Chereads / Rebirth - O Despertar / Chapter 60 - O Convite

Chapter 60 - O Convite

O som do despertador ecoou pelo quarto, um toque familiar que normalmente me fazia querer afundar ainda mais nas cobertas. Mas, naquele dia, algo era diferente. Não senti o peso habitual nas pálpebras ou a preguiça arrastada. A luz da manhã já penetrava pelas frestas da cortina, inundando o ambiente com um brilho suave e acolhedor.

Levantei-me devagar, os movimentos ainda lentos pelo despertar, mas minha mente já estava em outra parte. Os ecos da reunião com Shihei preenchiam meus pensamentos como uma música de fundo constante.

A reunião… parecia algo saído de um sonho distante, mas era real. Eu estava a um passo de algo grande. Algo que poderia mudar tudo. Mas isso também significava que, agora, mais do que nunca, precisava trabalhar duro.

No entanto, antes que pudesse me perder nas ideias de refinamento e publicação, havia algo mais urgente esperando por mim: as provas finais.

Coloquei os pés no chão frio, um leve arrepio correndo pelas minhas pernas. Espreguicei-me, tentando afastar os últimos resquícios de sono, enquanto caminhava até o armário para pegar o uniforme. Foi então que um pensamento atravessou minha mente como um raio, iluminando algo que eu tinha tentado não pensar tanto.

"Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais. Como fizemos na biblioteca, lembra?"

A lembrança do convite de Yuki foi suficiente para acelerar meu coração. Era um gesto simples, mas a maneira como as palavras ecoavam na minha mente as tornava incrivelmente significativas. Senti um calor familiar subir pelo meu rosto, e balancei a cabeça, tentando me concentrar no momento.

Troquei de roupa e desci para a cozinha, onde o aroma de torradas recém-saídas do forno e café fresco já dominava o ar. Era um cheiro confortável, quase como um abraço de boas-vindas ao dia que começava.

Minha mãe estava de pé perto do balcão, passando manteiga em uma fatia de pão com a mesma precisão tranquila de sempre. No sofá, Hana estava jogada de forma despreocupada, com os olhos colados na tela do celular, enquanto segurava a mochila com a outra mão, pronta para sair a qualquer momento.

— Bom dia, Shin. — Minha mãe me cumprimentou com um sorriso acolhedor, enquanto passava manteiga em mais uma fatia de pão. — Você parece bem animado hoje.

Sentei-me à mesa, puxando uma das torradas para o meu prato, enquanto o aroma do café recém-passado tornava o momento ainda mais aconchegante.

— Ah, dormi bem, só isso. — Respondi com um tom casual, mordendo a torrada.

Ela me lançou aquele olhar desconfiado que só mães conseguem dar, misturando diversão e uma pitada de curiosidade.

— Então não tem absolutamente nada a ver com a reunião de ontem, certo?

Eu ri, tentando parecer despreocupado, mas o calor subindo pelo meu rosto me entregava.

— Talvez… um pouco. — Admiti, abaixando o olhar para a torrada. — Correu bem. O editor quer fazer alguns refinamentos na história antes de publicar um trecho na revista.

Os olhos dela brilharam de orgulho, e Hana, até então totalmente absorvida pelo celular, finalmente ergueu a cabeça. Sua sobrancelha arqueada e o sorriso travesso já anunciavam o que viria.

— Olha só, o Shin tá mesmo ficando famoso! — provocou, balançando o celular como se estivesse tirando uma foto mental.

Minha mãe riu, entregando-me uma xícara de café e sacudindo a cabeça.

— Só não deixem isso subir à cabeça dele. — Ela piscou, uma brincadeira clara no tom, mas suas palavras traziam um orgulho evidente.

Sorri enquanto mordia mais um pedaço da torrada, deixando-me aquecer pela leveza daquele momento. Eu sabia que não dizia isso com frequência, mas o apoio delas fazia tudo parecer um pouco mais fácil, como se eu realmente pudesse lidar com qualquer coisa que viesse pela frente.

Quando terminei de comer, empurrei a cadeira para trás e peguei minha mochila, jogando-a no ombro.

— Estou indo. Vejo vocês depois.

Minha mãe acenou, e Hana, sem perder o tom provocativo, ergueu o punho em um gesto de encorajamento exagerado.

— Vai lá, Shin! Não decepcione seus fãs!

Revirei os olhos com um sorriso enquanto fechava a porta atrás de mim.

Do lado de fora, a brisa matinal era fresca, envolvendo-me como um lembrete de que o dia ainda estava só começando. O som distante dos pássaros misturava-se com o murmúrio da cidade despertando — passos apressados, o barulho de motores, vozes ao longe. Caminhei até a esquina onde Seiji e Rintarou já me esperavam, e Seiji já estava animado como sempre.

— Finalmente, Shin! — Seiji exclamou, acenando com energia exagerada, como se eu tivesse feito uma grande jornada até eles. — Achei que ia nos fazer esperar pra sempre!

— Eu nem estou atrasado — Respondi, revirando os olhos. — Vocês que chegaram cedo demais...

— Disciplina é tudo — disse Rintarou, em seu habitual tom sério, mas o leve sorriso que surgiu no canto de sua boca entregava a provocação.

Dei uma risada curta, mas logo notei algo estranho. Olhei ao redor, percebendo que alguém estava faltando.

— E a Kaori? Onde ela está?

Rintarou deu de ombros, ajustando os óculos com calma.

— Não vi até agora. Talvez ainda esteja dormindo?

— Não seria nenhuma surpresa… — Seiji comentou, rindo enquanto cruzava os braços. — Aposto que ela ainda tá enrolando pra sair da cama.

Continuamos caminhando, o som de nossos passos misturando-se ao barulho suave da cidade despertando ao redor. Seiji, como sempre, decidiu encher o silêncio com sua energia inconfundível, cutucando-me com o cotovelo.

— Ei, Shin. O que foi aquela correria de ontem? Parece que tava com pressa de fugir da gente.

— Na verdade, eu…

Eu estava prestes a responder, minha mente já formulando uma desculpa qualquer, quando o som de passos apressados atrás de nós chamou nossa atenção.

— Esperem!

Viramos ao mesmo tempo e vimos Kaori correndo na nossa direção, os cabelos um pouco bagunçados pelo vento. Quando nos alcançou, ela se inclinou com as mãos nos joelhos, ofegante.

— O que aconteceu? — perguntei, preocupado com seu estado.

— Eu… — Ela levantou um dedo, pedindo um momento para recuperar o fôlego. — Acordei tarde. Nem… tomei café ainda. — Disse entre arfadas, com uma expressão que misturava cansaço e resignação.

Seiji balançou a cabeça, colocando as mãos nos bolsos com um sorriso provocador.

— Ah, isso explica muita coisa. Você tá com cara de quem mal conseguiu sair da cama.

Kaori ergueu os olhos, claramente irritada, mas o canto de sua boca tremia como se estivesse prestes a sorrir.

— Dá um tempo, Seiji! — Retrucou, dando um pequeno soco nos braços dele.

— Eu só tô dizendo o óbvio! — Seiji riu, levantando as mãos em um gesto defensivo.

Rintarou deu um leve suspiro, já acostumado com as provocações entre os dois.

Seiji olhou para as horas em seu celular e então estalou os dedos, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante.

— Ainda temos tempo antes das aulas. Que tal uma passada rápida no café perto da escola? Assim, você não vai passar fome, Kaori.

Os olhos dela brilharam imediatamente, como se aquela sugestão fosse uma dádiva divina.

— Genial! Vamos rápido! — Disse, já começando a caminhar na direção do lugar antes mesmo de alguém concordar.

Rintarou lançou um olhar cansado, mas seguiu o grupo sem reclamar, enquanto Seiji ria de leve e aumentava o passo.

— Sempre cheia de energia quando é pra comer… — murmurou Seiji, lançando um olhar divertido para Kaori, que fingiu não ouvir.

Eu sorri, ajustando minha mochila nos ombros, sentindo a leveza da manhã com a interação animada do grupo.

No café, nos acomodamos em uma mesa perto da janela, enquanto Kaori se aproximava do balcão para fazer seu pedido.

— Um bolo de cenoura, um suco natural e... um pão também, por favor! — disse ela com um sorriso satisfeito para a atendente, ignorando completamente o olhar crítico de Rintarou ao fundo.

Quando ela voltou para a mesa, ele arqueou uma sobrancelha, como quem já sabia o que viria a seguir.

— Tem certeza? Comer tudo isso de uma vez vai te deixar com dor de barriga.

Kaori revirou os olhos e pegou os talheres com determinação.

— Claro que tenho certeza! Eu mereço. — rebateu, apontando para ele com o garfo antes de atacar o bolo assim que a comida chegou.

Seiji, como era de se esperar, também fez um pedido considerável. Quando a bandeja dele chegou, repleta de pães e um copo grande de suco, eu não consegui conter meu comentário.

— Você já comeu em casa, não comeu? — perguntei, cruzando os braços com uma expressão de falsa acusação.

Ele riu, dando de ombros enquanto mordia um pão com entusiasmo.

— Reforçar o café da manhã nunca é demais! Preciso de energia pra encarar as aulas de matemática.

Rintarou balançou a cabeça com um suspiro, mas seu olhar continha um leve sorriso, já acostumado com o apetite voraz de Seiji.

Enquanto eles comiam, Seiji bateu na mesa repentinamente, fazendo com que todos nós olhassem para ele.

— Ah! As provas estão chegando. — Sua voz carregava um tom de alerta, como se estivesse anunciando algo urgente. — Vamos fazer um grupo de estudos de novo, Rin!

Rintarou soltou um suspiro mais longo desta vez, recostando-se na cadeira.

— Já imaginava que ia sobrar pra mim.

— Claro que vai! — disse Seiji, gesticulando como se fosse óbvio. — Você é o gênio do grupo. Sem você, estamos completamente perdidos!

Rintarou deu de ombros, mas não conseguiu esconder um leve sorriso.

— Vamos precisar da sua ajuda, Rintarou! — continuou Seiji, apontando para si mesmo dramaticamente. — Minhas notas já estão nas últimas, e a Kaori...

Ele não conseguiu terminar a frase.

— O quê? — Kaori interrompeu com um olhar afiado, ainda mastigando um pedaço de bolo.

— Você tá em outra turma, mas... tenho certeza que suas notas também não devem ser tão altas assim.

— Tá me chamando de burra?! — exclamou, arregalando os olhos e se inclinando sobre a mesa.

Seiji levantou as mãos, recuando teatralmente enquanto ria.

— Eu só quis dizer que matemática é um desafio pra todo mundo…

Kaori suspirou profundamente, largando o garfo e apoiando a testa na mesa de forma exagerada.

— Matemática não é só um desafio. É uma sentença. — Murmurou dramaticamente, arrancando uma risada de todos.

A cena leve e caótica me fez sorrir, mas, de repente, minha mente voltou ao convite de Yuki. Sua voz suave ecoou na minha cabeça, e uma onda de calor subiu pelo meu rosto.

"Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais. Como fizemos na biblioteca, lembra?"

Senti meu coração acelerar levemente, mas tentei disfarçar, voltando minha atenção para a conversa na mesa.

Rintarou, percebendo minha expressão distraída, inclinou-se levemente para mim.

— Tá tudo bem, Shin?

— Ah, sim! — Respondi rapidamente, desviando o olhar. — Só estava pensando… Acho que formar um grupo de estudos seria uma boa ideia mesmo. Minhas notas não são das melhores.

Rintarou olhou para mim por um momento, avaliando minha resposta, antes de dar um leve aceno.

— Tudo bem. Eu vou ajudar vocês de novo.

— Sério? Você é incrível, Rin! — exclamou Seiji, erguendo os braços em comemoração.

Kaori ergueu a cabeça, o brilho de esperança voltando ao rosto.

— Obrigada, Rin! Prometo que vou levar a sério dessa vez.

— Dessa vez? — Seiji arqueou uma sobrancelha, rindo.

— Ah, cala a boca! — respondeu Kaori, jogando uma migalha de bolo nele, enquanto todos ríamos.

A energia leve e descontraída do grupo me deixou mais à vontade, mas, no fundo, eu ainda estava pensando em Yuki. 

Reuni toda a coragem dentro de mim, peguei meu celular, e, antes que percebesse, já estava com o chat dela aberto na tela.

"Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais."

Novamente, a lembrança dessas palavras ecoavam em minha mente enquanto eu segurava o celular. O chat dela estava aberto, e meu dedo pairava sobre o teclado, hesitante. Mandar uma mensagem parecia simples, mas, ao mesmo tempo, carregava um peso que eu não conseguia ignorar.

Tentei reunir mais um pouco de coragem, me convencendo de que não era algo difícil. Comecei a digitar, cada palavra surgindo devagar na tela.

"Oi, Yuki. Estava pensando… você quer estudar hoje? Se estiver disponível, claro!"

Terminei a frase e fiquei olhando para ela. Não parecia ruim, mas a dúvida se infiltrou imediatamente. Ela poderia estar ocupada, e também soava um pouco repentino.

O calor subiu pelo meu rosto enquanto meu dedo pairava sobre o botão de enviar.

Com um suspiro, apaguei tudo de uma vez, sentindo a frustração me dominar. Encostei o celular na mesa, apoiando a cabeça na mão. Talvez fosse melhor esperar e planejar direito. Não agir por impulso.

Foi então que uma vibração repentina cortou o silêncio. Meu coração deu um salto tão forte que quase derrubei o celular. Era uma notificação. Da Yuki.

Fiquei encarando a tela por um instante, como se precisasse confirmar que não estava imaginando coisas. Lá estava: era uma mensagem dela. Meu coração disparou, e minhas mãos quase tremiam enquanto eu desbloqueava o celular rapidamente.

"Bom dia, Shin. Tudo bem? Eu vou estar estudando na biblioteca após as aulas, se quiser, pode aparecer por lá!"

Relia a mensagem como se cada palavra pudesse desaparecer se eu piscasse. Era quase como se ela tivesse lido meus pensamentos. Estava me chamando para estudar. Meu peito parecia prestes a explodir, e a sensação era uma mistura de nervosismo e alegria que eu não conseguia controlar.

Sem pensar muito, comecei a digitar minha resposta.

"Oi, Yuki! Claro, vou passar pela biblioteca após as aulas então!"

Enviei antes que meu cérebro pudesse me convencer a hesitar. Por um momento, o mundo ao meu redor parecia ter parado. O som das vozes dos meus amigos ficou abafado, como um fundo distante.

A resposta dela chegou poucos segundos depois:

"Combinado então."

Soltei um suspiro que eu nem percebi que estava segurando. Encostei-me na cadeira, o celular ainda firme em minhas mãos. Meu coração continuava acelerado, mas, pela primeira vez, um sorriso genuíno se espalhou pelo meu rosto. Era impossível escondê-lo, mesmo que eu quisesse.

Olhei para o relógio. Ainda havia aulas pela manhã, mas o horário seria perfeito para a biblioteca. Enviei uma figurinha de confirmação, algo simples, mas que transmitia minha animação, e me permiti relaxar por um instante.

Enquanto Seiji e Kaori trocavam provocações, e Rintarou balançava a cabeça em resignação, eu estava em outro lugar. Meus pensamentos estavam na biblioteca, em Yuki, e na estranha sensação de que, talvez, as coisas estivessem começando a mudar para melhor.