"Eu não consigo entender onde estamos, Selth. Você sabe onde estamos?"
"Claro que não, Liora. O Selth é só um bebê," Selth ri. "Você deve achar engraçado porque a maninha só tem você para conversar, né? Hehe. Vamos lá, acho que encontrei o caminho para o reino. Mas que reino é esse?"
Chegando ao portão do reino, uma garotinha bem vestida, com pele branca e cabelos e olhos vermelhos, segura um bebê calmo, com olhos roxos e cabelo branco. Eles estão na fila para se identificar e entrar no reino. Ao chegar na sala de identificação, o soldado responsável pergunta:
"Vocês têm pais?"
Liora responde com um tom infantil e meigo: "Não, moço. Eu só tenho minha mestra, que é a mamãe do Selth aqui. Ela vai vir buscar a gente logo, logo. Por isso, a gente precisa esperar aqui no seu reino, tá?"
"Entendido. Aqui estão seus crachás de identificação," diz o homem, entregando-os.
Liora entra no reino segurando Selth, maravilhada ao ver tantas raças diferentes vivendo juntas em harmonia. Sem nenhum sinal de preconceito aparente, ela percebe que chegou ao reino de Lyrondia – um lugar rodeado por florestas encantadas e lar de criaturas místicas.
Cansada da viagem, Liora decide passar a noite em uma pousada local. Ao entrar, é recebida por uma linda jovem mulher cabelos pretos grandes, um sorriso lindo, e olhos vermelhos como sangue, aparentemente grávida, ela sorri calorosamente para eles.
"Oi, você gostaria de um quarto, querida?" pergunta a mulher gentilmente.
"Sim, por favor!" responde Liora com um sorriso. "Você acha que o bebê pode dormir comigo na cama ? Ou seria melhor um berço?"
A mulher olha para o bebê com ternura. "Talvez seja melhor um berço, para ele ficar mais confortável. E como é o seu nome?"
"Eu sou Liora," responde ela animadamente, "e esse aqui é o meu jovem mestre Selth. Ele não é meu irmãozinho, mas ele é muito especial."
A mulher sorri e se apresenta. "Prazer em conhecê-los, Liora. Eu sou Sara. Vamos levar o jovem mestre Selth para o quarto, onde ele pode dormir bem confortável."
Liora segue Sara até o quarto, onde ela coloca Selth no berço preparado. Enquanto Liora observa Sara acomodar o bebê, ela sente uma mistura de alívio e curiosidade, se perguntando se esse novo lugar poderia ser seu lar temporário até a chegada de Elowen.
Sara, com um sorriso suave, se vira para Liora. "Ele vai ficar bem aqui, querida. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar."
"Obrigada, Sara," responde Liora, enquanto vê Selth se acomodar no berço. A segurança do reino de Lyrondia e a bondade de Sara trazem um breve momento de paz para a pequena garota.
Sara olhava para o garotinho enquanto o colocava no berço, pensando: "Ele é tão perfeito, e a menina também é tão bonita. Eles parecem ter sido bem cuidados. Será que são nobres? Aliás, eu nem perguntei de onde eles vieram..."
Mais tarde, na hora do jantar, o esposo de Sara, Paul, chegou à pousada. Paul, cabelo curto e castanho, corpo forte era quase um sheipe dos sonhos ele é um aventureiro de rank B, uma profissão que lhe garante um bom salário. Ele e Sara estão especialmente felizes porque, recentemente, descobriram que ela está grávida, completando um mês de gestação.
Enquanto os dois se sentavam para jantar, Liora, se sentindo desconfortável com os outros adultos da pousada, perguntou timidamente: "Vocês se importam se eu jantar com vocês? Eu não gosto muito de ficar sozinha..."
Sara e Paul trocaram olhares gentis e sorriram para Liora. "Claro que pode, querida," respondeu Sara. "Sente-se aqui com a gente."
Liora se juntou a eles, e durante o jantar, eles conversaram sobre muitas coisas. Paul, curioso e ainda pensando nos pequenos, finalmente perguntou: "E de onde vocês vieram, Liara?"
Liora, com a inocência de uma criança, respondeu: "Nós viemos de Beryl."
Ao ouvir o nome "Beryl", Paul começou a suar frio. Ele sabia que Beryl havia sido destruída pelo reino de Elarion. A notícia de que ninguém iria buscá-los apertou seu coração, mas ele não sabia como contar isso à pequena Liora, que ainda tinha esperança de que sua mestra viesse ao seu encontro.
Tentando manter a calma, Paul e Sara continuaram a conversa sem mencionar Beryl. Após o jantar, eles foram para o quarto, onde discutiram em voz baixa como dariam essa terrível notícia a Liora, que ainda aguardava pela volta de alguém que nunca mais viria.
No quarto, Paul e Sara estavam inquietos, tentando encontrar as palavras certas para lidar com a situação. Enquanto pensavam, Paul começou a brincar com Selth, tentando aliviar a tensão.
Sara, observando a cena, sorriu e disse: "É bom você se acostumar, Paul. Logo, logo, você pode ter um menininha ou uma menininho como o Selth."
Paul, com um sorriso travesso, brincou: "O Selth é um garotão bonito, vai fazer sucesso com a mulherada no futuro!"
Sara, fingindo estar irritada, deu um leve cascudo em Paul, que ficou com uma cara de bobo, rindo da situação.
Mas, mudando o tom para algo mais sério, Paul disse: "Falando sério, Sara, não seria uma má ideia se ficássemos com os dois."
Sara suspirou, já sabendo o que viria. "De qualquer jeito, mesmo que eu não quisesse, você acabaria sugerindo isso, e eu não poderia fazer nada. Mas por que você ainda não sugeriu oficialmente?"
"Eu quero muito cuidar dessas crianças, Paul," Sara respondeu, com a voz embargada. "Se não formos nós, imagina o tipo de preconceito que eles sofreriam por terem vindo de Beryl. Mas ao mesmo tempo, tenho medo... Como vamos sustentar três crianças?"
Paul a olhou com carinho e disse com firmeza: "Nós daremos um jeito, Sara. Sempre damos."
Sara enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto e, com um sorriso determinado, disse: "Tudo bem, Paul. Nem que a gente passe fome, nós vamos cuidar dessas crianças."
Após tomarem a decisão, Paul e Sara perceberam que não podiam adiar mais a conversa. Eles decidiram acordar Liora no meio da noite para explicar o que realmente havia acontecido em Beryl.
Com os olhos sonolentos e um olhar confuso, Liora escutou enquanto Sara, com o jornal em mãos, começou a falar sobre a destruição do vilarejo. Quando Liora finalmente entendeu o que estava sendo dito, a reação foi devastadora.
"Por quê? Por que a mestra falou que viria? Esse jornal tá mentindo! E esse rei... ele não é bonzinho! Esse miserável matou a mestra!" Liora gritou, sua voz cheia de dor e incredulidade.
A tristeza tomou conta da garotinha, e ela começou a chorar descontroladamente, se lançando nos braços de Sara. Sara a segurou com firmeza, tentando acalmar a criança enquanto as lágrimas de Liora molhavam seu ombro.
Paul, vendo a cena, se sentiu impotente. Ele sabia que Sara era quem poderia melhor confortar Liora nesse momento, então saiu silenciosamente do quarto, deixando as duas sozinhas.
Sara, tentando acalmar Liora, começou a cantar uma suave canção de ninar, acariciando os cabelos da garotinha. Aos poucos, o choro de Liara foi se transformando em soluços, até que finalmente ela adormeceu nos braços de Sara.
Sara, com os olhos ainda úmidos, deitou-se ao lado de Liora, envolvendo-a em um abraço protetor. Ela sabia que a jornada à frente seria difícil, mas naquele momento, tudo o que importava era que a garotinha dormisse em paz, longe dos pesadelos que a realidade havia trazido.
Paul chegou em casa naquela noite exausto, mas o som do choro de Selth imediatamente o fez esquecer o cansaço. Sem nem tirar a armadura, ele correu para o quarto onde o bebê estava. Ao ver Paul, Selth parou de chorar e começou a balbuciar, fazendo com que Paul o pegasse nos braços e começasse a mimá-lo.
Sara, que estava à porta, observou a cena com um sorriso suave. Paul, ainda balançando Selth para acalmá-lo, percebeu a presença de sua esposa e perguntou: "E a Liora ? Ela ainda não saiu do quarto?"
Sara suspirou, o sorriso sumindo de seu rosto. "Não... Está sendo um momento difícil pra ela," respondeu, com a voz suave e preocupada.
Paul, com o olhar determinado, não hesitou. Ainda segurando Selth, ele se dirigiu ao quarto de Liora. Ao entrar, encontrou a garota encolhida em um canto, com os olhos inchados de tanto chorar.
"Liora, precisamos conversar," Paul começou, a voz firme, mas cheia de compaixão. Ele explicou a situação, repetindo as informações sobre Beryl e o destino trágico da mestra dela.
Liora o ouviu em silêncio, o rosto uma máscara de tristeza e raiva contida. Quando Paul terminou de falar, ela finalmente respondeu, com a voz amarga e cheia de dor: "Eu já sei de tudo isso, Paul." As palavras eram pesadas, como se a verdade estivesse esmagando seu pequeno coração.
Paul, sentindo a tensão no ar, abaixou-se até ficar na altura dela e, antes que a raiva de Liora tomasse conta, ele disse com sinceridade: "Eu sei que você passou por coisas muito difíceis recentemente, mas quero que saiba que eu e a Sara estamos aqui para cuidar de você e do Selth daqui em diante. Você não está sozinha."
Liora olhou para Paul, seus olhos ainda cheios de lágrimas, mas havia algo mais ali, algo que se assemelhava a uma faísca de esperança. Ela sabia que a dor não desapareceria tão facilmente, mas as palavras de Paul, carregadas de uma promessa de proteção e cuidado, começaram a aliviar o peso que sentia no peito. Mesmo que fosse apenas um pouco, era o suficiente para que ela se permitisse confiar neles.