", ao deduzir isso, a jovem se aprontou para novamente repousar sua cabeça sobre seu velho travesseiro, quando batidas ecoaram na porta.-Vitória? - A pessoa que batia, chamou pelo nome da ruiva, que nesse momento se debatia de raiva em sua cama-"Não posso nem dormir mais nessa casa"- Ela resmungou -Já vou!De forma ligeira, a garota começou a se aprontar; correndo seus olhos vermelhos pelos cabides do pequeno guarda-roupas, ela procurava algo para vestir e, dentre todos os vestidos e roupas de grife que ganhara de presente, a pequena decidiu se agarrar ao básico: Uma regata branca acompanhada de uma bermuda estampada e chinelos.-Vivemos em um país tropical, afinal de contas- Foi o que afirmou ao encarar seu reflexo no espelho -Essa não, é impressão minha ou...- A garota admirava seu reflexo -Eu to com tudo, não estou? - Ela flexionou seus bíceps e observou o resultado de seus treinos: Braços fortes, malhados e bronzeados, o corpo da anãzinha estava definido, a mesma estava satisfeita, porém, seu momento de felicidade foi interrompido pelo abrir repentino da porta de seu quarto-Vivi? Por que está demorando tant...- Dizia uma das irmãs mais velha da ruiva, ao entrar no quarto sem aviso prévio. A alta mulher, de cabelos negros e compridos, pele pálida e olhos castanhos, testemunhou o momento em que sua irmãzinha admirava sua própria figura diante do espelho. Aquele momento de vergonha a deixou sem expressão e sem o que dizer, enquanto a ruiva, envergonhada, sacudia os braços e gesticulava de forma desesperada, tentando explicar o ocorrido.-Veja bem, eu não estava fazendo nada errado, viu? - Ela explicou -Eu não sou narcisista não, tá certo?-Eu não me importo... Só se arruma logo. - Com um suspiro decepcionado, a mulher encerrava a conversa-Eu já estou arrumada!-Hã?! Não diga besteira, em um dia importante como esse... E a senhorita quer ser vista com o cabelo desgrenhado e usando uma regata? - O cabelo não importava, a regata era o problema.-Sim! Só assim para mostrar meus braços. Seria um crime esconder essas belezinhas- A ruiva sorriu ao novamente exibir seus músculos, um grande e genuíno sorriso, porém, a resposta que sua irmã a deu veio na forma de um cascudo-ISSO NÃO É O PORTE DE UM PRINCESA! - Disse ela ao acertar uma pancada na caçula -Escute: Mesmo que seja a sexta, as pessoas desse país a conhecem como uma princesa, então se comporte como tal!-Qual foi! Eu já te disse: Eu não consigo ser o que eu não sou! - A ruiva se exaltou-Tem que ser! Essa é sua responsabilidade! Ou por acaso quer que o populacho pense que a princesa é alguma maníaca por alteres, boca suja, que nem sequer consegue limpar o próprio quarto?-OPA! Calma lá. Eu posso ser boca suja, mas eu limpo meu quarto!A princesa mais velha nada disse, apenas sua expressão de descontentamento ao olhar a pilha de roupas sujas no chão e o lixo escondido debaixo da cama já deu o recado.-Eu vou limpar... Depois...- Vitória afirmou, vermelha de vergonha. A irmã mais velha suspirou ao ouvir isso-Escute, Vitória: Vamos fazer assim; -Por já conhecer a ruiva, a mulher soube exatamente como fazê-la cooperar- Você vai lá, faz um discurso bonitinho e no fim tira o dia de folga. Que tal?-O dia todo? - Vitória estava desconfiada-Sim.-Sem aritmética?-Sem nada, o dia inteiro à toa.-Tudo bem! Mas com uma condição: Eu vou fazer isso por você, mas em seguida eu quero que me ajude com algo...-Huh? Hmmm, Okay! - As princesas apertaram as mãos, mas a mais velha se arrependeu no mesmo instante, pois viu um sorriso perverso se formar no rostinho arredondado de sua irmãzinha-Então temos um acordo, Esperança.Então o trato foi feito, com isso, Vitória colocou seu melhor vestido, e se aprontou para o que seria um grande evento na cidade: Seu aniversário de quinze anos. Contudo, a garota aos poucos sentiu o gosto do arrependimento, ao ver sua pele bronzeada se tornar branca como porcelana devido à quantidade de pó de arroz que as empregadas passaram em seu rosto. "Eu... Tô parecendo um palhaço...", pensou ela, desanimada com o visual. Contudo, ela resistiu, com um sorriso torto e forçado em seu rosto, a princesa escovou seus cabelos, colocou sua coroa sobre eles, e então, a frente do palácio onde vive, na presença de incontáveis pessoas, ela se apresentou.-B-bom dia! Cidadãos de Jaci! - Dizia ela, tomada pela vergonha. À frente dela estava todo o seu povo e atrás estavam sua família: Seu pai (um homem alto de cabeleira negra e porte robusto, que a assistia em silêncio) e quatro de suas cinco irmãs. -Como sabem... Hoje é... Bom... Meu aniversário... E... - As palavras fugiram da boca de Vitória, em estase como uma estátua, ela permaneceu em silêncio.-Essa não... Esperança ficou preocupada, e suas irmãs também;-Ela... Congelou?...- Perguntou Graça, a terceira princesa, uma jovem forte, de cabelos negros e curtos e uma personalidade forte, muitas vezes chamada de princesa soldado por aqueles que conhecem sua força -Bom, isso não foi uma boa ideia, era óbvio que ela não ia conseguir!-Eu não a culpo...- Completou Glória a gêmea de Graça, a quarta princesa -Se fosse eu não teria dito nem a primeira palavra!A quinta princesa também estava lá, porém, a mesma se manteve calada o tempo inteiro. Com sua franja comprida sobre seu rosto, era difícil saber se Isabela sequer estava prestando atenção no acontecido. Contudo, enquanto as princesas discutiam e o povo teciam comentários, "Aquela lá não é a guria que joga bola com os meninos na outra rua?", "ela era uma princesa? Claramente ela não leva jeito para a coisa...", "Ela nem sequer se preparou para isso? Vergonhoso". Entretanto, ainda havia quem prestasse atenção na pequena: O rei Joshua não havia dito uma palavra sequer, ele apenas observava com interesse, "E então, o que você fará a seguir?...", pensou o mesmo, curioso sobre Vitória.A cabeça da garota girava, sua respiração perdia o ritmo, ela podia ouvir algumas risadas dentre a plateia, porém, no momento em que pensou que seu discurso estava arruinado, a princesa ruiva olhou para trás e viu que aquela figura -seu pai- ainda contava com ela, falhar ali não era uma escolha. Vitória encheu seus pulmões de ar e, com um passo firme a frente, exclamou com todo seu ser.-MEU NOME É MARIA VITÓRIA SAPPHIRUS II! EU PASSEI DESPERCEBIDA POR TODOS ESSES ANOS, MAS AGORA VAI SER DIFERENTE! LEMBREM-SE DO MEU NOME, LOGO ELE SERÁ NOTÍCIA EM TODOS OS LUGARES!!!- O Rei sorriu, como quem já esperava por isso, enquanto Esperança e as outras princesas gritavam de surpresa-EI, Vitória! - A segunda princesa, Esperança, gritou por sua irmã -Não foi isso que combinamos!-Então, Esperança...- Vitória se virou -Minha irmã, posso te fazer um pedido? Poderia me ajudar a realizar meu sonho? --Sonho? Que sonho? - Com essa pergunta, um sorriso se abriu no rosto da ruiva, sua empolgação radiava forte como o sol-Eu quero ser a mais forte! E pra isso...- Vitória novamente se virou para o povo, e arrancou seu vestido, o rasgando, revelando suas roupas casuais que estavam ocultas por ele. Em seguida, a garotas limpou a maquiagem com o tecido rasgado e gritou para que o país inteiro a ouvisse -EU DESISTO DESSA COISA DE PRINCESA! DE AGORA EM DIANTE, EU SEREI UMA AVENTUREIRA!O povo se calou, a surpresa estava estampada em seus rostos, assim como nos das princesas, porém, uma alta risada podia ser ouvida. O rei, não segurou o riso, a ver as caras daqueles que assistiam a cena, ele riu como quem ouvira a melhor das piadas. Contudo, Esperança não deixou barato.-Pai! Não ria! Você não vê o que ela acabou de fazer? - A princesa protestou-Como eu não posso rir? - Respondeu o rei, com um sorriso em seu rosto, enxugando a lágrima que escorrera por ele -Ela... Fez exatamente o que eu imaginei que ela faria. Você cuidou dela a vida inteira como se fosse sua mãe e mesmo assim não viu isso vindo?-Eu...- Esperança olhou na direção de Vitória, e viu foi o que mais temia, embora tentasse negar, desde o começo a princesa soube que sua irmãzinha era um espírito livre. Porém, mesmo assim, ela ainda se recusava a aceitar isso -Pai! Repreenda ela! A faça se casar com algum príncipe, ou a tranque numa torre. Não deixe que ela faça nenhuma besteira!-Bem... Casamentos forçados são algo meio arcaico, não acha? Já estamos no século XVI do calendário dos homens. Além disso, não existe príncipe que aguente ficar uma semana com aquela ali e, eu duvido que ela vá aceitar algo assim. Quanto mais a impedirmos, pior vai ficar. Você sabe, ela é impulsiva e faz o que dá na telha... Assim como sua mãe costumava fazer...Com essas palavras, Esperança se calou. O evento de aniversário acabou, e pela cidade, Vitória se tornou assunto popular: "Eu gostei dela, é difícil achar gente louca desse jeitocomentou a dona da taverna, "Sim. Porém, agora eu fiquei curioso sobre algo", dizia o bêbado "Ela é ruiva... Porém, a falecida rainha era loira e o rei tem cabelos pretos... Será que... O rei pulou a cerca?!A pergunta indelicada do homem foi respondida com uma canecada na cabeça, "idiota!" Respondeu a taverneira, "Você não sabe? Ela foi adotada pelo rei!... Ninguém sabe de onde ela veio, só se sabe que o rei chegou com ela recém-nascida em seus braços!", o bebum riu, "então ele pulou mesmo a cerca!", a mulher nada mais respondeu, cansada das piadas do homem.Não importa aonde você pergunte na cidade, todos dizem a mesma coisa, que em uma noite de lua cheia, Joshua retornou à cidade com uma criança em seu colo, coberto de cinzas e com lágrimas em seus olhos. Porém, ninguém há de saber o verdadeiro conto, todos ali nem sequer fazem ideia do quão milagrosa foi a vinda de Vitória para essa cidade, nem mesmo ela própria.Dito isso, não é como se a ruiva se importasse, a mesma não liga para suas origens, e nunca foi tratada diferente por não ter o sangue real, aliás, ela odeia como as empregadas a tratam, "Eu não sou aleijada, sabiam?", é o que responde quando alguma delas se oferece para apanhar algo para a garota. Ser tratada como uma princesa é -nas palavras dela- "um pé no saco". Contudo a pequena percebeu que com o passar do dia, as empregadas e até mesmo os soldados, pararam de a tratar como realeza. O "Senhorita" ou "majestade" que sempre vinha antes de seu nome havia desaparecido de suas bocas, agora, Vitória não era nada mais do que uma garota comum morando em um castelo."Espera aí..." Vitória pensou consigo mesmo, "NÃO FOI ISSO QUE EU QUIS DIZER COM: 'DESISTO DESSA COISA DE PRINCESA', qual o problema deles?". A garota estava em choque, os empregados realmente levaram suas palavras a sério.-Ei, pirralha! - Uma voz familiar chamou Vitória enquanto ela caminhava pelos longos corredores do castelo -Hã?... Graça?! O que foi? - A ruiva fechou a cara, ao ver que a terceira princesa era quem chamava por ela-Escute aqui...- Acompanhada da quarta princesa, Graça veio para alertar sua irmã mais nova -Se prepare. A partir de amanhã começa seu treinamento! Não pense que por você já ter sido uma princesa eles vão pegar leve. Ser aventureiro não é brincadeira!-Hã?...- Surpresa, Vitória não sabia o que dizer -Treinamento? "já ter sido"?... Huh?...-Fala sério...- Graça suspirou -Nosso pai não te contou nada?... Vá logo falar com ele!Após gritar com Vitória, Graça ergueu seu queixo em um sinal de superioridade e continuou seu caminho. Atrás dela, vinha Glória, que parou para conversar com a caçula.-Você foi incrível hoje cedo... Quem dera eu ter essa coragem...- A fofa princesa, enrolava seus cabelos negros em seus dedos, envergonhada-Que nada! - A ruiva a respondeu no mesmo instante -Eu sei que você teria feito melhor. Eu só disse o que me deu na cabeça.-Quanta modéstia... De qualquer forma. Lhe desejo sorte. Se quiser aprender como usar uma espada, a Graça pode te ajudar-Tsk! Eu não quero pedir nada pra aquela uma lá!-Não diga isso! Você sabe que ela se preocupa com você... Um pouco. Mas como eu dizia: Ela pode te ensinar o caminho da espada, mas...- Glória ficou envergonhada pelo o que estava prestes a dizer -S-se quiser saber sobre m-magia... Não existe ninguém melhor do que eu para te e-ensinar...-OH! Esse é o espírito! - Ambas riram por um instante -Mas assim: eu pensei que eu não tivesse talento pra isso...-Bom... As vezes o talento vem com o tempo... Passe no meu quarto qualquer dia desses... A gente faz uns testes...-Fechado!Glória seguiu seu caminho, e Vitória -agora intrigada com o que seu pai planejava- correu até os aposentos do velho homem, porém, embora estivesse com a cabeça ocupada com seu futuro como aventureira e pelo treino infernal que teria que passar, ela não conseguia tirar a ideia de aprender magia de sua cabeça, "Será que eu consigo lançar uma fireball?". Com isso em mente, a garota parou no meio do caminho, estendeu sua mão com seus dedos estendidos para frente, inspirou e então exclamou:-FIREBALL!O silêncio que veio seguido de seu grito foi constrangedor. Embora se esforçasse, nada saiu da palma de sua mão. Cabisbaixa, a princesa tentava esconder o descontentamento estampado em sua face. Foi então que, enquanto tentava se recuperar de sua depressão pós-falha, a princesa escutou alguém a chamar:-Tem alguém aí? - Uma voz frágil e falha soou do cômodo ao lado.Vitória já havia reconhecido aquele timbre debilitado, então, sem demora, adentrou o quarto.-Oi, Sou eu...- A ruiva anunciou sua presença-Oh! Vivi?... Venha mais perto, deixe eu ver seu rosto...- Respondeu a moça, deitada sobre a cama-Certo, irmã...- Essa moça se chamava Aurora, a primeira dentre as seis princesas-Minha nossa! Como você cresceu! Já se tornou uma bela mulher!-Que isso. Eu ainda tenho muito o que crescer...- Vitória havia acabado de alcançar a marca de 152 centímetros de altura, bem menos do que ela esperava-De qualquer forma... Eu ouvi sobre o seu discurso... Boa sorte em suas aventuras, eu sei que você vai se tornar alguém grande no futuro... Você é uma Sapphirus, afinal. - A velha princesa sorriu, sua boca rachada formava um pavoroso arco em seu rosto, e seus olhos quase sem brilho, que franziram em uma tentativa de demonstrar ternura, quase não passavam sinal de vida.Vitória não gostava de Aurora, não que a primeira princesa tenha feito algo errado, mas ainda assim, a ruiva se sentia incomodada na presença de sua irmã mais velha. Vê-la acamada era desconfortável, o corpo da mulher era frágil e magro, e o cheiro da morte já estava impregnado em sua carne, porém, sua doença não era o que incomodava a pequena. Por mais que tentasse, a garota não conseguia sentir sinceridade nas palavras de sua irmã, pelo contrário, a cada sílaba que ouvia, a cada olhar que recebia dela, a anãzinha sentia como se agulhas penetrassem sua pele, como um mau agouro.-Será que você poderia me ajudar? - De forma doce, Aurora fez um pedido simples -Me leve até o jardim... Quero poder sentir o cheiro das flores...- Ainda com um sorriso em seu rosto, a frágil princesa esperava pela resposta da pequena-Deixa comigo...Vitória aceitou e, sem pestanejar, cedeu seu ombro para a mais velha das princesas, porém, novamente, a situação era desconfortável para a ruiva. A pequena podia sentir os ossos de sua irmã sobre a pele dela, podia ouvir sua respiração falha e seu coração que parecia lutar para continuar batendo. Era quase como se a garota estivesse carregando um cadáver que se esqueceu que estava morto, era assustador, bizarro por assim dizer, mas ainda assim, a jovem de cabelos vermelhos, fez isso sem reclamar, negar ajudar para alguém em tal situação a envergonharia.-Obrigada...- Aurora agradeceu com um sorriso -Ah! Não se preocupe, eu posso chamar alguém quando eu precisar voltar... Desculpe por tomar seu tempoVitória deixou a princesa no jardim, aonde lindas rosas brotavam e o verde tomava conta, e em seguida, continuou seu caminho, mas, embora tenha se sentido satisfeita por ter ajudado sua irmã, ela ainda se preocupava com o fato de que faltava sinceridade nas palavras de Aurora. Contudo, a ruiva apenas ignorou isso, "Não é problema meu!" foi o que pensou.Seguindo seu caminho com pressa, a garota subiu as longas escadas espirais que levavam aos aposentos do rei, aonde bateu na porta, e logo ouviu a resposta de seu pai:-Entre. - Dizia o Rei, Joshua-Sou eu! Como vai, coroa? - Vitória entrou sem hesitar-Ah! Vivi. E então, está animada? - O homem aparentava estar feliz-Claro que sim!... Embora eu não entenda o porquê do treinamento...- Com um suspiro, o rei explicou à garota-Ser um aventureiro não é piado, Vitória.-Eu sei disso!-Por isso, embora eu aceite que esse é o caminho que você escolheu... Eu não vou te mandar lá para fora só para morrer! - A garota fechou a cara, franzindo as sobrancelhas e rangendo os dentes-Hã?! NÃO PENSE QUE EU SOU FRACA!-Você é!-Errado! Eu já treinei! Não preciso que ninguém segure a minha mão e me ensine a usar uma espada! Eu não sou uma criança!-Certo. - O rei tinha um sorriso presunçoso em seu rosto -Então, tente me socar. Se voc-Antes mesmo do rei terminar a frase, Vitória já estava de punhos e dentes cerrados. Carregando sua mão direita para trás, a garota aprontava e poderoso soco, porém, embora o monarca tenha ficado surpreso com a falta de hesitação, ele não teve dificuldade e bloquear o golpe com uma de suas mãos. Irritada, a pequena continuou a desferir golpes contra seu pai adotivo, que os desviava."Impossível!", foi o que pensou a ruiva, "Um velho doente que nem ele deveria cair com um soco... Diabos, qualquer um deveria cair com um soco meu... Então por quê? POR QUÊ EU NÃO CONSIGO ACERTAR?". O velho era rápido demais, a princesa era impotente contra ele, que golpeava os punhos da garota a cada golpe que ela desferia.Após alguns minutos de esforço contínuo, enfim, a resistência da garota chegou ao seu fim. Vitória estava ofegante, com os olhos bem abertos pela raiva e com suor escorrendo do seu rosto até seu queixo. "Humilhante!", ela estava indignada.-Viu? - O rei falou -Se você não consegue acertar nem sequer um velho como eu, não tem chances nenhuma contra um monstro de verdade! - A ruiva abaixou a cabeça, apertando os punhos em frustração -Então, me diga... O que você faria se desse de cara com um deles?-Hã?- Vitória ficou confusa -Tipo... Um muito grande?-Sim, grande, com a boca cheia de dentes, do tamanho de uma montanha-...Nesse caso... É só cutucar com força! Espetar ele com uma espada até ele morrer, certo? - Ela riu-ERRADO! - O homem golpeou a cabeça da garota com a lateral da mão -Você foge! Saiba seu nível! - Novamente, a garota fechou a cara-Eu não nego fogo! Se um deles entrar no meu caminho eu passo por cima! - Os olhos de Vitória brilhavam com sua determinação, porém, o homem não se convenceu-É difícil imaginar que a Esperança criou você. Você não ficou nem um pouco parecida com ela-A minha irmã não pode me segurar para sempre! - Vitória tinha uma expressão presunçosa em sua faceA garota disse tal coisa com gosto, havia felicidade em suas palavras rebeldes, mas mal sabia ela que a pessoa citada em suas palavras estava parada à entrada do cômodo.-Como é que é? - A voz de Esperança ecoou bem próximas ao ouvido da pequena. Lentamente, a ruiva se virou e encarrou sua irmã, a artéria saltada na testa e uma das sobrancelhas erguidas, deixava claro sua irritaçãoVitória nunca teve medo de nada, mas aquela face irritada a apavorou.-Então, irmã... Eu estava conversando com o nosso pai sobre algo importante...- A ruiva disfarçou -Treinamento, certo? - Esperança havia ouvido a conversa -Eu acho bom. Porém, eu ainda sou contra essa ideia! - A mulher virou seu olhar em direção ao seu pai -Como pode aceitar isso?! Está óbvio que vai dar errado. Eu a proíbo!-Qual foi?! Me proíbe? Não vem com essa! - A ruiva protestou-Me escute, eu sei o que é melhor para você.-Nem vem! Se quer que eu fique aqui e estude etiqueta ou qualquer coisa do tipo, pode esquecer! O mundo é vasto e eu sou grande demais para ficar presa num castelinho no meio do nada!!!-Huh?! Não chame de castelinho! Esse palácio é o orgulho da nossa família, é o monumento que demonstra a grandeza do nosso pai!-Pois fique sabendo que eu vou ter um ainda maior!As garotas discutiam e gritavam uma com a outra, como lhes era costumeiro, porém, o rei ainda tinha algo a dizer:-Silêncio! - Apenas o levantar de sua voz foi o suficiente para calar as garotas, Joshua estava sério -Eu sei dos perigos. Eu também não quero que a Vitória se arrisque e, é por isso que eu tenho um desafio para prepará-la- A ruiva abriu um sorriso ao ouvir isso -Tome, pegue esse jornal, você vai entender.As garotas apanharam o jornal e começaram a ler, logo, o suor frio escorreu pelo rosto da ruiva, pois o desafio à sua frente era maior do que ela podia imaginar...-Palavras-cruzadas?!- A garota se espantou"NÃO!", Esperança e o Rei gritaram em coro.-Me dá isso aqui! - A irmã mais velha tomou a papelada da mão da caçula -É disso aqui que ele tá falando...-O quê? - Vitória ficou cada vez mais apreensiva -Se for o de ligar os pontinhos eu consigo...-Não... Olhe, essa notícia aqui...- A mulher apontou para uma manchete ao lado das palavras-cruzadas -Viu? -Tô vendo... O que tá escrito?-Espera, você não sabe ler? Mesmo depois de ter estudado comigo por tanto tempo?-Não é isso! Eu sei ler sim! Mas... Eu não sei interpretação de texto! - Vitória admitiu suas falhas com orgulhoA irmã mais velha suspirou e então começou sua leitura, em voz alta, ela leu a notícia para que Vitória soubesse o que lhe aguardava. Tal notícia falava sobre um evento em uma cidade próxima à Jaci -Reino e Cidade onde moram. Nessa cidade -chamada Pohsilga- um grande evento aconteceria em seu coliseu: Daqui a dois meses -em julho- durante uma semana, aventureiros novatos seriam colocados em situações complicadas, que iam desde batalhas na própria arena, quanto desafios de sobrevivência em campo. Tudo seria exibido ali, através das telas mágicas e da magia de clarividência dos magos do reino.-Huh?!- Esperança estava indignada -Mas isso... Pai! Você realmente quer que ela vá nisso? Veja: Eles fazem isso como forma de entretenimento pro povo!-Sim. Não é o mais nobre dos eventos, mas... Não importa o que eu diga, parece que ela já tomou sua decisão.A irmã mais velha olhou na direção de sua protegida, e então, testemunhou o grande sorriso de excitação que se abriu no rosto de Vitória, a pirralha tinha um brilho doentio em seu olhar, ela estava empolgada até demais e, vendo isso, Esperança viu que não tinha escolha.-EU TAMBÉM VOU! - A mulher exclamou sem hesitar-O quê??!- Vitória estava surpresa, já o rei sorria como quem já havia previsto esse desfecho-Proteger você é meu trabalho... Vou te dar apoio nessa empreitada... Mas não se engane! Eu ainda sou contra - Ainda surpresa, porém aliviada, Vitória novamente sorriu, e então, riu.-Eu não iria preferir de outra forma!O rei sorriu novamente, contente com o carinho que as irmãs tinham uma pela outra.-Então... Vitória, amanhã começa seu treinamento com a Graça! - Ele afirmou -Enquanto a você, Esperança... Não se preocupe, eu mesmo vou treiná-la!"O quê?" Pensava Esperança, "Se é ele que vai me treinar então talvez não seja tão ruim!" a princesa estava confiante, porém, não demorou muito para que ela percebesse o quão errada estava. A noite caiu e, enquanto Vitória dormia de forma pacífica, a sua irmã mais velha corria por sua vida.-O QUE É ISSO? - A princesa se perguntava, indignada -ISSO NÃO É TREINAMENTO! É UM TESTE DE SOBREVIVÊNCIA. - Dizia ela, enquanto corria o mais rápido possível em meio à mata.Jaci outrora foi conhecida como uma área tomada por monstros, porém, isso mudou no momento em que Joshua assumiu como rei, sua força fora tanta, que os monstros foram forçados a se mover para as florestas próximas, e agora, essas florestas estavam sendo usadas como local de treinamento para a princesa.-INJUSTO! PRÊMIO DE PIOR PAI DO ANO PARA VOCÊ! - Ela exclamou, esperando que seu pai a ouvisse, porém, no fundo ela desconfiava que ele possa ter ido embora, a deixando sozinha naquele ambiente hostil, contudo, isso não era bem verdade, nesse momento, Joshua a observava.Com sua espada em mãos, o rei assistia sua filha fugindo dos monstros que encontrava pelo caminho. "Devo ajudá-la?" Ele indagou a si mesmo, "Não. Ela não pode depender de mim", foi o que concluiu, contudo, Esperança aparentava ter dificuldades com a tarefa que lhe foi dada. Seu abrigo fora destruído pelo vento, e sua fogueira ainda precisava ser acesa -embora a princesa já estivesse com as mãos calejadas de tanto tentar acendê-la- no fim, a mulher já estava arrependida.-Quero ir para casa...- Ela resmungou...De volta ao castelo; O primeiro dia de treinamento de Vitória começou cedo -talvez até demais. O sol mal havia surgido no horizonte quando a ruiva caiu de sua cama, assustada com o som das batidas.-ACORDA, VITÓRIA! - Gritava Graça, esmurrando a porta do quartoVitória -agora desperta- resmungou ao se levantar-"A Esperança me acordava com mais carinho..."-Disse algo?!-AH! Não!... Foi mal, eu acabei perdendo a hora...-Vai rápido!A guria ruiva se enfiou numa camisa e logo abriu a porta, e foi então que Graça "entregou" a Vitória seu equipamento. "Entregou", pois, o que a princesa fez foi empurrar a couraça contra o peito da pequena, que perdeu o fôlego com a surpresa.-O quê? É para eu vestir isso? - Vitória perguntou-Não... Eu te dei para você ficar olhando- Graça a respondeu com ironia-Ah, saquei.-É CLARO QUE É PRA VESTIR! Mas não agora, calma. Primeiro, você vai fazer o treino físico comigo e com os outros guardas. Entendeu?-Saquei... E depois?-Depois será o treino com espadas-SÉRIO?! EU VOU USAR UMA ESPADA?!-Calma...-QUAL EU ESCOLHO? - A garota pousou sua mão sobre seu queixo, pensando intensamente em como resolver esse dilema -Uma espada grande parece maneira... Porém seria ruim ter que carregá-la, então talvez uma espada curta?... NÃO! Eu vou querer duas!-CHEGA! Depois a gente pensa nisso. Hoje você vai usar isso: Uma espada de madeira! - A princesa entregou um simulacro do que deveria ser uma espada-Eh? Mas não dá pra cortar nada com isso... -Essa é a ideia.-Que saco.-Se não quiser que eu ajude, eu vou embora.-QUE ISSO, ERA PIADA. EU PRECISO DA SUA AJUDA SIM.-Bom. Vamos indo...O treinamento começou de forma simples: Os guardas em treinamento e as princesas -A mando do homem no comando- correram em volta do grande pátio do castelo. Esse pátio ficava atrás da grande fortaleza. A sombra da grande muralha era um alívio para quem ali treinava, porém, embora o sol desse folga, o treinamento era duro e impiedoso.-ESCUTEM- Gritou o homem no comando, o líder dos soldados, o capitão cujo o nome provocava risos em Vitória -Creio que já estejam com o sangue aquecido... Então- "Jacinto" era o nome de tal figura imponente. Com uma enorme cicatriz sobre sua careca reluzente, o homem dava ordens sem nenhuma piedade: -PEGUEM SUAS ESPADAS! ABRAM ESPAÇO... E AGORA... EU QUERO MIL GOLPES, COMECEM!-MIL GOLPES?!- Gritou a ruiva -IMPOSSÍVEL, MEUS BRAÇOS VÃO CAIR...- Nesse momento, não só a Graça, mas todos os guarda bateram as palmas de suas mãos sobre a testa-Ah. A princesa caçula... Bom, você acha que mil é demais para você?-Bom... Talvez se eu tiver o costume eu consiga...-Ah, que bom. Nesse caso, eu vou te ajudar a se acostumar... Digo, para isso, você só precisa treinar, certo? - Vitória acenou com a cabeça, positivamente -Então... Cavalheiros... Vamos fazer dois mil golpes de espada, para que nossa amiga se acostume! - Ao ouvir as palavras do homem, a ruiva arregalou os olhos...-Dois mil...?-Prefere três?-Não, senhor... Dois mil está ótimo...E assim, derrotada, Vitória balançou aquela espada de madeira duas mil vezes, como lhe foi mandado, enquanto sentia os olhares irritados de seus companheiros de treino. Os braços da princesa doíam ao ponto de ela ter a impressão de que eles estavam sendo arrancados, seus ombros, costas e peito também doíam em igual intensidade, a princesa havia sido judiada por esse treinamento, mas ele ainda nem estava perto de acabar.Enquanto isso, no meio da floresta próxima a Jaci, Esperança novamente corria por sua vida.-O QUE É ISSO? - Dizia ela, vendo o enorme felino que a perseguia -UM TIGRE? AQUI? POR QUÊ??!Embora o maior perigo dessa floresta fossem os monstros, isso não significava que outros animais não a habitassem, contudo, os monstros ainda tomavam o topo da cadeia alimentar. Esperança percebeu isso ao ver que, agora, ela fugia lado a lado com o tigre, pois um perigo ainda maior que eles haviam aparecido: Uma enorme serpente negra, que deslizava por entre as árvores, disparando jatos de ácido à distância, mirando em suas presas em movimento.Tamanha era a potência do corrosivo, que árvores tombavam ao serem atingidas por ele. Esperança não podia deixar de imaginar o que aconteceria com sua pele caso fosse alvejada. Porém, ao ter sua mente tomada por esses pensamentos, a princesa se esqueceu de observar o caminho e só percebeu o perigo à sua frente no momento em que tropeçou no tigre que havia parado na beirado do precipício. Uma enorme fenda fora aberta naquele terreno, a mulher podia ter saltado sobre ela caso estivesse concentrada, porém agora era tarde. Em queda livre, a a princesa que lutava por sua vida arriscou tudo para se salvar. Com a adrenalina correndo por seu sangue, ela se agarrou à muralha de pedra, tentando frear sua queda.A carne de seus dedos fora rasgada pelo atrito contra a terra e os sedimentos das rochas, porém, mesmo sofrendo de uma dor terrível, ela permaneceu agarrada à rocha, deslizando precipício abaixo, todavia, seus dedos não aguentaram, Esperança caiu de costas no fundo do abismo, perdendo a consciência, mas ainda assim, sobrevivendo.Durante o tempo em que a princesa ficou inconsciente, o treinamento da tarde começou para sua irmã caçula. Com a espada de madeira em suas mãos -porém sem a couraça- Vitória se apresentava para o treinamento.-Vamos começar! - Ela disse para Graça-E sua armadura? - Graça a respondeu-Aquilo vai me deixar lenta... Aliás, eu meio que acabei de almoçar, então, talvez eu pegue leve com você...Vitória riu como se estivesse em uma brincadeira, porém, logo ela entendeu que Graça estava séria, no momento em que sentiu o primeiro golpe, vindo direto por baixo de seu braço esquerdo, atingindo suas costelas com força total. A princesa engasgou com sua saliva, o susto de ter sido atingida com tanta força a deixou desequilibrada, e então veio o segundo golpe, contra sua cabeça, a botando de quatro, encarando o chão com os olhos abertos de surpresa.-De pé, Vitória! - Entoou Graça, em um tom assustador-Sua...- A pequena não terminou sua fraseCom os dentes cerrados em uma expressão de fúria, a ruiva se levantou, segurando a lateral de seu torso -aonde acreditava ter sofrido uma fratura- a princesa ergueu sua espada e, bufando de raiva, avançou, para em seguida ser derrubada novamente. Se ela tentasse um ataque, ele era bloqueado. Se defendia, sua defesa era superada. Se tentasse avançar, Graça a derrubava. A luta era quase que injusta, as princesas estavam em um nível totalmente diferente. Logo, o treino se tornou uma surra, Vitória foi acertada tantas vezes que seu rosto ficou inchado pelos golpes e seu corpo roxo pelos hematomas. Não demorou muito para os comentários começarem: "Ei... Aquela não é a irmã dela?", dizia um dos soldados "De fato. Bom, não vamos nos meter...", a falação continuava, porém, a princesa mais velha pôs um fim a ela.-O QUE ESTÃO OLHANDO??!- Graça gritou com os homens, que de imediato viraram o rosto na outra direção, até mesmo Jacinto, que deveria estar liderando o treinamento não se atreveu a parar a garota.Após o grito, Graça ergueu sua espada de madeira, e em seguida desferiu um golpe contra a garota prostrada à sua frente, porém, Vitória o bloqueou com sua própria espada.-CONSEGUI! - A garota comemorou com um sorriso.Contudo, mesmo defendendo um dos ataques de graça, a garota não pôde bloquear os que vieram em seguida, mas, embora estivesse apanhando feio, a ruiva continuava a se levantar. Os soldados que assistiam, mentalmente desejavam que ela ficasse de vez no chão, mas Vitória ainda considerava aquela surra parte de seu treinamento. Sem paciência, graça avançou na direção da mais nova, e foi então que ela teve uma surpresa, a princesa mais velha se viu trocando golpes justos com sua irmãzinha.-Usar uma espada é realmente difícil, né? - Dizia Vitória, ao bloquear e até devolver os golpes Graça ficou sem palavras ao ver a evolução que a ruiva teve em tão pouco tempo, poucas horas atrás a anãzinha mal sabia balançar a espada, e agora, ela já estava se virando, como se de alguma forma tivesse pegado o jeito. "Então apanhar também é uma forma de aprendizado?", A terceira princesa riu ao pensar nisso. No fim, ela acabou por se empolgar com o treino, esquecendo seu objetivo oculto.-Use o quadril! - Ela acertava a ruiva enquanto a ensinava -Bote mais espírito nisso! Use o corpo inteiro, não mova só os braços!-Okay! - Aos poucos, a ruiva começou a se divertir com o treino, embora já estivesse acabada, porém...-SUA GUARDA ESTÁ TODA ABERTA! - Graça era inalcançável. Com uma estocada contra o peito da ruiva, a princesa derrubou sua irmãzinha, que mostrou dificuldades em se levantar novamente. -Por hoje é só. Vá descansar! - Ela disse essas palavras com um pouco de vergonha, pois estava surpresa que Vitória ainda estivesse consciente Com isso dito, a princesa se retirou, deixando a pequena estirada no chão. Indo direto até seu quarto, Graça entrava em conflito, já que não podia negar que ficou feliz e até mesmo orgulhosa em ver sua irmãzinha treinar, porém, ela ainda assim tinha um objetivo. "Eu preciso transformar o treinamento dela em um inferno." era o que tinha em mente. A terceira dentre as princesas, não podia aceitar de forma alguma a ideia que a ruiva tinha, se tornar um aventureiro quase sempre resultava em morte, ainda mais no continente onde viviam.Hunterra; O chamado país dos monstros, já foi considerado o mais perigoso lugar para se viver, o número de criaturas colossais que abitam essas terras é incontável. Porém, recentemente, o maior perigo que esse lugar pode apresentar são as futuras guerras que podem começar a qualquer instante. Vários reinos humanos se estabeleceram nessas terras antes sem donos, inclusive Jaci, a cidade e país que se manteve neutro devido ao poder militar que possui, porém, que muitas vezes chegou perto de entrar em conflito com os reinos vizinhos. Enviar uma princesa para se aventurar mundo a fora, é pedir para ela ficar suscetível a ambos perigos.-Eu vou protegê-la! - Graça pensou em voz alta, enquanto retirava sua couraça-Fofa! - Uma voz vinda detrás de Graça, a surpreendeu-Quem é?!- Ela exclamou, se virando de forma brusca -Ah! Glória, é você.-Você parece decepcionada... Se quiser eu volto depois...- A quarta princesa havia vindo conversar com sua irmã gêmea -Não, espere. Você é justamente quem eu queria ver-Sério? - A princesa ficou toda bobinha -Ah, para... Você sabe que eu fico sem jeito-Chega de brincadeiras. Diga a que veio...- A princesa rechonchuda adentrou o quarto e se jogou sobre a cama de sua irmã.-Então, eu queria saber se você libera um dia do seu treinamento para eu cuidar da Vivi...- Ela pediu com uma voz manhosa, apelando pro lado carinhoso da sua rígida irmã mais velha-Não. - Graça foi seca-Eh?! UM DIA, VOCÊ VAI NEGAR UM DIA DE FOLGA A ELA? - Glória estava surpresa-Não quero ela fazendo corpo mole... Ela precisa treinar o máximo possível...-Hum... Você realmente está preocupada com ela, né?...-NÃO! Não é como se eu tivesse preocupada... Eu apenas... Bom, ela me dá nos nervos, achando que tudo vai ser fácil... Eu decidi pegar pesado com ela, pra fazê-la cair na real... Entende?-Mentirosa...- Glória sussurrou-Disse algo?-Não. Eu estava dizendo que: Já que ela vai ser uma aventureira... Seria bom se eu ensinasse a ela sobre magia...-Não se preocupe... Eu vou fazer com que ela desista antes mesmo de pôr o pé pra fora do castelo. - A terceira princesa estava determinadaVendo que, sua irmã já estava decidida, Glória decidiu apelar, pois embora estivesse preocupada com o bem-estar da ruiva, ela ainda assim acreditava que tudo ficaria bem, então, para garantir que Vitória tivesse o máximo de ajuda possível, ela usou seu trunfo. Logo, Graça começou a ouvir algo, um som vindo de sua irmã que estava logo atrás de suas costas. Ao prestar um pouco mais de atenção, ela logo distinguiu que era o som de pequenos soluços, então, ao se virar, preocupada, deu de cara com uma cena que causou um enorme aperto em seu peito: Sua irmã gêmea, entregue às lágrimas, chorando como uma criança que acabou de deixar seu sorvete cair no chão.-AAHH! O QUE FOI? - Graça estava preocupadíssima, sem saber o que fazer, se abraçava ou afastava-se de sua irmã-É que... Eu só queria ajudar vocês...- Dizia Glória, com sua voz chorosa -Tudo bem, tudo bem. Você pode ficar à vontade, olha, eu vou deixar o fim de semana com você, okay? Só não chora...Graça abraçou sua irmã, tentando acalmá-la, mas Glória, estava calma, na verdade a garota até estava um pouco decepcionada. "Dois dias? Você é fácil demais irmã... Depois eu tenho que pedir desculpas por isso..." foi o que pensou.Enquanto isso, durante o tempo em que as gêmeas conversavam, Vitória se arrastava de volta ao seu quarto. Apoiando-se nas paredes dos corredores, ela dava lentos passos enquanto resmungava: "...Deixa só ela... Na próxima eu vou mostrar com quantos saxofones se faz uma banda de jazz... Ai...". Com um pouco de dificuldade, a ruiva retornou ao seu quarto. Seus músculos doíam, e seus olhos já mal se abriam devido ao inchaço em seu rosto, sendo assim, ao jogar seu corpo suado sobre sua cama, não demorou muito para que ela dormisse. Como uma pedra, a princesa deitou e permaneceu na mesma posição, apagada, imóvel e silenciosa. 

Novamente, aquele sonho veio perturbar a pequena. O calor das chamas, o cheiro da carne queimada que veio com a fumaça, e por fim, o sorriso gentil daquela mãe, a garota novamente se recordou desses momentos. Vitória acreditava que aquilo fosse nada mais que um sonho, porém, ela ainda conseguia sentir o calor do abraço aconchegante daquela mulher. Lágrimas vieram aos seus olhos, a princesa chorou durante seu sono, embora ainda não entendesse o motivo de tamanha tristeza.O sol se deitou no horizonte, a noite chegou sem outros imprevistos, exceto no caso de Joshua que agora corria floresta a dentro a procura de Esperança. "Onde ela está? Eu saio pra ir no banheiro e ela some! Espero que ela não tenha sido comida por algo..." Era o que se passava por sua cabeça. O homem estava preocupado, mas não desesperado, pois sabia que nas veias da mulher corriam seu sangue, e isso o tranquilizava. Aos poucos, o homem se lembrava de seus momentos como um jovem adolescente, quando ele matava um dragão antes do café só para abrir o apetite. Ao olhar para o passado com nostalgia, uma lágrima ameaçou escorrer pelo rosto do rei, porém, ele voltou seu foco para a tarefa atual. Horas se passaram e, no fim, o rei não pôde achá-la, o que enfim o preocupou seriamente. Porém, nesse momento, Esperança já estava perto de despertar, pois chamavam em seu ouvido.-ACORDE! - Alguém lhe dizia.A princesa acordou, se levantando de uma vez devido ao susto, apalpando seu corpo para ter certeza de que ainda estava inteira.-Estou viva...- Disse ela -Mas... Onde eu estou?Ao olhar para cima, Esperança percebeu que caiu de um lugar bem alto, ela nem sequer conseguia medir em metros a profundidade dessa depressão, porém, a grande fenda que havia visto lá de cima, agora, olhando de outra perspectiva, aparentava ser nada mais que uma pequena fissura. A luz da lua penetrava essa rachadura no solo, iluminando o local onde a mulher pisava, a mostrando o caminho a seguir.Confusa, Esperança olhou em volta; coçando seus cabelos, ela sentiu a umidade de seu próprio sangue, tanto suas mãos quanto sua cabeça, haviam sido feridos durante sua queda, porém, a princesa não sentiu necessidade de parar para tratar desses ferimentos, pois os mesmos já haviam sido estancados pelo tempo. Agora, a mulher caminhava pela estranha gruta que havia encontrado. O fundo daquele abismo era a porta de entrada para sua aventura, mas a jovem ainda não fazia ideia disso."Espero que não tenham baratas por aqui... Ou aranhas..." Dizia Esperança, ao se abaixar e se espremer túnel a dentro. Caminhando por aquele caminho úmido e estreito, a princesa enfim se viu em frente ao que seria um altar. Dentro de uma larga caverna, havia uma longa passarela sobre outro abismo cujo o fundo não podia ser visto e, no fim desse longo caminho, havia uma plataforma que servia um único propósito, sustentar a espada negra fincada sobre ela.Contudo, não foi a espada que chamara a atenção de Esperança, e sim, o quão bonito era o ambiente em que estava. Sobre as paredes, vários cristais estavam encrostados, refletindo a fraca luz da lua, que entrava por uma pequena abertura na abóbada da caverna, que agora, brilhava num lindo azul. Tal visão encheu os olhos da mulher, que sem palavras, não pode evitar um suspiro de admiração.-Foco. - Uma voz soou de todas as direções-QUEM ESTÁ AÍ??!- Assustada, a princesa chamou pela figura misteriosa -... Ué?... Ah, eu devo ter batido a cabeça com muita força... Estou ouvindo coisas...De qualquer forma, Esperança recuperou seu foco e, vendo que a única saída desse lugar ficava detrás daquele altar, e sabendo que não poderia escalar de volta à superfície, ela seguiu em frente, até se aproximar o suficiente da espada, ao ponto de ser possível pegá-la. A mulher ergueu sua mão direita e a aproximou da empunhadura da arma, só para novamente se afastar.-ATÉ PARECE! - Ela riu e caçoou dessa situação -Uma espada numa caverna secreta? Uma arma aparentemente poderosa dando sopa? Quem acreditaria? EU NÃO SOU BURRA! - Usando o conhecimento que tinha, Esperança, que estava tentada a ver que tipo de truque aquela arma escondia, usou algo que lhe foi ensinado por sua irmã Glória: A princesa estendeu ambas as mãos na direção da arma e então entoou com firmeza -DETECT MAGIC! - Logo toda a magia presente naquela área pôde ser sentida pela princesa, que ficou surpresa ao perceber que, aquela arma estava emanando uma forte energia, algo que ela nunca antes havia sentido em tamanha quantidade.-Empunhe-a! - A voz novamente soou, dessa vez, mais alto que antes-O que...- Esperança não sabia o que dizer, ela estava tão surpresa que nem sequer questionou a voz -O que diabos é essa espada?...- A medida em que os segundos passavam, a princesa ficava mais confusa, por algum motivo, aquela voz que gritava em sua cabeça e a energia que emanava da arma lhe pareciam familiares, o sentimento que lhe passavam eram nostálgicos demais para serem coincidência. A moça abaixou a cabeça e a segurou com ambas as mãos, lágrimas vieram aos seus olhos, pois ela se lembrou que, aquela voz, soava idêntica a de sua falecida mãe. -Mentira...A princesa deu um passo para trás, tropeçando e vindo ao chão. Sentada, a princesa agora percebia a escritura sobre a plataforma de concreto onde antes estava de pé. Aquele lugar era uma cripta, essa plataforma era um túmulo e aquela espada a lapide. -MENTIRA... EU NÃO ACREDITO NISSO!...- Lágrimas escorreram pelo rosto esguio e pálido da mulher, pois, sobre a plataforma estava escrito o nome da antiga rainha: "Rebecca Sapphirus". Vendo isso, a princesa se levantou e começou a correr, sem olhar para trás ela passou pelo que restava do túnel e então chegou à sua saída, que ficava atrás de uma pequena cachoeira que acabava em um lago, aonde ela mergulhou.A meia noite se aproximava e, vendo que encontrar sua filha no meio dessa selva seria uma tarefa difícil, Joshua chamou um amigo. Com seu dedo indicador e o polegar, ele assobiou e, logo, notou a presença de um velho conhecido. Surgindo dentre as sombras da floresta, uma enorme pantera de pelagem negra e olhos azuis saltou até o rei, e então se prostrou aos seus pés.-Diga, Diamante, ainda se recorda do cheiro da Esperança?...- Dizia o rei -Ótimo. Vá atrás dela, estarei observando através de seus olhos.O veloz familiar, correu atrás do rastro da princesa e logo, chegou à beirada da enorme fenda, aonde ela havia caído. O rei, vendo isso, cerrou seus punhos, frustrado. "Você não deveria ter encontrado esse lugar..." Disse ele, "O destino... Realmente age de formas estranhas...". A pantera se preparava para continuar seu caminho, quando o bote de uma criatura a surpreendeu. A enorme serpente que antes perseguia a mulher, ainda permanecia na área, não satisfeita com o tigre que acabara de devorar, agora tentava devorar também esse outro felino.A serpente teve êxito em abocanhar a criatura, porém, Diamante não era um felino comum, o réptil faminto encontrou seu fim através das garras prateadas da fera, que transformaram a cobra em uma chuva de confetes vermelhos. Seguindo seu caminho, não demorou até que a fera fosse à saída da cripta, aonde encontrou Esperança, úmida, com frio e perdida. Vendo isso, o rei se tranquilizou. A partir daí, ele continuou a observá-la, enquanto a garota tentava sobreviver e se esquecer sobre o que havia visto.Esperança estava pensativa, encarando as chamas da fogueira enquanto via suas roupas secarem em um varal improvisado. Tudo o que sabia sobre a morte de sua mãe é que ela foi morta durante um triste e sangrento incidente que aconteceu no castelo a quatorze anos atrás. O corpo da rainha não foi encontrado, sendo assim, a princesa deduziu que aquele tumulo era nada mais do que algo feito para prestar respeito à antiga monarca. Mesmo assim, ela ainda não entendia o porquê da espada e da voz em sua cabeça.-Parece que... Eu vou ter que voltar lá...- Ela pensou em voz alta -Não... Não preciso de uma arma, ou de respostas agora. Vou focar no que eu preciso fazer no momento!A princesa estava decidida, motivada a sobreviver e não mais fugir. Batendo uma pequena rocha sobre outra maior, -em um ângulo específico- Esperança a afiou -Foram necessárias algumas tentativas, antes de ter sucesso. Com lâmina improvisada, a mulher afiou um longo galho, fazendo assim uma lança de madeira e, usando a pedra, ela também fez o que seria um machado improvisado, amarrado com o cadarço de uma de suas botas. Suas armas eram simples, mas úteis.-Acho que voltei à idade da pedra...- Disse ela -Bom, se usavam isso antes, então de algo servem...- O estômago da princesa estava roncando, porém, o sol ainda não nascera e ela não podia sair para caçar. Esperança esperou, paciente, ela admirava o horizonte a espera do início de um novo dia. Quando esse chegou, ambas as irmãs -Vitória e Esperança- se levantaram e continuaram com seus desafios, a princesa mais velha se viu frustrada ao perceber que caçar animais era bem mais difícil do que imaginara, "Ah... Eles correm rápido, né?", pensou ela. Já a pequena, se via com dificuldades de se levantar ao sentir seu corpo inteiro doer, "Por acaso eu sai pra uma maratona ontem à noite?". De qualquer forma, elas ainda assim não desistiram. Vitória observava enquanto Graça balançava a espada durante o treinamento, a pequena ficou impressionada e até mesmo assustada. Os movimentos da princesa mais velha eram quase que perfeito, a forma como ela se movia e a velocidade em que ela desferia os golpes pareciam um mecanismo de uma arma de fogo. Ela erguia sua arma como se engatilhasse um revólver, e então, em seguida vinha o ataque, instantâneo, direto, rápido como uma bala. A ruiva se perguntava, quantas vezes em sua vida a princesa havia feito esse movimento."Eu não posso ficar para trás!" Ela pensou, motivada. Em seguida, veio o treino contra sua irmã, no qual Vitória deu tudo de si e, dessa vez, ela não tomou uma surra, os soldados ficaram surpresos, pois a garota agora estava na ofensiva, mas, era óbvio que Graça estava se segurando. Aos poucos a ruiva ganhava confiança e então atacava com mais ferocidade, e foi isso que sua tutora usou contra ela.Vitória ergueu sua espada, deu um passo à frente e desferiu um ataque descendente, porém Graça saiu da frente do ataque com um simples passo para o lado. A garota avançou demais com seu ataque e, ao não ter resistência por parte da defesa de sua irmã, expôs suas costas por completo. A ruiva olhou para o lado e viu a terceira princesa a olhando de cima, em seus olhos, uma expressão de descontentamento, e em suas mãos estava sua espada erguida. Isso foi a última coisa que a anãzinha viu antes de desmaiar.Não demorou muito para a garota acordar, levantando de uma só vez, sem entender o que havia acontecido. Ao olhar em volta, percebeu que estava na enfermaria do castelo, e que à sua frente estava Graça, andando em círculos, esperando a pequena acordar.-Ah! - Graça notou que Vitória havia despertado -Você finalmente acordou.-Uh-huh, parece que sim. - Respondeu a ruiva-Nesse caso, vá descansar, amanhã continuaremos...-NÃO! QUANTAS HORAS EU PERDI? - Vitória saltou da cama -VAMOS CONTINUAR! - A vontade da ruiva surpreendeu sua irmã.Então, ambas continuaram o treinamento e, mesmo após Graça dispensá-la, Vitória o continuou sozinha, balançando sua espada sem parar. Para ela, técnicas de esgrima avançadas de nada adiantariam, ir direto ao ponto funcionava melhor. Então com o passar dos dias ela fortaleceu seus músculos, melhorou seus trabalhos com os pés e continuou a treinar com Graça. Durante esse tempo, Esperança continuou tentando caçar. Após mais um dia de fome, a princesa começou a espalhar armadilhas pelas florestas, seu conhecimento vindo de uma rica educação lhe ajudou nisso, porém, ela começou a se frustrar por achar suas armadilhas desarmadas, sem saber que era seu pai que estava sendo pego por elas.Logo Esperança armou uma última armadilha, "Se essa não funcionar eu choro...", pensou ela, de forma pessimista. Logo após armá-la, a mulher se escondeu detrás das moitas e esperou, e logo, ela viu uma presa: Um grande coelho, ou melhor, um enorme coelho, pesando quase uma tonelada e medindo mais de dois metros de altura, o roedor se aproximava da isca colocada pela moça, porém, uma brisa soprou e Joshua logo suspirou: "Você está contra o vento, querida...". Como esperado, o enorme animal sentiu o cheiro da princesa e imediatamente fugiu.-Espera! - Ela exclamou ao saltar para fora do mato, com sua lança em mãos ela correu atrás do animal-Huh, acho que ela não leva jeito pra isso...- Joshua disse isso para si mesmoPorém, embora a armadilha da princesa não tenha funcionado, isso não era tudo o que ela tinha. O rei arregalou os olhos ao ver a enorme fera ser puxada pelo tornozelo. Uma segunda armadilha de cordas estava em seu caminho, ambos -coelho e rei- não imaginaram que a mulher que perseguia sua presa como quem estava em desespero, na verdade a conduzia para uma segunda armadilha. "Ela... TEM TALENTO AFINAL", O rei, eufórico, comemorava consigo mesmo, enquanto Esperança admirava o que havia acabado de fazer, "Incrível... Eu sou incrível, não sou? Eu nem me lembrava dessa armadilha... Devem ser os meus instintos..." Pensou ela ao perfurar o animal com a lança, sorrindo, impressionada com a enorme coincidência que havia acabado de acontecer.-ESPERANÇA! - Do meio da mata, surgiu o rei, chamando pelo nome de sua filha-EH?! PAI?!- Ela estava surpresa em vê-lo-Eu vi tudo! - Colocando suas mãos sobre os sujos ombros da garota descabelada, o rei proclamou palavras que a aliviaram -Você já provou ser capaz. Vamos voltar para casa, continuaremos seu treinamento lá!-Sério?!- A garota estava feliz em poder voltar para casa, mas ainda assim... -Seu... Depois de tudo que eu passei... Você chega justamente quando eu consigo fazer algo!-Eh?-AONDE ESTAVA VOCÊ QUANDO EU TIVE QUE DORMIR COM FOME E FRIO?-O quê?-E quando eu tive que fugir daqueles monstros...-Eu estava vigiando você... Para garantir que você ficasse bem-ENTÃO E QUANDO EU CAI NA PORRA DE UM ABISMO?-Olha a boca! Eu estava ocupado.-Com o quê?-Cagando.-SEU... EU QUASE MORRI!-Que isso... Pelo menos deu tudo certo, no fim você conseguiu... E aí, não se sente bem?-... Sim... Só é uma pena que eu não vou poder comer esse cara aqui...-Ah. Deixe-o pra lá, esse coelho é venenoso de qualquer forma.No fim, toda a confiança que Esperança havia acumulado em sua última caçada se esvaiu com as palavras de seu pai. A princesa voltou para casa e, enfim, após vários dias no meio da floresta, ela finalmente pôde relaxar, tomar um banho quente e cuidar de sua pele e cabelos. A mulher que chegou parecendo um homem das cavernas, voltou a ser um exemplo de princesa. Mas cuidar de sua beleza não era o único objetivo da moça, por muito tempo, em meio às noites frias ou dias de sol escaldante, a mente da segunda princesa se via focada em uma pessoa: Vitória. A aspirante a aventureira sentiu falta da energia e da voz irritante de sua irmãzinha, assim como uma mãe sente saudades de seus filhos. Por sorte, não demorou muito para as duas se esbarrarem pelos corredores.-Ah! Irmã, você voltou? - Disse Vitória, alegre em reencontrar sua companheira-Sentiu minha falta? - Esperança riu, feliz em rever sua irmãzinha-Nem um pouco! Eu sabia que você voltaria logo, então estava aproveitando esse tempinho de paz-Huh, isso eu que digo. De qualquer forma... Você se machucou? O que é isso no seu rosto? - Vitória tinha alguns band-aids grudados em sua face.-Ah... Bom, a Graça tem pegado pesado comigo, mas nada que eu não possa resolver sozinha.-Não se esforce além da conta-Tudo que que eu faço é além da conta- Vitória riu e Esperança suspirou -Melhor se esforçar, ou eu vou te deixar para trás!-Isso não é uma competição. -Sim. É uma corrida, até o topo.-Uma corrida é uma competição, idiota!-Indiferente, mano.As princesas voltaram a caminhar, cada uma tinha sua própria tarefa e meta.-Eu serei a melhor, fique vendo! - Vitória exclamou em alto e bom som-É, eu sei. - Esperança sussurrou.O treinamento das duas continuou, Esperança, assim como Vitória, começou a aprender a como lutar como uma espada, porém, seu treinamento não se resumiu ao físico. Joshua aproveitou a facilidade que a jovem tinha para aprender e a fez estudar sobre tudo o que a vida de aventureiro tinha a oferecer. Desde de a criação de poções e itens úteis e os tipos de monstros que ela encontraria, até estratégias de batalha e como o mercado fora da cidade funciona. O rei preparou sua filha para um mundo que ela nunca antes viu.Os dias se passaram, e logo, o fim de semana chegou.-VITÓRIA SE APRESENTANDO PRO TREINAMENTO! MEU CONHECIMENTO SOBRE MAGIA É ZERO!!!- Vitória entrou no quarto de Glória de forma repentina, empurrando a porta com tudo, fazendo pose, animada para seus estudos, porém, ao olhar para o interior do cômodo e ver um quadro negro e uma pilha de livros, a expressão animada fugiu de seu rosto -Parece que vim para o quarto errado. Com sua licença...-Pode ir parando aí! - Glória já estava à espera da garota -Não se assuste, esses livros não são pra você- Com um sorriso no rosto, a princesa convidava sua irmãzinha para entrar-Ah, assim sim. - Vitória entrou-Esse são. - Glória puxou outra pilha de livros e Vitória deu meia volta, porém, a porta se fechou à sua frente, a trancando dentro do quarto -Então, vamos começar lendo esse aqui...- A princesa tinha um gentil sorriso em seu rosto-Eh... Pode ler pra mim? - A quarta princesa suspirou, ainda sorrindoGlória começou a ler para sua irmãzinha, que fingia entender. A maioria das coisas que lhe foram explicadas entraram por um ouvido e saíram por outro, mas houve algo que se fixou na cabeça de Vitória: O modo para conseguir magia pode variar de pessoa para pessoa. Ele pode vir através do estudo constante, assim como no caso de Glória, ou esse potencial para magia, pode nascer com a pessoa, na forma de um feitiço único. Também, há a forma mais fácil que seria fazendo um contrato com algum tipo de entidade, porém, essa possibilidade foi imediatamente descartada pela ruiva, servir algum tipo de ser, não lhe parecia vantajoso. E por último, mas não menos importante: Existe a pequena chance de que a pessoa seja abençoada pela natureza em si e, dessa forma, receba algum tipo de dom especial -as chamadas bençãos- que normalmente são habilidades passivas.Ao ouvir isso, Vitória se preocupou, ela já fez um teste de magia quando menor, porém, nenhum potencial para magia foi visto através de sua aura, sendo assim, ela só via duas escolhas: "Ou eu estudo bastante... Ou vendo minha alma pro tinhoso... Será que ele aceita cheque?", foi o que pensou.-Não se preocupe, Vivi- Glória a alertou -Em algumas pessoas o potencial desperta depois de uma certa idade, então você ainda tem chances-Oh!... Bom, isso é óbvio! É impossível eu ser apenas uma pessoa comum...-Exato. Bom. A Esperança tem talento pra magia, então seria ruim se você ficasse atrás dela...-Opa, é verdade. Que droga... Por acaso ela sabe lançar uma Fireball?!- Glória riu da curiosidade da ruiva-Não... Essa não é a afinidade dela.-Afinidade?Glória explicou para Vitória o que essa palavra significava, de forma que até um cachorro pudesse entender. A afinidade decide que tipo de magia você pode usar, primeiramente vem a classe da magia e em seguida o tipo.Existem três classes: Elemental; Corpórea; Magia de RegraAs magias Elementais, assim como o nome sugere, trabalham com os elementos; água, fogo, terra, etc....As Corpóreas, são utilizadas para manipular o corpo humano e suas extensões. Como magia de sangue, cura, incrementos de habilidades, ou domínio da mente. Normalmente, usuários desse tipo de magia se tornam suportes, pois tem desvantagem em combate direto, caso não encontrem formas úteis de usar seu poder.E por fim, as Magias de Regra são as que brincam com as regras do mundo em si, normalmente, uma pessoa poderia passar sua vida inteira sem nunca encontrar um usuário desse tipo de magia, pois ela é rara entre as pessoas comuns, contudo, muitas figuras poderosas tem domínio sobre ela. Gravidade, tempo, espaço e até mesmo a realidade podem ser alterada por aqueles que possuem esse poder.-QUE FODA! - Vitória exclamou -Esse último é demais, eu quero aprender!-Não é assim que funciona- Glória riu -Se você tiver afinidade com as magias de regra você poder aprendê-las sim, porém, eu acho difícil isso acontecer-Uh... Então se não for meu tipo, não tem como eu usar?... Acho que entendi. Mas agora, me diz, qual a afinidade da Esperança?...-Elemental. Ela tem afinidade com magia de luz!... O que é estranho... Por que entre nós ela é a única... -Como assim?-Bom, todas nós temos afinidade com a mesma classe, mas ela tem com o tipo luz. Nós outras temos com o raio.-Inclusive a Graça?...-Sim. Cuidado. Diferente de mim que sou uma maga, ela é uma feiticeira. Seu feitiço é algo especial, um poder que ela treinou e refinou ao seu máximoAo ouvir essas palavras, Vitória sorriu, um sorriso bobo, a garota por um momento se sentiu inspirada, ela já sabia que sua irmã Graça era incrível, mas agora, sua admiração por ela cresceu ainda mais. A ruiva queria se tornar forte o suficiente para poder ver esse tal feitiço com seus próprios olhos, essa era sua próxima meta.-Mais hein, e eu? Qual a minha afinidade? - A ruiva estava curiosa-Ah! - Glória já sabia que essa pergunta viria e por isso preparou algo -Vamos refazer o teste!A princesa mais velha, pegou um item -algo semelhante a uma lupa- e com ele olhou na direção de Vitória-Isso é um "olho mágico"! - Disse ela -É um item feito para imitar uma benção chamada de "espelho da lua" ambos têm a capacidade de enxergar a aura dos seres vivos e retirarem informações sobre o indivíduo-Tá, tanto faz. Só me diz logo. - Respondeu Vitória-Você sabe que eu ainda sou mais velha que você, certo? Hum... Pelo que eu to vendo... Você ainda não mostrou nenhum sinal de talento, então nada de feitiços por enquanto... Mas, eu posso ver a sua afinidade! Parece ser de classe elemental... Agora quanto ao tipo...-EH?! QUAL É? FOGO? EU QUERO SOLTAR UMA FIREBALL!-Terra. - -Ah.- Ambas as princesas tiveram a mesma reação, o total desanimo e descaso com a notícia.-Bom... Você pode transformar o chão em barro... Ou mudar o formato do solo... Se estudar um pouco, claro-Ah, sim... Isso poderia ser bem útil... Se eu trabalhasse em uma obra.-Não fique assim, houveram muitas pessoas famosas que tinham esse mesmo tipo... Tipo aquele herói famoso!-AH! O DO MARTELO?-Sim, isso!-A Esperança me contou as histórias quando eu era pequena! - "Quando? hoje cedo?", pensou Glória -Não dá pra acreditar que um cara sozinho partiu um continente-Dizem que ele usava magias de terra!-Sério?! Então quer dizer que magias de terra... Na verdade são boas?-É, se você for um herói com uma arma mágica, talvez. - Glória falhou em animar sua irmã -Bom, por hoje é só, tente treinar isso aqui. - Glória entregou um livro para Vitória, um pequeno caderno que ela mesmo ilustrou, ensinando o básico a ser feito para melhorar o controle de sua mana-Okay! Eu vou indo então!-Ei! Vitória. Você vai naquele evento no coliseu, certo? Já juntou o dinheiro da inscrição?-...?...-Tipo... Você sabe que tem uma taxa pra se inscrever, certo?-Bom... Eu vou pagar com a minha próxima mesada...- "ESSA NÃO, EU NÃO SABIA..." Pensou ela "EU GASTEI TUDO QUE EU TINHA EM BESTEIRA" -Mesada?... Você... Sabe que você não vai mais ganhar nada, né? Já que você deixou de ser uma princesa... Nosso pai te avisou, certo?A Expressão de Vitória deixava tudo claro, seus olhos perderam o brilho, a pequena não sabia de nada. "Eu vou ir procurar um emprego..." Foi o que suspirou antes de deixar o quarto, cabisbaixa. "Se eu encontrar meu pai por aqui, eu vou socar a cara dele...", essas palavras ecoaram em sua cabeça enquanto ela corria para fora do castelo.Sem perder tempo, Vitória se dirigiu às ruas de Jaci, uma cidade independente de qualquer outro reino. Prédios brancos enfeitam a área nobre da cidade, fontes de água cristalina divertem as crianças na grande praça e a feira pública enche os bolsos dos comerciantes e as sacolas dos clientes. A princesa correu para a cidade à procura de emprego e, no fim, acabou por encontrar uma área em construção, não demorou muito para ela se meter lá no meio para prestar seus serviços. No fim, o chefe de obra riu da garota, mas ainda assim a aceitou, a ruiva agora, tinha um trabalho temporário."TÔ PASSANDO!", exclamava ela ao correr com um saco de cimento sobre as costas, ou ao carregar tijolos em um carrinho-de-mão. Virando massa, carregando ferramentas, a princesa se transformou em um verdadeiro ajudante de obras nesse dia. Obviamente, houveram alguns erros por parte dela, ela não nunca havia trabalhado antes, porém, a mesma ainda mantinha sua força de vontade e, se acaso perguntasse qual era o motivo de tamanha determinação, a garota responderia com: "EU PRECISO DE DINHEIRO!".Jaci não tinha sua própria moeda, por ser apenas um pequeno território, o país usa o mesmo dinheiro que o reino vizinho: A "prata" -embora seja chamada de prata, essas moedas não são feitas do metal, e sim de uma liga de bronze e alumínio. O valor monetário de suas diferentes moedas varia entre; 1, 5, 10, 50 e 100 Pratas. E o símbolo utilizado para representá-la é o "PT". O Anúncio na obra tentou Vitória, pois ele anunciava que para cada ajudando seriam pagos 100Pt's, porém, no momento em que seu pagamento chegou, a princesa imediatamente reclamou com o chefe da obra.-EI! - Ela exclamou -O que é isso? Aqui só tem 10 Pratas! O anuncio disse que eram 100 por cabeça.-E? - Respondeu o homem, sentado em seu banquinho, debaixo de uma tenda protegida do sol-Eu quero meu dinheiro!-O que foi descontado foi o valor dos tijolos que você quebrou e do café que bebeu-QUE TIJOLO CARO É ESSE? E COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE COBRAR A MERDA DE UM CAFÉ FRACO DAQUELES? EU PRECISO DESSE DINHEIRO!-E quem disse que isso é problema meu? - Ele riu com os outros pedreirosUma artéria saltou na testa da ruiva, a mesma estava pronta para esmurrar aquele homem ali mesmo, porém, ao olhar em volta, percebeu que vários olhares curiosos a rondavam, socar aquele homem traria desonra para sua família. Ou pelo menos, era isso o que pensou, até que, a garota se lembrou do fato de que ela não mais era uma princesa. Então, sem hesitar, a ex-monarca cerrou seus punhos e enfiou a mão na cara do homem, o derrubando no chão. No instante seguinte, os outros trabalhadores vieram segurar a garota e a retirar da área da obra. Vitória gritou e xingou o homem, mas logo se calou ao ouvir o som das armaduras pesadas vestidas pelos guardas. A ruiva foi rápida ao se enfiar no meio da multidão, porém ainda houve alguém que a achou naquele meio.-Ei, garota. - Dizia um rapaz de boina, que segurou o braço da princesa enquanto ela fugia-Quem é? - Vitória puxou seu braço, se afastando daquele garoto-Eu vi aquele soco... Você quer ganhar uns trocados? - A ruiva abriu um sorriso ao ouvir essas palavras-Me conte mais.Vitória precisaria de 80Pt's para pagar sua inscrição e, aquele rapaz, aparentava ter o trabalho certo para ela. Os dois caminharam para fora do bairro nobre e logo adentraram as favelas de Jaci; uma região formada por estreitos becos escuros e úmidos, com grandes casas de tijolos.

O garoto de cabelo negros -que constantemente atentava por ocultar seu rosto usando sua boina- tinha um estranho sorriso ganancioso em sua face, Vitória sentiu que talvez não devesse confiar nele, porém, ela não quis acreditar na ideia de que um moleque com metade de sua idade a pudesse enganar.-É aqui. - Dizia o garoto, abrindo a porta de um velho galpão que parecia a muito tempo abandonado -Bem-vinda, ao nosso "evento secreto"Ao adentrar o local, a primeira coisa que veio até Vitória foi o forte cheiro de suor, o som do atrito dos calçados contra o ringue e o som das luvas entrando em contato com o corpo dos adversários. Aquele lugar era uma casa de apostas, aonde o evento principal eram as lutas ilegais.-Essa não...- Comentou Vitória -O meu sangue já tá fervendo! - Com um sorriso no rosto, a garota cerrou seus punhos com força-Huh, sabia que você tinha o espírito. Aliás, meu nome aqui nesse beco é Ghost, e você, como se chama? - Vitória achou estranho o rapaz não a conhecer, mas no fim, ela entendeu que a região mais pobre de Jaci não se importava tanto com o rei-Pode me chamar de Vivi! Agora, anota meu nome aí e me manda pro ringue!-Quanta empolgação...- Ghost estendeu a mão para a garota, e ela o cumprimentou, selando assim a parceria deles -É o seguinte, o dinheiro que você ganha é baseado no que eles apostarem, entende? Cause uma boa impressão... -Deixa comigo, eu esbanjo carisma!O rapaz entregou para Vitória, luvas de boxe comuns, a jovem trocou suas roupas e subiu no ringue; agora vestindo nada mais que uma bermuda, um sutiã esportivo, as luvas e um tênis que encontrou jogado por ali, a jovem saltitava nas pontas dos pés e treinava seu jab com um sorriso em seu rosto.-Lembre-se- Dizia Ghost -As luvas são de boxe, mas isso é uma luta ilegal! Espere trapaças vindas do seu adversário-Sem problemas. Vou derrubá-lo antes dele poder fazer algo. - Vitória esbanjava confiança-Você pelo menos sabe contra quem vai lutar? - O rapaz começou a ficar preocupado-Não importa, eu vou vencer!-De onde vem toda essa certeza? Você sempre é determinada assim?-Eu preciso de dinheiro! Por isso eu não vou perder!-Ah, okay... Bom, coloque isso na boca. Não quero você mordendo a língua- Ele entregou um protetor velho e mastigado para a garota, que o enfiou na boca sem questionarA ruiva havia acabado de aquecer no momento em que seu oponente subiu no ringue e, para sua surpresa, aquela careca e aquele nariz quebrado lhe eram familiares, o homem que lutaria contra a garota era o próprio chefe da obra, seu antigo patrão veio atrás de vingança.-Pestinha...- O homem estava irritado -Você vai pagar por reclamar do meu café e por quebrar o meu nariz!-Seu café era mesmo ruim. E seu nariz não é problema meu! Saia daqui se não quiser levar outro soco daqueles! - Ela o respondeu com furor, rindo enquanto o faziaOs lutadores se encaravam, Vitória mais parecia uma criança próximo ao homem de 1,90m, porém, ela não se intimidou pelo tamanho dele ou de seus músculos. Com sua guarda levantada, a ruiva avançou assim que ouviu o gongo, avançando direto até seu oponente e, ao se aproximar o suficiente, levou sua mão direita para trás, sem abrir sua guarda, aprontando um poderoso soco, mas, embora estivesse pronta para atacar, ela não viu resistência por parte do seu antigo patrão, o homem abaixou suas mãos e fechou seus olhos, com um sorriso presunçoso em sua face. Vitória atacou e o homem se esquivou, a garota continuou com uma torrente de ataques combinados, vários socos seguidos que por mais rápidos que fossem, ainda assim não encontravam seu alvo. O Chefe de obra gingava, ria e se esquivava da garota, caminhando pelo ringue como quem passeia em um parque. A ruiva logo perdeu a paciência, colocou seu pé esquerdo a frente, inclinou seu corpo e aprontou um upper de direita que finalizaria o seu oponente, contudo, no momento em que seu punho se encaminhava ao queixo dele, o velho lutador se esquivou e em uma finta, atacou o abdômen exposto da garota.A dor e o impacto fizeram a princesa recuar, agora, a sua frente, o homem fazia inúmeras fintas, a deixando confusa. "De onde o golpe vai vir?" ela se perguntou, e logo se aprontou para recebê-lo ao ver o homem erguer um de seus punhos, "PELA DIREITA!" a ruiva deduziu, porém o falso soco deu espaço a outra finta e, o verdadeiro golpe veio pela esquerda, acertando em cheio o rosto da menina, que sem equilíbrio, veio à lona pela primeira vez.A contagem começou. Ao ouvi-la, Vitória logo atentou por se levantar, mesmo que ainda meio tonta e espantada. O homem era surpreendentemente forte, porém, "Ele não é tão forte como ela!", a garota sabia, sua irmã Graça era muito mais assustadora de se enfrentar, a força dela ia além da desse homem, "De onde será que vem, a força dela? O que ela tem que ele e eu não temos?", ela se perguntava enquanto segurava nas cordas do ringue improvisado, erguendo-se novamente. Não demorou para que percebesse, aquele homem sorridente também estava irritado e, isso ia contra o que a ruiva havia aprendido: Seja para magia ou combate com espadas, a raiva não pode ser seu combustível. Isso era algo que a anãzinha havia entendido mesmo sem que ninguém a dissesse."Paciência, Vitória", ela disse pra si mesma, ao novamente erguer sua guarda, porém, dessa vez, ela não avançou, a garota parou e esperou, observando os movimentos do homem, que se aproximava. Com seu corpo soltinho, e um gingado malandro, ele foi chegando perto, até que, sem aviso prévio lançou um direto contra a garota. A princesa desviou ao se inclinar na direção contrária ao soco, porém, ao tentar encaixar o seu próprio, seus punhos foram parados pela defesa do chefe, que agora tentou aplicar um gancho, porém sua adversária abaixou-se a tempo e se afastou a uma distância segura.A troca de golpes continuou, aos poucos o chefe de obra se frustrava ao ver que a garota não o deixava mais aberturas, ela estava focada, em sua face não mais havia aquela expressão de furor, Vitória estava dando tudo de si para se manter no nível do homem, não havia espaço para raiva em seus pensamentos. Seus olhos rapidamente observavam os movimentos de seu adversário e seus pés a mantinham em movimento. Os segundos pareciam durar horas, os dois lutadores derramavam suor e se cansavam a cada golpe, aos poucos, um ou outro soco era encaixado, A princesa já estava fraquejando, porém, seu oponente estava ofegante, desgastado pela duração do combate, não haviam pausas ou rounds, a luta acabaria quando algum deles não se levantar mais.O combate tendia para o lado do velho adulto, assim como as apostas, porém, ele acabou ainda mais rápido do que o esperado, pois a pequena lutadora foi distraída pelo som das armaduras dos soldados. Vitória olhou para fora do ringue, lá ela viu os soldados do reino e, dentre eles, Graça também estava presente, a pequena arregalou os olhos, surpresa e, foi nesse momento, que um último direto foi aplicado contra sua face. Seu corpo pesou para trás, um de seus pés deixou o chão, a garota já estava cansada e sua queda era eminente, contudo, a mesma se recusava a cair assim na frente de sua irmã.Seus pés se firmaram no chão, ela flexionou suas pernas e puxou ambos braços para trás, seu olhar se cruzou com o de seu oponente, que ergueu seu punho acima de sua própria cabeça, para jogar a garota contra o chão, mas Vitória o recebeu de rosto limpo, cabeceando contra o soco, recebendo todo o dano do ataque antes que ele alcançasse sua velocidade máxima. A princesa, gritou com todo seu espírito, estufou seu peito e soco o homem com ambas as mãos, atingindo seu abdômen, o fazendo cuspir seu protetor de boca, abrindo sua guarda para o que seria o último ataque da anãzinha, uma incrível combinação de socos, vários ganchos um seguido do outro contra as costelas, um upper no queixo e por fim, um salto seguido de um direto contra a face do velho. Ambos lutadores vieram ao chão, a plateia gritou seus nomes, eufórica com a intensa batalha.Mas agora, sem forças, a princesa, penava para novamente se erguer, seu oponente ainda estava consciente, a luta não havia acabado ainda.-LEVANTA, VIVI! - Ghost chamou por sua lutadora. "Falar é fácil" foi o que ela pensou nesse momento. De fato, permanecer no chão seria mais fácil, porém, uma segunda voz chegou até ela-LEVANTE AGORA MESMO, VITÓRIA! NÃO ME ENVERGONHE DESSA FORMA! - Graça também chamou por sua irmã.Em um surto de adrenalina, a ruiva se ergueu junto com seu adversário.-Que saco, eu não posso nem descansar um pouco- Riu a pequena. Mesmo sem forças, ela ainda mantinha um sorriso em seu rosto e o seu senso de humor duvidoso-Você sabe que eu não gosto de corpo mole! - Graça mantinha seu olhar sério, mas ainda incentivava sua irmã, embora a ruiva não fizesse ideia do porquêOs dois lutadores avançaram, ambos usando suas próprias fintas, balançando-se como um pêndulo e se aproximando, até o momento em que trocaram o ultimo golpe; Vitória foi mais rápida, acertando as costelas do homem com um golpe de direita, mas recebendo um direto de esquerda em troca. O punho do chefe empurrou o rosto da garota, a forçando contra a lona, um sorriso se abriu no rosto dele, pois o mesmo sabia que seu golpe havia sido efetivo, ele com certeza a derrubaria, mas foi então que seu olhar novamente se cruzou com o de sua oponente. As pupilas de vitória estavam estreitas como as de um monstro, seus olhos afiados como os de uma fera, ela o encarava com a sede de sangue estampada neles. O lutador se assustou e recuou ao ver isso, dando um passo para trás, confuso, sem entender o que via, seu foco se fora e só retornou no momento em que viu ambas as mãos da garota sendo estendidas em sua direção, a princesa segurou a cabeça do pedreiro, se apoiou pisando sobre as coxas flexionadas dele e novamente usou sua testa como arma, o cabeceando com toda sua força, afundando os dentes dele com o seu crânio.Sangue respingou no ringue, o homem caiu na lona, e não se levantou mesmo durante a contagem. A princesa ainda estava de pé, ofegante, sem forças nem para erguer seus punhos, porém, ainda assim, vitoriosa.-Isso... É pra você... Aprender...- A garota mal conseguia falar -A pagar seus funcionários!!!No momento em que foi sinalizado o final da luta, os guardas imediatamente interromperam o evento e, os apostadores que nem sequer haviam percebido a presença deles, entraram em pânico, o dinheiro das apostas foi recolhido e os organizadores fugiram pelos fundos.-EI! VIVI! O CALDO ENTORNOU, VAMOS DÁ NO PÉ- Ghost gritou por sua lutadora-Mas... E o dinheiro?...- Ela desceu do ringue no meio da confusão-QUE SE FODA O DINHEIRO, EU NÃO QUERO IR PRA PRISÃO!-Ei! Que se foda, coisa nenhuma! Eu preciso de dinheiro!-ESQUECE ISSO! DE QUALQUER FORMA A GENTE NÃO IA GANHAR NADA!-Eh?! EI, EU GANHEI!-EU SEI!... Eu achei que você iria perder...- O rapaz desviou o olhar-Ah.-É... Eu apostei nele...-Filha da....Vitória estava pronta para socar a cara do seu novo amigo, quando uma mão chegou até seu ombro. Ao se virar, a pequena viu Graça, e ao novamente olhar na outra direção, percebeu que Ghost já havia sumido. -Você vem comigo. - Graça entoou em um tom irritado.-Eu estou encrencada?...- Vitória sorriu de forma fofa, tentando apelar para o lado gentil de sua irmã-Sim. Está. - Infelizmente, Glória era a única que sabia como tocar nesse lado oculto da terceira princesa-Tsk! Inferno.A conclusão disso tudo foi que, a pequena teve que pagar uma multa por atacar um trabalhador e em seguida outra por participar de lutas clandestinas, sem contar o castigo que Graça aplicou, o que deixou a anãzinha com um saldo negativo de 150Pt's. Continuando seu treino, a garota aos poucos avançava, ela ainda não entendia nada do que lia nos livros de magia, mas agora já tinha uma ideia básica sobre esse tipo de arte. E quanto ao treino de espada, Vitória começou a se sentir estagnada. Por mais que treinasse, sentia que havia chegado ao seu limite e que não mais avançaria. Havia algo faltando, algo crucial para que sua habilidade melhorasse, mas a ruiva não entendia o que era."Algo está errado..." Pensava ela, ao sacudir aquela espada de madeira, "Tem alguma coisa faltando... Um escudo, talvez?... Não, escudo é coisa de medroso".-O que foi? - Graça perguntou -Você está distraída.-Ah! Da pra perceber? - Vitória estava surpresa que sua irmã tenha notado -Eu estou com a sensação de que algo está faltando... Entende?-Ah, você também?... Bom, eu não consigo me dar bem com espadas curtas... Eu sei que elas são o básico. Mas minha verdadeira força está nas lanças! - "Verdadeira força?" A ruiva ficou assustada, "Ela fica mais forte que isso?"-Então... Eu posso testar outras armas?...-Sim. Você deve.Vitória saltou de empolgação, e sem enrolar, correu até o depósito de armas. Seus olhos brilharam ao ver o arsenal a sua disposição.-Uma espada grande? - Ela perguntou a si mesma -Não, muito clichê!-Huh, engraçado. A Esperança pegou uma dessas...- Graça completou, intrigada com que arma a pequena escolheria-Acho que uma espada grande combina com uma moça grande... Eu sou baixinha, iriam rir de mim se eu carregasse uma espada do meu tamanho!-Relaxe. Mesmo sem nenhuma espada, você já é motivo de riso.-Ninguém vai rir quando eu os acertar... Com isso! - A guria puxou um grande martelo -Que tal?... QUE PESO!!!- Porém, ela nem sequer conseguiu o erguer-Agora sim você parece um anão.-DE ONDE SURGIU ESSE SENSO HUMOR???-Humpf. Esqueça essas armas exageradas... Que tal isso? - Graça, abriu um sorriso ao exibir sua arma favorita: Uma lança de cavalaria. Porém, Vitória achou aquele sorriso assustador, era óbvio que a garota não estava acostumada a demonstrar simpatia-Eeeeh, bom... Uma arma tão "nobre" não combina comigo...-Entendo. Faz sentido- A partir daí, Vitória testou todo tipo de arma, lanças cumpridas, adagas e espadas, porém, só teve uma arma a qual lhe chamou atenção-Isso! - Disse ela ao erguer aquela pequena lâmina-Uma faca?...-Sim... Mas olhe como ela é larga! Essa lâmina curva... Eu gostei!-Que bom... Mas é só isso? Não acho que ela tenha um par...-EU VOU PROCURAR! Novamente, a princesa se jogou no meio daquelas armas, examinando cada lâmina, até que acabou pro chegar no fim do cômodo, aonde aparentemente não havia nada. Decepcionada, a princesa abaixou a cabeça e se virou, e nesse momento, Vitória sentiu seu corpo pulsar, ressoar a algo, uma estranha sensação de conexão que ela nunca antes havia sentido, porém, essa conexão não aparentava ser algo bom. Como um medo intenso, ou o profundo pânico, algo em seu corpo a dizia para correr, fugir o mais rápido, mas a insana garota caminhou na direção da origem desse sentimento. Apalpando a parede, sentindo os tijolos com as mãos, a pequena logo achou o que procurava, um bloco folgado, uma gaveta secreta e uma arma escondida.-EBA! ESPÓLIOS ANTES DA HORA! - A mesma gritou, exaltada, saltitando nas pontas dos pés-Ei... O que é isso? - Graça estava assustada-Parece uma espada... Mas é muito pequena...-Combina com você.-DE NOVO?!-Desculpa.A garota curiosa não demorou a desembainhar a espada e o que viu, foi uma lâmina fosca e acinzentada, como brasas de uma fogueira recém extinguida. Vitória olhou para a espada e sentiu que a mesma a olhava de volta. O perigo que aquela arma emanava era avassalador, e ambas princesas sentiam isso.-Eu... Eu vou chamar nosso pai! - Exclamou Graça, se virando em direção à porta, seus passos foram rápidos, porém, ela nem sequer saiu do cômodo, pois congelou de medo ao ouvir Vitória rir-EU GOSTEI! - A garota sorria de forma assustadora. Sua irmã sentiu arrepios pela sua espinha ao olhar sobre seu ombro, e encarrar a lâmina, que embora não refletisse nenhuma luz, ainda assim refletia o vermelho dos olhos da pequena-O que... Me espere aqui! - Graça recobrou sua postura e correu até os aposentos de seu pai, passando por Esperança no caminho, que acenou para ela e estranhou ao não receber resposta."Estranho... Pra quê a pressa?" Era o que pensava a segunda princesa, enquanto caminhava pelos corredores, suada e ofegante, ele retornava para seus aposentos, quando por coincidência, acabou por passar pela entrada do arsenal, aonde escutou uma voz familiar. Ao olhar para dentro do cômodo, a mulher viu sua irmãzinha posando com suas novas armas. -Ora, ora. O que temos aqui? - Perguntou a irmã mais velha-AAH! - A ruiva se assustou -Ah... É você...-Qual foi da cara de decepção. Está de mal comigo ou algo assim?-Pelo contrário! Queria te mostrar algo! Olha isso- Vitória mostrou para sua irmã as armas que havia escolhido -maneiro, né?-Uma faca... E uma espadinha...?-Sim! Se eu quiser alcançar minha ambição, preciso de armas fortes! Essas são só o começo.As palavras de Vitória deixaram Esperança pensativa, pois a mesma não tinha o que chamar de ambição, não havia objetivo nem orgulho em sua luta, seu único motivo para empunhar uma arma era para ajudar sua irmã. Enquanto pensava em que tipo de arma deveria escolher, a mente da princesa novamente foi levada para aquela espada negra. "... Uma arma que me ajude a proteger o que é importante para mim...?", "Uma arma forte...?". Não importa o que pensasse, a misteriosa lâmina sobre o túmulo vazio lhe parecia sua única escolha.-Esperança! - Vitória a chamou -Pegue uma arma, vamos lá para fora!-Hã?-Eu quero testar essas belezinhas aqui!-Você não tem jeito mesmo...- Esperança apanhou uma espada qualquer e acompanhou a garotaLogo, Joshua e Graça foram até o arsenal, porém, Vitória não mais estava lá. Contudo, não demorou até os dois ouvirem os sons vindos do combate. Pai e filha foram até o pátio onde o treinamento dos soldados acontece, e lá eles testemunharam o avanço das futuras aventureiras. Esperança estava focada, segurando a espada longa à sua frente com ambas as mãos, ela esperava pelos ataques de sua irmãzinha, que vinham rápidos como o vento. Correndo baixo, segurando suas armas com uma empunhadura reversa, Vitória diminuía a distância sem medo. Usando ambas suas lâminas, ela aparava os golpes pesados da arma de sua irmã mais velha e em seguida atacava, com ataques duplo consecutivos, quase não deixando uma janela para seu adversário contra-atacar. -Graça...- O rei chamou por sua filha -Era isso que queria me mostrar? Elas parecem estar se divertindo, não vejo nada errad--NÃO É ISSO! - Graça exclamou -Olhe aquela espada! -Joshua prestou mais atenção nas armas das princesas e, foi então, que ele percebeu algo importante.-O QUÊ?! EI! VITÓRIA!A ruiva ouviu seu nome ser chamado e de imediato parou a batalha. O rei aparentava estar preocupado, ele se aproximava rapidamente, o que assustou a pequena, "Essa não!... Eu fiz algo errado?". O rei parou à frente da garota e lhe demandou:-Me dê essa espada. - A voz do homem estava séria-Hã? Nem a pau, eu--ME ENTREGUE LOGO ELA! - As princesas se assustaram, pela primeira vez em suas vidas elas viram seu pai gritar dessa forma-...- Vitória olhou nos olhos de seu pai, o homem estava sério, irritado, porém, a garota também se irritou -Se quiser venha pegar!Com um salto para trás, a garota tomou distância, já puxando sua arma e entrando em posição de combate. O rei nada perguntou, apenas estendeu a mão até Esperança, pedindo sua espada emprestada. Ela o entregou a lâmina, sem nem sequer pensar a respeito antes, por um instante, ela se esqueceu o porquê de seu pai ser um homem temido pelos outros reinos, mesmo sendo velho, Joshua é tremendamente forte.O rei mal havia dado o primeiro passo, mas Vitória já suava frio, seu coração estava disparado, seus instintos lhe indicavam um tremendo perigo, tanto que a garota teve que se concentrar para evitar que suas pernas tremessem. Joshua estava parado, como se esperasse por algo, e a pequena também se mantinha imóvel, o observando, ela de forma alguma queria tirar os olhos do homem.-Essa espada... Não é brinquedo...- Disse ele-EU SEI! Eu senti isso! - A ruiva não hesitou em mostrar determinação em suas palavras -Eu vou levar ela!-Sentiu?... Nesse caso, sabe que ela é perigosa. Me devolva.-Vai ter que vir pegar! - A garota estendeu a língua para fora, caçoando de seu pai-Muito bem...O rei esperou, ele sabia que o momento viria, e ele logo veio: O momento em que Vitória piscou pela primeira vez desde que a luta começou. Em uma fração de segundo, a garota ficou de olhos fechados, suas pálpebras ainda nem sequer tinham se aberto por completo após se fecharem, mas ela já havia percebido o que havia acontecido. A princesa arregalou os olhos ao perder seu alvo de vista, confusa, a lutadora olhou em todas as direções, quando, viu de perto a lâmina da espada vindo na direção de sua cabeça. Não era uma espada sem fio, muito pelo contrário, o gume da arma estava afiado, aquele deveria ser um golpe fatal, porém, o atacante se absteve, a lâmina parou a poucos centímetros do rosto da garota.-Viu? - O rei a provocou -Se sabe que não pode ganhar, me obedeça.-Não! - A princesa se manteve firme, embora por um momento ela tenha tido certeza de que iria morrer-Que teimosa, eu não sei a quem você puxou...Tomando distância novamente, os dois se aprontavam para recomeçarem sua disputa, porém Esperança já havia perdido a paciência.-JÁ CHEGA! - Ela exclamou, caminhando até Vitória -Escute, mocinha: primeiramente você tem de respeitar seu pai! - Foi o que disse ao puxar a orelha da garota-Pra que isso??!- respondeu ela-Silêncio! Não quero saber de brigas entre a família! Isso também vale para você, pai. - O rei acenou com a cabeça -Agora, conversem direito sobre esse assunto, explique por que você quer a espada e escute o porquê de não poder tê-la, entendeu?!- Com a testa franzida e o punho estendido, Esperança botou ordem no lugar"Assustador..." Graça ainda não havia se acostumado com as broncas de Esperança, mesmo após todos esses anos.Após a bronca que recebeu de Esperança, Vitória cedeu e decidiu ouvir o que seu pai tinha a dizer; primeiramente o rei se desculpou por ter gritado com ela e em seguida ele explicou sobre a espada de lâmina fosca. Seu nome era "Crimson Oak", uma arma feita com o propósito de exterminar uma certa criatura, mas que até o presente dia, não cumpriu seu dever. Forjada por um dos maiores ferreiros de todos os reinos, usando os restos deixados por tal criatura como material, é dito que sua lâmina é amaldiçoadaSedenta por sangue, a espada dominará qualquer um que tentar manuseá-la. O único ser capaz de empunhá-la é o próprio Joshua, embora o mesmo não tenha ideia do porquê esteja livre de tal mal. Havia outro motivo para que o preocupado pai não quisesse que sua filha empunhasse tal arma, porém, isso era algo que ele não a poderia revelar.-Não me importo! - A ruiva ainda não havia mudado de ideia -Agora eu só fiquei com mais vontade de levar ela! Sedentacriada por um dos melhores! Se essa não é a maior das armas eu não sei qual é! Ela é perfeita. Crimson Oak... Eu farei bom uso de você...- Vitória sorriu enquanto admirava a espada, seus olhos brilhavam-"Você não tem jeito..."- Os três falaram em coro-O treino logo vai acabar! Se eu quiser chegar ao topo, preciso de uma arma a altura. - Disse a ruiva, e por fim o rei acabou por concordar com ela-Sim. - Disse ele -Não é um caminho fácil, porém, não fique convencida. Você quer chegar aos céus, mas ainda nem sequer pisou no chão. Não vacile.-Pode deixar!A maré parecia estar a favor de Vitória, seu pai entendeu que não podia convencê-la, porém, ele ter aceito a vontade da pequena irritou Graça e preocupou Esperança. Contudo, elas resolveriam seus problemas depois. No próximo dia, Vitória continuaria seu treinamento, porém, Esperança tiraria um dia de folga, pois seu pai a havia convocado para outra atividade; eles haviam pedido para as empregadas trazerem chá e biscoitos, e então, ao se sentar sobre o tapete com sua filha, ele decidiu contar a ela algo importante.-Esperança... Você como irmã da Vitória, precisa saber de algo...- Dizia ele, em um tom melancólico, como se estivesse prestes a dar uma notícia terrível-O que foi? - A moça riu, meio desconcertada -Pra que todo esse climão, que exagero...-O que eu vou te contar deveria ser um segredo... Se você vai viajar ao lado dela, você tem que saber disso...Esperança atentou seus ouvidos e ouviu o que seu pai tinha a dizer, as palavras dele a chocaram, porém ela tentou ouvir até o final, eles passaram a tarde conversando e, mesmo horas após essa conversa, ela ainda estava perturbada pelo o que descobriu. Com a cabeça encostada em seu travesseiro a noite, a mulher se lembrava do que ouviu, sobre o quão terrível havia sido a noite em que aquela criatura desceu dos céus e, sobre o infortúnio que Vitória sofreu naquele dia.