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Chapter 101 - Capítulo 42 - O Nascimento do Inconcebível

- Melyadus: "Cerca de vinte e quatro anos atrás, Camelot florescia sob o reinado austero e visionário de Uther Pendragon. Sua liderança inabalável garantia a prosperidade do reino, e poucos ousavam contestar seu domínio. No entanto, mesmo um monarca tão resoluto não poderia ignorar o chamado do desconhecido. E foi assim que, num dia de glória, ele enviou quatro de seus mais bravos cavaleiros para além do oceano, em direção a uma terra misteriosa ao oeste de Solvaris.

O ar ali era diferente, denso, carregado com um miasma sufocante. O cheiro de podridão e enxofre impregnava o solo negro, e a própria luz do sol parecia hesitante ao tocar aquela terra profana. Lancelot sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha, como se um sussurro inaudível ressoasse apenas para ele, advertindo-o do perigo iminente. O vento sibilava entre as árvores retorcidas, carregando consigo um lamento antigo.

Foi então que ele apareceu.

Das profundezas sombrias, uma figura imponente emergiu, sua presença distorcendo a própria realidade ao seu redor. Satan, o senhor do Submundo, contemplava os intrusos com olhos chamejantes, um misto de curiosidade e desprezo ardendo em seu semblante. Por milênios, ele existira sem jamais provar o sabor de uma alma humana. Agora, porém, diante daquelas presas inesperadas, uma fome insaciável despertou dentro dele.

O primeiro cavaleiro tombou sem sequer ter tempo de erguer sua lâmina. O segundo gritou, sua voz sendo engolida pelo vácuo da própria morte. O terceiro tentou fugir, mas seus passos se dissolveram na escuridão. Apenas Lancelot permaneceu de pé, sua mente girando entre o medo e o dever. Ele viu seus irmãos de armas sendo consumidos, mas sua fé o impediu de ceder ao desespero.

Com um grito de guerra, investiu contra a criatura demoníaca. A lâmina sagrada de seu juramento encontrou a carne impura de Satan, dilacerando-a com um brilho prateado. A fera recuou, surpresa com a ousadia do mortal. Por um instante, o impossível havia sido feito. Lancelot, sujo de sangue e suor, voltou para Camelot como único sobrevivente, trazendo consigo um relato que mudaria o curso da história.

A fúria de Uther foi imediata. Seu orgulho ferido e sua lealdade para com seus homens exigiam retribuição. Dois mil cavaleiros sagrados marcharam para a entrada do Submundo, a vingança reluzindo em seus olhos. Mas Satan os esperava. E ele estava preparado.

O massacre foi rápido, brutal. O chão se tingiu de vermelho enquanto os gritos dos guerreiros ecoavam entre as labaredas da destruição. No ápice da batalha, o Rei Uther, em um ato de desespero, avançou sobre Satan, apenas para ser abatido pelo próprio golpe que Lancelot um dia lhe desferira. A moral do exército vacilou.

Foi então que os quatro pilares de Camelot se ergueram. Lancelot, Tristão, Bedivere e Agravaine, os mais poderosos cavaleiros do reino, enfrentaram Satan numa batalha que desafiou os próprios limites da existência. Cada golpe reverberava no ar como trovões divinos. O inferno e a terra se encontraram naquele duelo, e a própria balança do destino hesitou em pender para um lado.

E então, com um jogo de palavras e uma estratégia inesperada, Satan os ludibriou. Fingindo ter um exército oculto aguardando para atacar, forçou Uther a negociar. E assim, um tratado de paz foi selado, uma trégua construída sobre cadáveres e promessas vazias.

Mas a paz nunca seria eterna.

Oito anos depois, Satan voltou a Camelot. Não como um invasor, mas como um visitante indesejado. Nos jardins do castelo, entre os raios de sol e o perfume das flores, ele encontrou Viviane, a dama do lago, e o jovem Arthur Pendragon. O menino fugiu, o terror estampado em seus olhos, deixando para trás a sua mulher amada. Viviane, porém, não teve tal sorte.

A escuridão a levou. E quando retornou, já não era a mesma. Algo dentro dela havia mudado, corrompido, transformado. Sua essência, antes pura, agora carregava um fardo que nenhum ser deveria suportar. Dentro dela, duas vidas cresciam, duas entidades cujos destinos transcenderiam o tempo e as lendas.

Os herbalistas de Camelot examinaram as crianças. Seus traços eram diferentes, seus olhos brilhavam com um conhecimento antigo. O sangue que corria em suas veias era um paradoxo, um equilíbrio impossível entre o divino e o profano. Seu nascimento era um mistério, um prenúncio de mudanças inevitáveis."

Melyadus, que narrava essa história com solenidade, mal teve tempo de concluir suas palavras quando um alvoroço irrompeu na entrada do reino. O eco de passos firmes ressoou pelos grandes portões do reino.

Arthur havia chegado, e pretendia conversar com Melyadus novamente.

E ele não estava sozinho.

Ao seu lado, um homem amarrado permanecia em silêncio, sua presença emanando uma aura intensa e sombria. Os traços demoníacos eram inconfundíveis. O ar ficou pesado, e um silêncio inquietante pairou sobre a corte.

O destino de Camelot, e talvez do próprio mundo, jazia sobre o fio de uma lâmina. Segredos antigos erguiam-se das sombras, prontos para serem revelados.