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Chapter 64 - Sinais e Suspiros

Ponto de Vista de Yuki

A manhã estava fresca e tranquila enquanto eu caminhava para a escola com minhas amigas. O céu azul era coberto por algumas nuvens dispersas, e o ar ainda carregava aquele leve frio matinal. O caminho já era tão familiar que meus passos seguiam automaticamente, enquanto minhas mãos seguravam a alça da mochila e meu olhar vagava pelo movimento da rua.

— Ah, Yuki, me passa o contato do Hirotaka? — perguntou Yumi ao meu lado, segurando o celular. — Preciso perguntar a ele sobre a atividade de Biologia.

— Claro, espera um pouco. — Peguei meu celular do bolso e deslizei pela tela, procurando pelo nome dele na lista de contatos.

Mas então, algo chamou minha atenção.

"Shin está digitando..."

Meus passos diminuíram levemente, enquanto eu observava a tela por um momento, sentindo meu coração dar um leve salto involuntário.

Ele estava escrevendo algo. O que poderia ser?

Esperei, como se pudesse ver as palavras surgindo na tela a qualquer instante. Mas, depois de alguns segundos, a notificação sumiu. Nenhuma mensagem chegou.

Franzi levemente a testa, me perguntando o que ele teria pensado em dizer… mas então desistido logo em seguida.

"Talvez fosse algo sem importância…"

Mas, sem perceber, minha mente voltou à alguns dias antes.

O tempo que passei na casa dele, cuidando dele enquanto ele se recuperava da febre. A forma como conversamos, mesmo que por pouco tempo, de um jeito que parecia... diferente.

Foi por isso que, antes de sair de lá, fiz aquele convite para estudarmos juntos.

No entanto, vendo que ele aparentemente hesitou em me mandar uma mensagem, percebi que talvez ele estivesse pensando no mesmo momento.

Não pensei muito antes de abrir a conversa e digitar rapidamente:

"Bom dia, Shin. Tudo bem? Eu vou estar estudando na biblioteca após as aulas, se quiser, pode aparecer por lá!"

Enviei a mensagem antes que pudesse pensar demais e bloqueei a tela do celular, guardando-o no bolso novamente.

Não demorou muito para uma resposta aparecer.

"Oi, Yuki! Claro, vou passar pela biblioteca após as aulas então!"

Um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios sem que eu percebesse.

"Combinado então."

E, com isso, continuei andando ao lado das minhas amigas, sentindo o vento matinal soprar levemente contra meu rosto.

Ponto de Vista de Shin

O café estava banhado por uma luz suave da manhã, enquanto o som ritmado de xícaras tilintando e pedidos sendo anotados preenchia o ar. Nossa mesa era uma bagunça confortável: pratos vazios, talheres espalhados, e Seiji terminando a sua segunda rodada de pães como se fosse a primeira.

Apesar do caos, o ambiente estava descontraído, e eu me sentia à vontade… ou quase. Meus pensamentos ainda estavam voltados para a mensagem de Yuki, o sorriso dela ao me convidar para estudar.

Percebi tarde demais que um sorriso involuntário havia surgido no meu rosto.

— Shin, que sorriso bobo é esse? — Ele perguntou, inclinando-se sobre a mesa com uma expressão exageradamente séria. — Tá tão feliz assim por estar com a gente?

— Hã? Que sorriso? — Tentei disfarçar, olhando para fora, como se o movimento apressado das pessoas na rua tivesse chamado minha atenção.

Kaori, segurando um pedaço de bolo com o garfo, arqueou uma sobrancelha e se juntou à provocação.

— Ou será que está tão feliz porque o Rintarou vai salvar sua pele nas provas? — Ela sorriu maliciosamente, saboreando cada palavra mais do que o próprio bolo.

— Não tem nada a ver com isso! — Respondi rápido demais, minha voz quase engasgando. — Vocês estão imaginando coisas.

— Imaginar coisas é minha especialidade. — Kaori piscou antes de voltar ao bolo, claramente se divertindo.

Seiji soltou uma gargalhada e deu um tapa amigável nas costas de Rintarou.

— Viu? Até a Kaori sabe pegar no pé do Shin. Isso só pode significar que estamos certos.

— Vocês dois não dão um segundo de paz. — Rintarou balançou a cabeça, ajustando os óculos com um suspiro. Mas o leve sorriso no canto de seus lábios denunciava que ele também estava se divertindo.

Seiji inclinou-se para trás, cruzando os braços atrás da cabeça como se estivesse encerrando um caso.

— Tá bom, tá bom. Mas agora falando sério, Shin. O que você ia contar pra gente? Sobre ontem?

Respirei fundo, preparando-me para responder. Não era algo que eu tinha planejado dizer tão cedo, mas eles mereciam saber.

— Ah, sim. Vocês lembram do editor que veio falar comigo no dia do concurso?

— O cara de terno que parecia muito sério? Claro. — Seiji assentiu, franzindo a testa como se estivesse tentando visualizar a cena. — O que tem ele?

— Ele marcou uma reunião comigo. Fui à Editora Kousei ontem, e… eles querem publicar um trecho da minha história numa revista semanal.

Kaori congelou no lugar, os olhos arregalados. O garfo que ela segurava quase caiu da mão.

— O quê?! — exclamou, seu tom tão alto que quase fez as pessoas nas mesas vizinhas olharem. — Isso é incrível, Shin!

Seiji, no entanto, coçou a cabeça com uma expressão confusa.

— Revista semanal? Isso é bom?

Kaori suspirou dramaticamente, inclinando-se na mesa como se explicasse algo óbvio para uma criança.

— Seiji… é uma das maiores oportunidades que um escritor iniciante pode ter! É tipo… a porta de entrada para algo muito, mas muito maior! Entendeu agora?

— Ah, agora faz sentido. — Ele sorriu e deu outro tapa amigável nas minhas costas, desta vez com mais força do que o necessário. — Então, parabéns, Shin! Você merece!

— Obrigado. — Meu sorriso cresceu, e senti uma onda de calor agradável no peito ao ouvir as palavras de apoio. — Mas, sério… isso só aconteceu porque vocês sempre me apoiaram.

— Ei, não diga coisas assim! — Seiji fez uma careta exagerada, fingindo cobrir o rosto de vergonha. — Você vai me deixar sem graça, cara...

Kaori começou a rir, quase cuspindo um pedaço de bolo, e Rintarou balançou a cabeça novamente, segurando uma risada.

A energia leve e descontraída do grupo me ajudava a relaxar, mesmo que, no fundo, meus pensamentos ainda estivessem fixados em Yuki.

A caminhada até a escola foi animada e cheia de risos, como sempre. Seiji, como habitual, não perdeu a oportunidade de provocar.

— Ei, vocês viram quanto bolo a Kaori comeu? Aposto que ela vai rolar em vez de correr na aula de educação física! — Ele riu, lançando um olhar zombeteiro na direção dela.

Kaori parou abruptamente, com uma expressão de indignação exagerada.

— Seiji, eu vou te mostrar quem vai rolar! — disse, arregaçando as mangas como se estivesse pronta para uma briga.

Seiji arregalou os olhos por um segundo antes de dar meia-volta e começar a correr na direção oposta.

— Calma, foi só uma piada! — gritou enquanto Kaori corria atrás dele, o som de suas gargalhadas ecoando pela rua.

Rintarou, caminhando ao meu lado com uma expressão impassível, suspirou profundamente.

— Eles nunca mudam...

— É — respondi, rindo enquanto observava os dois correndo em círculos.

Quando finalmente alcançamos os portões da escola, Seiji e Kaori já estavam sem fôlego, mas ainda discutindo como dois irmãos teimosos. A energia deles era contagiante, tornando o início do dia... um pouco mais leve.

Quando chegamos à sala, me sentei no meu lugar, tentando ajustar a postura e focar na aula que estava prestes a começar. O professor, como sempre meticuloso, já estava no quadro, escrevendo fórmulas com uma caligrafia impecável, suas explicações ecoando pelo ambiente.

— Então, se pegarem nesta fórmula e aplicarem aqui — dizia o professor.

Tentei prestar atenção, mas era como se as palavras passassem direto por mim, sem realmente se fixarem.

Minha mente vagava, inevitavelmente atraída para outro lugar: a biblioteca, o estudo com Yuki, a forma como ela havia me convidado de maneira tão natural.

O que eu deveria revisar primeiro? Português? Não… talvez História fosse uma escolha melhor. Matemática também precisava de atenção, minhas notas não eram tão altas assim.

— Shin. — Uma voz cortou meus devaneios, chamando-me de volta à realidade.

Pisquei, ainda processando o chamado, mas minha mente estava lenta demais para acompanhar. Será que eu deveria levar meu caderno de exercícios?

— Shin! — A voz do professor veio novamente, mais firme e carregada de impaciência, cortando meus pensamentos como uma navalha.

Endireitei-me rapidamente na cadeira, minha respiração acelerando enquanto meus olhos encontravam os dele.

— Sim, professor?

Ele suspirou profundamente, cruzando os braços com um olhar que era a mistura perfeita de irritação e expectativa.

— Pode responder à pergunta no quadro?

Meu olhar se virou para o quadro branco, onde uma fórmula estava escrita em letras grandes e claras. Mas, para mim, era como se fosse um idioma desconhecido. Minha mente ficou em branco, e as palavras do professor ecoaram como um ruído distante.

Força… algo sobre movimento? Terceira… terceira o quê? Meu coração começou a acelerar, e o calor subiu pelo meu rosto. Estava completamente perdido.

— É a terceira lei de Newton. — Uma voz baixa e calma sussurrou ao meu lado, suave o suficiente para não chamar atenção, mas clara o bastante para me tirar do desespero.

Virei-me ligeiramente, apenas o suficiente para ver Yuki. Seus olhos brilhavam com uma tranquilidade desconcertante, e havia um pequeno sorriso nos lábios, como se ela soubesse exatamente o peso que tinha acabado de tirar dos meus ombros.

Aquela calma serena dela… parecia quase inabalável, e por um instante, me senti ainda mais perdido. Mas não havia tempo para pensar nisso.

— Ah… é a terceira lei de Newton — repeti, tentando soar confiante, mesmo enquanto sentia o calor subir pelo meu rosto e minhas mãos ficarem inquietas embaixo da mesa.

O professor levantou uma sobrancelha, avaliando minha resposta antes de assentir.

— Correto. Finalmente está prestando atenção, Shin. Continue assim!

Uma onda de alívio percorreu meu corpo, e voltei à minha posição, soltando um suspiro silencioso. Meu coração ainda estava acelerado, mas agora era uma mistura de alívio e algo mais indefinível. Sem conseguir evitar, lancei outro olhar de canto para Yuki.

Ela já havia voltado sua atenção para o quadro, seu rosto calmo e focado, como se nada tivesse acontecido. Era impressionante como ela parecia estar sempre em controle, sempre um passo à frente.

Aquela serenidade… quase fazia parecer que salvar minha pele era a coisa mais natural do mundo para ela.

Apoiei o cotovelo na mesa, inclinando-me levemente, minha mente vagando por pensamentos que não envolviam exatamente a terceira lei de Newton.

Já era a segunda vez que Yuki me ajudava assim, e a segunda vez que eu percebia o quanto precisava melhorar. Talvez eu devesse realmente me esforçar mais. Não apenas por mim, mas porque, de algum jeito, queria estar à altura daquela calma e confiança dela.

Suspirei de novo, dessa vez com um leve sorriso de lado.

Eu definitivamente precisava estudar mais… pelo menos para não depender tanto dela.