Midoki permanecia sentado na pedra, observando os movimentos dos guardas que o impediram de entrar no castelo, com olhos que pareciam perfurar o tempo. A aspereza de sua expressão suavizava apenas pela leve curva de um sorriso cínico. O vento soprava gentilmente, agitando seus cabelos e trazendo consigo fragmentos do murmúrio da cidade além dos portões. O silêncio foi rompido apenas quando ele, quase sem querer, murmurou:
- Midoki: "Esses garotos da nobreza são bem metidos por aqui."
Uma figura alta e bem vestida que passava por ali parou e se virou. Seu semblante era sereno, mas os olhos carregavam uma chama de curiosidade.
- ???: "Você fala isso como se estivesse se referindo a mim?" - Disse o homem, com uma voz grave e educada. - "Peço desculpas se fui rude. Não o vi aí, sentado. O que o traz a este lugar?"
Midoki ergueu a cabeça, a sombra de seu capuz deixando transparecer seus olhos intensos. Ele deu um leve sorriso, um misto de sarcasmo e humildade.
- Midoki: "Estou tentando falar com o rei. Dizem que ele tem as respostas que procuro. E você, por acaso o conhece?"
O homem inclinou levemente a cabeça, um gesto sutil que sugeria tanto análise quanto diversão.
- ???: "Conheço, sim. Quer entrar no castelo?"
- Midoki: "Claro, mas os guardas parecem não querer que isso aconteça..." - Respondeu Midoki, cruzando os braços.
O homem olhou para os guardas por um momento antes de ordenar com um simples movimento da mão:
- ???: "Deixem-no passar."
Os guardas hesitaram inicialmente, mas logo obedeceram sem questionar. Midoki o seguiu pelo corredor de pedras do castelo, cujas paredes altas exalavam um mistério ancestral. No salão de visitas, a figura parou, virou-se e indicou uma cadeira ao lado de uma lareira monumental.
- ???: "Por favor, sente-se." - Disse ele. - "Antes de discutirmos qualquer coisa, creio que devo saber quem você é."
Midoki hesitou, mas então respondeu com firmeza, sua voz carregando uma honestidade inabalável:
- Midoki: "Meu nome é Midoki. Sou um viajante... vindo de muito longe, à procura de respostas."
O homem assentiu. Com um gesto elegante, ele tirou as luvas de couro e revelou um anel com o brasão real.
- Melyadus: "Eu sou Melyadus, o rei de Lyoness."
O choque tomou conta de Midoki. Ele se levantou bruscamente, descrente.
- Midoki: "Isso só pode ser uma brincadeira!" - Exclamou. - "Não tenho tempo para piadas. Preciso de respostas, e preciso agora."
Antes que o rei pudesse responder, uma servente entrou no salão, curvando-se respeitosamente.
- Servente: "Seja bem-vindo, Senhor Melyadus."
Midoki congelou. A confirmação era um golpe direto em sua incredulidade. Ele se recostou lentamente na cadeira, o semblante carregado de confusão.
- Midoki: "Então... você é o rei de verdade." - Murmurou.
- Melyadus: "E sobre o que gostaria de conversar?" - Perguntou Melyadus, cruzando as pernas e observando Midoki com uma calma calculada.
Midoki respirou fundo, reunindo coragem.
- Midoki: "Preciso saber o motivo de Arthur ter vindo até você. Por que ele quer declarar guerra aos demônios?"
Melyadus manteve o olhar firme, mas um sorriso enigmático surgiu em seus lábios.
- Melyadus: "Não vou responder a isso."
A resposta atingiu Midoki como uma lâmina. Ele baixou os olhos, sentindo o peso da frustração. Melyadus, no entanto, inclinou-se para frente, sua expressão suavizando-se apenas o suficiente para despertar curiosidade.
- Melyadus: "Mas se deseja respostas, há algo que pode fazer por mim." - Continuou ele. - "Traga-me o Necronomicon Obscura, o grimório do abismo."
Midoki levantou a cabeça, surpreso.
- Midoki (pensando): "O grimório do abismo?" - Repetiu em seus pensamentos. - "Esse item está desaparecido no meu tempo..."
- Midoki: "E você sabe onde ele está?" - Disse com um tom forte de curiosidade.
- Melyadus: "Sim." - Respondeu Melyadus, com uma leve sombra de ironia em sua voz. - "Atualmente, está nas mãos de Morgana Le Fay."
O nome reverberou como um trovão na mente de Midoki.
- Midoki: "Morgana?" - Perguntou, surpreso. - "Um artefato tão poderoso nas mãos dela?"
Melyadus deu de ombros.
- Melyadus: "Então, você já a conheceu? É algo extremamente perigoso, sem dúvida. Mas não se preocupe. Apenas demônios e espíritos podem ler a língua na qual está escrito. Por enquanto, está seguro."
*De volta aos tempos atuais:*
Nas profundezas do abismo, a criatura continuava a escalar a fenda, suas garras perfurando as paredes com uma força aterradora. A fenda parecia infinita, mas então, algo capturou sua atenção: uma energia espiritual enfraquecida, caindo rapidamente em sua direção. Seus olhos, brilhando como brasas no escuro, focaram em uma figura, Lilya.
Sem hesitar, a criatura acelerou sua escalada, saltando entre as paredes em um ritmo frenético. Quando Lilya passou por ela, a criatura deu um salto colossal, agarrando-a no ar e cravando suas garras na parede oposta. Ao olhar para ela, percebeu que suas pernas e um braço haviam sido desintegrados pela pressão do abismo.
Com um rugido baixo e gutural, a criatura canalizou sua energia para Lilya, restaurando temporariamente sua forma para que ela sobrevivesse. Seus olhos se encontraram por um breve momento. Lilya, mesmo enfraquecida, parecia compreender algo sobre a criatura, como se um laço invisível fosse formado.
No Castelo do Rei dos Demônios, Mammon entrou no salão principal, onde o Lúcifer o esperava junto de Azazel e Satan.
- Mammon: "Mestre..." - Saudou Mammon com uma reverência. - "Estou indo ao laboratório de Stolas."
Antes que ele saísse, Lúcifer perguntou, sua voz carregada de autoridade:
- Lúcifer: "Já recuperou o Necronomicon?"
A pergunta pegou Azazel de surpresa. Ele estreitou os olhos, claramente intrigado, mas permaneceu em silêncio. Mammon baixou a cabeça.
- Mammon: "Ainda não, mesmo depois de termos dizimado os Elfos." - Respondeu Mammon.
Ao passar por Satan, este sentiu algo estranho na energia espiritual de Mammon, algo que ressoava com a sua própria. Ele franziu o cenho, mas permaneceu calado.
No laboratório de Stolas, Mammon observou as cápsulas onde seus clones estavam armazenados.
- Mammon: "Essas... 'obras-primas', os Dez Decretos do Abismo..." - Murmurou Mammon. - "São clones meus, não são? Modificados com o DNA de Generais Infernais antigos?"
Stolas sorriu de forma calculada.
- Stolas: "Sim. E a ordem de Lúcifer é clara, você receberá as matérias de Asmodeus e Baphomet."
Mammon riu suavemente antes de dizer:
- Mammon: "Então, pelo menos mude os nomes dessas coisas. Não quero ser confundido com um monte de cópias."
Stolas apenas riu enquanto Mammon entrava na cápsula, pronto para o próximo passo de sua transformação. A escuridão no Submundo parecia mais densa do que nunca.