Parte 1
Eles voltaram para a sede da Guarda do Corvo, atravessando as ruas agora mais vazias da cidade. A chuva continuava a cair. Quando chegaram, Pallas se adiantou e chamou uma de suas guardas.
"Helena, leve nossos visitantes ao dormitório dos guardas." disse ele.
Helena era uma mulher baixa mas robusta, com cabelos negros curtos. Seus olhos castanhos eram afiados mas gentis, refletindo seus poucos anos de experiência. Ela usava a armadura da Guarda do Corvo, feita de couro endurecido e metal, além de um longo manto, e também carregava uma espada curta na cintura.
"Sim, senhor." respondeu Helena, fazendo uma breve reverência antes de se virar para Wilde, William e Ed.
"Por favor, me sigam."
Wilde agradeceu. "Obrigado. Precisamos mesmo descansar e nos preparar."
Helena assentiu e se afastou, levando o trio até o dormitório. Depois de alguns segundos de silêncio, Don foi o primeiro a falar, quebrando a tensão no ar.
"Você acha que aqueles do outro lado conseguiriam ter algo a ver com isso?" perguntou Don, sua voz baixa e preocupada.
Pallas suspirou, cruzando os braços enquanto se encostava na parede. "Não podemos descartar nada ainda. Teremos que perguntar a eles pessoalmente."
Parte 2
Helena levou William, Wilde e Ed até um dos dormitórios, guiando-os pelo corredor da Guarda do Corvo. O dormitório era simples, mas funcional, com paredes de pedra robustas, camas alinhadas de um lado e um grande baú de madeira aos pés de cada cama. Havia uma mesa de madeira no centro da sala com algumas cadeiras ao redor, e uma lareira acesa, proporcionando calor e luz.
"Este será o dormitório de vocês." disse Helena, abrindo a porta e deixando-os entrar.
"Eu sou Helena Markatos, e estarei trabalhando com vocês. Podem contar comigo para o que precisarem."
William estendeu a mão para cumprimentá-la. "William Haver. Agradecemos sua ajuda, Helena."
Helena apertou a mão de William firmemente, depois se virou para Ed e sorriu gentilmente. "E vocês são?"
"Wilde Galloti, é um prazer." diz Wilde.
Ed, um pouco constrangido, respondeu timidamente. "Ed... Ed Haver."
Helena continuou a sorrir. "Prazer em conhecê-los, Wilde, Ed. Se precisarem de algo, é só chamar."
Ela se despediu com um aceno de cabeça. "Vou deixá-los descansar. Boa noite."
"Boa noite." responderam William e Wilde em uníssono.
Assim que Helena saiu, William, Wilde e Ed entraram no dormitório. A sala era modesta, mas aconchegante, com o crepitar da lareira criando uma atmosfera acolhedora. Os três se acomodaram, cada um escolhendo uma cama, enquanto pensavam o que fariam na manhã seguinte.
Parte 3
Acordei em uma praia de areia negra, o céu nublado acima de mim parecia pesar sobre meus ombros. O cheiro pútrido de carcaças de animais marinhos e aves podres invadiu minhas narinas, me causando náuseas. Eu me levantei lentamente, sentindo a areia fria e úmida grudando na minha pele.
Olhei ao redor e vi um barco velho, com a madeira podre e descolorida. A estrutura parecia prestes a desmoronar, mas algo me puxava para ele, como se houvesse alguma coisa entre suas tábuas carcomidas. Caminhei até o barco, cada passo afundando ligeiramente na areia, como se a praia quisesse me engolir.
Quando estava prestes a vasculhar o barco, ouvi um som suave, quase como um suspiro. Virei-me lentamente e vi uma figura emergir das águas escuras. Era um Demônio d'água, e eu sabia disso, seus longos cabelos molhados caíam em cascata sobre seus ombros nus. Sua pele era pálida, quase translúcida, e seus olhos brilhavam com uma luz azulada que parecia vir de outro mundo.
Ela caminhava tranquilamente em minha direção, seus pés descalços mal tocando a areia. Cada movimento seu era gracioso, hipnotizante. Eu queria me mover, correr, fazer qualquer coisa, mas meu corpo estava congelado no lugar, incapaz de reagir.
Ela se aproximou tanto que eu podia sentir o frio emanando de sua pele. Seus olhos, agora tão próximos, pareciam perfurar minha alma. Ela sussurrou algo, algo incompreensível que me fazia arrepiar. Suas palavras eram como garras rasgando meu espírito, enchendo-me de um terror profundo.
De repente, acordei, suando e ofegante. Meu coração batia descontroladamente no peito, e o quarto ao meu redor parecia sufocante. As sombras dançavam nas paredes, e eu podia jurar que ainda sentia o cheiro da praia de areia negra e das carcaças podres. Tremendo, tentei me convencer de que tudo não passara de um pesadelo, mas o medo persistia, como uma presença silenciosa que me observava da escuridão.