Adeline decidiu não apertar o botão. O homem era um Vampiro. A julgar pelo quão vibrantes eram seus olhos vermelhos, ele era, sem dúvida, um Puro-Sangue. Quanto mais proeminente o vermelho, mais poderoso. Ela não queria um banho de sangue.
Asher se machucaria. Pior ainda, haveria um alvoroço. Se a Tia Eleanor acordasse e encontrasse não um, mas dois homens em seu quarto, seria desastroso. O Visconde Marden, sem dúvida, a expulsaria para as ruas.
Não importava quanto tempo tivesse passado desde a era medieval, Adeline era de alto nascimento. Sua reputação no círculo restrito de aristocratas era vital. Se a palavra sobre o incidente vazasse, ninguém a quereria.
"Quão bom seria isso?" ela murmurou para si mesma.
Sem mais corpetes restritivos. Sem marido para obedecer. Sem perturbações em sua vida.
"Sim, seria fantástico se você se abrisse," ele refletiu.
Adeline colocou a mão na boca, arrependendo-se imediatamente de suas palavras. Ele deve ter pensado que ela estava se referindo a — ah, deixa pra lá.
"É meia-noite," ela declarou lentamente. Vendo que ele podia ouvir suas palavras, apesar de estarem a alguns metros de distância, ela só podia concluir que ele tinha uma audição impecável. Mais uma qualidade de um Puro-Sangue.
Que tipo de encrenca ela havia se metido? Ela havia se rebelado apenas uma vez. E agora, uma montanha de problemas jazia diante dela.
"E eu sou uma mulher," ela mencionou.
"Sério? Eu não havia percebido," ele respondeu sarcasticamente. "Pelo tamanho dos seus seios e pela sua feminilidade, pensei que você fosse um homem."
Adeline imediatamente franzinou a testa. Ele era tão... tão... ela lutava para encontrar as palavras certas para ele. Será que ele achava divertido provocá-la assim?
"Ah querida, parece que eu te ofendi," ele apontou.
"V-você não parece arrependido," Adeline gaguejou.
Ela mordeu a língua. Quando é que ela iria se livrar desse hábito? Sempre aparecia quando ela queria dizer algo impactante. A gagueira a impedia de parecer confiante. Era exatamente por isso que o Visconde Marden a ridicularizava.
"Deveria estar arrependido?" ele ofereceu. "Isso te faria feliz?"
A carranca de Adeline se aprofundou. Suas sobrancelhas se juntaram em desprazer. "V-você veio até a minha janela feito um perseguidor só para me intimidar?"
"Não, eu vim para assistir você dormir."
Dizer que ela ficou surpresa era um eufemismo. Ela esperava que ele estivesse brincando. Ela rezava para os altos Céus que ele estivesse brincando.
Então, seus lábios se abriram em um grande sorriso, revelando dentes perolados. Era ofuscante na escuridão e ela percebia o brilho de suas presas afiadas e retraídas. Ela leu que as presas costumavam ser mais longas, aproximadamente a metade do comprimento de um dedo mindinho, mas os Vampiros poderiam encurtá-las de acordo com suas preferências.
"Era uma piada, querido."
Adeline fez uma careta em resposta. Ela puxou o cobertor para mais perto. Uma de suas mãos estava segurando firmemente o colchão, esperando esconder sua ansiedade.
"Aw, não me olhe assim," ele sussurrou. "Eu não quero fazer mal, de verdade."
Adeline continuou a olhá-lo como se ele fosse um assassino louco. Ela era realmente uma idiota. Havia um estranho homem do lado de fora de sua janela e ela estava conversando com ele, em vez de chamar seu guarda-costas. Ela estava fora de si?
Justo quando ela debatia se apertava o botão novamente, ele falou.
"Claro, a menos que você goste de dor, então é outra história."
"I-insolente!" ela repreendeu.
Ele soltou uma risada fria e cristalina. Ela pulou. Seu pobre coração não podia mais ser assustado. O som fez cócegas em seu estômago.
"Você que é a insolente, querido," ele provocou.
"Do que você está falando?" ela perguntou.
Ele apontou o queixo na direção dela. Ela olhou para baixo, confusa sobre o que ele poderia estar se referindo.
"Para quem você planejava seduzir com essa roupa?"
Adeline estremeceu. Concentrada em terminar sua leitura, ela não percebeu que sua camisola folgada havia drasticamente escorregado por um ombro. Deve ter acontecido quando ela estava se ajustando em uma posição mais confortável.
Sem dizer uma única palavra, ela rapidamente ajeitou sua camisola. Ela não pediria desculpas pelo comportamento inadequado. Ele era quem estava espreitando na varanda de uma donzela em horas estranhas da noite.
Quem ele pensava que era? Romeu cortejando Julieta?
"Você deveria ir embora," ela aconselhou.
Adeline estava grata por ter parado de gaguejar um pouco. Pela primeira vez, ela conseguiu acessar sua rara confiança.
Seu sorriso aumentou. "É isso o que você deseja?"
Ela rapidamente assentiu com a cabeça.
"Pena eu não ser uma fada que realiza desejos."
Adeline o encarou. Ela nunca havia encontrado um homem tão desavergonhado. Tudo bem. Apertar o botão é o que farei.
"Eu vou matá-lo."
A coluna de Adeline ficou rígida. Ela supôs que ele estava brincando. Seu sorriso inabalável ainda estava lá.
"Ele é um amante?"
Adeline recuou diante da pergunta dele. "S-se você acha que esse comportamento seu vai conquistar uma mulher, você está terrivelmente enganado."
Seu sorriso desapareceu.
Vendo que ela estava profundamente afetada por suas palavras, ele decidiu recuar das provocações. Embora, fosse uma pergunta genuína. Mas os olhos dela baixaram e ela parecia visivelmente chateada. Antes, ela estava apenas confusa e irritada. Agora, ela estava reservada e infeliz.
"Me perdoe," ele disse imediatamente.
"Até sua desculpa é terrível," ela o repreendeu.
O homem inclinou a cabeça. Desculpa? Ele raramente pedia desculpas. E não havia dito anteriormente.
"Só vá embora... por favor."
"Você evitou minha pergunta."
"Não sou obrigada a responder a um estranho ofensivo do lado de fora da janela do meu quarto."
Ele sorriu sarcástico. Pelo menos ela tinha a decência de estar ciente de sua situação. Finalmente, ela havia recuperado sua voz. Ela soava mais corajosa do que anteriormente. Ele teria apreciado se ela tivesse a mesma determinação sem provocação.
"Estou ferido," ele arrastou as palavras.
Ela o observou seriamente através de seus longos cílios. Rugas se formaram em sua testa. Ele segurou uma risada. Ela estava fazendo o melhor para parecer séria e brava. Ela era adorável.
"Eu vim até aqui para devolver algo que você deixou cair, e você está me expulsando assim?" ele perguntou.
Ela o observou com apreensão. Seu silêncio nunca o incomodou. Ele conhecia a natureza dela. Pelo menos ela não estava com medo dele. Admitido, nem sempre era assim.
"Olhe," ele revelou sua mão.
Um fino colar balançava entre seus dedos. Era um colar apropriado para uma bela garota. Ele a havia visto usando-o antes. Combinava bem com ela. Especificamente a pequena rosa presa em uma gota de vidro.
Ele ficaria absolutamente chocado se ela não fosse a Rosa Dourada. Tudo apontava na direção dela. Cabelos loiros marcantes, olhos verdes luxuriantes e seu sobrenome… Tinha que ser ela.
Ele não aceitaria de outra maneira.
"Onde..." ela tocou o pescoço, seus dedos esguios tocando na clavícula vazia.
"Eu não consigo ver direito, você pode levantá-lo à luz do luar?"
Ele arqueou uma sobrancelha. "Você não confia em mim, querida?"
"Não."
"Boa garota."
Ela engoliu em seco.
Ele deu uma risada.
"Venha pegá-lo, pequena corça. Eu não mordo."
Ela estreitou os olhos.
"Com tanta força," ele corrigiu.
"Você é horrível para tranquilizar as pessoas."
"E você é fantástica em ferir meu orgulho."
"Sério?"
"Não."
Ela o encarou.
Seu sorriso aumentou.
"Eu não vou te machucar, minha doce Adeline." Ele a chamou com sua mão. Ela continuou a encará-lo.
Vendo sua grande relutância, ele deu de ombros. "Tudo bem então," ele disse e ela inclinou a cabeça inquisitivamente.
"Eu vou conceder o seu desejo," ele disse. Girando sobre os calcanhares, ele caminhou em direção à balaustrada de sua varanda.
Ele suprimiu sua risada quando ouviu o trotar de seus pequenos pés no chão. Ela estava consternada, correndo para a janela. Ele fingiu não ouvir quão fofa ela soava.
Assim que ele ouviu o clique da janela destrancando, ele saltou da varanda. Ela soltou um pequeno grito horrorizado. Como esperado. Eram cinco andares de queda.
"V-volte!" ela sussurrou freneticamente.
Ele se fez de surdo para ela. Assobiando baixinho, ele enfiou a mão no bolso e caminhou pelo calçamento coberto de folhas com facilidade. Sua mão livre balançava o colar entre seus dedos. Ele se certificou de que ela o visse indo embora com seu pertence precioso.
Agora, ela definitivamente se lembraria dele.
E, como ele havia previsto, ela disse exatamente o que ele queria ouvir,
"Elias, por favor!"