Depois de oito anos longe, Clara finalmente retornara à cidade que um dia chamou de lar. As ruas, embora familiares, pareciam diferentes, como se o tempo tivesse alterado levemente cada detalhe. O sol da manhã iluminava as calçadas, e Clara respirava fundo, sentindo o ar carregado de nostalgia e memórias.
Sua vida durante esses anos afastada fora uma montanha-russa de desafios e superações. A falência do pai e a necessidade de deixar tudo para trás a haviam forçado a amadurecer rapidamente. Enfrentara dificuldades financeiras, a saudade insuportável de seus amigos e a adaptação a uma nova cultura em um país distante. No entanto, Clara também encontrou forças que não sabia que possuía e, com muita determinação, conseguiu se formar em Administração, determinada a reconstruir sua vida.
O retorno à cidade natal não era apenas um movimento geográfico, mas uma tentativa de reencontrar sua essência, de consertar as pontes que foram quebradas. Cada esquina parecia sussurrar lembranças de sua infância, de risos compartilhados com João, de dias simples que agora pareciam tão distantes.
Clara caminhou pelas ruas até chegar à antiga casa de sua família. Estava vazia, vendida para pagar dívidas, mas ainda assim, parada ali em frente ao portão, sentiu uma onda de emoção. A vida a havia levado por caminhos tortuosos, mas ali estava ela, de volta ao ponto de partida, mais forte e determinada.
Enquanto observava a casa, uma senhora saiu da residência ao lado e, ao vê-la, seus olhos se iluminaram de reconhecimento.
— Clara? — exclamou a senhora, aproximando-se com um sorriso afetuoso. — É você mesma?
Clara virou-se, reconhecendo a vizinha de longa data, Dona Marília.
— Dona Marília! — respondeu Clara, emocionada. — Como a senhora está?
As duas se abraçaram calorosamente, e Dona Marília começou a falar, suas palavras cheias de nostalgia.
— Eu estou bem, minha querida. E você? O que tem feito todos esses anos? — perguntou ela, olhando Clara com carinho.
Clara sorriu, sentindo-se aquecida pela familiaridade do encontro.
— Muitas coisas mudaram, Dona Marília. Mas estou tentando me reconectar com o passado — respondeu ela.
Dona Marília assentiu, compreensiva.
— Eu entendo. Sabe, sua mãe, Dona Helena, sempre falava de você com tanto orgulho. Ela sentia muito a sua falta — comentou a senhora, com um olhar triste.
Clara sentiu um aperto no coração ao ouvir o nome da mãe.
— Eu também senti muita falta dela, de tudo aqui — disse Clara, a voz embargada. Após uma pausa, Dona Marília, com um brilho curioso nos olhos, perguntou:
— E você, querida, casou com o João?
Clara corou levemente, surpresa pela pergunta direta.
— Não, Dona Marília. Não casamos... mas estamos nos reencontrando agora — respondeu ela, com um sorriso tímido.
Dona Marília sorriu largamente.
— Que bom ouvir isso. Sempre achei que vocês tinham algo especial. Quem sabe o destino não está dando uma nova chance a vocês? — disse ela, esperançosa.
Clara sorriu, sentindo uma mistura de emoção e esperança.
— Talvez esteja, Dona Marília. Talvez esteja — respondeu ela, olhando para a casa que guardava tantas memórias, agora com a esperança de criar novas e felizes lembranças.
Decidiu que era hora de reencontrar as pessoas que havia deixado para trás, começando por João. Ele sempre estivera presente em seus pensamentos, uma constante em seu coração. Sabia que ele agora liderava a empresa do pai e estava ansiosa e nervosa para revê-lo.
Ao chegar ao prédio da empresa, Clara respirou fundo antes de entrar. Subiu os andares com uma mistura de apreensão e esperança, cada passo ecoando como um prelúdio do encontro iminente. Quando a secretária anunciou sua presença e ela finalmente entrou no escritório de João, todo o peso dos anos de ausência pareceu desabar sobre ela.