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Chapter 62 - Sob a Luz do Entardecer

No intervalo, nos reunimos no pátio, onde o sol brilhava confortavelmente entre as árvores. O ar estava cheio do som de risadas e conversas, e o cheiro de grama fresca completava a atmosfera tranquila.

Estávamos discutindo os planos para as provas quando Kazuki apareceu, carregando um bloco de notas volumoso e um sorriso que só ele conseguia fazer parecer tão confiante.

— Pessoal! — Kazuki anunciou, levantando seu bloco de notas como se fosse um troféu. — Já pensaram no que nossa turma vai fazer para o Festival Escolar? Estou anotando todas as ideias possíveis, porque precisamos criar algo que vai entrar pra história dessa escola!

Ele abriu os braços dramaticamente, como se estivesse revelando um segredo revolucionário.

Seiji foi o primeiro a rir.

— Algo épico, hein? — Ele cruzou os braços, fingindo uma expressão séria. — Já sei! Um jogo de sobrevivência, estilo zumbis, em toda a escola!

Kazuki estreitou os olhos, ponderando.

— Hm, não é má ideia… mas zumbis? Meio batido, não acha?

— Só se fizermos algo ainda mais insano. Tipo… uma batalha campal com os professores! — Akira sugeriu com um sorriso travesso, equilibrando um lápis atrás da orelha.

Todos riram, e Kazuki suspirou, balançando a cabeça.

— Gente, tô tentando ser sério aqui. Quero que nossa turma se destaque, tá?

Kaori, que tinha acabado de se juntar ao grupo, riu enquanto ajeitava a mochila no ombro.

— Que pena que não estamos na mesma turma. Minha classe quase certamente vai fazer outra sala de terror. É o clássico que sempre dá certo, mas é um trabalhão…

Kazuki olhou para ela, interessado.

— Sala de terror, hein? Realmente, é um clássico que sempre atrai bastante gente. Talvez a gente devesse pensar em algo do tipo…

— Ou, que tal um maid café? — Akira sugeriu de repente, com uma expressão maliciosa no rosto, enquanto olhava para Seiji.

O silêncio que se seguiu foi rapidamente rompido por Seiji, que praticamente saltou da cadeira.

— Um maid café?! — Seus olhos brilharam de animação. — Ver a Yumi... em um uniforme de empregada... seria de outro mundo!

Kaori gargalhou, cobrindo a boca com a mão.

— Você é inacreditável, Seiji.

— E é exatamente por isso que a ideia do Akira não vai acontecer. — Rintarou interveio, ajeitando os óculos enquanto lançava um olhar reprovador para Seiji.

— Ok, ok. — Seiji levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. — Mas a ideia de um café não é ruim. Talvez um café temático, tipo… uma cafeteria do espaço ou algo assim? — Ele sorriu, parecendo genuinamente satisfeito com sua contribuição.

Kazuki fez uma anotação rápida no bloco, ainda pensativo.

— Um café temático... não é uma má ideia. É simples, mas dá pra ser criativo com a decoração. E não exige tanto trabalho físico, o que é sempre um bônus.

— Melhor que uma batalha campal com os professores, pelo menos — comentei, com um leve sorriso.

Akira deu de ombros, não parecendo muito convencido.

— Ainda acho que o maid café ia ser um sucesso...

— Você só quer se livrar do trabalho pesado. — Rintarou rebateu, sem tirar os olhos de um livro que estava folheando.

Kaori, claramente se divertindo com a troca de ideias, apoiou o queixo nas mãos.

— Seja lá o que vocês decidirem, espero que não acabem se matando durante a organização. Esses festivais sempre parecem uma guerra por trás dos bastidores.

Kazuki suspirou dramaticamente, fechando o bloco de notas como se fosse um livro de tragédias.

— Não se preocupem. Eu estou aqui pra garantir que nossa turma seja um sucesso absoluto. Confie no meu plano mestre!

— A gente confia… mais ou menos. — Seiji brincou, arrancando risadas do grupo.

Antes que o assunto pudesse mudar, Takeshi apareceu no horizonte, equilibrando uma pilha de livros que ameaçava cair a qualquer momento. Ele se aproximou, o rosto iluminado pelo entusiasmo.

— Ei, Shin! — Ele chamou, ajeitando os livros nos braços enquanto se aproximava. — Fiquei sabendo que vocês vão formar outro grupo de estudos com o Rintarou. Posso participar também?

Antes que eu pudesse responder, Akira levantou a mão como se estivesse em uma sala de aula.

— Eu também! Me inclui nessa, Shin!

Soltei uma risada curta, olhando para os dois.

— Claro, Takeshi e Akira. — respondi, abrindo um sorriso. — Quanto mais gente, melhor.

— Valeu! — Disse Takeshi, animado.

— É isso aí! — Akira exclamou, dando um pequeno soco no ar.

Kaori, que até então observava a cena com um olhar divertido, riu enquanto cruzava os braços.

— Mais gente pro Rintarou ajudar… — comentou, lançando um olhar malicioso na direção dele.

Rintarou suspirou, ajustando os óculos, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso.

— Alguém tem que manter vocês fora da recuperação, né?

— Ainda bem que temos você! — Seiji disse, jogando um braço ao redor dos ombros de Rintarou com um sorriso largo. — Rintarou, o herói das provas finais!

Rintarou balançou a cabeça, empurrando o braço de Seiji de leve.

O sinal tocou, ecoando pelo pátio e sinalizando o fim do intervalo. Houve um suspiro coletivo entre o grupo, aquele típico desânimo que precede o retorno às aulas.

As aulas passaram em um piscar de olhos, e logo já estávamos reunidos na saída da escola. O grupo estava animado, discutindo o melhor lugar para o grupo de estudos.

Enquanto Seiji sugeria a lanchonete perto da escola e Kaori insistia que sua casa seria mais tranquila, eu sabia que não poderia me juntar a eles naquele dia.

— Ah, eu não vou poder ir hoje — comecei, tentando manter o tom casual enquanto ajustava a alça da mochila.

Seiji olhou para mim, confuso.

— O quê? Por quê?

— É… compromisso. Depois eu conto — Respondi, tentando escapar do interrogatório.

Kaori levantou uma sobrancelha, claramente desconfiada.

— Muito misterioso, hein, Shin?

— Talvez vai se encontrar com alguém e não quer nos dizer — Akira mostrou um sorriso provocador, enquanto equilibrava os livros com cuidado.

Eu ri de leve, dando um passo para trás enquanto eles continuavam com suas teorias.

— Não é nada disso, depois eu conto — Disse, antes de acenar e começar a me afastar. — Boa sorte nos estudos.

Seiji gritou atrás de mim.

— Ei, Shin! Não esquece que você também precisa estudar, hein!

Levantei a mão em resposta, sem olhar para trás. Enquanto caminhava na direção oposta, não pude deixar de sorrir. Eles estavam certos, claro. Eu precisava estudar.

Mas naquela tarde, meu foco estava em outra coisa — ou melhor, em outra pessoa.

Caminhei em direção à biblioteca, sentindo meu coração acelerar a cada passo. Era engraçado como uma simples caminhada podia parecer tão carregada de expectativas.

Quando cheguei e empurrei a porta silenciosamente, fui recebido pela visão que tirou o pouco de compostura que eu achava que tinha.

Yuki estava sentada perto de uma das janelas, o sol da tarde se infiltrando através do vidro e brincando com os fios de seu cabelo, criando um brilho suave e quase etéreo. Era como uma cena saída de um livro, algo tão perfeito que parecia intencional.

Ela percebeu minha presença e ergueu os olhos, sorrindo com aquele jeito tranquilo que fazia meu coração pular uma batida.

— Oi, Shin — acenou levemente, apontando para o relógio pendurado na parede. — Chegou cedo.

— Não queria me atrasar — Respondi, tentando soar descontraído, mas sentindo meu rosto esquentar levemente. Caminhei até a mesa e me sentei ao lado dela, ajustando minha mochila.

Havia algo intimidante em estudar com Yuki, mas também era motivador. Ela tinha uma calma e confiança naturais, como se nada fosse difícil demais para ser resolvido com paciência.

— Que tal começarmos pelas matérias mais difíceis? — sugeriu, puxando um livro de matemática.

Eu levantei as sobrancelhas, surpreso.

— Difíceis primeiro? Sempre começo pelas mais fáceis. Deixa as complicadas pro final, sabe? — Disse com uma risada nervosa.

Yuki sorriu, balançando a cabeça de leve.

— É exatamente por isso que, no final, você acaba ficando enrolado. Melhor resolver logo o que é complicado, assim sobra tempo para o que é mais simples.

A lógica dela era impecável, como sempre. Suspirei, aceitando a sugestão, e abri o livro na página que ela indicou.

Ela começou com algumas perguntas para medir até onde eu sabia. As primeiras foram tranquilas, mas logo me deparei com uma questão que parecia um enigma em um idioma desconhecido. Fiquei encarando o papel, como se isso fosse magicamente revelar a resposta.

Yuki riu baixinho, aquele riso suave que parecia ser um reflexo involuntário de sua gentileza. Ela colocou a mão próxima à boca, num gesto quase tímido, o que de alguma forma só tornava a cena mais encantadora.

— É mais simples do que parece — Disse, puxando o papel para mais perto dela. — Olha só… — Yuki começou a explicar o passo a passo, a voz calma e metódica guiando cada linha da questão. Ela simplificava tudo de um jeito que fazia parecer fácil.

Segui suas instruções com cuidado e, para minha surpresa, consegui resolver a próxima questão sozinho.

— Uau... você aprende rápido — comentou, os olhos brilhando levemente de surpresa.

— Ah… isso é só porque você explicou bem — respondi, desviando o olhar enquanto sentia meu rosto corar levemente.

Ela deu um pequeno sorriso, parecendo satisfeita. Depois de mais algumas questões, foi a vez de ela pedir ajuda.

— Agora é sua vez — disse, pegando o livro de inglês e virando para uma página com exercícios de gramática. — Inglês não é minha melhor matéria. Pode me dar uma mão?

Me senti um pouco mais à vontade, percebendo que essa era uma área em que eu tinha um pouco mais de confiança. Peguei o livro e comecei a explicar as respostas, ajudando-a a corrigir alguns erros nos exercícios.

Conforme conversávamos, a dinâmica entre nós fluía com naturalidade. Os momentos de estudo eram entrecortados por risadas baixas e pequenos comentários que aliviavam a tensão.

Em um ponto, ela errou de propósito uma questão de vocabulário, dizendo "eu queria ver se você estava prestando atenção".

— Ah, claro. Totalmente proposital. — Respondi, rindo.

— Eu juro! — Ela sorriu, pegando a caneta e corrigindo a resposta.

Cada interação parecia construir algo mais sólido entre nós, algo que ia além de simplesmente estudar para as provas. Era uma parceria, um entendimento mútuo que me fazia esquecer o nervosismo inicial.

Enquanto ela fazia anotações em silêncio, meu olhar escapou sem que eu percebesse. A maneira como a luz suave da biblioteca tocava seu rosto, destacando seus traços delicados, e a concentração tranquila em seus olhos criava uma cena quase hipnotizante. Era como se o tempo tivesse desacelerado por um instante, e só então me dei conta de algo simples, mas inegável: estar ali, ao lado dela, era uma sorte que eu nunca havia parado para apreciar de verdade.

No momento em que esse pensamento cruzou minha mente, Yuki ergueu o olhar. Nossos olhos se encontraram, e fui pego completamente desprevenido.

Meu coração errou uma batida, e por um instante, eu me senti como se estivesse preso naquele breve segundo entre a surpresa e a incerteza, sem saber ao certo se desviava o olhar ou se ficava ali, perdido naquela troca inesperada.

— O que foi?

— Ah, nada! Só… pensando em como as provas finais vão ser difíceis — disfarcei rapidamente, voltando minha atenção para o livro.

Ela inclinou a cabeça, desconfiada, mas não disse nada. Apenas sorriu de leve antes de voltar aos exercícios.

E, assim, continuamos a estudar, rindo, aprendendo e, de alguma forma, encurtando a distância entre nós.

A luz do entardecer se filtrava pelas janelas da biblioteca, tingindo as mesas e os livros com tons dourados. O ambiente parecia mais silencioso do que antes, como se o tempo tivesse desacelerado enquanto estudávamos. Foi só quando olhei para o relógio que percebi o quanto o tempo havia passado rápido demais.

Estudar com Yuki não era apenas produtivo; era surpreendentemente reconfortante. Cada explicação, cada risada compartilhada, parecia adicionar um novo brilho à tarde. De alguma forma, aquilo ia além de resolver exercícios ou revisar matérias. Era um tipo de conexão que eu não conseguia descrever, mas podia sentir com clareza.

Ela fechou o livro de matemática com um leve estalo e começou a arrumar suas coisas. Segui o exemplo, colocando meus materiais de volta na mochila enquanto o som suave de papel e zíperes quebrava o silêncio.

— Obrigada por me ajudar com inglês, Shin. — ela falou, quebrando o silêncio com um sorriso caloroso. — Talvez eu peça sua ajuda mais vezes… se não se importar. — Seu tom carregava uma leveza que parecia quase tímida.

Senti um calor familiar subir pelo meu rosto, mas mantive o sorriso.

— Claro! — respondi, tentando soar casual. — Eu que devo agradecer. Matemática nunca fez tanto sentido antes — acrescentei, rindo de leve.

Ela riu junto, o som suave como um eco no ambiente tranquilo. Enquanto nos levantávamos, percebi que não queria que aquele momento acabasse tão rápido.

Caminhamos até a saída da biblioteca, onde o céu começava a se tingir de tons alaranjados e roxos. O sol que antes iluminava a mesa agora estava se escondendo atrás dos prédios, deixando uma brisa fresca no ar.

— Nos vemos amanhã, Shin. — Yuki disse, parando na entrada e lançando-me um último sorriso.

— Sim… até amanhã — respondi, erguendo a mão em um gesto de despedida.

Enquanto ela se afastava, fiquei parado por um instante, observando-a desaparecer na esquina. Um pensamento atravessou minha mente, claro como o céu naquele fim de tarde: estudar nunca tinha sido tão agradável.

E, pela primeira vez, percebi que as provas finais, que sempre pareceram uma montanha intransponível, talvez não fossem tão ruins assim. Pelo menos, não com ela por perto.