No fim da noite, Gwayne estava em pé na frente do castelo, observando os aldeões se recolhendo para suas casas. Cerella o fazia companhia, seu avô estava mais atrás com Sor Desmond, teceu elogios para ele a noite inteira, pelo treinamento que foi dado ao seu neto.
— Espero que ele não esteja morto! — Disse Cerella, em tom de sono. — um homem tão belo não deveria morrer em uma armadilha, ainda mais lutando contra selvagens.
— Menos um leão. — Disse Sor Lymond, de forma fria.
Sor Leo se despediu deles enquanto bocejava e caminhava de volta ao portão do vilarejo. A Lua estava cheia e iluminando a noite.
Daeron subia a escadaria caminhando, com sorriso estampado no rosto.
— Noite feliz? — Perguntou Cerella.
— Melhor! Meu pai está muito feliz. — disse ele, em resposta.
Gwayne passou a mão no cabelo molhado dele.
"Tomou banho" murmurou ele, lembrando que também estava precisando.
— Precisamos ver o Meistre, Daeron. — disse ele, se virando e caminhando para a entrada. — irei tomar um banho e te encontro depois Cerella.
Eles foram até a sala do Meistre no primeiro andar só para ele dar uma olhada em seus ferimentos, ele os deu dois frascos de cristal com algo para dor, se eles sentissem durante a noite. Tirando isso, nada mais. Estavam em perfeitas condições, logo estariam normais novamente.
— Vou tomar um banho lá embaixo, encontro vocês dois na sala da lareira.
Daeron não entendeu o motivo dele ir sozinho, mas não se opôs.
Gwayne abriu a porta de freixo escuro que dava acesso a escadaria inferior, ele desceu lentamente com um archote na mão.
Passando pelo largo corredor do primeiro andar subterrâneo, com quadros nas paredes de pedra, ele passou pela grande escadaria que levava para andares mais fundos ainda. Pela primeira vez, ele sentiu medo em um longo período de tempo.
O mau agouro, a criatura.
"O que fez aquilo com ela?"
Não estava ali, mas fazia parte da escuridão. De qualquer forma, deveria haver dois homens guardando do lado das escadas, parece que seu avô finalmente desistiu dos andares inferiores, a prisão sem uso. Gwayne virou o archote para o outro lado, e continuou até o fim do corredor, passando por outras portas de pau-ferro bem ornamentadas.
Gwayne abriu um meio sorriso naquele breu.
Era a adega de seu avô, onde ficavam os melhores vinhos. Os vinhos dourados da árvore Redwyne. E alguns mais escondidos atrás dos da árvore, talvez um dornes, ou uma preciosidade de Essos.
Gwayne avançou e entrou na sala, retirou as roupas e entrou na piscina maior.
A luz da lua estava iluminando toda a sala, estava realmente muito forte.
"R'hllor"
O bêbado, qual era mesmo o nome dele, o sacerdote vermelho que venceu o combate corpo a corpo do torneio da mão...
"Thoros de myr" é isso mesmo.
Estava na companhia de Beric Dondarrion que foi massacrada pelo Montanha, mas pelo visto eles sobreviveram. Era o que diziam no acampamento do cerco.
"Um sacerdote vermelho..." É o que eu preciso.
Preciso voltar às terras fluviais, preciso encontrá-lo e obter respostas.
Mas, agora não pode ser.
Gwayne viu a sombra de Aerea encostada na parede por um segundo, depois sumiu.
"Ah, doce garota..."
Gwayne se sentia triste ao lembrar dos horrores, era algo repulsivo. Injusto.
Gwayne se virou para o outro lado e mergulhou, depois voltou à superfície e jogou os cabelos para trás.
Gwayne se lavou e saiu,se secando com uma das toalhas que ficavam acima das pedras quentes. Esqueceu de pegar roupas limpas, então, teria que passar no quarto antes de ir encontrar com seus amigos.
O que ele fez rapidamente, depois foi para a sala da lareira. Encontrando ambos sentados em um sofá acolchoado e florido.
A gosto de Cerella.
Eles estavam sentados bem próximos, Cerella estava com a mão repousando sobre o braço de Daeron.
Gwayne sorriu.
— Estão conversando sobre?
— Daeron está contando suas façanhas militares... — disse ela, ficando vermelha. — mas, não sei se eu acredito. Ela riu.
Gwayne riu também.
— Não seja má.
Daeron enrusbeceu.
Gwayne sentou ao lado dela.
— Quais as notícias daqui, e o que aconteceu enquanto estávamos longe?
Ela pareceu ficar apreensiva.
— Bem... Aparentemente temos um novo rei, Renly Baratheon se declarou Rei à revelia do irmão mais velho. Está reunindo um exército em Highgarden, tem apoio da campina e da terra das tempestades, sua pretensão ao trono é mais apoiada que a do irmão, Stannis.
— Pelos sete! — Disse Gwayne. — já são três. E aqui no vilarejo, aconteceu algo?
— nosso avô viajou pelo oeste em busca de possíveis aliados, ele quer retirar o apoio das casas cavaleirescas aos Sarsfield.
Meu prometido fugiu para servir o Rei Stannis.
"Então, foi por isso que ele partiu a noite para as terras da coroa"
— Não temos o apoio dos Clifton por isso.
Gwayne suspirou.
— Para onde foi Charlotte? — perguntou Gwayne, olhando fixamente nos olhos dela.
— Ela não aguentou ficar, então, falei para o avô enviar ela de volta e enviei Belvedere com ela...
— Sor Belvedere?
— Foi a melhor escolha, Sor Belvedere vai assegurar de que ela se lembre que não deve dizer nada.
— Bom, só podemos esperar que isso dê certo. — disse ele.
Daeron bocejou.
— Hoje está frio! Não? — Disse Cerella, soltando sorrisinhos e saindo.
Gwayne riu e olhou para Daeron.
— Ela nunca muda, né? — disse ele, se levantando — eu sei, eu sei. Ir à cozinha e pegar algo.
— Não, ela já deve ter ido fazer isso. — ambos sorriram. — vamos para o quarto.
Ela chegou logo após eles, com uma bandeja de coisas da cozinha.
Daeron se sentou na cama e começou a balançar os pés, disse não estar com fome.
Gwayne sentou com ela na mesa ao lado da porta.
Tinha de tudo na bandeja que ela trouxe, muitas carnes, frutas e geleias de frutas doces.
Eles comeram pequenos pedaços de pães com geleia, enquanto Cerella o enchia de perguntas sobre Jaime.
Daeron já estava quase dormindo na cama.
— Bom, eu vou dormir aqui com vocês, está muito! Muito! Frio. — disse ela, se arrepiando.
— Você é previsível, prima.
Cerella correu para o canto da cama e designou os lugares que iriam dormir.
Gwayne foi para o lado de fora, olhar a noite. A lua estava realmente bonita, iluminando oceano a as copas das árvores.
Sons de pequenos animais sondavam pelos cantos, pássaros noturnos e insetos, sapos. Os archotes que iluminavam as estradas do vilarejo estavam todos acesos, e o dono da taverna estava expulsando os últimos bêbados de lá, com ajuda dos patrulheiros, que batiam com os porretes neles. Gwayne riu disso.
Depois, voltou para dentro e encontrou Cerella já deitada embaixo do cobertor felpudo.
Ela olhou para ele apenas com os olhos de fora da coberta.
— Então, vamos dormir logo. — disse ele, tirando a camisa.
— Não pense que vai dormir pelado! — disse ela, com as bochechas rosadas.
— Não! — disse ele, rindo.
— Não mesmo! — ela riu e voltou a deitar.
Ele entrou por baixo das cobertas, surgindo ao lado de Cerella.
Daeron já estava dormindo, deitado todo torto nos pés da cama, mais para fora que para dentro.
Cerella riu dele, erguendo as cobertas sobre si e deitando no braço de Gwayne.
— Boa noite!! — disse por fim.
Nos próximos dias se seguiu dessa forma, eles continuaram fazendo tudo junto, revisitando os lugares no bosque, a praia, e Gwayne passando as tardes com seu avô e Sor Patrick, fazendos seus planos e na biblioteca com o Meistre, estudando os livros.
Um desses dias, ele acordou primeiro que todos, como sempre. Exceto seu avô, que já estava acordado no salão principal.
— Um homem deve acordar cedo! Não é, avô? — disse ele, sorrindo.
Sentou-se ao lado do avô na mesa, os servos vieram e trouxeram o desejum.
— Lorde Wulf já deve estar chegando, o senhor de Seagrove avistou muitos navios de guerra passando pelo seu porto, desciam nessa direção. Só podem ser eles, talvez já estejam desembarcando e aportando seus navios na costa.
Gwayne sorriu.
— Boas notícias!
— Sim, sua prometida está a caminho também e com ela quinhentos homens bem armados e cinquenta cavaleiros. Além de seu pai e suas irmãs, é claro.
— Sor Lymond soltou um sorriso. — o tempo está virando. Logo os Sarsfield e Lannister serão varridos da face da terra pelo "Jovem lobo" como andam chamando o garoto Stark, ou pelo Lorde Stannis.
Gwayne não conseguia não ficar incomodado, ele tinha boas memórias da Rainha Cersei, sua mãe a adorava, não podia ser uma pessoa completamente ruim e conheceu a princesa Myrcella no torneio de seu nome, não conheceu o pequeno príncipe Tommen, mas mesmo sem conhecer não gostaria que uma criança morresse. Era o que iria acontecer se eles perdessem.
"Uma criança morta, outra..." Pensou ele, ficando com rosto sombrio e feral.
— Agora com o herdeiro morto, e um leão velho... — disse ele, colocando a mão no ombro de Gwayne.
"E o duende preso, Jaime possivelmente morto..."
— Os Deuses sorriram para nós. — Disse Sor Lymond, se levantando e saindo.
Gwayne saiu logo após para treinar com Sor Desmond, encontrando-se com Jacks e os outros garotos durante o treino. Depois passou a tarde com Sor Hoot e Sor Leo, tinham muitas coisas a conversar.
Depois caminhou de volta ao castelo, estava cansado. Encontrou Cerella na sala da lareira com a Septa, lendo um livro sobre cavaleiros galantes. Sobre Jonquil e Florian, ele as cumprimentou e avisou sua prima que iria se deitar cedo.
Cerella disse que iria se juntar a ele mais tarde, a Septa a olhou incrédula e ela riu.
Ele acordou no meio da noite, mas não encontrou Cerella ao seu lado. Ele procurou sua camisa, mas não estava no lugar que ele tinha deixado, ele ouviu o som do vento chiando forte do lado de fora da janela, então, decidiu abrir.
Lá fora estava nevando, uma nevasca terrível que cobria as copas das árvores e das casas, não havia um archote ligado e o vilarejo estava em completo silêncio.
Do lado de fora de seu quarto estava um breu, o castelo estava completamente escuro, voltou para pegar sua espada, e depois caminhou pelo corredor escuro, descendo a escada lentamente. A porta do castelo estava escancarada, e o vento fazia ela balançar com força. Ele caminhou para fora e não encontrou ninguém à primeira vista.
"Deve ser um sonho, só pode ser um sonho."
— Apenas um sonho! — gritou ele.
Ele olhou para o lado e encontrou Aerea sentada nas raízes do represeiro.
Gwayne caminhou até ela.
— Eu sinto você — disse ela, enquanto olhava fixamente para ele. — Gwayne...
— Eu não entendo... — disse ele, se aproximando mais.
— Eu sinto uma energia vindo de além da muralha, sinto uma energia do Septo de Baelor, eu sinto uma energia nesse exato momento vindo das terras fluviais... A energia do vulcão que dorme embaixo de seus pés e também de Castamere. — disse ela, se levantando.
— São lugares para onde eu devo ir?
— Você irá em algum momento... Eu sinto muito Gwayne.
— Não sinta, eu quero te ajudar. — Gwayne estendeu a mão para ela.
Aerea tocou em sua mão com as pontas dos dedos.
— Para onde você foi, Aerea? — perguntou Gwayne.
— Eu não fui... — disse ela, enquanto uma lágrima escorregava por seu rosto.
"O que Barth acreditava, a pergunta que ninguém fez..."
— Não era você controlando o Balerion, era?
— Não... — disse ela, choramingando. — "me leve para casa" foi tudo que eu disse, mas o dragão que escolheu qual casa me levaria, a sua casa. Valyria.
— Como eu posso te trazer de volta, como eu te salvo?
— Eu não sei, por favor não desista de mim. — disse ela, com a voz baixa e apertando a mão dele. — Eu sinto aquela coisa se aproximando, Gwayne... Agora mesmo. Ele está aqui!
Gwayne virou para trás, apontando a espada mas não encontrou nada, apenas escuridão e silêncio. Olhou ao redor e nada além do vento, mas ele sentia algo terrível se aproximando.
— Gwayne, é a mesma energia que eu sinto emanando do norte da muralha, e de além dos cinco fortes de Yi-Ti... — disse ela, recuando para a árvore. — A noite é escura e cheira de terrores...
Gwayne se virou e olhou para ela, seus olhos estavam aterrorizados.
— Fuja! — berrou ela.
No momento seguinte, ele sentiu uma mão agarrar seu ombro e o torcer, sentiu seus ossos quebrarem, antes dele conseguir se virar ele acordou de susto. Caiu para o chão, rapidamente se retorcendo de dor. Gwayne ainda estava sentindo a mão em seu ombro, mesmo após acordar. Ele sentia o toque, a pele áspera e rachada.
Cerella acordou assustada e Gwayne se revirou violentamente no chão, fazendo o armário do lado da cama cair sobre si, derrubando o colar da estrela de sete pontas de Cerella em seu peito, só assim ele sentiu o toque da mão o deixando.
Ele sentou-se rapidamente contra a cama e respirou com dificuldade, Cerella se aproximou e o abraçou.
— O que aconteceu, o que fizeram com você nessa maldita guerra? — perguntou ela, choramingando.
— Nada, eu estou bem. — disse ele ainda ofegante. — foi apenas um pesadelo, eu vou tomar um ar na sacada, volte a dormir.
Gwayne levantou e foi para fora, ela o seguiu.
A Lua já não estava no alto do céu, amanheceria em algumas horas. O vilarejo estava silencioso, apenas os patrulheiros estavam passando pela estrada.
Gwayne olhou para Cerella, estava carrancudo.
— Eu vou ficar com você! — disse ela, cruzando os braços e fazendo beicinho.
— tá bom, então eu vou voltar para cama.
Quando eles se viraram para entrar, avistaram longe no bosque as árvores se moverem como se tivesse algo grande passando entre elas, fez os pássaros voarem.
— O que foi isso? — Disse Cerella, correndo para os braços dele com olhar assustado.
Gwayne ficou em silêncio, pensando.
— Quer ir lá descobrir?
— Está louco?
Ele sorriu.
— Então, vamos voltar a dormir.