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Chapter 151 - CL. FILTRO

Esmurrei a porta com uma frenética impaciência, ofegante após a corrida até o terceiro andar do Cercado.

— Leif! — gritei, a voz ecoando. — Abra essa porta e fale comigo!

Portas se abriram pelo corredor, e outros estudantes espiaram, intrigados. Uma cabeça loira e desgrenhada surgiu: era Leif.

— Vanitas? O que você está fazendo? Esta não é nem a minha porta.

Avancei, empurrei-o para dentro do quarto e fechei a porta com um estrondo.

— Leif, o Drazno me drogou. Sinto que algo não está certo na minha cabeça, mas não sei o que é.

Leif riu.

— Eu achava que, para um... — sua voz estancou, dando lugar a uma expressão incrédula enquanto via o que eu fazia. — O que você está fazendo? Não cuspa no meu piso!

— Estou com um gosto esquisito na boca — expliquei, gesticulando.

— Não me importa — ele respondeu, confuso e aborrecido. — Qual é o seu problema? Você nasceu em um celeiro?

Com um movimento rápido, acertei-lhe uma bofetada no rosto, fazendo-o cambalear contra a parede.

— Na verdade, nasci em uma carroça — declarei, com um ar sombrio. — Isso é um problema?

Leif, com a mão apoiada na parede e a outra na face avermelhada, parecia atônito.

— Em nome de Deus, o que há de errado com você?

— Não há nada de errado comigo, mas é melhor você cuidar do seu tom. Eu gosto de você, mas o simples fato de eu não ter pais ricos não faz de você nem um tiquinho melhor do que eu. — Franzi o cenho e cuspi de novo. — Ugh! Isso é horrível! Detesto noz-moscada. Sempre detestei, desde pequeno.

Uma súbita compreensão se espalhou pelo rosto de Leif:

— Esse gosto na sua boca — disse ele — parece ameixa com temperos?

Assenti.

— É nojento — afirmei.

— Pelas cinzas cinzentas de Deus! — exclamou Leif, a voz tingida de uma seriedade lúgubre. — Certo. Você está certo. Você foi drogado. Eu sei o que é. — Ele parou ao me ver virar para abrir a porta. — O que você está fazendo?

— Vou matar o Drazno — respondi, com a determinação estampada no rosto.

— Não é veneno. É... — Leif hesitou, então continuou com a voz calma e pausada: — Onde você arranjou essa faca?

— Eu a carrego amarrada na perna, embaixo das calças. Para emergências.

Leif respirou fundo, soltando o ar lentamente.

— Você pode me dar um minuto para explicar antes de sair para matar o Drazno?

Dei de ombros.

— Tudo bem.

— Importa-se de sentar enquanto conversamos? — ele sugeriu, apontando para uma cadeira.

Suspirei e me sentei, inquieto.

— Ótimo. Mas ande logo. Tenho exame de admissão daqui a pouco.

Leif balançou a cabeça calmamente, sentando-se na beirada da cama, de frente para mim.

— Muito bem. Sabe quando alguém bebe e tem a ideia de fazer uma idiotice? E ninguém consegue convencê-lo do contrário, mesmo que seja óbvio que é uma ideia estúpida?

Ri, lembrando-me de uma situação.

— Como quando você quis conversar com aquela harpista do lado de fora da Foles e vomitou no cavalo dela?

Ele assentiu.

— Exatamente assim. Há algo que um alquimista pode fazer que tem o mesmo efeito, só que é muito mais extremo.

Balancei a cabeça, confuso.

— Não me sinto minimamente bêbado. Minha mente está clara como um sino.

Leif meneou a cabeça.

— Não é como estar bêbado. É apenas essa parte da embriaguez. Não vai deixá-lo tonto nem cansado. Só torna mais fácil cometer idiotices.

Pensei na ideia por um momento.

— Acho que não é isso — afirmei. — Não tenho vontade de fazer nenhuma idiotice.

— Há uma maneira de descobrir — disse Leif. — Você consegue pensar em algo que lhe pareça uma má ideia neste momento?

Passei um instante pensando, batendo a lâmina da faca na ponta da bota.

— Seria má ideia... — minha voz morreu.

Pensei mais um pouco, enquanto Leif me observava com expectativa.

— ... pular do telhado?

Minha voz subiu no final, transformando a afirmação em uma pergunta.

Leif permaneceu em silêncio, mantendo o olhar fixo em mim.

— Estou começando a entender o problema — comentei lentamente. — Parece que não tenho nenhum filtro comportamental.

Leif sorriu aliviado e acenou.

— Exatamente isso. Todas as suas inibições foram eliminadas, e você não percebe que elas sumiram. O restante continua igual: você ainda está firme, articulado e racional.

— Você está sendo condescendente comigo — retruquei, apontando-lhe a faca. — Não faça isso.

Ele piscou os olhos, tentando conter o riso.

— Muito bem. Você consegue pensar em uma solução para o problema? — perguntou.

— Claro. Preciso de uma espécie de parâmetro comportamental. Você será minha bússola, já que suas inibições ainda estão intactas.

— Eu estava pensando na mesma coisa. Então, você vai confiar em mim?

Assenti.

— Menos em matéria de mulheres. Você é um idiota com elas.

Peguei um copo d'água numa mesa próxima, lavei a boca e cuspi tudo no chão.

Leif sorriu, contido.

— Muito bem. Primeiro, você não pode matar o Drazno.

Hesitei.

— Tem certeza?

— Tenho. Na verdade, qualquer coisa que você pensar em fazer com essa faca será uma má ideia. Você deve entregá-la a mim.

Dei de ombros, virei-a na palma da mão e a entreguei a ele pelo cabo improvisado de couro.

Leif pareceu surpreso, mas tomou a faca.

— Ardonai misericordioso — disse, suspirando profundamente e pousando a faca na cama. — Obrigado.

— Isso foi um caso extremo? — perguntei, cuspindo um pouco d'água. — É provável que devamos ter uma espécie de sistema de classificação. Como uma escala de 10 pontos.

— Cuspir água no meu chão é número 1 — disse ele.

— Ah. Desculpe.

Recoloquei o copo na escrivaninha.

— Tudo bem — ele respondeu, descontraído.

— Um é baixo ou alto? — indaguei.

— Baixo. Matar o Drazno é 10. — Leif hesitou. — Talvez 8. Ou 7.

— É mesmo? Tanto assim? Então, tudo bem — concordei. Inclinei-me para frente na cadeira. — Você precisa me dar dicas para o exame de admissão. Tenho que voltar para a fila daqui a pouco.

Leif balançou a cabeça com firmeza.

— Não. Essa é realmente uma péssima ideia. Oito.

— É mesmo?

— É mesmo. É uma situação social delicada. Uma porção de coisas pode dar errado.

— Mas, se...

Leif suspirou, afastando o cabelo claro dos olhos.

— Sou ou não sou seu parâmetro? Isso vai ficar chato se eu tiver que repetir tudo três vezes.

Pensei um momento sobre isso.

— Tem razão, sobretudo se estou prestes a fazer algo potencialmente perigoso.

Corri os olhos ao redor e perguntei:

— Quanto tempo isso vai durar?

— Não mais que oito horas — disse Leif, abrindo a boca para continuar, mas fechou-a.

— O que é? — indaguei.

Leif suspirou.

— Pode ser que haja alguns efeitos colaterais. A droga é solúvel em lipídios, então pode demorar um pouco para sair do seu corpo. Você pode sentir pequenas recaídas ocasionais, provocadas pela tensão, emoção intensa, exercícios... — Ele me lançou um olhar apologético. — Elas serão como ecos disso.

— Com isso, me preocuparei depois — falei, estendendo a mão. — Me dê sua ficha do exame de admissão. Você pode fazê-lo agora. Eu fico com seu horário.

Leif abriu as mãos, desamparado.

— Eu já fiz o exame — explicou.

— Pelas tetas e dentes de Ardonai! — praguejei. — Ótimo. Vá chamar a Faela.

Leif agitou as mãos, em um gesto enfático.

— Não. Não, não e não. Dez.

Ri.

— Isso não pode ser. Ela tem um horário tardio, no dia-da-pera.

— Acha que ela vai trocar com você?

— Ela já se ofereceu.

Leif levantou-se.

— Vou procurá-la.

— Eu fico aqui.

Ele fez um aceno entusiástico e percorreu o quarto com o olhar, nervoso.

— Provavelmente, é mais seguro você não fazer nada enquanto eu não estiver aqui — disse, abrindo a porta. — Fique sentadinho em cima das mãos até eu voltar.