Alexia estreita os olhos, pensando em como ele sabe que não devolveu a jaqueta.
— Sim. Como sabe que ela está comigo? — Ela pergunta, e Benício sorri. — Não vai me dizer que você é esse garoto?
— Sim! Nos dias seguintes, voltei aqui para ver se eu via a garota dos olhos assustados, mas nunca mais a encontrei, pois fui embora estudar em Barcelona e só voltei quando esbarrei em você pela primeira vez.
Alexia envolve seus braços em torno do pescoço de Benício e repousa sua cabeça em seu ombro.
— Acho que estávamos destinados a nos amar.
— Eu não acho, tenho certeza. Como não te reconheci?
— Naquele tempo não dávamos atenção para o que realmente importava. Eu era uma criança e tudo que eu queria era ser livre das torturas que eu sofria no colégio. Apesar de não ter mudado muito minha aparência, você mudou.
— Sim, um pouco. Eu tinha 18 anos, meu rosto era cheio de espinhas, usava aparelho nos dentes, fora que era magro de dar dó.
Alexia sorriu, formando a imagem que ele descreveu.
— Seu sorriso era lindo.
Por alguns minutos, eles ficaram recordando da juventude e descobriram que por algumas vezes o destino colocou eles no mesmo ambiente, mas nenhum dos dois nunca se olhou.
Ela fica perdida em seus pensamentos, Benício tira a blusa e coloca sobre os ombros de Alexia. O vento estava fraco, mas o ar gelado fez com que ela se encolhesse de frio.
— Vamos para a casa? — Benício pergunta, abraçando-a fortemente.
— Vamos.
Os dias seguintes foram de muita união e companheirismo. Alexia todo tempo observava a enorme casa que antes era tão vazia e triste, agora está cheia de vida e risos.
Isabela estava cada vez mais forte, confiante e feliz. Alexia e Benício acompanharam de perto cada segundo da recuperação dela, apoiando e ajudando Isabela a ter força nos momentos de crise. As crianças também estavam felizes em ter a avó por perto, a família estava mais unida do que nunca.
Laila já não conseguia esconder o amor que sentia por Matheo, mas ele ainda estava preso à imagem de Ana, e cada vez que ela demonstrava seus sentimentos, ele se retraia e saía do lugar, deixando ela sozinha. Por mais que ele queira, algo dentro dele impedia de se permitir, como se ele estivesse traindo a mãe da sua filha. Por isso, Matheo decidiu manter distância de Laila, mas isso ia durar até essa noite.
Ela desce as escadas num vestido vermelho colado em um salto alto que ecoava as batidas no mármore conforme ela caminhava. Seus longos cabelos castanhos claros estavam impecáveis, lisos com as pontas onduladas. Matheo, ao vê-la tão deslumbrante, se levanta rapidamente mal conseguindo ouvir o que Alexia e Benício diziam.
— Olha só, que gata. Onde vai amiga? — Alexia pergunta, encantada ao ver Laila tão linda.
— Vou numa boate encontrar o pessoal da faculdade, depois de tanto tempo resolveram se reencontrar. Você não vai ao jantar com a turma que estudou com você?
— Ah, não, dispenso. Não gostava de ninguém, então não tem por que encontrá-los. — Alexia responde, lembrando do quanto era amarga naquela época. Seus pensamentos são dispersos quando percebe Matheo apertando as mãos uma na outra, era evidente o ciúme em seu olhar. — Aproveita amiga, quem sabe hoje você sai de lá acompanhada. — ela provoca, tirando suspiros arrependidos dele.
— É... quem sabe. — Laila diz um pouco melancólica, olhando nos olhos de Matheo. — Então eu vou, fiquem bem.
— Cuidado, não confie em ninguém, não beba nada que estranhos te ofereçam. — Benício aconselha, tirando um leve sorriso de Alexia.
— Sim e qualquer coisa, me liga que vou te buscar.
— Pode deixar, amo vocês.
Laila caminha em direção à porta e Matheo acompanha-a com o olhar. Assim que ela fecha a porta e entra no táxi, Alexia e Benício se aproximam de Matheo.
— Vai mesmo deixar a felicidade escapar entre seus dedos? — Benício pergunta, e Matheo fica em silêncio olhando para suas mãos.
— Eu não posso, Benício. Eu prometi a Ana que nunca a esqueceria, que cuidaria da nossa filha, que a manteria sempre viva em nossas memórias. E quando estou com Laila, sinto que estou traindo essa promessa.
— Mas Matheo, você merece ser feliz. E Laila te faz feliz, não é justo você se prender a um passado que não pode ser mudado. — Alexia fala, encarando os olhos do tio.
Matheo suspira, desviando o olhar para a porta e, sem pensar duas vezes, ele sai, entrando em seu carro. Alguns minutos se passaram e pareciam uma eternidade. Ao chegar na boate, vai em direção ao bar, que estava lotado. A música alta, as pessoas rindo e dançando era difícil para Matheo suportar, ele não está acostumado a frequentar lugares lotados e barulhentos.
Seus olhos procuram por uma única pessoa, e assim que a encontra, senta no banco que dava uma visão de frente a ela e observa Laila rindo e conversando animadamente com os amigos.
Cada homem que se aproximava era uma tortura para Matheo, fazendo ele apertar fortemente seu copo de bebida em sua mão. Até que um homem se aproxima, coloca a mão na cintura dela, que se afasta discretamente e sussurra algo no seu ouvido. Laila fica constrangida com o que o desconhecido diz e tenta se afastar.
Matheo, percebendo que algo estava a incomodando, levanta, bebe seu uísque num gole só e se dirige até ela.
— Se afasta, amigo, se não percebeu, ela não está interessada — Matheo diz, colocando-se na frente dela.
— E quem é você para se intrometer nos meus assuntos?
— Matheo, o que está fazendo aqui? — Laila pergunta, surpresa ao vê-lo ali.
— Vim te buscar.
— O que? Mas por que? — Ela pergunta, tentando não demonstrar sua euforia.
— Você sabe, eu não posso mais negar, Laila. Eu preciso te dizer... Eu te amo. E não importa o quanto tentei resistir, eu não posso mais esconder esse sentimento.
Os olhos de Laila se enchem de lágrimas, ela segura o rosto de Matheo entre suas mãos e sorri.
— Eu também te amo, Matheo. E eu sei que não posso substituir a Ana, mas eu quero ser feliz ao seu lado. Eu quero cuidar de você, da Marcela, eu quero fazer parte da sua vida.
Matheo a abraça forte, sentindo um peso sendo tirado de seus ombros. Ele finalmente se permite ser feliz, se permite amar de novo. E ali, naquela boate lotada, com a música alta e as luzes piscando, Matheo e Laila se entregam ao amor que sempre esteve ali, que só estava esperando para ser vivido.
Matheo sente seu coração acelerar enquanto segura a mão de Laila com firmeza, conduzindo-a através da multidão animada da boate. Seus olhos se encontram em um misto de desejo e ansiedade, ambos cientes do que está para acontecer, mas ainda assim cheios de expectativas.
Ao chegarem perto do carro, Matheo para bruscamente e, sem dizer uma palavra, encosta Laila suavemente na porta do carro. Seus olhos se encontram mais uma vez, buscando permissão, confiança e um amor que transborda em cada olhar trocado.
Sem hesitar, ele a puxa para perto de si, sentindo a proximidade de seus corpos e a respiração entrecortada de ambos. O silêncio da noite é quebrado pelo som suave da música vinda da boate, enquanto Matheo se inclina lentamente em direção aos lábios de Laila.
O beijo é lento, quase como o desabrochar de uma flor, delicado e cheio de promessas. Cada toque dos lábios é carregado de emoção, de saudade, de amor reprimido por tanto tempo. As mãos de Matheo se perdem nos cabelos sedosos de Laila, enquanto ela se entrega ao momento, ao calor que explode entre eles.
E ali, naquela noite estrelada, sob o brilho da lua, Matheo e Laila finalmente se permitem viver o amor que sempre esteve guardado em seus corações, selando aquele momento com um beijo que ecoará para sempre em suas memórias, como o início de uma história de amor verdadeiro e eterno.