Adeline queria saber o que ele queria dizer. Infelizmente, a música parou. Foi então que ela notou que ninguém mais estava dançando. Ela estava tão envolvida em seu mundo, que havia esquecido de todos os outros. Como se estivesse perdida em transe, ele a havia enfeitiçado, corpo e alma.
"Desta vez, sou eu quem vai desaparecer à meia-noite," ele sussurrou, seus lábios roçando em sua orelha, fazendo cócegas na carne sensível.
A sua provocação soou como sinos em seus ouvidos.
As pálidas bochechas de Adeline se avermelharam de um vermelho brilhante que fazia os tomates parecerem pálidos. "Eu não queria ir embora!" ela exclamou em uma voz tímida e frenética.
A ideia de ela fugir no meio da noite, vestida às pressas, a deixou mortificada. Sua dignidade e etiqueta foram esquecidas. Era como se ela fosse um homem com medo de ser pego traindo pela esposa e, portanto, saiu correndo da cama da amante às pressas.
Ele certamente a encarava como uma amante desprezada. Especialmente com seus olhos estreitos e sorriso intimidador.
"Eu adoraria ficar por aqui e discutir mais sobre a cama fria que eu acordei, mas tenho lugares para estar, pessoas para encontrar e humanos para matar," ele disse.
Adeline riu nervosamente. O som foi interrompido pelo olhar penetrante dele. Seu sorriso permaneceu, mas seus olhos estavam frios. Seu sangue gelou.
Ele estava falando sério.
Sem mais uma palavra, ele deu as costas para ela e se afastou. Então, algo testou sua contenção.
Uma mãozinha puxou sua manga. Adeline estava como uma criança emburrada.
"Como as coisas mudam," ele falou, divertido. Ela sempre estava cheia de surpresas deliciosas, não estava?
Um minuto, ela tentava fugir dele, no próximo, ela se agarrava a ele. Ela beliscou a borda de sua manga com o polegar e o indicador.
"Se você queria tanto que eu ficasse, querida Adeline, deveria ter implorado mais naquela noite," ele a provocou
"Que rude," ela retrucou.
Quando ele girou abruptamente, expondo seus olhos vermelhos para ela ver, ela não recuou de medo. Embora, seu sorriso anormalmente calmo certamente a assustou. Ele era o tipo de homem que riria na cara da própria Morte.
Adeline amaldiçoou sua mão maldita. Ela a soltou, como se o toque dele a tivesse queimado. Ele estava assustadoramente imóvel. Cheio de mistérios e pecados, ela deveria ter fugido para bem longe dele. No segundo em que ele a soltou, ela deveria ter corrido para as colinas.
"Seu nome," ela finalmente disse. "Você nunca me disse naquela noite, e eu—"
Seu sorriso se alargou, seus olhos mais vermelhos do que sangue recém derramado. "Eu disse a você meu nome, querida. Se não tivesse dito, como eu saberia o seu?"
Seu tom era um doce embalo, seu rosto amigável por enquanto. Apesar de seu olhar gélido sugerir o contrário.
Seus dedos tremiam. Ela havia cometido um erro. Um grave erro. Não só uma humana tinha saído de seu lugar, como ela também havia agarrado um Vampiro. Agora, ela havia revelado outra falha.
Foi então que o mundo voltou ao foco. Os sussurros, os olhares inquisitivos, as pessoas assustadas. A conversa ao fundo voltou a zumbir em seus ouvidos. A realidade se fez conhecida novamente. A hierarquia estava considerando-a uma garota louca, que havia selado seu destino ao agarrar um Vampiro.
"Eu não me lembro muito bem daquela noite," Adeline confessou. "Me desculpe—"
"Por que você gagueja?"
Adeline se enrijeceu com suas palavras. Que tipo de pergunta horrenda era aquela? Quando ela olhou para cima, foi recebida com pura curiosidade. Sem julgamento. Sem olhar zombador. Ele estava solene.
"Você não costumava gaguejar quando criança," ele acrescentou.
"É só um hábito ruim, só isso—"
"Entendi."
Adeline franziu a testa. Por que ele parecia decepcionado? O ar ficou mais frio. Ou talvez fosse por causa de sua presença intimidadora. Sua sombra pairava sobre sua pequena figura. Ele poderia engoli-la viva se quisesse. Ainda assim, havia uma aura real nele.
Ele era deslumbrantemente lindo. Ela não conseguia desviar o olhar dele, mesmo quando ele estava frio com ela. Seus cabelos cor de corvo emolduravam sua testa, alguns fios pairando sobre seu olhar refinado.
Ele se comportava como se o mundo fosse seu parque de diversões. Era uma coisa ultrajante, considerando que esse privilégio pertencia ao Rei e a mais ninguém.
"Até a próxima vez, Adeline", ele sussurrou seu nome, como um homem ajoelhado perante a igreja. Um nome sagrado. Ou o início de uma carta dedicada a uma amada.
Quando ela piscou confusa, ele sorriu para ela, revelando dentes brancos como pérolas. Por um breve segundo, suas presas foram reveladas.
Então, como em um sonho febril, ele se foi.
E, de repente, Adeline percebeu um fato assustador — ele a conhecia desde criança.
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"Eu não sabia que você fazia trabalho de caridade, Sua Majestade," Weston zombou.
Weston inclinou a cabeça à vista do Rei. Em público, ele era um protetor obediente. Em privado, ele era um amigo leal. Um chato repreendedor.
"Todos esses anos de karma acumulado, tenho que começar em algum lugar," o homem de preto sorriu.
"Nenhuma quantidade de redenção vai lavar o pecado de suas mãos, Sua Majestade," Weston rosnou. Ele se comportou como uma esposa traída. Avançando, ele revelou as palmas das mãos.
Um broche de coroa repousava em sua mão. Correntes douradas pendiam do broche, a outra extremidade revelando um rubi cortado para parecer o sol. Na outra mão havia uma bolsa vermelha com bordados em fio de ouro.
"Por favor," Weston disse secamente em uma voz que estava longe de implorar.
"Ah sim," o Rei sorriu. "Parece que esqueci isso."
Weston fez o máximo para não encarar. Mas ele acabou carrancudo de qualquer maneira. Esquecido era um eufemismo.
Weston virou as costas por apenas um segundo e os acessórios foram descartados na cadeira. Na próxima coisa que ele sabia, o Rei estava já no salão de baile e, num piscar de olhos, ele se foi.
Ninguém o viu atravessar o enorme salão de dança em direção à varanda aberta. As pessoas só pegaram pedaços de seu rosto depois que ele trouxe uma humana esguia para o centro do salão.
"Quem era aquela, Sua Majestade?" Easton perguntou.
Sua voz estava cheia de admiração infantil, seus olhos se alargando. Talvez por isso as empregadas sempre lhe dessem doces e chocolates às escondidas. Ele tinha um charme juvenil que encantava até a chefe das empregadas.
"Ela nos viu, Sua Majestade," Easton tagarelou. "Deveria ter sido impossível. Eu não acho que ela seja uma mera humana."
O Rei arqueou uma sobrancelha. Era mesmo? Que interessante. Não é de admirar que ela continuasse evitando o olhar dele. Ele assumiu que ela estava tímida demais para encará-lo.
Afinal, ele era bastante belo, e as mulheres sempre coravam em sua presença. Ele estava familiarizado com esse tratamento.
Agora que pensava sobre isso, ela havia ficado vermelha diante dele várias vezes. Primeiro, foi o rubor em seu peito naquela noite, e agora, era quase tudo o que ele dizia. Sua pele era suave como creme, pálida como a primeira queda de neve, então ele não a culpava.
Adeline era uma caixa de mistérios, e ele pretendia desvendar cada um deles. Começando por aquele vestido verde-esmeralda dela.
"Sua Majestade," Easton lamentou ao perceber que estava sendo ignorado. Seus lábios formaram um beicinho melancólico, e ele olhou para o monarca com olhos de cachorrinho. "Não me negligencie assim..."
O Rei sentiu vontade de chutar um cachorro. Especificamente, este cão de cabelos castanhos e desgrenhados diante dele.
"Você e seu irmão são como o dia e a noite," ele comentou friamente. Ele examinou ambos os gêmeos. "Mas nenhum dos dois tem a beleza e a graça."
Weston abriu a boca para falar, mas foi interrompido,
"O que não é surpresa, considerando o fato de você estar na minha presença." O Rei colocou o broche em seu bolso no peito, apesar de não precisar. Todo mundo conhecia seu rosto. Apenas um imbecil não o conheceria.
"O que isso quer dizer?" Easton sussurrou para o irmão, com as sobrancelhas juntas.
"Significa que nosso Rei é desavergonhado e pensa que é o mais lindo da terra," Weston respondeu.
"Não sou eu?" o Rei refletiu.
Weston pressionou os lábios juntos. Ele não recebia o suficiente para lidar com isso. Justo então, o ótimo humor do Rei — um fenômeno raro — de repente se dispersou. O calor fugiu de seus olhos. Seu rosto cresceu frio.
"Quem diabos é aquele?" ele exigiu.
Weston e Easton giraram, curiosos sobre quem eles teriam que decapitar desta vez. "Onde, onde?" Easton perguntou, como uma criança confusa.
"Ali," seu irmão mais velho estalou com um dedo apontado.
Julgando pelas feições tempestuosas do Rei, Weston já sabia quem havia arruinado o humor do déspota.
Um homem alto e magro, de ombros consideráveis e físico decente, conversava com uma mulher. Pela primeira vez naquela noite, um sorriso adornava o rosto dela. Ela nunca parecia mais bonita do que quando estava feliz.
Mas nenhuma daquela alegria era dedicada ao homem com quem ela havia dançado.
O pequeno cervo do Rei estava sendo pego na armadilha de outro predador. E ele estava longe de estar satisfeito.