Depois de receber o contato do irmão de Isabelle, Lina rapidamente ligou para o número. Ela esperava não estar interrompendo ele durante uma fuga ou algo do tipo, e acabar revelando sua localização.
Sem sorte.
Lina ligou para o número duas vezes, mas ninguém atendeu. Contendo um suspiro, ela começou a olhar ao redor. Por mais que estivesse pensando em se casar com um estranho, e se ele acabasse sendo um assassino em série?
"Bem, não é como se fosse um casamento de verdade," Lina murmurou em voz baixa enquanto começava a enviar uma mensagem para seu motorista buscá-la.
Esse era o plano de Lina desde o início. Um casamento falso, como os de livros e filmes. Exceto que Lina não seria tola de se apaixonar de verdade.
Lina inicialmente escolheu Kaden porque não tinha mais ninguém para ligar. Ela não tinha muitos amigos para começar, muito menos amigos homens. Lina ainda se lembrava do futuro de Kaden, onde ela estava com um vestido de noiva e chorando diante de um altar vazio.
"Se eu realmente não me casar com ele, então esse futuro nunca acontecerá," Lina disse para si mesma, justo quando um carro preto parou na sua frente. O motorista rapidamente saiu, fez uma reverência profunda e abriu a porta para ela.
Alguns funcionários pararam para ver quem ela era. Era um acontecimento comum alguém importante aparecer no escritório. Mas não era comum que a pessoa no poder fosse uma mulher.
"Obrigada," Lina agradeceu, aproximando-se do carro.
De repente, sua visão ficou tonta e ela tropeçou.
"Jovem Senhorita," o motorista disse preocupado, se aproximando rapidamente dela.
"Estou bem," Lina respondeu.
Lina segurou a cabeça, percebendo que havia pulado o jantar de ontem e não havia comido nada durante todo o dia. Ela piscou rapidamente e forçou um sorriso.
"Você já almoçou?" Lina perguntou para ele, decidindo que seria bom tratá-lo com uma refeição.
"S-sim, eu acabei de comer," o motorista mentiu.
O motorista não ousava quebrar as regras de mestre e servo jantando com a Jovem Senhorita. Ele sabia que ela era bondosa demais para se importar com essas regras, mas ele não podia descartá-las. Se sua empregadora, Evelyn, descobrisse...
"Entendi," Lina murmurou. "Nesse caso, por favor, me leve ao café mais próximo."
Lina decidiu pegar um sanduíche e comer enquanto andava. Ela não tinha tempo a perder sentando e desfrutando de uma refeição sozinha.
"Imediatamente, Jovem Senhorita," o motorista respondeu.
O motorista ligou o carro e começou a levá-la ao café que havia visto. Ele notou como o céu estava escurecendo rapidamente, as tonalidades laranjas se transformando em um tom preto. Nesse momento, um telefone tocou.
Lina olhou para o seu telefone e viu que era um número desconhecido. Ela cancelou a chamada.
Não menos que um segundo depois, outro número apareceu na tela. Desta vez, ela reconheceu.
"Tio," Lina afirmou. "Por que você me ligou de um número diferente anteriormente?"
"Eu não fiz isso."
Lina piscou. Ah.
"Enfim, onde você está?" William perguntou, olhando para o tabuleiro de xadrez que havia sido deixado sem tocar por ele. Sua derrota infeliz ainda estava diante dele.
"Estou a caminho de um café," Lina afirmou, seu estômago roncando. Sua cabeça começava a doer de fome e ela sentia seu corpo um pouco mais fraco. Ela nem sequer bebeu água esta manhã.
Lina encostou a cabeça na janela e fechou os olhos.
"Para quê? Um café?" William perguntou.
"Bem—"
"Esquece o café, vou pedir para minha secretária fazer um para você. Venha ao escritório, acabei de receber a notícia de que Everett chegou a Ritan muito mais cedo do que esperávamos," William disse a ela.
Lina murmurou em resposta, ficando cada vez mais cansada a cada minuto. Ela nem mesmo percebeu o carro preto que estava dirigindo diretamente ao lado de sua janela.
"Esquece o café, eu quero uma salada," Lina disse.
"...Eu estou te conseguindo um sanduíche," William disse enquanto a colocava no modo viva-voz para mandar uma mensagem para sua secretária buscar um sanduíche.
"Uma salada está ótimo," Lina declarou secamente.
"Você deveria ser grata," William riu. "Pela minha bondade com você. Olha, até te dei a oportunidade de conversar com seu futuro marido antes do seu casamento daqui a algumas semanas, mesmo que você tenha saído de fininho hoje."
Lina estava cansada demais até para discutir sobre o casamento das próximas semanas. Ela tinha um plano próprio. Se revelasse agora, o que aconteceria com o elemento surpresa? Ela não queria dar tempo ao Tio para pensar em um plano para contra-atacar o dela.
"Nenhum Tio prepararia sua sobrinha para um casamento aleatório marcado para daqui a algumas semanas," Lina zombou. "Se você quer meu agradecimento, você pode cancelar o casamento e consegui-lo."
"Nenhum Tio colocaria sua sobrinha com um homem tão respeitável e discreto como Everett," William repreendeu.
"O Avô chama os avós do Everett de coelhos," Lina declarou.
"..." William pausou. Seu pai realmente fez isso? Agora, ele começava a duvidar de sua própria decisão, o que raramente acontecia. Coelhos são presas, não predadores.
William precisava de uma família que mantivesse Lina segura. Não um bando de coelhos esperando para serem comidos.
"O Avô nunca conheceu Everett," William disse a ela.
"Me diga, Tio," Lina disse cansada. "O que Everett ofereceu a você pela minha mão em casamento?"
"Uma boa parte do Escritório de Advocacia Leclare e uma colaboração," William refletiu. "Você está certa, como sempre."
"E o que ele me ofereceu?" Lina perguntou.
"O sobrenome Leclare e a liberdade da família Yang que você sempre quis. Não é bom?" William perguntou, virando-se da sua cadeira de escritório em direção à janela. Ele olhou para as ruas abaixo, onde tudo estava incrivelmente pequeno. Ele nem conseguia ver as pessoas daqui.
"Parece que você conseguiu a melhor parte me vendendo, não sendo minha filha, devo acrescentar, para um casamento político," Lina zombou.
"É o que Tios fazem por sobrinhas que mancham sua reputação e a de sua família," William refletiu.
"Então estou feliz que você não tenha filhos." Lina desligou o telefone.
Lina falava sério em cada palavra. Se William não hesitou em vendê-la, apesar de tê-la visto crescer até se tornar a mulher que era hoje, então Lina preferiria não saber como ele trataria sua própria filha.
'Os meninos serão meninos,' sua avó uma vez lhe disse.
"Mas as meninas serão mulheres," Lina repetiu para si mesma.
O motorista pensou que ouviu algo, então, olhou no espelho retrovisor. Ele viu que ela estava encostada na janela com os olhos fechados, então, decidiu que havia ouvido errado. Então, percebeu algo estranho. Havia três carros que estavam dirigindo na mesma rua que eles por um tempo.
Mas antes que ele pudesse confirmar suas suspeitas, eles chegaram à segunda sede da Empresa Yang.
"Jovem Senhorita, chegamos," o motorista declarou.
Lina acordou sobressaltada e olhou pela janela. De fato, eles tinham chegado. Ela estava exausta, mas ainda ofereceu um sorriso a ele.
"Obrigada," Lina disse, saindo do carro sozinha.
Mas, sem aviso prévio, homens de preto a agarraram na frente do motorista. Ela tentou alcançá-lo, mas já era tarde demais.
"Jovem Senhorita!" O motorista gritou, correndo em direção a ela que estava sendo arrastada para dentro de um carro. Um segundo depois, ele ouviu tiros.
BANG!
Os pneus do carro foram atingidos.
E outro tiro, que fez o motorista sacar sua própria arma, mas então, ele se viu sendo empurrado para dentro de seu próprio carro.
"Solte-me!" Lina rosnou, enfiando seu cotovelo no estômago do homem, fazendo-o dobrar. Mas então, ela tropeçou, sua visão ficando turva.
"Shh, eu te protejo," uma voz familiar disse, segurando-a no momento em que pontinhos começaram a aparecer diante de seus olhos.
Lina estava tão faminta, seus olhos rolaram para trás da cabeça, seus joelhos cedendo. A última coisa que viu foram olhos derretidos e um par de braços fortes a pegando.